Rasputin
Por: Leandro
Sarmatz
O monge
louco". Foi com esse apelido funesto que o monge russo Grigori Yefimovich
Novykh, nascido em 1872 e morto em 1916, entrou para a história universal da
infâmia. Analfabeto, longas barbas, ar sombrio (alguém aí notou como o hippie
doidão Charles Manson, assassino da atriz Sharon Tate em 1969, é a cara dele?),
Novykh, ou "Rasputin" - "o depravado", em russo - gozou de
raríssimos privilégios junto à corte do czar Nicolau II, o último a reinar
.sobre a Rússia. Mandava e desmandava. Dava conselhos. Impunha sua vontade.
Nada mal para quem amargara uma infância paupérrima e obscura na enregelante
Sibéria.
Pouco se sabe,
aliás, sobre a trajetória de Rasputin durante seus primeiros 40 anos de vida:
uma viagem ao Oriente Médio, um casamento, algumas peregrinações. Sabe-se que
era membro da seita Khlisti, banida pela Igreja Ortodoxa por pregar que todos
os desejos dos homens deveriam ser
satisfeitos. O certo é que ele começou a palmilhar o caminho para a
duvidosa fama em 1908. Foi nesse ano que o czar,
desesperado com as constantes crises hemorrágicas do filho hemofílico Aleksei -
que médico algum conseguia curar -, resolveu
apelar para aquele curandeiro que frequentava os salões
do seu palácio. No início, Nicolau II chegou a desconfiar de Rasputin. O czar
temia que a notícia sobre a hemofilia do herdeiro da coroa chegasse aos ouvidos
da população e prejudicasse a aceitação do jovem Aleksei. (Que, na verdade,
nunca chegou a subir ao trono, porque em 1917 seu pai foi deposto pela
Revolução Russa.) O fato é que Rasputin conseguiu debelar o mal do herdeiro —
provavelmente obra do acaso, mas que foi encarada como um milagre." Era a
consagração. A partir desse episódio, os Romanov definitivamente estavam no
bolso do "monge louco".
Eufórica com
os bons resultados operados sobre a saúde do filho, a imperatriz Alexandra
passou a confiar cegamente em Rasputin. Descobertas recentes, divulgadas no
livro Rasputin: A Última Palavra, do escritor russo Edvard Radzinsky, sugerem
inclusive um tórrido romance entre o monge e a imperatriz. Só para se ter uma
ideia do alcance da sua influência, ele tinha poderes suficientes dentro da
corte para nomear cargos do primeiro escalão do governo e indicava quase sempre
uma gente inepta que não conseguia exercer corretamente suas funções.
Rasputin
circulava livremente pelas altas-rodas da corte russa. E seus ares de homem
santo não conseguiam esconder de ninguém as noites passadas em orgias regadas a
hectolitros de vodca, o assunto predileto de todo mundo naquela Rússia sem
revistas de fofocas. Tudo isso começou a irritara nobreza russa. Ninguém
conseguia tolerar os poderes delegados àquele monge analfabeto e dissoluto.
Inclusive porque, cochichavam alguns membros do governo, o predileto da
imperatriz Alexandra conspirava com a Alemanha.
A gota d'água
veio com o início da Primeira Guerra Mundial. Com o czar Nicolau It na frente
de combate, Rasputin virou uma espécie de primeiro-ministro. Todas as decisões
passavam pelo seu crivo delirante e místico. Um grupo de nobres resolveu
planejar seu assassinato. Em 28 de dezembro de 1916, o príncipe lussupov e mais
um punhado de membros da nobreza atraíram Rasputin para um jantar. Foi-lhe
servido chocolate "batizado" com veneno. (Daí o nome do drinque que
até hoje é servido em alguns bares: "Vingança de Rasputin", com vodca
e creme de cacau...) Aparentemente a dose era pequena. Rasputin resistiu. Seus
algozes, então, passaram a disparar com revólver e a atacá-lo com punhais. Mas
o danado não morria, inconformados, seus assassinos o enfiaram num saco e o
arremessaram às águas frias do Neva, o rio que banha São Petersburgo. Era o fim
do "monge louco".
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Fonte:
Revista Superinteressante. Edição 167. Fevereiro de 2002. Editora Abril. São Paulo, pág. 24.
Fonte:
Revista Superinteressante. Edição 167. Fevereiro de 2002. Editora Abril. São Paulo, pág. 24.
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