Jesuíta Biólogo: O pioneiro Anchieta
Por: Maria
Fernanda Ziegler
Beato
foi o primeiro europeu a explorar o poder curativo das ervas brasileiras
O padre José
de Anchieta, morto há 410 anos, foi o introdutor do teatro em terras
brasileiras. E também o primeiro a escrever uma gramática em língua tupi. Além
disso, fez nascer o cateretê, o embrião da música popular brasileira, ao
misturar poemas religiosos com a música indígena. Mas suas ações pioneiras não
se restringiram às artes. Anchieta também se aventurou pela biologia.
Cobiçadas
hoje por cientistas e laboratórios no mundo inteiro, as plantas brasileiras
despertaram sua atenção no século 16. Os jesuítas perceberam que a medicina
poderia ajudá-los a se infiltrar na cultura tupi-guarani. "De início, os
remédios vinham do reino, mas logo os padres foram conhecendo as substâncias
utilizadas pelos indígenas", diz a historiadora Maria Aparecida Lomonaco.
"José de Anchieta é o nome-símbolo das artes médicas no Brasil do século
16."
Anchieta e
outros oito padres chegaram ao Brasil em 1553, com o segundo , governador-geral
do país, Duarte da Costa. No livro Os
Jesuítas, o historiador inglês Jonathan Wright afirma que a Companhia de
Jesus foi a primeira ordem da Igreja Católica que teve intenção ativa — e não
apenas contemplativa. Eram os tempos da contrarreforma católica e os jesuítas
tinham a missão de expandir o catolicismo nas novas terras descobertas na
América.
Por aqui,
esbarraram na figura do pajé - que tinha, entre suas incumbências, a de curar
as enfermidades nas tribos. Os padres depararam com fórmulas e métodos
diferentes para a cura. E assim Anchieta foi aprendendo, por exemplo, que o
maracujá era indicado para baixar a febre. Ou que o guaraná curava a disenteria.
E passou a usar essas plantas também.
Para os
tupis-guaranis, as doenças eram provocadas por espíritos maus. A terapêutica
indígena consistia na mescla de religiosidade com a aplicação de substâncias da
flora local. E foi exatamente essa falta de conhecimento científico dos nativos
um dos trunfos dos jesuítas para a conquista da população indígena.
Nos tempos
do descobrimento, doenças terminais eram muito raras entre os índios. Caso isso
acontecesse, o doente era desenganado pelo pajé e abandonado pelo grupo. Nesses
casos, os jesuítas utilizavam os conhecimentos médicos aprendidos na metrópole
— e, além da cura do doente, obtinham sucesso no processo de evangelização.
Para Maria Aparecida, a assistência médica, ainda que prestada no âmbito da caridade
cristã, foi uma arma poderosa na catequese. "Era a forma mais eficiente de
promover o descrédito dos pajés."
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Fonte:
Revista Aventuras na História. Edição 43 - Março de 2007. Editora Abril. São Paulo, pág.8.
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