segunda-feira, 18 de julho de 2016

As Seitas Judaicas

As Seitas Judaicas — No fim deste período apareceram na Judéia diversas seitas, sendo as principais a dos Fariseus, a dos Saduceus e a dos Essênios. Esta última, ainda que não seja mencionada pelo nome no Novo Testamento, exercia uma certa influência na vida religiosa daqueles tempos.
Os Fariseus eram os sucessores espirituais dos Hasideanos, ou Casidins, "homens poderosos de Israel, oferecendo-se de boa vontade pela Lei", 1 Mac. 2:42. Desejavam vivamente conservar a nação fiel às tradições do passado. Mas quando Jônatas, o filho de Matatias, principiou a mostrar outro propósito na luta, não sendo já movido pela causa de Deus, mas pelos seus próprios interesses, e quando Simão foi escolhido pelo povo para seu sumo sacerdote, os escribas e os hasideanos retiraram-se do partido dos Macabeus. "Não pode haver dúvida alguma", diz Wellhausen, de que sob o ponto de vista legal eles tinham muita razão em se contentarem, como fizeram, com a conquista da liberdade religiosa. Os hasmoneus não tinham direito hereditário ao sumo sacerdócio, e a sua política que aspirava ao estabelecimento duma monarquia nacional, era inteiramente contrária ao espírito e essência da segunda teocracia". Foi uma profunda aderência à antiga constituição mosaica que produziu uma completa ruptura entre João Hircano, neto de Matatias e os fariseus. Num banquete político disse um fariseu a Hircano que ele devia resignar o seu lugar de sumo sacerdote e tratar simplesmente do governo civil do povo.
Significação do nome — Os fariseus, ou "separatistas", foram assim chamados, provavelmente pelos seus inimigos, para indicar o seu exclusivismo em face do povo em geral, o "povo da terra". A separação era realmente essencial ao ideal farisaico da vida religiosa. A Lei, como era exposta pelos escribas, era tão minuciosa que se tornava impossível aos judeus em geral o guardá-la perfeitamente. Os fariseus eram os homens que, unidos aos escribas, aceitavam os seus ensinamentos, consistindo a sua principal tarefa em pô-los em prática. Diz a seu respeito o Deão Stanley: "Eles por princípio e por política multiplicavam os sinais exteriores, que os deviam distinguir do mundo gentílico, ou mesmo dos do seu país, já manchados de gentilismo. Borlas nos seus vestidos; rolos e pequenos receptáculos de couro presos à testa, à cabeça e ao pescoço, com textos da Lei; longas orações feitas em praças públicas: abstinência rigorosa; imersões constantes; tudo isto eram as insígnias sacramentais, de que faziam uso, para mostrarem a sua superioridade". Não se pense todavia, que os pensamento-e vidas dos fariseus eram inteiramente consagrados às ordenações externas. Importa lembrar que eles procuravam conservar viva a esperança da vinda do Messias, e que, se muitas vezes deturpavam a verdade, não deixavam de proclamar que Deus recompensaria a obediência à Lei: eles confortavam aqueles que sofriam na sua defesa com a segurança de que haviam de possuir a vida eterna, e iam advertindo os maus üi que as suas maldades haviam de ter uma retribuição correspondente por toda a eternidade. Entre todas as seitas judaica a dos fariseus, embora não fosse a mais numerosa, era na verdade a mais proeminente, a mais popular, e a mais nacional em espírito. O patriotismo era o seu ponto de partida, e a restauração do governo divino era o seu objeto; apesar disso, como o farisaísmo não avaliava os homens pelos seus sentimentos, mas somente pelas exterioridades, ele foi severamente denunciado por Jesus Cristo, que por isto mesmo contava entre os fariseus os seus maiores inimigos.
