Nostradamus e o fim do mundo
Por: Alberto
Alves da Fonseca
As
biografias de Nostradamus misturam histórias e lendas, algo comum nas biografias
de adivinhos e "profetas" do passado. Paul Wateled, citado por
Anatole Le Pelletier afirma que as pistas de sua biografia foram
deliberadamente embaralhadas. As informações que temos mais próximas são as do
seu irmão, Jean, que escreveu "Crônica
da Provença", e de seu filho César, que escreveu "História e Crônica da Provença".
Temos também as informações de seu discípulo Jean Aime de Chavigny, autor de
"Vida e Testamento de Michel de
Notre-Dame". Nesta matéria procuraremos apresentar uma biografia mais
segura possível.
Michel de
Nostredame, conhecido por Nostradamus, nasceu no dia 23 de dezembro de 1503, de
acordo com o calendário gregoriano (ou numa quinta-feira, 14 de novembro de
1503, aproximadamente às 12 hora no calendário juliano), na pequena Saint-Rémy
(Provença - França). Filho de Jacques de Nostredame, um tabelião de família
modesta, e de Renée de Saint-Rémy, que tinha ascendentes ilustres, sábios
famosos em medicina e matemática.
Aos nove
anos de idade, sua família se converteu do judaísmo para o catolicismo,
provavelmente por efeito de um decreto de Luís XI, que ameaçava de confisco de
bens os judeus não-batizados, o que levou a família a conversão à fé católica e
a adotar o nome católico de Notre-Dame, que no latim vulgar deu Nostradamus,
cujo significado é "Nossa Senhora".
Ainda garoto
aprendeu com o avô materno latim, grego, hebraico, matemática, astrologia,
alquimia e cabala, além de aprender a
manejar o astrolábio, a contemplar as estrelas e a ler os "destinos"
dos homens nas conjunções dos astros. A
Cabala é definida na obra Introduction
To The Kabbalah Unveiled de McGregor Mathers como "...doutrina esotérica do judaísmo. É chamada em hebreu QBLH,
Qabalah, que se deriva da raiz QBL, Qibel, significando 'receber'. Esta
denominação se refere ao costume de transmitir a tradição esotérica por
transmissão oral, e é aproximadamente associada à 'tradição'".
Com 26 anos
de idade obteve o diploma na Escola de Medicina da Universidade de Montpellier
e foi para o sul da França prestar ajuda às vítimas da peste endêmica que
desgraçava a Europa no século XVI. Foi nesse período que ganhou fama como
médico, e algumas de suas receitas médicas foram publicadas num livro em 1552.
Por volta de 1534 casou-se e teve dois filhos, que morreram devido a peste que
sobreveio na cidade de Agen. Com muita tristeza, Nostradamus retirou-se para a
Abadia de Orval, em Luxemburgo. Por volta de 1554 reapareceu em Marselha, e
pouco depois em Lyon onde contribuiu para debelar a epidemia, recuperando seu
prestígio como médico.
Finalmente
estabeleceu-se em Salon-de-Crau, onde contraiu segunda núpcias, com Anne
Gemelle, uma rica viúva, com quem teve seis filhos e passou a viver de forma
mais tranquila, interessando-se profundamente pelo ocultismo, interesse herdado
dos avôs que conheciam e cultivavam a tradição literária oculta dos judeus, a cabala. Por volta de 1555, Nostradamus
publicou pela primeira vez as "Centúrias"
que é o conjunto de "profecias" agrupadas em cem estrofes, de quatro
versos cada uma. Produziu doze Centúrias, não se sabe por que a Centúria VII não foi completada. Os
versos estão redigidos em linguagem obscura e hermética, que resulta da mistura
do francês, provençal, italiano, grego e latim.
Nostradamus
impressionou muito os monarcas da França com suas previsões, sendo nomeado
consecutivamente como conselheiro pelos reis: Henrique II, Francisco II e
Carlos IX, e recebia muitas pessoas de toda a Europa, que buscavam saber sobre
o futuro.
Finalmente
cansado e com a saúde declinante e sofrendo de artrite e gota, Nostradamus
morreu no dia 02 de julho de 1566, com 62 anos, deixando instruções precisas
para seu sepultamento: quis ser enterrado em pé e com uma lápide de mármore
pedindo que
seu sossego não fosse perturbado. Junto com ele foi enterrada, em segredo, uma
placa de metal. Tal era sua fama que após a sua morte muitas lendas e invenções
foram acumulando em torno de sua pessoa, a fim de mais o aureolar. O povo
simples não cria que ele tivesse morrido, pensava que ele se encerrara em seu
túmulo com uma lâmpada, papel, tinta e livros, e que ameaçava de morte quem
tivesse a ousadia de abrir o sepulcro. Desta crença supersticiosa, parece
ter-se aproveitado os exploradores, que publicaram subsequentemente edições das
Centúrias, contendo "profecias" adaptadas aos acontecimentos
posteriores à morte de Nostradamus.
Como foram escritas as "profecias" de Nostradamus
O século
XVI, em que viveu Nostradamus, foi um período de grandes transformações
sociais, políticas e religiosas. Foi o século das grandes descobertas e
invenções, período das grandes navegações e do descobrimento de novos
continentes. Foi também o período da Reforma Protestante e das profundas
mudanças que a Igreja Católica foi coagida a fazer. Desse contexto histórico de
antagonismo, surge a intolerância e perseguição religiosa que afetou
profundamente a vida de milhares de pessoas no Velho Mundo.
É nesse
período de profundas transformações que Nostradamus escreveu suas
"profecias". Essas "profecias" foram escritas de maneira
cifrada, numa linguagem inacessível à maioria das pessoas. Suas
"profecias" nos mostram como ele foi profundamente influenciado pelo
ocultismo da literatura judaica e como utilizou do conhecimento das línguas
clássicas e de alguns "truques", como a inversão de letras,
substituindo por outras. Entendemos que a maioria de suas previsões tinham
relação com a história da França, seu país, e também utilizou-se de
"interpretação" dos escritos da Bíblia Sagrada.
Suas
"profecias" e previsões foram feitas a partir de 1544, em Salon, à
noite, quando ele se colocava com uma vara na mão, no meio de um círculo mágico
chamado "limbo", junto a um recipiente com água sobre um tripé,
falava-lhe então a voz de Branco, filho de Apoio, que aparecia em meio ao fogo.
Antes desta cerimônia, porém, consultava os astros para saber se estava numa
"hora de eleição"; em caso afirmativo, esvaziava o espírito de toda
preocupação e entrava em "paz" e nela observava o futuro, segundo
relato do próprio "profeta". Suas inspirações se materializavam em
meio a uma verdadeira liturgia astrológica. Nostradamus conta como recebia a
"inspiração" para suas profecias na sua obra "As
Centúrias": "Estando sentado,
de noite em secreto estudo, sozinho, repousando sobre o tamborete, uma chama
exígua sai da solidão... segurando com a mão a vara colocada na bacia, que
contém água sagrada e Branchus no meio me aparece se molha com água não só o
limbo de sua roupa, mas também os pés, um medo e uma voz fremem pelas mangas,
esplendor divino, o espírito perto de mim se assenta"... "A
inspiração torna sensível o espírito por aparições, de noite; a certeza é feita
de dia, por cálculos astronômicos, pelo livre arbítrio ".
[...]
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Fonte:
Revista Defesa da Fé. Ano 3 - Nº 15 - Outubro de 1999. Instituto Cristão de Pesquisa. São Paulo, págs. 13-15.
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