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quinta-feira, 14 de julho de 2016

Biografia de Miguel Torga

Miguel Torga
(1907)
Miguel Torga é o pseudônimo de um dos mais apreciados escritores portugueses deste século. Seu nome real é Adolfo Correia Rocha, e já esteve no Brasil, país que ele muito admira. Escritor de brilhante estilo, seguindo os velhos moldes lusitanos, daquela geração que tanto ilustrou o velho Portugal, Miguel Torga escreve de maneira bastante amena, beirando por vezes as raias do classicismo. Suas histórias descrevem-nos personagens do povo, do campo, dos humildes, mas atingindo frequentemente forte realismo, como no conto Mariana, que selecionamos para esta coletânea. Trata-se de cenas passadas em um povoado de gente rude, nas montanhas lusitanas, onde se juntam o atraso e a superstição, fato comum, em todos os países onde a educação ainda não pôde extirpar tais práticas. Mariana figura em Novos Contos da Montanha, editado pela Coimbra Editora, em 1945, já em segunda edição.
Miguel Torga, por causa de sua ideias corajosas, nem sempre foi benquisto pelo seu governo atual, ou melhor, pelos senhores do regime. Contristado com o que vai por lá e também pelo mundo, externa sua mágoas no prefácio do livro em apreço, nestes termos: "Querido leitor: Escrevo-te da Montanha, do sítio onde medram as raízes deste livro. Encontrei tudo como o deixei no ano passado, quando da primeira edição destas aventuras. Apenas vi mais fome, mais ignorância, e mais desespero. Corre por estes montes um vento desolador de miséria que não deixa florir as urzes nem pastar os rebanhos, o social juntou-se ao natural, e a lei anda de mãos dadas com o suão a acabar de secar os olhos e as fontes. Crestados e encarquilhados, os rostos dos velhos pastores parecem pergaminhos milenários onde uma pena cruel traçou fundas e trágicas legendas. Na cara lisa dos novos, pouco mais esperança há. Ora, eu sou escritor, como sabes. Poeta, prosador, é na terra redonda que têm descanso as minhas angústias".
Sente-se humilhado ante tanto surro e tanta lazeira e envergonhado de representar o ingrato papel de "cronista de um mundo que nem me pode ler".
As histórias de Miguel Torga são quase dolorosas, mas verossímeis, pois representam um retrato fiel do sofrimento humano e da miséria que grassam em sua terra, e pede a compreensão do leitor pela sorte áspera de seus irmãos.
A bagagem literária de Miguel Torga é considerável, como x pode verificar.
Poesia: Ansiedade (1928, fora do mercado), Rampa (1930). Tributo (1931), Abismo (1932), O Outro livro de Job (1936 2.a edição! 1944), Lamentação (1942). Prosa: Pão ázimo (1931), A terceira voz (1934), A criação do mundo (— os dois primeiros dias (1937), O terceiro dia da criação do mundo (1938), O quarto dia da criação é a mundo (1939), Bichos (1940, 1943 e 1944), Montanha (1941), Um reino maravilhoso (Trás-os-Montes), conferência ,1914), Rua (1912). O Senhor Ventura (1943), O Porto, conferência (1944), Vindima (1945). Teatro: Terra firme (1941). Poesia e prosa: Diário (1.° volume: 1941 e 1942). Diário (2.° volume, 1943). Edições do Autor: Novos contos da montanha (1944 e 1945), Libertação (1944), Diário (3.° volume), Poemas ibéricos e O quinto aia da criação do mundo.
Como se vê, Miguel Torga exercitou vários gêneros, tendo sobressaído em todos. É um escritor que se lê sempre com prazer e que nos faz meditar ante os temas humanos e dolorosos que nos apresenta, quase sempre fruto de uma dura realidade.


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Fonte:
Primores do Conto Universal: Contos Portugueses. Seleção e organização: Jacob Penteado. Editora EDIGRAF. São Paulo, s/d, págs. 263-264.