Os Saduceus, o grande partido rival dos fariseu receberam o seu nome, ou de Zadoque, o sumo sacerdote, meado por Salomão (1 Reis 2:35) ou "porque pretendiam eu oposição aos meros partidos do separatismo, ser os verdadeiros Rsadiquins, os homens retos que insistiam mais na prática da moral do que no cumprimento da Lei cerimonial". Eles negavam a autoridade da tradição, e consideravam suspeitas as revelações posteriores a Moisés. Faziam objeção a todo o desenvolvimento da verdade divina, tratando-se mesmo de princípios plenamente subentendidos no Pentateuco, e desta forma muitas vezes compreendiam mal os próprios livros que declaravam receber. E então chegavam a negar as doutrinas da ressurreição e da imortalidade da alma. Com respeito a negarem eles a existência de anjos e espíritos, como se lê em Atos 23:8, isso não pode ter outra explicação, senão a de que quando os homens se tornam cépticos, a incredulidade está intimamente ligada à sua credulidade. Os preceitos da Lei eram as únicas partes do Pentateuco que eles consideravam claras, tudo mais era para eles incerto. Relativamente à esperança messiânica, eram eles profundamente indiferentes. Os saduceus na sua maior parte eram pessoas de alta posição e riqueza. A partir do tempo de João Hircano vemos que eles ocuparam muitas vezes o lugar de sumo sacerdote. Anás e o seu genro Caifás, que presidiram o julgamento de Cristo, eram saduceus. Dá-nos uma ideia clara do dogmatismo desta seita o fato de que eles excederam os fariseus na perseguição dos apóstolos, que "ensinavam ao povo e pregavam, por Jesus Cristo, a ressurreição dos mortos".
Os Essênios — A reserva dos escritores do Novo Testamento a respeito da terceira das grandes seitas que neste período apareceram na Judéia, é realmente notável, visto como alguns dos seus pontos característicos estão em íntima relação com os ensinamentos de João Batista e mesmo de Jesus Cristo. O essenismo era uma reação contra as formalidades mecânicas em que o farisaísmo assentara. Os seus partidários não tomavam parte alguma nos negócios públicos, e passavam a vida em lugares retirados e solitários, onde nas ocupações da agricultura, por meio de hábitos ascéticos, pelo celibato, e pelas abluções e orações, eles procuravam realizar o seu ideal de pureza levítica. À exceção dum juramento solene quando eram iniciados na sua seita, os essênios abstinham-se de jurar, desprezavam as riquezas e manifestavam a maior aversão pela guerra e pela escravidão. Todavia, embora ciosos da Lei, transgrediam-na também rejeitando os sacrifícios de animais, e adorando o sol. Em matéria de crença eles seguiam as Escrituras, e tinham por elas o maior respeito, interpretando-as, contudo, segundo um sistema alegórico inteiramente seu;  acreditavam também na imortalidade da alma, mas não aceitavam a doutrina da ressurreição dos corpos.
Posteriormente ao tempo de Jesus Cristo estas seitas foram conhecidas por diferentes nomes. Os fariseus foram sucessivamente chamados rabinistas (discípulos dos rabis, ou grandes mestres), cabalistas (isto é, tradicionalistas) e talmudistas. Os que sustentavam a doutrina dos saduceus sobre a supremacia do texto literal do Pentateuco, embora não abraçassem os seus outros erros, foram chamados caraítas ou escrituristas. Os essênios também são conhecidos na história pelo nome de terapeutas (isto é. médicos da alma), ainda que alguns pensem que este nome pertencia aos sequazes duma seita inteiramente distinta, posto que semelhante. Para maior conhecimento do assunto desta secção, vejam-se os capítulos sobre fariseus, saduceus e essênios na obra de Schürer Jewish People in the time of Christ, parte II, vol. II; e o capítulo sobre as Comunidades Religiosas da Terra Santa, no vol. I de Jesu van Nazara, do escritor Keim. E especialmente sobre os essênios, leia-se a dissertação do Bispo Lightfoot no seu Commentary on Colossians, e as conferências do Dr. H. R. Reynolds sobre João Batista.
Devemos observar que se os fariseus faziam uso da tradição na descoberta da verdade, os saduceus empregavam para o mesmo fim, a lógica racionalista, como em tempos posteriores vieram a fazer os filósofos escolásticos; e também que estas seitas tiveram a sua origem nas tendências da natureza humana e na decadência da religião espiritual. Mas a grande questão entre aqueles era a extensão e autoridade da tradição. Os saduceus embora quisessem comparar a tradição com a parte da Escritura que aceitavam, negavam a sua autoridade, ao passo que os fariseus recebiam-no como divina.


---
Fonte
:
História,  doutrina e interpretação da Bíblia - Volume II, por: Joseph Angus. Tradução: J. Santos Figueiredo. Casa Publicadora Batista. Rio de Janeiro, 1953, págs. 197-200.

Nenhum comentário:

Postar um comentário