terça-feira, 19 de julho de 2016

Floresta amazônica, a terra das onças

Floresta amazônica, a terra das onças
Quisemos ver por nós mesmos se a floresta pluvial amazônica é de fato tão luxuriante quanto Charles Darwin indicara em seus escritos. Quando penetramos aquela muralha verdejante à margem do rio, descobrimos que seu interior era menos cerrado do que esperávamos; lá a floresta madura permanecia aberta, relativamente desprovida de vegetação baixa. Arrastamos os pés num tapete espesso de folhas grandes, mas a vegetação rasteira era escassa entre os troncos mal iluminados de árvores gigantescas. Evidentemente se poderia encontrar vegetação mais luxuriante em florestas pluviais temperadas, ou até mesmo nas florestas tropicais nubladas. Floresta tropical, matagais, capoeiras ou terrenos rochosos, todos convêm à onça, embora ela prefira lugares abrigados. Ela escala as árvores com menos facilidade do que o leopardo africano (Panthera pardus), talvez por causa do corpo mais troncudo ou do porte algo maior, com os quais chega a 135 quilos ou mais. Agilidade à parte, esse felino é poderoso. Capaz de quebrar o pescoço de um cavalo, algumas vezes ataca animais domésticos. Nas florestas, porém, a onça tem de ser oportunista, pois a maior parte dos animais que ela consome desenvolveu uma cautela que costuma demonstrar-se muito eficaz. Ainda assim, por mais velozes que sejam ao escapar através da mata, as queixadas (Tayassu pecari) tornaram-se alimento comum da onça. Se esta conseguir encontrar no chão antas, capivaras (Hydrochoerus hydrochoeris) ou veados, tanto melhor. Se tiver de buscar alimento entre os galhos das árvores, ela poderá pegar um bicho-preguiça com facilidade, mas terá pouca chance com macacos ou pássaros, a menos que ache animais feridos ou os espere pacientemente de tocaia. Como nada bem, nem mesmo as tartarugas, peixes ou anfíbios estão livres de seus ataques. Os gatos-do-mato (Felis wiedi), outra espécie de felino selvagem, são perfeitos habitantes das florestas e trepam nas árvores com a maior facilidade. Mostram-se capazes de descer de cabeça para baixo pelos grandes troncos com muita desenvoltura. Contrastando com as onças, que rondam o chão, os gatos-do-mato, bem menores, caçam suas presas nas copas das árvores. Vivem no chão bandos de velozes queixadas, porcos selvagens de longas pernas finas e cascos pontudos e delicados. Convém deixá-los em paz, pois, embora geralmente dóceis, contra-atacam quando feridos. E se uma centena de queixadas atacar em bando, o intruso poderá ver-se em apuros. As queixadas preferem viver nas proximidades dos rios e, apesar de boas corredoras e andarilhas, talvez jamais ultrapassem uma área de 5 quilômetros quadrados no curso de suas vidas. Uma razão para tal confinamento é que elas comem praticamente de tudo que entra em seu território ou cresce dentro dele, desde frutos a raízes bulbosas e, de vez em quando, também uma serpente ou algum outro pequeno vertebrado. As aves da floresta tropical apresentam algumas vezes cenas esplêndidas, pois as quase 3.000 espécies da América do Sul constituem uma variedade espetacular. E muito provavelmente a primeira ave que o visitante ouvirá ou verá há de ser uma das belas e estridentes araras: a vermelha (Ara macao), a azul e amarela (Ara araraura) ou qualquer outra entre uma dúzia mais de espécies. Membros da família dos papagaios, elas palreiam interminavelmente numa árvore ou soltam gritos agudos quando voam sobre nossas cabeças. Ó beija-flor, que alcançou alto grau de especialização no hemisfério ocidental, zumbe através da floresta, exibindo grande atividade e cores deslumbrantes. Existem 235 espécies na América do Sul, com exemplares de plumagem iridescente e vistosa, cristas de penas, bicos e caudas fora do comum. Trata-se, pois, de imensa família, que compreende os menores de todos os pássaros e se alimenta de néctar e de insetos. A proteína fornecida pelos insetos é importante para a manutenção do alto nível de energia requerida pela capacidade de voo. Os beija-flores são os únicos polinizadores de determinadas flores, sobretudo aquelas que possuem corolas tubulares alaranjadas ou vermelhas, muito vistosas à luz do dia. Menos agitados, porém igualmente coloridos, são os tucanos, da família dos ranfastídeos, uma das mais características nos trópicos americanos. Alimentam-se de frutos, abundantes nas férteis florestas pluviais onde vivem e, junto com os papagaios, figuram entre os mais barulhentos habitantes das árvores.
Deslizando ao longo dos rios tropicais, podemos espantar um jacu-cigana (Opisthocomus hoazin) empoleirado no galho de um arbusto. O som penetrante dos pica-paus, dos quais existem pelo menos 54 espécies na América do Sul, filtra-se através das árvores. Os joões-de-barro (Furnarius rufus), do tamanho de tordos, constroem ninhos em forma de fornos nos galhos das árvores.


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Fonte:
Vida Selvagem nas Florestas, por: Ann Sutton e Myron Sutto. Editora Nova Cultural. São Paulo, 1981, págs. 23 e 26.

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