Floresta amazônica, a terra das onças
Quisemos ver
por nós mesmos se a floresta pluvial amazônica é de fato tão luxuriante quanto
Charles Darwin indicara em seus escritos. Quando penetramos aquela muralha
verdejante à margem do rio, descobrimos que seu interior era menos cerrado do
que esperávamos; lá a floresta madura permanecia aberta, relativamente
desprovida de vegetação baixa. Arrastamos os pés num tapete espesso de folhas
grandes, mas a vegetação rasteira era escassa entre os troncos mal iluminados
de árvores gigantescas. Evidentemente se poderia encontrar vegetação mais
luxuriante em florestas pluviais temperadas, ou até mesmo nas florestas
tropicais nubladas. Floresta tropical, matagais, capoeiras ou terrenos
rochosos, todos convêm à onça, embora ela prefira lugares abrigados. Ela escala
as árvores com menos facilidade do que o leopardo africano (Panthera pardus), talvez por causa do
corpo mais troncudo ou do porte algo maior, com os quais chega a 135 quilos ou
mais. Agilidade à parte, esse felino é poderoso. Capaz de quebrar o pescoço de
um cavalo, algumas vezes ataca animais domésticos. Nas florestas, porém, a onça
tem de ser oportunista, pois a maior parte dos animais que ela consome
desenvolveu uma cautela que costuma demonstrar-se muito eficaz. Ainda assim,
por mais velozes que sejam ao escapar através da mata, as queixadas (Tayassu pecari) tornaram-se alimento
comum da onça. Se esta conseguir encontrar no chão antas, capivaras (Hydrochoerus hydrochoeris) ou veados,
tanto melhor. Se tiver de buscar alimento entre os galhos das árvores, ela
poderá pegar um bicho-preguiça com facilidade, mas terá pouca chance com
macacos ou pássaros, a menos que ache animais feridos ou os espere
pacientemente de tocaia. Como nada bem, nem mesmo as tartarugas, peixes ou
anfíbios estão livres de seus ataques. Os gatos-do-mato (Felis wiedi), outra espécie de felino selvagem, são perfeitos
habitantes das florestas e trepam nas árvores com a maior facilidade.
Mostram-se capazes de descer de cabeça para baixo pelos grandes troncos com
muita desenvoltura. Contrastando com as onças, que rondam o chão, os
gatos-do-mato, bem menores, caçam suas presas nas copas das árvores. Vivem no
chão bandos de velozes queixadas, porcos selvagens de longas pernas finas e
cascos pontudos e delicados. Convém deixá-los em paz, pois, embora geralmente
dóceis, contra-atacam quando feridos. E se uma centena de queixadas atacar em
bando, o intruso poderá ver-se em apuros. As queixadas preferem viver nas
proximidades dos rios e, apesar de boas corredoras e andarilhas, talvez jamais
ultrapassem uma área de 5 quilômetros quadrados no curso de suas vidas. Uma
razão para tal confinamento é que elas comem praticamente de tudo que entra em
seu território ou cresce dentro dele, desde frutos a raízes bulbosas e, de vez
em quando, também uma serpente ou algum outro pequeno vertebrado. As aves da
floresta tropical apresentam algumas vezes cenas esplêndidas, pois as quase
3.000 espécies da América do Sul constituem uma variedade espetacular. E muito
provavelmente a primeira ave que o visitante ouvirá ou verá há de ser uma das
belas e estridentes araras: a vermelha (Ara macao), a azul e amarela (Ara araraura) ou qualquer outra entre
uma dúzia mais de espécies. Membros da família dos papagaios, elas palreiam
interminavelmente numa árvore ou soltam gritos agudos quando voam sobre nossas
cabeças. Ó beija-flor, que alcançou alto grau de especialização no hemisfério
ocidental, zumbe através da floresta, exibindo grande atividade e cores
deslumbrantes. Existem 235 espécies na América do Sul, com exemplares de
plumagem iridescente e vistosa, cristas de penas, bicos e caudas fora do comum.
Trata-se, pois, de imensa família, que compreende os menores de todos os
pássaros e se alimenta de néctar e de insetos. A proteína fornecida pelos
insetos é importante para a manutenção do alto nível de energia requerida pela
capacidade de voo. Os beija-flores são os únicos polinizadores de determinadas flores,
sobretudo aquelas que possuem corolas tubulares alaranjadas ou vermelhas, muito
vistosas à luz do dia. Menos agitados, porém igualmente coloridos, são os
tucanos, da família dos ranfastídeos, uma das mais características nos trópicos
americanos. Alimentam-se de frutos, abundantes nas férteis florestas pluviais
onde vivem e, junto com os papagaios, figuram entre os mais barulhentos
habitantes das árvores.
Deslizando
ao longo dos rios tropicais, podemos espantar um jacu-cigana (Opisthocomus hoazin) empoleirado no
galho de um arbusto. O som penetrante dos pica-paus, dos quais existem pelo
menos 54 espécies na América do Sul, filtra-se através das árvores. Os
joões-de-barro (Furnarius rufus), do
tamanho de tordos, constroem ninhos em forma de fornos nos galhos das árvores.
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Fonte:
Vida Selvagem nas Florestas, por: Ann Sutton e Myron Sutto. Editora Nova Cultural. São Paulo, 1981, págs. 23 e 26.
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