Joaquim Norberto de Sousa Silva
Cronologicamente,,
— escreve Herman Lima —, de acordo com Sílvio Romero, nosso primeiro contista
seria Joaquim Norberto de Sousa Silva,, autor de "Romances e
Novelas", "hoje ilegíveis, por escritos em detestável estilo,
incorreto, incolor". A respeito, lembra recentemente Edgard Cavalheiro que
o trabalho que lhe garante aquele titulo apareceu em 1841, num pequeno folheto
intitulado "As duas órfãs", onze anos depois reunido a três outras
composições que constituíram o volume citado: "a palavra conto não é
empregada, mas tanto "As duas órfãs" como os outros são, a rigor,
contos, isto é, histórias curtas e podem, perfeitamente, servir como ponto de
partida a quem traçar a evolução do conto brasileiro."
Na verdade,
a novelística de Joaquim Norberto é de significação meramente cronológica,
histórica. Representa apenas uma etapa na evolução do gênero entre nós. Nem se
dedicou ele, com maior afinco, à atividade de contista ou romancista.
Apaixonado pela literatura, autodidata que ascendeu da condição de caixeiro à
de funcionário público, escreveu principalmente poesias, peças de teatro,
estudos históricos e literários, chegando mesmo a esboçar uma história de
nossas letras. Prestou grandes serviços à cultura nacional preparando e
prefaciando edições das obras de Casimiro de Abreu, Silva Alvarenga, Álvares de
Azevedo, Gonçalves Dias, Alvarenga Peixoto, Laurindo Rabelo e Tomás António
Gonzaga. Nesses trabalhos, distinguiu-se pelo "esforço documentário e
coordenação" do material recolhido, notadamente no que diz respeito às
informações biográficas. Foi também um dos nossos primeiros antologistas.
No seu
entender, a atividade do romancista consistia em "expandir-se pelas
minudências das descrições dos quadros da natureza, perder-se' em reflexões
filosóficas e demorar-se nas trivialidades de um enredo cheio de incidentes
para retardar o desenlace da ação principal". Assim procedeu em "As
duas órfãs"', página a que, aliás, denomina de "romance". É uma
história de ciúme e rivalidade amorosa que tem por fundo histórico a luta entre
brasileiros e holandeses, episódio em que aparecem Maurício de Nassau, Henrique
Dias, Bagnuolo, Camarão e outras personalidades do tempo.
Joaquim
Norberto nasceu no Rio de Janeiro em 1820 e morreu em Niterói em 1891.
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Fonte:
O Conto Romântico. Seleção e notas de: Edgard Cavalheiro e Mário da Silva Brito. Editora Civilização Brasileira. Rio de Janeiro, 1961, págs. 209-210.
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