A Igreja Católica
Por: Guilherme
Luz (pastor)
O vocábulo
grego kathólikos surgiu no período
helenístico, no final do quarto século a.C., com um leque de conotações de
difícil entendimento para quem falava o idioma do Lácio, como Quintiliano ou
Jerônimo, e outros filólogos e estudiosos que divergiam quanto aos seus vários
significados, entre eles o de universal.
Embora não
conste nos Evangelhos, nos Atos dos Apóstolos nem nas Epístolas, esse adjetivo,
aplicado à igreja após uma evolução semântica de vários séculos, encontra
fundamento neotestamentário (Mt 28.19 e Ap 7.9).
No início do
Século II, a igreja cristã passou pela mais grave crise desde seus primórdios
até então. A crise foi provocada, de um lado, pelos gnósticos, que afirmavam,
entre outras coisas, a aparência docética de Jesus, isto é, que seu corpo não
era de carne e osso, como o nosso, mas como o de um fantasma, concepção que
nega a humanidade e morte do Mestre. De outro lado, pelos montanistas, que se
proclamavam porta-vozes do Espírito Santo, pregavam o iminente fim do mundo,
exigindo, como preparação para esse evento, o ascetismo, o celibato, jejuns
demorados e abstinência de carne.
As
comunidades cristãs, antes particulares ou independentes, fragilizadas pela
inexistência de uma organização definida, uniram-se em torno de uma regra de fé
resumida em um credo, no cânon do Novo Testamento e na autoridade dos bispos .
Assim, conseguiram sair da crise fortalecidas.
A partir de
então, Inácio, bispo de Antioquia, acrescentou à igreja o qualificativo
"católica", com a ideia inicial de universal em contraste com particular.
Sendo
católica, ou universal, a igreja não poderia se restringir a um lugar
geográfico qualquer — a uma cidade, a um Estado, a um país — mas a todo o Orbe
Terrestre. Não poderia, portanto, ser hebraica, grega ou romana.
Tendo a
igreja desenvolvido o espírito de koinonia,
tornando-se, por conseguinte, comunidade coesa e única, o qualificativo dado
por Inácio e reforçado em suas cartas obteve pouco a pouco o sentido mais
elevado e predominante de ortodoxia, perfeição, integridade e santidade.
Essa
catolicidade da igreja cristã é exaltada por Cirilo de Jerusalém (348-350) em
um trecho de suas catequeses, em que reafirma que ser católica é estar
ornamentada com todos os preciosos dons do Espírito Santo, é ser charismata. É estar sempre no exercício
do ministério de servir: dakonia.
Fica claro
que o sentido da catolicidade do povo de Deus é que ele é diferente, com
qualidades peculiares, unido em amor e fiel ao Senhor: "um povo especial,
zeloso e de boas obras" (Tt 2.14).
Existe uma
comunidade espiritual de pessoas oriundas de todos os grupos humanos, desde os
tempos mais remotos até os dias atuais, que tiveram e têm como escopo o amor, a
justiça, a paz, a retidão, a pureza, a bondade, a solidariedade, a santidade, o
perdão e a fé no Deus Eterno.
Essa
comunidade compõe-se daqueles que já partiram desta vida — a igreja triunfante
— e dos que aqui ainda vivem — a igreja militante. Não obstante as diferentes
condições, ela desfruta de perfeita comunhão porque é um só corpo espiritual, a grande assembleia
dos filhos de Deus.
A ela
consagraram suas vidas os patriarcas, os profetas, os apóstolos e os mártires,
bem como se consagram ainda hoje fiéis de todos os grupos denominacionais em
todo o mundo.
Essa igreja
é una, pois sendo o corpo de Cristo,
é indivisível. Sua unidade é espiritual, por isso não pode ser visível aos
olhos materiais. Não está nos bispos, presbíteros, diáconos, pastores ou
dirigentes das comunidades locais, mas em Cristo, pastor e bispo das nossas
almas. Nela se cumpre a oração sacerdotal do Senhor: "Para que todos sejam
um, como Tu, ó Pai, o és em mim e Eu em ti, que eles sejam um em nós, para que
o mundo creia que Tu me enviaste" (Jo 17.21).
É santa, pois embora constituída de
pecadores, é purificada pelo sangue do Cordeiro e santificada pelo poder do
Espírito Santo, no qual foi selada para o dia da redenção.
É universal, ou católica, pois se
constitui de pessoas de todos os grupos étnicos e sociais de todos os tempos e
de todos os lugares, raças, línguas e nações em todo o universo.
É apostólica, porque "permanece na
doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações" (At
2.42).
As
comunidades de fé, chamadas de igrejas, são, na realidade, agências do reino de
Deus, pois a Igreja é uma só: una,
universal e apostólica. A bendita companhia de todos os fiéis. O corpo
místico do Senhor Jesus Cristo, do qual Ele mesmo é a cabeça.
Por isso
somos um em Cristo Jesus, nosso Senhor! Aleluia!
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Fonte:
Revista Ultimato. Ano XXXII - Nº 258 - Maio/Junho de 1999. Ultimato Editora. Viçosa/MG, pág. 39.
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