Os akpalos: extraterrestres que nos
visitaram?
Por: Jacques
Bergier e Louis Pauwels
Segundo Carl Sagan, astrônomo de reputação
mundial, foram visitantes extraterrestres, vestidos com roupas prateadas e de
escafandro, que forneceram aos homens os rudimentos do conhecimento. Mais
tarde, esses homens fundaram Sumer. Os akpalos mostram isso. As revelações
publicadas recentemente somam-se às grandes hipóteses sobre as civilizações
desaparecidas. Se a história começou com uma visita, devemos aguardar um novo
desembarque.
Mesmo nas
publicações destinadas ao grande público, a crítica das ideias e dos livros,
colonizada por universitários insolentes e mundanos, é uma espécie de conversa
entre entendidos a portas fechadas. Foi por isto que o livro fascinante e
generoso de Shklovski, diretor do Instituto de Astronomia da Universidade de
Moscou, publicado em francês em 1967, passou praticamente despercebido. E era
no entanto, pela extensão da informação, pelo rigor científico, pela ousadia
das hipóteses e pela imensidão das ideias propostas, a reflexão mais fecunda
até o momento sobre a vida e a razão no universo. O livro surpreendia o leitor
por sua intensa liberdade. Shklovski desconhecia as limitações do especialista,
dos preconceitos doutrinários e políticos. Colocava seus raciocínios
científicos sob a proteção dos poetas e dos visionários. Assistíamos à
manifestação de uma inteligência nesta cultura de amanhã, cuja esperança levou
Clarke a dizer: "Não levaremos nossas fronteiras para o céu".
Ao receber a
obra em russo, Carl Sagan, professor de astronomia em Harvard, diretor do
Observatório de Astrofísica de Cam-bridge, em Massachusetts, apressou-se em
fazê-la traduzir por Paula Fern. A leitura lhe sugeriu uma quantidade de
reflexões complementares. Escreveu a Shklovski propondo-lhe uma edição
norte-americana em colaboração. "Infelizmente, respondeu o cientista
soviético, temos tão pouca oportunidade de trabalhar juntos quanto de receber
um dia a visita de extraterrestres". Sagan publicou o livro e acrescentou
uma série de anotações de sua autoria. Esta foi a primeira obra escrita por
dois grandes cientistas do Oriente e do Ocidente sobre o projeto mais
espetacular de nossa época: entrar em comunicação com outras inteligências no
cosmo. A edição americana é dedicada à memória daquele que foi nosso amigo, J.
B. S. Haldane, biólogo e cidadão do mundo, membro da Academia de Ciências dos
Estados Unidos e da Academia da União Soviética, membro da Ordem do Delfim, morto
na índia. O livro principia com estes versos de uma ode de Píndaro:
Há uma raça de homens,
Há uma raça de deuses,
Cada qual tira seu
sopro de vida da mesma
mãe,
Mas os poderes são
separados,
De maneira que uns não
são nada
E os outros são os
senhores do céu luminoso
que é a moradia eterna
deles.
Entretanto,
participamos todos da grande
inteligência
Temos uma parcela da
força dos imortais,
Embora ignoremos o que
o dia nos reserva.
Reorganizando o sistema solar
No decorrer
da obra, Shklovski atribui à imaginação científica legítima os sonhos de um
modesto professor de província que viveu no início do século, Constantin Tsiiolkovski,
que viu o homem conquistando o espaço reorganizando o sistema solar,
domesticando o calor e a luz do Sol, emigrando para os astros e "dirigindo
os pequenos planetas como conduzimos nossos cavalos". Shklovski imagina
também, com Sagan, a atividade de outras civilizações nas galáxias distantes.
Se estas
perspectivas fabulosas merecem hoje nossa atenção, é perfeitamente lógico indagar
se nosso planeta não recebeu no passado, e num passado relativamente próximo, a
visita de astronautas vindos de outros sistemas planetários. Shklovski
considera válida esta hipótese, enquanto Sagan confirma seu parecer, acrescenta
elementos novos e desenvolve particularmente este ponto.
