quarta-feira, 27 de julho de 2016

Nostradamus e o fim do mundo (Religião)

Nostradamus e o fim do mundo
Por: Alberto Alves da Fonseca
As biografias de Nostradamus misturam histórias e lendas, algo comum nas biografias de adivinhos e "profetas" do passado. Paul Wateled, citado por Anatole Le Pelletier afirma que as pistas de sua biografia foram deliberadamente embaralhadas. As informações que temos mais próximas são as do seu irmão, Jean, que escreveu "Crônica da Provença", e de seu filho César, que escreveu "História e Crônica da Provença". Temos também as informações de seu discípulo Jean Aime de Chavigny, autor de "Vida e Testamento de Michel de Notre-Dame". Nesta matéria procuraremos apresentar uma biografia mais segura possível.
Michel de Nostredame, conhecido por Nostradamus, nasceu no dia 23 de dezembro de 1503, de acordo com o calendário gregoriano (ou numa quinta-feira, 14 de novembro de 1503, aproximadamente às 12 hora no calendário juliano), na pequena Saint-Rémy (Provença - França). Filho de Jacques de Nostredame, um tabelião de família modesta, e de Renée de Saint-Rémy, que tinha ascendentes ilustres, sábios famosos em medicina e matemática.
Aos nove anos de idade, sua família se converteu do judaísmo para o catolicismo, provavelmente por efeito de um decreto de Luís XI, que ameaçava de confisco de bens os judeus não-batizados, o que levou a família a conversão à fé católica e a adotar o nome católico de Notre-Dame, que no latim vulgar deu Nostradamus, cujo significado é "Nossa Senhora".
Ainda garoto aprendeu com o avô materno latim, grego, hebraico, matemática, astrologia, alquimia e cabala, além de aprender a manejar o astrolábio, a contemplar as estrelas e a ler os "destinos" dos homens nas conjunções dos astros. A Cabala é definida na obra Introduction To The Kabbalah Unveiled de McGregor Mathers como "...doutrina esotérica do judaísmo. É chamada em hebreu QBLH, Qabalah, que se deriva da raiz QBL, Qibel, significando 'receber'. Esta denominação se refere ao costume de transmitir a tradição esotérica por transmissão oral, e é aproximadamente associada à 'tradição'".
Com 26 anos de idade obteve o diploma na Escola de Medicina da Universidade de Montpellier e foi para o sul da França prestar ajuda às vítimas da peste endêmica que desgraçava a Europa no século XVI. Foi nesse período que ganhou fama como médico, e algumas de suas receitas médicas foram publicadas num livro em 1552. Por volta de 1534 casou-se e teve dois filhos, que morreram devido a peste que sobreveio na cidade de Agen. Com muita tristeza, Nostradamus retirou-se para a Abadia de Orval, em Luxemburgo. Por volta de 1554 reapareceu em Marselha, e pouco depois em Lyon onde contribuiu para debelar a epidemia, recuperando seu prestígio como médico.
Finalmente estabeleceu-se em Salon-de-Crau, onde contraiu segunda núpcias, com Anne Gemelle, uma rica viúva, com quem teve seis filhos e passou a viver de forma mais tranquila, interessando-se profundamente pelo ocultismo, interesse herdado dos avôs que conheciam e cultivavam a tradição literária oculta dos judeus, a cabala. Por volta de 1555, Nostradamus publicou pela primeira vez as "Centúrias" que é o conjunto de "profecias" agrupadas em cem estrofes, de quatro versos cada uma. Produziu doze Centúrias, não se sabe por que a Centúria VII não foi completada. Os versos estão redigidos em linguagem obscura e hermética, que resulta da mistura do francês, provençal, italiano, grego e latim.
Nostradamus impressionou muito os monarcas da França com suas previsões, sendo nomeado consecutivamente como conselheiro pelos reis: Henrique II, Francisco II e Carlos IX, e recebia muitas pessoas de toda a Europa, que buscavam saber sobre o futuro.
Finalmente cansado e com a saúde declinante e sofrendo de artrite e gota, Nostradamus morreu no dia 02 de julho de 1566, com 62 anos, deixando instruções precisas para seu sepultamento: quis ser enterrado em pé e com uma lápide de mármore
pedindo que seu sossego não fosse perturbado. Junto com ele foi enterrada, em segredo, uma placa de metal. Tal era sua fama que após a sua morte muitas lendas e invenções foram acumulando em torno de sua pessoa, a fim de mais o aureolar. O povo simples não cria que ele tivesse morrido, pensava que ele se encerrara em seu túmulo com uma lâmpada, papel, tinta e livros, e que ameaçava de morte quem tivesse a ousadia de abrir o sepulcro. Desta crença supersticiosa, parece ter-se aproveitado os exploradores, que publicaram subsequentemente edições das Centúrias, contendo "profecias" adaptadas aos acontecimentos posteriores à morte de Nostradamus.

Como foram escritas as "profecias" de Nostradamus
O século XVI, em que viveu Nostradamus, foi um período de grandes transformações sociais, políticas e religiosas. Foi o século das grandes descobertas e invenções, período das grandes navegações e do descobrimento de novos continentes. Foi também o período da Reforma Protestante e das profundas mudanças que a Igreja Católica foi coagida a fazer. Desse contexto histórico de antagonismo, surge a intolerância e perseguição religiosa que afetou profundamente a vida de milhares de pessoas no Velho Mundo.
É nesse período de profundas transformações que Nostradamus escreveu suas "profecias". Essas "profecias" foram escritas de maneira cifrada, numa linguagem inacessível à maioria das pessoas. Suas "profecias" nos mostram como ele foi profundamente influenciado pelo ocultismo da literatura judaica e como utilizou do conhecimento das línguas clássicas e de alguns "truques", como a inversão de letras, substituindo por outras. Entendemos que a maioria de suas previsões tinham relação com a história da França, seu país, e também utilizou-se de "interpretação" dos escritos da Bíblia Sagrada.
Suas "profecias" e previsões foram feitas a partir de 1544, em Salon, à noite, quando ele se colocava com uma vara na mão, no meio de um círculo mágico chamado "limbo", junto a um recipiente com água sobre um tripé, falava-lhe então a voz de Branco, filho de Apoio, que aparecia em meio ao fogo. Antes desta cerimônia, porém, consultava os astros para saber se estava numa "hora de eleição"; em caso afirmativo, esvaziava o espírito de toda preocupação e entrava em "paz" e nela observava o futuro, segundo relato do próprio "profeta". Suas inspirações se materializavam em meio a uma verdadeira liturgia astrológica. Nostradamus conta como recebia a "inspiração" para suas profecias na sua obra "As Centúrias": "Estando sentado, de noite em secreto estudo, sozinho, repousando sobre o tamborete, uma chama exígua sai da solidão... segurando com a mão a vara colocada na bacia, que contém água sagrada e Branchus no meio me aparece se molha com água não só o limbo de sua roupa, mas também os pés, um medo e uma voz fremem pelas mangas, esplendor divino, o espírito perto de mim se assenta"... "A inspiração torna sensível o espírito por aparições, de noite; a certeza é feita de dia, por cálculos astronômicos, pelo livre arbítrio ".
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Fonte:
Revista Defesa da Fé. Ano 3 - Nº 15 - Outubro de 1999. Instituto Cristão de Pesquisa. São Paulo, págs. 13-15.

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