Machado de Assis - Contista
O conto foi
por excelência o gênero literário que melhor se ajustou a Machado de Assis. Seu
espírito de síntese encontrava na história curta, mais do que na longa,
facilidade de expressão. Se procedêssemos a um recenseamento da sua atividade
neste setor, o resultado espantaria a muitos pela quantidade e, sobretudo,
qualidade patente. A vida nos seus mais variados aspectos foi por ele fixada
com a perícia de autêntico mestre. Observou, de preferência, as minudências, o
cotidiano, os problemas rotineiros, as reações humanas sem grandiosidade, dos
seres comuns com aspirações limitadas, como sucede fora dos livros. Poucas
vezes a ficção suplanta a realidade. No entanto, assinale-se a tempo, o
verídico sem o colorido da sua imaginação nenhum interesse especial desperta. A
pena de Machado de Assis possuía o poder de transfigurar o banal em lances de
extraordinários efeitos raros. Seus contos, sem favor algum, igualam-se aos
mais distinguidos da literatura universal.
No presente
livro adotamos o critério de não repetir os contos mais conhecidos de sua
autoria. Recorremos, por isso, às descobertas mais recentes de R. Magalhães
Júnior que reuniu, como se sabe o que estava esquecido em jornais antigos em
volumes, completando, assim, a obra do contista. Visa esse critério divulgar o
menos conhecido de Machado de Assis. Como se trata de dois volumes, no seguinte
daremos ao leitor uma impressão diversa desta. Escolheremos alguns dos seus
contos mais conhecidos, consagrados e nunca demais lidos. Esperamos, deste
modo, atender às duas exigências. Machado de Assis não é como se acreditou por
tanto
tempo, um
escritor de determinado público, mas sim do público em geral. Portanto, não
comporta a escolha que fizemos restringir a sua produção a supostos leitores
mais credenciados intelectualmente do que a outros.
Andamos bem?
Incorremos em errôneo juízo? O leitor o
dirá.
H.
PEREIRA DA SILVA
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Fonte:
Contos Selecionados: Machado de Assis. Prefaciado por: H. Pereira da Silva. Prazo-Livro. Rio de Janeiro, s/d.
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