Uma profissão antiga como o mundo
Há palavras
que têm sorte e profissões que subsistem apesar do desgaste do tempo. A palavra
"profeta" é um termo grego que pode ser traduzido por "aquele
que fala na frente". Mas — muito antes da civilização grega e da tradição
bíblica — a profissão de profeta já existia. Com todas as variantes que essa
profissão engloba, já encontramos profetas no terceiro milênio antes de Jesus
Cristo.
Há mais de
um século, arqueólogos descobriram uma quantidade considerável de textos que
foram traduzidos e estudados por grande número de eruditos. Esses textos nos
fizeram descobrir civilizações antigas, bem anteriores às narrações bíblicas. A
partir deste fato, a Bíblia que — até o século passado — era frequentemente
considerada como o livro mais antigo e a expressão típica da Antiguidade,
rejuvenesceu de maneira surpreendente. O velho Abraão da Bíblia tornou--se um
personagem quase moderno diante de outras figuras da Mesopotâmia ou do Egito,
que viveram mais de mil anos antes do patriarca hebreu.
Neste
quadro, os profetas da Bíblia devem ser considerados como representantes
recentes de um fenômeno muito antigo e bastante espalhado no conjunto da
Mesopotâmia e — com menos importância — no Egito. Assim, nestes últimos
quarenta anos, foi publicada uma série de cartas, provenientes dos arquivos
reais da cidade de Mari. Esta cidade, situada à margem direita do rio Eufrates,
teve seus últimos momentos de glória no século XVIII a.C. Estas cartas — em sua
maioria destinadas ao rei — contêm uma série de oráculos que dizem respeito à
situação política do momento, aos problemas do culto e a diversas outras
questões. Segundo tais cartas, a iniciativa destes oráculos vem da divindade.
Para transmiti-los, a divindade se serve tanto dos profetas profissionais como
ainda de homens e mulheres que, no começo, nada tinham a ver com a função
profética.
Tendo sua
origem na divindade, este profetismo recebe correntemente o nome de
"profetismo inspirado", exatamente como o da Bíblia. São numerosas as
semelhanças com o profetismo bíblico, principalmente quanto às fórmulas utilizadas
e quanto àquilo que se pode chamar de "experiência profética". As
divergências, todavia, são radicais no que concerne ao conteúdo dos oráculos.
Embora com
diferenças marcantes, o fenômeno profético existe, portanto, antes do
profetismo bíblico. Coexistirá, aliás, com este, influenciando-o, como o
atesta, na idade de ouro do profetismo bíblico, o episódio do profeta Balaão.
Apesar de ser um estrangeiro em Israel, as intervenções deste profeta ocupam os
capítulos 22 a 24 do livro dos Números, enquanto um texto em aramaico — descoberto
há vinte anos na Transjordânia — descreve, em termos bem parecidos, este
profeta que se tornou célebre por causa da sua jumenta.
Assim, para
além das fórmulas, a experiência e o estilo proféticos, os contatos entre a
Bíblia e suas circunvizinhanças, sua interpenetração recíproca, aparecem
numerosos e concretos.
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Fonte:
O Profetismo: das origens à época moderna, por: Jesus Asurmendi. Edições Paulinas. São Paulo, 1988, págs. 13-14.
Fonte:
O Profetismo: das origens à época moderna, por: Jesus Asurmendi. Edições Paulinas. São Paulo, 1988, págs. 13-14.