BARALHO — Várias lendas percorrem o mundo contando
histórias das cartas de jogar.
A sisuda
enciclopédia Britânica diz que o baralho descende provavelmente dos árabes e
acrescenta também ser a cidade de Ulm, na Alemanha, a sua primeira e mais
conhecida fabricante.
Há quem
conte, entretanto, que o mais antigo baralho é o tarot; nesse particular, a
lógica mistura-se com a fantasia, numa das mais fascinantes histórias vindas da
antiguidade.
O tarot é um
conjunto de 78 cartas, sendo que, dessas, 52 formam o atual baralho. As outras
que existiam eram o "Cavaleiro" que tinha seu lugar entre a dama e o
valete dos quatro naipes e ainda mais 22 figurativas que se caracterizavam por
serem únicas e completavam assim o tarot. Entre essas, encontravam-se a torre,
o imperador, o bobo, o homem enforcado e outras mais. Possivelmente o coringa
originou-se do bobo.
Sabe-se que
a princípio, o tarot era representado em tábuas, na mesma forma que as peças
encontradas na bibliotecas de Alexandria, depois passou a medalhões, a placas
de metal, a cartas de couro e finalmente a cartões de papel. Apareceu pela
primeira vez na Espanha no século XIV, na mão de ciganos analfabetos que nele
liam a sorte e o futuro. A incongruência cedo se fez notar — o tarot era de
forma bastante inteligente e suas figuras eram por demais mescladas com
símbolos das mais remotas épocas para ter sido inventado por nômades
inconsequentes.
Ficando
assim praticamente provado que o tarot foi trazido pela mão dos mouros quando
estes invadiram a Espanha. Deste ponto em diante a lenda principia e é entusiasticamente
defendida pelos estudiosos.
Segundo os
entendidos, o tarot é um livro egípcio que versa sobre Deus em relação ao homem
e o Universo, fazendo assim parte do quadro das ciências herméticas. É
necessário, para compreendê-lo, estar-se familiarizado com o cabala, livro
místico judaico, com a alquimia, a magia e a astrologia. Havendo ainda quem
afirme ser o tarot urna sinopse dessas ciências, ou pelo menos uma tentativa.
As ciências
herméticas constituem um sistema de estudo do homem em relação ao Universo, de
uma forma bem mais transcendental que a pesquisa física. Sua forma c simbólica
sem ser prisioneira da objetividade das palavras, ela é muito mais completa. As
múltiplas facetas do símbolo ampliam a visão do espírito humano, atingindo a
uma esfera de compreensão inegavelmente superior ao da linguagem.
Os princípios
da vida no quadro das ciências herméticas são em número de quatro: O cabala
apresenta-os nas 4 letras do nome de Deus (yod, he, val e He-Jeová) que unidas
representam o Absoluto. A alquimia na forma de elementos; o fogo, a água, o ar
e a terra: a magia os quatro espíritos desses mesmos elementos; a astrologia quatro
princípios, que remotamente correspondem aos pontos cardiais, c finalmente o
Apocalipse fala de suas quatro bestas: as cabeças do touro, do leão, da águia e
do homem. O baralho é composto de quatro naipes identificados com esses
símbolos. Sendo paus correspondente ao espírito do, fogo, espadas com o
espírito da água. copas com o do ai? e ouros da terra.
Essas ciências
eram conhecidas dos sacerdotes egípcios e só adquiriram cunho vulgar quando
caíram nas mãos de homens pouco
esclarecidos que tomaram
literalmente a significação dos
símbolos.
Conta-se que
na antiguidade os candidatos ao sacerdócio, para serem iniciados na alta
doutrina, passavam por uma galeria no Templo de Osíris, a qual se compunha de
22 afrescos pintados em suas paredes. Levados pela mão dos altos mestres os
iniciados aprendiam o segredo dos símbolos. Ora, com a invasão dos bárbaros na
terra das pirâmides, os sacerdotes sentiram o perigo que os ameaçava, e
reconhecendo que não teriam forcas para defender seu templo e seu segredo
formaram um concílio. Depois de cuidadoso exame chegaram a uma das mais sábias
conclusões — Devendo deixar para a posterioridade os seus conhecimentos, era
necessário que eles fossem gravados em algo seguro. O que existiria de mais
poderoso no mundo? Não foi preciso muito para que "o vício fosse eleito
por unanimidade", e foi assim que as cartas de um jogo de soldados
analfabetos ganharam as 22 figuras dos afrescos do Templo de Osíris. A lenda
termina contando por seus próprios súditos e supõe-se ser esta a razão pela
qual nunca foi encontrada uma pedra sequer desse tão citado templo pelas gerações
seguintes. Como havia sido previsto, pelas suas vítimas, os invasores
exterminaram suas vítimas, mas aprenderam o jogo dos soldados e assim o
divulgaram através dos tempos.
Existem
entusiastas que afirmam ser o tarot tão completo e perfeito que um prisioneiro
tendo somente em suas mãos um de seus exemplares e sendo capaz de manejá-lo com
presteza será capaz de adquirir surpreendentes conhecimentos. Há quem afirme
também que a humanidade perdeu a chave da linguagem dos símbolos, e com isso
esqueceu a significação da vida — e do baralho.
Lenda ou
não, o tarot chegou até nós, virou o baralho e é hoje usado em grande parte da
Europa. Seus reis ganharam a figura de grandes monarcas como Júlio César, David,
Alexandre, Carlos Magno. Suas rainhas o rosto de Minerva, Argine, Raquel e
Judite. O símbolo cabalístico do "Homem enforcado" gerou, como a mais
certa das hipóteses, as figuras com duas cabeças — pois o "Homem
enforcado" era assim apresentado, sendo que a cabeça de cima representava
o céu e a de baixo o inferno, a linha mediana simbolizava a vida terrena.
Hoje a
geração moderna, imediatista e objetiva, ainda para perplexa diante da figura
enigmática e imponente da esfinge; e há quem pare diante de um jogo de pif-paf
ou buraco com uma longínqua pergunta no cérebro: O que teriam os sacerdotes
egípcios de tamanha importância a nos deixar? (segundo Germana de Lamare).
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Fonte:
Dicionário da Origem e da Evolução das Palavras, por: Luiz A. P. Victoria. Editora Científica, 4ª Edição. Rio de Janeiro, 1965, págs. 26-29.
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