Por que os anjos são tão populares?
Por: Ciro
Sanches Zibordi
Nunca os
anjos foram tão populares como nos dias de hoje. Nos Estados Unidos da América,
três em cada quatro pessoas creem em anjos, e cinco em cada dez livros entre os
best-sellers são obras voltadas à
angelologia. No Brasil, a simpatia pelo esoterismo transformou o mundo angélico
em um grande negócio. Segundo José Tadeu Arantes, os anjos "...estão nas
páginas dos livros mais vendidos, nos palcos de teatro e nas telas de cinema,
nas capas de revistas... e nas convicções mais íntimas de milhões de
pessoas" (Globo Ciência,
fevereiro/96, pág. 23).
Há alguns
anos, Mônica Buonfiglio, mãe-de-santo e apresentadora de um programa de
televisão, vem se notabilizando no mercado editorial. Sua notoriedade começou
com o confuso livro Anjos Cabalísticos,
que superou a marca das 135 edições. Suas obras mais recentes já ocupam as
primeiras posições nas listas de best-sellers dos principais jornais e
revistas. Quanto à inspiração para escrever, ela declara: "Comecei
trabalhando com a potência dos Orixás" (Anjos Cabalísticos, pág. 11).
Não é
preciso ler muitos parágrafos das obras da senhora Buonfiglio para descobrir
quão antibíblicas são as suas ideias. Segundo ela, "Deus não precisa perdoar
(...) É inútil e desnecessário pedir perdão a Ele" (Anjos Cabalísticos,
pág. 13). É claro que o Deus citado por ela não é o mesmo da Bíblia, amoroso e
perdoador: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo, para
nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça", 1 Jo 1.9.
Biblicamente,
os anjos (do grego angelos) são
mensageiros espirituais. Mas nem todos são portadores de mensagens de Deus.
Para quem não sabe, satanás e seus agentes são anjos do mal (Ap 12.7).
Conhecendo a
existência de anjos caídos, Paulo alertou: "...ainda que (...) um anjo do
céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado seja
anátema", Gl 1.8. O apóstolo falou de "anjo do céu" porque os
anjos caídos habitam as regiões celestiais (Ef 6.12), tendo como líder o
príncipe das potestades do ar, o diabo (Ef 2.2).
E
impressionante a variedade de nomes de anjos constantes da literatura
encontrada nas principais livrarias do País. Na verdade, desde a Idade Média,
diversas tentativas de acrescentar nomes à lista de anjos têm sido feitas. No
século XV, Amadeu, um monge português, disse que Deus lhe revelara o nome de
mais quatro anjos: Uriel, Baraquiel, Jeudiel e Seatiel. A igreja católica
romana reconhece o "arcanjo" Rafael, mas este só aparece no livro apócrifo
de Tobias, inserido na Bíblia católica por ocasião do Concilio de Trento, em
1546.
Tomando
emprestados alguns ensinamentos do romanismo, os escritores modernos apresentam
nove classes angelicais, nessa ordem: serafins, querubins, tronos, dominações,
potências, virtudes, principados, arcanjos e anjos. Segundo a senhora
Buonfiglio, essas nove categorias possuem príncipes (ou arcanjos): Metatron,
Raziel, Tsaphkiel, Tsadkiel, Camael, Rafael, Haniel, Mikael e Gabriel.
De onde
foram tirados esses nomes? Da teosofia, da magia egípcia, do espiritismo etc.,
menos da Palavra de Deus. Nas Escrituras, os únicos anjos de Deus identificados
por nomes próprios são: Miguel, o arcanjo, príncipe dos anjos de Deus (Dn 12.1;
Jd 9), e Gabriel (Dn 8.16; Lc 1.19), os quais assistem diante do Senhor. Além
disso, as páginas sagradas apresentam claramente apenas duas categorias
específicas, além dos anjos propriamente ditos: os serafins (Is 6.1-8) e os
querubins (Gn 3.24).
Outro
conceito muito difundido pela angelologia moderna é o de que para cada pessoa
existe um anjo da guarda. Paulo Coelho, principal propagador da Nova Era no
Brasil, narra, em seu As Valkírias,
uma curiosa experiência que teve nos EUA. Depois de conversar com um mago sobre
anjos, ele e sua mulher encontraram oito motoqueiras com roupas pretas (as
"valkírias"), que lhes ensinaram a maneira de encontrar o anjo da
guarda.
A categoria
"anjo da guarda", entretanto, não consta das páginas sagradas, embora
os crentes fiéis e tementes a Deus, além das crianças, sejam protegidos por
anjos (SI 34.7; Mt 18.10). Isso não significa que o amoroso Deus se recuse a
proteger, eventualmente, as demais pessoas, a fim de lhes conceder
oportunidades de salvação (Hb 1.14).
Afinal, por
que os anjos são tão populares? Porque os homens estão cada vez mais longe de
Deus. Embora os seres angelicais sejam apenas criaturas do único Deus
verdadeiro (Jo 17.3), eles são invocados e adorados como deuses. Essa ideia não
é recente, pois os pensadores dos séculos II a.C. a IV d.C. já afirmavam que os
anjos são parte integrante da "divindade única".
Embora
"magníficos em poder", os anjos limitam-se a executar a ordem do
Senhor (SI 103.20). Por isso, não devem ser adorados pelo ser humano (Ap
22.8,9). Como seres criados por Jesus (Cl 1.16), eles adoram ao seu Criador (Hb
1.6). Nesse ponto, vale lembrar a enfática declaração de Paulo sobre os homens
dos últimos dias:"... mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram a
serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente.
Amém", Rm 1.25.
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Fonte:
Revista A Seara. Ano 40 - Nº 2 0 Janeiro de 1997. CPAD. Rio de Janeiro, pág. 15.
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