segunda-feira, 25 de julho de 2016

A Igreja Católica (Religião)

A Igreja Católica
Por: Guilherme Luz (pastor)
O vocábulo grego kathólikos surgiu no período helenístico, no final do quarto século a.C., com um leque de conotações de difícil entendimento para quem falava o idioma do Lácio, como Quintiliano ou Jerônimo, e outros filólogos e estudiosos que divergiam quanto aos seus vários significados, entre eles o de universal.
Embora não conste nos Evangelhos, nos Atos dos Apóstolos nem nas Epístolas, esse adjetivo, aplicado à igreja após uma evolução semântica de vários séculos, encontra fundamento neotestamentário (Mt 28.19 e Ap 7.9).
No início do Século II, a igreja cristã passou pela mais grave crise desde seus primórdios até então. A crise foi provocada, de um lado, pelos gnósticos, que afirmavam, entre outras coisas, a aparência docética de Jesus, isto é, que seu corpo não era de carne e osso, como o nosso, mas como o de um fantasma, concepção que nega a humanidade e morte do Mestre. De outro lado, pelos montanistas, que se proclamavam porta-vozes do Espírito Santo, pregavam o iminente fim do mundo, exigindo, como preparação para esse evento, o ascetismo, o celibato, jejuns demorados e abstinência de carne.
As comunidades cristãs, antes particulares ou independentes, fragilizadas pela inexistência de uma organização definida, uniram-se em torno de uma regra de fé resumida em um credo, no cânon do Novo Testamento e na autoridade dos bispos . Assim, conseguiram sair da crise fortalecidas.
A partir de então, Inácio, bispo de Antioquia, acrescentou à igreja o qualificativo "católica", com a ideia inicial de universal em contraste com particular.
Sendo católica, ou universal, a igreja não poderia se restringir a um lugar geográfico qualquer — a uma cidade, a um Estado, a um país — mas a todo o Orbe Terrestre. Não poderia, portanto, ser hebraica, grega ou romana.
Tendo a igreja desenvolvido o espírito de koinonia, tornando-se, por conseguinte, comunidade coesa e única, o qualificativo dado por Inácio e reforçado em suas cartas obteve pouco a pouco o sentido mais elevado e predominante de ortodoxia, perfeição, integridade e santidade.
Essa catolicidade da igreja cristã é exaltada por Cirilo de Jerusalém (348-350) em um trecho de suas catequeses, em que reafirma que ser católica é estar ornamentada com todos os preciosos dons do Espírito Santo, é ser charismata. É estar sempre no exercício do ministério de servir: dakonia.
Fica claro que o sentido da catolicidade do povo de Deus é que ele é diferente, com qualidades peculiares, unido em amor e fiel ao Senhor: "um povo especial, zeloso e de boas obras" (Tt 2.14).
Existe uma comunidade espiritual de pessoas oriundas de todos os grupos humanos, desde os tempos mais remotos até os dias atuais, que tiveram e têm como escopo o amor, a justiça, a paz, a retidão, a pureza, a bondade, a solidariedade, a santidade, o perdão e a fé no Deus Eterno.
Essa comunidade compõe-se daqueles que já partiram desta vida — a igreja triunfante — e dos que aqui ainda vivem — a igreja militante. Não obstante as diferentes condições, ela desfruta de perfeita comunhão porque  é um só corpo espiritual, a grande assembleia dos filhos de Deus.
A ela consagraram suas vidas os patriarcas, os profetas, os apóstolos e os mártires, bem como se consagram ainda hoje fiéis de todos os grupos denominacionais em todo o mundo.
Essa igreja é una, pois sendo o corpo de Cristo, é indivisível. Sua unidade é espiritual, por isso não pode ser visível aos olhos materiais. Não está nos bispos, presbíteros, diáconos, pastores ou dirigentes das comunidades locais, mas em Cristo, pastor e bispo das nossas almas. Nela se cumpre a oração sacerdotal do Senhor: "Para que todos sejam um, como Tu, ó Pai, o és em mim e Eu em ti, que eles sejam um em nós, para que o mundo creia que Tu me enviaste" (Jo 17.21).
É santa, pois embora constituída de pecadores, é purificada pelo sangue do Cordeiro e santificada pelo poder do Espírito Santo, no qual foi selada para o dia da redenção.
É universal, ou católica, pois se constitui de pessoas de todos os grupos étnicos e sociais de todos os tempos e de todos os lugares, raças, línguas e nações em todo o universo.
É apostólica, porque "permanece na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações" (At 2.42).
As comunidades de fé, chamadas de igrejas, são, na realidade, agências do reino de Deus, pois a Igreja é uma só: una, universal e apostólica. A bendita companhia de todos os fiéis. O corpo místico do Senhor Jesus Cristo, do qual Ele mesmo é a cabeça.  
Por isso somos um em Cristo Jesus, nosso Senhor! Aleluia!


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Fonte:
Revista Ultimato. Ano XXXII - Nº 258 - Maio/Junho de 1999. Ultimato Editora. Viçosa/MG, pág. 39.

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