domingo, 10 de julho de 2016

Profeta: Uma profissão antiga como o mundo


Uma profissão antiga como o mundo
Há palavras que têm sorte e profissões que subsistem apesar do desgaste do tempo. A palavra "profeta" é um termo grego que pode ser traduzido por "aquele que fala na frente". Mas — muito antes da civilização grega e da tradição bíblica — a profissão de profeta já existia. Com todas as variantes que essa profissão engloba, já encontramos profetas no terceiro milênio antes de Jesus Cristo.
Há mais de um século, arqueólogos descobriram uma quantidade considerável de textos que foram traduzidos e estudados por grande número de eruditos. Esses textos nos fizeram descobrir civilizações antigas, bem anteriores às narrações bíblicas. A partir deste fato, a Bíblia que — até o século passado — era frequentemente considerada como o livro mais antigo e a expressão típica da Antiguidade, rejuvenesceu de maneira surpreendente. O velho Abraão da Bíblia tornou--se um personagem quase moderno diante de outras figuras da Mesopotâmia ou do Egito, que viveram mais de mil anos antes do patriarca hebreu.
Neste quadro, os profetas da Bíblia devem ser considerados como representantes recentes de um fenômeno muito antigo e bastante espalhado no conjunto da Mesopotâmia e — com menos importância — no Egito. Assim, nestes últimos quarenta anos, foi publicada uma série de cartas, provenientes dos arquivos reais da cidade de Mari. Esta cidade, situada à margem direita do rio Eufrates, teve seus últimos momentos de glória no século XVIII a.C. Estas cartas — em sua maioria destinadas ao rei — contêm uma série de oráculos que dizem respeito à situação política do momento, aos problemas do culto e a diversas outras questões. Segundo tais cartas, a iniciativa destes oráculos vem da divindade. Para transmiti-los, a divindade se serve tanto dos profetas profissionais como ainda de homens e mulheres que, no começo, nada tinham a ver com a função profética.
Tendo sua origem na divindade, este profetismo recebe correntemente o nome de "profetismo inspirado", exatamente como o da Bíblia. São numerosas as semelhanças com o profetismo bíblico, principalmente quanto às fórmulas utilizadas e quanto àquilo que se pode chamar de "experiência profética". As divergências, todavia, são radicais no que concerne ao conteúdo dos oráculos.
Embora com diferenças marcantes, o fenômeno profético existe, portanto, antes do profetismo bíblico. Coexistirá, aliás, com este, influenciando-o, como o atesta, na idade de ouro do profetismo bíblico, o episódio do profeta Balaão. Apesar de ser um estrangeiro em Israel, as intervenções deste profeta ocupam os capítulos 22 a 24 do livro dos Números, enquanto um texto em aramaico — descoberto há vinte anos na Transjordânia — descreve, em termos bem parecidos, este profeta que se tornou célebre por causa da sua jumenta.
Assim, para além das fórmulas, a experiência e o estilo proféticos, os contatos entre a Bíblia e suas circunvizinhanças, sua interpenetração recíproca, aparecem numerosos e concretos.


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Fonte:
O Profetismo: das origens à época moderna, por: Jesus Asurmendi. Edições Paulinas. São Paulo, 1988, págs. 13-14.

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