sexta-feira, 15 de julho de 2016

A Origem do Baralho

BARALHO — Várias lendas percorrem o mundo contando histórias das cartas de jogar.
A sisuda enciclopédia Britânica diz que o baralho descende provavelmente dos árabes e acrescenta também ser a cidade de Ulm, na Alemanha, a sua primeira e mais conhecida fabricante.
Há quem conte, entretanto, que o mais antigo baralho é o tarot; nesse particular, a lógica mistura-se com a fantasia, numa das mais fascinantes histórias vindas da antiguidade.
O tarot é um conjunto de 78 cartas, sendo que, dessas, 52 formam o atual baralho. As outras que existiam eram o "Cavaleiro" que tinha seu lugar entre a dama e o valete dos quatro naipes e ainda mais 22 figurativas que se caracterizavam por serem únicas e completavam assim o tarot. Entre essas, encontravam-se a torre, o imperador, o bobo, o homem enforcado e outras mais. Possivelmente o coringa originou-se do bobo.
Sabe-se que a princípio, o tarot era representado em tábuas, na mesma forma que as peças encontradas na bibliotecas de Alexandria, depois passou a medalhões, a placas de metal, a cartas de couro e finalmente a cartões de papel. Apareceu pela primeira vez na Espanha no século XIV, na mão de ciganos analfabetos que nele liam a sorte e o futuro. A incongruência cedo se fez notar — o tarot era de forma bastante inteligente e suas figuras eram por demais mescladas com símbolos das mais remotas épocas para ter sido inventado por nômades inconsequentes.
Ficando assim praticamente provado que o tarot foi trazido pela mão dos mouros quando estes invadiram a Espanha. Deste ponto em diante a lenda principia e é entusiasticamente defendida pelos estudiosos.
Segundo os entendidos, o tarot é um livro egípcio que versa sobre Deus em relação ao homem e o Universo, fazendo assim parte do quadro das ciências herméticas. É necessário, para compreendê-lo, estar-se familiarizado com o cabala, livro místico judaico, com a alquimia, a magia e a astrologia. Havendo ainda quem afirme ser o tarot urna sinopse dessas ciências, ou pelo menos uma tentativa.
As ciências herméticas constituem um sistema de estudo do homem em relação ao Universo, de uma forma bem mais transcendental que a pesquisa física. Sua forma c simbólica sem ser prisioneira da objetividade das palavras, ela é muito mais completa. As múltiplas facetas do símbolo ampliam a visão do espírito humano, atingindo a uma esfera de compreensão inegavelmente superior ao da linguagem.
Os princípios da vida no quadro das ciências herméticas são em número de quatro: O cabala apresenta-os nas 4 letras do nome de Deus (yod, he, val e He-Jeová) que unidas representam o Absoluto. A alquimia na forma de elementos; o fogo, a água, o ar e a terra: a magia os quatro espíritos desses mesmos elementos; a astrologia quatro princípios, que remotamente correspondem aos pontos cardiais, c finalmente o Apocalipse fala de suas quatro bestas: as cabeças do touro, do leão, da águia e do homem. O baralho é composto de quatro naipes identificados com esses símbolos. Sendo paus correspondente ao espírito do, fogo, espadas com o espírito da água. copas com o do ai? e ouros da terra.
Essas ciências eram conhecidas dos sacerdotes egípcios e só adquiriram cunho vulgar quando caíram nas mãos de homens pouco  esclarecidos que tomaram   literalmente   a significação dos símbolos.
Conta-se que na antiguidade os candidatos ao sacerdócio, para serem iniciados na alta doutrina, passavam por uma galeria no Templo de Osíris, a qual se compunha de 22 afrescos pintados em suas paredes. Levados pela mão dos altos mestres os iniciados aprendiam o segredo dos símbolos. Ora, com a invasão dos bárbaros na terra das pirâmides, os sacerdotes sentiram o perigo que os ameaçava, e reconhecendo que não teriam forcas para defender seu templo e seu segredo formaram um concílio. Depois de cuidadoso exame chegaram a uma das mais sábias conclusões — Devendo deixar para a posterioridade os seus conhecimentos, era necessário que eles fossem gravados em algo seguro. O que existiria de mais poderoso no mundo? Não foi preciso muito para que "o vício fosse eleito por unanimidade", e foi assim que as cartas de um jogo de soldados analfabetos ganharam as 22 figuras dos afrescos do Templo de Osíris. A lenda termina contando por seus próprios súditos e supõe-se ser esta a razão pela qual nunca foi encontrada uma pedra sequer desse tão citado templo pelas gerações seguintes. Como havia sido previsto, pelas suas vítimas, os invasores exterminaram suas vítimas, mas aprenderam o jogo dos soldados e assim o divulgaram através dos tempos.
Existem entusiastas que afirmam ser o tarot tão completo e perfeito que um prisioneiro tendo somente em suas mãos um de seus exemplares e sendo capaz de manejá-lo com presteza será capaz de adquirir surpreendentes conhecimentos. Há quem afirme também que a humanidade perdeu a chave da linguagem dos símbolos, e com isso esqueceu a significação da vida — e do baralho.
Lenda ou não, o tarot chegou até nós, virou o baralho e é hoje usado em grande parte da Europa. Seus reis ganharam a figura de grandes monarcas como Júlio César, David, Alexandre, Carlos Magno. Suas rainhas o rosto de Minerva, Argine, Raquel e Judite. O símbolo cabalístico do "Homem enforcado" gerou, como a mais certa das hipóteses, as figuras com duas cabeças — pois o "Homem enforcado" era assim apresentado, sendo que a cabeça de cima representava o céu e a de baixo o inferno, a linha mediana simbolizava a vida terrena.
Hoje a geração moderna, imediatista e objetiva, ainda para perplexa diante da figura enigmática e imponente da esfinge; e há quem pare diante de um jogo de pif-paf ou buraco com uma longínqua pergunta no cérebro: O que teriam os sacerdotes egípcios de tamanha importância a nos deixar? (segundo Germana de Lamare).


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Fonte:
Dicionário da Origem e da Evolução das Palavras, por: Luiz A.  P.  Victoria. Editora Científica, 4ª Edição. Rio de Janeiro, 1965, págs. 26-29.

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