O Governo Collor
O presidente
eleito tomou posse em 15 de março de 1990, no Congresso Nacional, diante das
câmeras de TV que transmitiram o evento para todo o país e com a presença de
vários chefes de Estado.
No dia
seguinte, em cerimônia também transmitida pelas TVs, Collor baixou um pacote de
medidas econômicas, financeiras e administrativas composto por 23 medidas provisórias, ao qual o governo
chamou de Plano Brasil Novo, que, de
imediato, ficou sendo mais conhecido como Plano
Collor ou Plano Cruzeiro.
Os seus
objetivos declarados foram o combate à inflação, o "enxugamento" da
máquina estatal administrativa e a eliminação do déficit público como condições
para a retomada do desenvolvimento da economia.
Os eixos básicos
do Plano foram os seguintes:
● reforma
monetária, com a substituição do cruzado
novo pelo cruzeiro, sem
alteração do valor;
● retenção
por 18 meses (na prática, confisco) das contas, em cruzados novos, das pessoas
físicas e jurídicas (empresas), nos valores acima de NCzS 50.000 (até este
valor as contas foram convertidas em cruzeiros)
para as contas correntes e cadernetas de poupança e até NCzS 25.000 ou 20% (o
que fosse maior) para as contas de over e fundos de curto prazo;
● o
congelamento parcial e controlado dos preços, que deveriam ser praticados nos
níveis em que estavam no dia 12 de março (o plano foi antecedido, porém, por
aumento dos combustíveis e tarifas de luz, telefone e correios); fechamento de
empresas estatais (com demissão ou colocação em disponibilidade dos seus
funcionários), como início de um processo de privatização da economia;
● abertura
para o capital estrangeiro, eliminação de entraves para a importação de bens de
consumo;
● contenção,
visando a eliminação do déficit público, suprimindo-se despesas
governamentais e colocando-se
à venda imóveis e veículos até
então usados por funcionários e repartições federais.
Vale
ressaltar que o Plano Collor não contemplou a questão da dívida externa,
deixando para negociá-la depois de obter os resultados internos, esperados com
a aplicação das medidas econômicas.
O Plano
Collor recebeu maciço apoio da população. Teve também ampla cobertura da
imprensa, sobretudo da TV Globo. A imprensa escrita, mais cautelosa, abriu
espaços para críticas, algumas contundentes.
No início,
apesar da confusão que se instaurou na vida econômica do país, três ordens de
questões afloraram: a necessidade de ações anti-inflacionárias (era preciso
evitar a hiperinflação); a forma autoritária da sua proposição e execução
(medidas provisórias usadas como se fossem decretos-lei) e a
inconstitucionalidade de algumas das medidas propostas.
Com o tempo,
porém, pôde-se identificar mais claramente os ganhadores e perdedores com o
plano. Alguns analistas têm insistido por um lado no fato de que o Plano Collor
é lesivo aos interesses do país e, sobretudo, dos trabalhadores, na medida em
que é recessivo, tendo já provocado desemprego e perdas salariais. Além disso,
preconizando a privatização e a abertura da economia ao capital estrangeiro,
deverá aprofundar o nível de dependência do Brasil no contexto da economia
mundial. Por outro lado, o governo, não executando sua parte no Plano (isto é,
no "enxugamento" da máquina administrativa e na diminuição do déficit
público), penalizou, unilateralmente, a iniciativa privada, pela inflação
brasileira. Mais uma vez, os trabalhadores e os pequenos empresários estão
sendo responsabilizados pelo ônus da dívida interna.
Na esfera
política, uma área de atritos tem sido a relação entre o Executivo e o
Congresso. Este deve aprovar ou rejeitar, em um certo prazo, as medidas
provisórias. O núcleo básico do plano foi aprovado, tendo o governo articulado
os setores tradicionalmente conservadores, compondo a maioria necessária para
implementar sua política. Entretanto, conheceu uma significativa derrota
política, quando teve um ato seu julgado e derrotado pelo Supremo Tribunal
Federal, pelo escore de 9 a zero. Tratou-se da reapresentacão no Congresso da
medida provisória nº 185, anteriormente não apreciada pelo Legislativo no prazo
regulamentar, que, "maquiada" sob um novo número (190), retornou ao
Congresso.
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Fonte:
História do Brasil: da Colônia à República, por: Elza Nadai e Joana Neves. Editora Saraiva, 13ª Edição. São Paulo, 1990, págs. 291-292.
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