Quem são os Judeus messiânicos?
Por: Adriana
Reis
Surgido há
cerca de vinte anos nos Estados Unidos, o movimento judaico-messiânico congrega
os judeus que acreditam que Cristo é o Messias anunciado nos textos sagrados.
Ancorado em grupos como o Jews for Jesus
(Judeus para Jesus), os messiânicos propõem o que, segundo eles, seria uma
volta às origens do Judaísmo e do Cristianismo primitivo: a união de símbolos,
rituais e costumes judaicos com a veneração de Jesus como o Messias. O problema
é que justamente na base dessa proposta doutrinária repousa um paradoxo de
difícil solução: a união do Cristo Messias com o Judaísmo. Explica-se.
Um dos
pilares da fé judaica é a crença na vinda do Messias, ao contrário dos
cristãos, que professam que Ele já se manifestou, na figura de Jesus. Ou seja,
ao afirmarem-se como judeus, mas ao mesmo tempo defenderem que o Salvador já
veio, expõem uma indefinição inerente ao movimento. Segundo os estudiosos, o
grupo seria, em si mesmo, contraditório, pois as duas ideias são inconciliáveis.
"O Judaísmo e a ideia de Cristo como o Messias são excludentes entre
si", afirma o teólogo Sandro Bussinger, da Igreja Reformada de Belo
Horizonte. "A cosmovisão, a exegese, a teologia e a ecleseologia são
diferentes entre os judeus autênticos e os messiânicos."
Alheios à
polêmica, enquanto pregam o caráter messiânico de Jesus, os seguidores do
movimento pautam sua vida segundo os princípios dos judeus tradicionais: seguem
os preceitos estabelecidos pela Torá
— o livro sagrado do Judaísmo —, guardam o sábado, não comem carne de porco e
fazem a circuncisão de seus filhos. Segundo afirmam, ao aceitar Cristo como
Messias eles não estariam se convertendo ao Cristianismo, mas, antes,
tornando-se judeus legítimos. "Buscamos seguir o princípio da lei judaica
para nos realizarmos como judeus verdadeiros", diz o rabino messiânico
Marcelo Guimarães, de Belo Horizonte.
O movimento,
contudo, não é reconhecido pelos judeus tradicionais. "Não os consideramos
como parte da comunidade judaica", afirma o rabino Leonardo Alanati, da
Congregação Israelita Mineira. "Como judeus, não cremos que o Messias já
tenha surgido, pois, quando isso acontecer, a Terra voltará à sua condição
paradisíaca, sem guerras, pobreza ou injustiça social, com a natureza no mais
perfeito equilíbrio. E todos podemos ver que isso ainda não aconteceu." Os
judeus messiânicos, por sua vez, discordam dessa avaliação. "Nosso movimento
é autenticamente um Judaísmo bíblico, pois considera o pai Abraão, Moisés,
David, os profetas, assim como os judeus", afirma Marcelo Guimarães.
Seja como
for, o movimento conta hoje com cerca de 1,5 milhão de seguidores no mundo,
concentrados principalmente nos Estados Unidos, onde fica a sede da Union of Messianic Jewish Congregations,
que reúne todas as congregações judaicas messiânicas no mundo. No Brasil, onde
chegou há cerca de dez anos, são em torno de l 300 integrantes, segundo o
último levantamento realizado pelo movimento.
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Fonte:
Revista das Religiões. Edição 12 - Agosto de 2004. Editora Abril. São Paulo, pág. 10.
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