Quando em
1960, em O Despertar dos Mágicos, e
em 1961 na revista Planeie, mencionamos os estudos do cientista soviético M.
Agrest sobre este assunto, os intelectuais franceses de formação racionalista,
bem como os cristãos, zombaram de nossa ingenuidade.
Louis
Aragon, escritor comunista, afirmou mesmo que M. Agrest era um alegre
brincalhão e que somente por benevolência a União dos Escritores Soviéticos
tolerava em seu meio as profecias de alguns doentes mansos. O padre Dubarle
declarou com desprezo: "Temos agora uma ficção teológica!" Os
trabalhos de Agrest são de 1959. Em 1967, Carl Sagan e Shklovski afirmavam:
"A maneira como M. Agrest coloca o problema parece-nos inteiramente
lógica". A ideia essencial de Agrest é a seguinte. Suponhamos que alguns
astronautas vieram à Terra e encontraram homens. Um acontecimento tão insólito
deveria obrigatoriamente deixar vestígios nas lendas e nos mitos. Estes seres
extraterrestres, dotados de um poder sobrenatural, foram considerados de
natureza divina pelos primitivos, e os mitos reservaram um lugar de honra ao
céu de onde tinham vindo estes visitantes enigmáticos e para onde voltaram. Os
"visitantes celestes" ensinaram aos terrestres algumas técnicas e
rudimentos da ciência. Sabemos que os mitos e as lendas anteriores ao
aparecimento da escrita possuem um grande valor histórico. É assim que a
história pré-colo-nial dos povos da África negra, que não possuíam escrita, foi
reconstituída em grande parte com elementos do folclore, das lendas e dos
mitos. Carl Sagan acrescenta este exemplo: em 1786, os índios do Noroeste da
América do Norte viram La Perouse desembarcar no litoral. Um século tarde, a análise
das lendas inspiradas pelo acontecimento permitiu aos historiadores
reconstituir a chegada do navegante e o aspecto dos barcos.
Os extraterrestres nos observam
Agrest
interpreta passagens da Bíblia, vê a destruição de Sodoma e de
Gomorra os efeitos de uma explosão nuclear, na história de Enoque sendo elevado
aos ares um sequestro dos visitantes, etc... Percebe-nos a utilização que o
dogmatismo materialista pode fazer destas interpretações. Reduzir a ideia de
Deus às lembranças da passagem pela Terra de um navegante vindo das estrelas é
dar mão forte ao ateísmo. Sabemos por outro lado que este sistema de
interpretação foi empregado inescrupulosamente por "pesquisadores"
dados à mistificação. Não somos absolutamente opostos à mistificação, não
acreditando ter a propriedade exclusiva da verdade, e não consideramos a
ciência um animal sagrado, preferindo a morte à função de censor. Fora isso, o
amor da música passa também pela gaita, finalmente, é sempre bom repetir que
sem o mistificador o mundo se asfixia. Mas depois da publicação de O Despertar dos Mágicos, surgiu uma
literatura abundante sobre este terna. Não respondemos pelas afirmações de
nossos epígonos duvidosos. "Pelo que sabemos, declara Shklovski, não
existe um único monumento material da cultura do passado em que encontremos
realmente uma alusão a seres inteligentes vindos do cosmo." Esta é também
nossa opinião. É bem provável, por exemplo, que o célebre afresco saariano de
Tassili, representando um "marciano" de escafandro, tenha sido
utilizado abusivamente (um pouco por nós, e muito por outros) como
demonstração. Contudo, continuamos a pensar, como Sagan e seu colega russo, que
"as pesquisas orientadas neste sentido não são absurdas nem anticientíficas.
Convém somente não perder o sangue-frio". Seremos visitados proximamente?
