Teologia e trabalho
Por: Rev.
Guilhermino Cunha
Em meio ao
caos econômico, político e social que estamos mergulhados, cumpre nesta hora
lembrarmos da mensagem de João Calvino, o reformador protestante de Genebra,
que no século XVI, estabeleceu normas éticas e morais tanto para os indivíduos,
como para os negócios e por extensão para a sociedade em geral.
Calvino
teceu comentários e recomendou procedimentos para a solução dos problemas
sociais, econômicos e políticos de sua época, muitos identificaram nesta
postura, uma prévia do capitalismo, mas com a degradação do sistema
capitalista, a nível mundial, desembocando no capitalismo selvagem, muitas
vezes o pensamento calvinista é mal compreendido, quase sempre é erradamente
citado e infelizmente bastante distorcido.
Em seu livro
A Ética Protestante e o Espírito do
Capitalismo, Max Weber destaca a doutrina da "vocação". Sem
dúvida, o tema é um ponto muito significativo da tecnologia e da ética
calvinista para quem a vocação é um serio e fiel compromisso da pessoa com o
trabalho; o trabalho é visto como um chamado de Deus e uma responsabilidade
espiritual. O trabalho não é meramente econômico, é uma finalidade divina. As
preconizadas na ética calvinista de diligência, poupança e sobriedade, são prepara uma
autêntica prosperidade e saída da crise.
Afirma Max
Weber que o espírito do capitalismo é o espírito do ascetismo cristão. Só que o
ascetismo neste caso sai da clausura e vai para as ruas, para o dia-a-dia, para
a vida prática. Para Weber, o capitalismo é fruto do espírito calvinista com
sua ideia de vocação divina para o trabalho secular.
Revisitando
o pensamento weberiano constatamos que jamais Calvino preconizou princípios do
capitalismo selvagem. O que temos hoje não reflete o que Calvino ensinou. O
próprio Weber falou de um capitalismo moderno, organizado e racional onde
haveria justiça social, distribuição de riquezas e não o que vemos na
atualidade: acúmulo de capital, exploração de um indivíduo sobre outros e de nações
sobre outras. O que estamos presenciando, sentindo e sofrendo, a nível
internacional e, principalmente em nosso país, é a excessiva concentração de
riqueza e uma perversa socialização dos prejuízos. Isto não é, nunca foi, calvinismo.
É tempo de
voltarmos ao pensamento de João Calvino como analisado por Max Weber e André
Biéler, este último em O Pensamento Econômico
e Social de Calvino, não somente pelas ideias práticas e objetivas, mas
pela fidelidade do reformador de Genebra à Bíblia.
Se
aplicarmos os princípios bíblicos na administração da política, da economia e
em nossa vida pessoal veremos resultados surpreendentemente positivos.
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Fonte:
Revista Urgência Missionária. M. D. Navarro Editora e Publicidade. Osasco - SP, 1992, pág. 10.
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