Fomos visitados no passado? Carl Sagan procurou apresentar a frequência
provável. Ele calcula que o número de civilizações tecnicamente desenvolvidas
existindo simultaneamente em nossa galáxia poderia ser da ordem de 106.
A duração destas civilizações seria de 107 anos. "O que me
parece otimista", observa Shklovski. Sagan supõe que estas civilizações
estudam o cosmo segundo um plano que exclui a repetição de uma visita. Se cada
civilização enviar, anualmente, uma nave espacial de pesquisa interestelar, o
intervalo médio entre duas visitas da região de uma única estrela, será igual a
105 anos. Para o intervalo médio entre duas visitas a um único e o
mesmo sistema planetário (o nosso por exemplo) abrangendo formas inteligentes
de vida, podemos adotar, segundo a hipótese de Sagan, o número de alguns
milhões de anos.
A frequência, neste caso, é de 5.500 anos. Se "a história principia em
Sumer", e teve início com uma visita, devemos aguardar para breve um outro
desembarque. Se, como sugere o astrônomo americano, "parece provável que a
Terra recebeu diversas visitas de civilizações galácticas, inclusive durante a
era geológica", por que não encontramos nenhum vestígio concreto? A isto,
podemos dar três respostas: a arqueologia científica está ainda no início e nos
reserva muitas surpresas, sendo que a ideia de uma história do cosmo pode
inaugurar novas direções da pesquisa. Segunda resposta: encontramos vestígios
na memória dos homens, nas lendas e nos mitos, mas ainda não pesquisamos estes
dados com uma consciência mais ampla. Sagan demonstra isto a propósito da lenda
dos akpalos, como veremos mais adiante. Terceira resposta: o contato com
criaturas tão primitivas quanto os terrestres, há milhares de anos, não
justificava a instalação de uma base permanente. Esta base poderia estar
localizada na face oculta da Lua, e só encontraremos o cartão de visita das outras
galáxias quando atingirmos um nível tecnológico suficiente. Drake e Clarke
sugeriram ainda que uma civilização extraterrestre poderia ter colocado um
alarma automático que teria por função iluminar o espaço interestelar quando o
nível técnico local atingisse um certo grau. Por exemplo, um sistema semelhante
teria por função analisar o conteúdo de elementos radioativos na atmosfera
terrestre. O aumento da radioatividade atmosférica, produzida por experiências
nucleares repetidas, acionaria o sistema de alarma. É provável que o sinal já
tenha partido da Terra. Sagan escreve: "A 40 anos-luz da Terra, as
notícias referentes a uma civilização técnica recente tomam a direção das
estrelas. Se houver criaturas inteligentes nestas regiões, perscrutando os céus
na esperança de encontrar uma civilização tecnicamente avançada em nossa região
do espaço, elas tomarão conhecimento de nossa ciência recente, para o bem e
para o mal. Talvez, dentro de alguns séculos, recebamos a visita de um
emissário".
Shklovski,
mais cético ou menos lírico, considerando o abismo do tempo passado, reconhece
que há "uma possibilidade diferente de zero para a Terra ter recebido a
visita de viajantes do espaço". E acrescenta: "Da mesma forma que
Agrest, Sagan volta sua atenção para as lendas e os mitos. Dá um lugar especial
à epopeia sumeriana que narra visitas regulares, nas águas do golfo Pérsico, de
criaturas estranhas que ensinaram aos homens os ofícios e as ciências
diversas". É possível que estes fatos tiveram lugar nas proximidades da
cidade sumeriana de Eridu, na primeira metade do quarto milênio antes de nossa
era. "Antes de nossa era" é a maneira marxista de dizer: antes de
Cristo.
Os sumerianos vieram do mar
Estamos
lembrados das etapas históricas em o Admirável
Mundo Novo de Huxley: antes de Ford e depois de Ford... Voltando ao
assunto. Carl Sagan observou, em confirmação de sua hipótese, uma ruptura bem
nítida na história da cultura sumeriana, passando repentinamente de uma
condição primitiva para a evolução brilhante das cidades, com a construção de
redes complexas de irrigação e com a expansão das ciências, sobretudo
astronomia e matemática. A verdade é que ignoramos tudo a respeito das origens
da civilização sumeriana. René Alleau propôs uma hipótese fantástica. Os
sumerianos não vieram da terra, mas do mar. Viveram muito tempo no oceano, em
aglomerações de aldeias construídas em cima de jangadas, e foi somente quando
encontraram os seres superiores vindos do espaço que decidiram residir em terra
firme e construir suas cidades, desenvolvendo uma civilização segundo os dados
fornecidos pelos visitantes. Esta teoria tem sua origem na lenda dos akpalos.
"A meu ver, diz Shklovski, as hipóteses de Agrest e de Sagan não se
contradizem. Agrest propõe uma interpretação dos textos bíblicos. Mas estes
textos possuem origens babilônicas profundas. Os babilônios, os assírios e os
persas sucederam às civilizações sumeriana e acadiana. Ê provável que os textos
bíblicos e os mitos anteriores à fundação da Babilônia narrem os mesmos
acontecimentos. Evidentemente, não é possível apresentar provas científicas
suficientes. Mas mesmo assim estas hipóteses merecem nossa atenção."
A narrativa fantástica de Alexandre Polihistor
A hipótese
de Sagan é a seguinte: visitantes extraterrestres vestidos de escafandro, a
bordo de uma nave espacial pousada no mar, forneceram aos homens primitivos os
rudimentos do conhecimento. Estes homens fundaram Sumer. A humanidade conservou
durante muito tempo a lembrança de criaturas meio homens meio peixes (o
capacete e a armadura que lembra o brilho das escamas, o aparelho respiratório
como um prolongamento do corpo) vindos do espaço desconhecido para transmitir a
sabedoria. O signo do peixe, que posteriormente serviria de ponto de união
entre os iniciados do Próximo Oriente, está ligado talvez a esta lembrança
fabulosa. Há três versões relativas aos akpalos, datando das épocas clássicas,
mas todas elas têm sua origem em Berose, que foi sacerdote de Bel-Marduk, na Babilônia,
na época de Alexandre Magno. Berose conheceu os documentos cuneiformes e
pictográficos que tinham milhares de anos. Encontramos referência aos
ensinamentos de Berose nos textos clássicos e Sagan menciona especialmente os
textos gregos e latinos publicados por Cory em 1876 sob o título Fragmentos Antigos. Ali estão as três
narrativas:
No primeiro
livro referente à história da Babilônia, Berose diz ter vivido na época de
Alexandre, filho de Filipe. Menciona os escritos conservados na Babilônia,
relativos a um ciclo de quinze miríades de anos. Os manuscritos evocaram a
história dos céus e do mar, o nascimento da humanidade, bem como a história dos
diversos soberanos. Berose descreve Babilônia como um país que se estende do
Tigre ao Eufrates, rico em trigo, em cevada e em sésamo. Nos lagos,
encontravam-se as raízes denominadas gongae,
que eram excelentes ao paladar e equivalentes à cevada pelo valor nutritivo.
Havia também palmeiras, macieiras e a maior parte das frutas, dos peixes e das
aves que conhecemos. A região da Babilônia que fazia fronteira com a Arábia era
árida; a que se estendia do outro lado era ondulada e fértil. Nesta época, Babilônia
reunia povos muito diversos da Caldeia, que viviam sem lei nem ordem,
semelhantes aos animais selvagens.
No decorrer
do "primeiro ano", surgiu um animal dotado de razão, chamado Oannes,
vindo do golfo Pérsico (referência à narrativa de Apolodoro). O corpo do animal
era semelhante ao de um peixe. Tinha uma segunda cabeça sob sua cabeça de
peixe. Sua voz e sua linguagem eram articuladas. Esta criatura falava, durante
o dia, com os homens, mas não se alimentava. Ela ensinou aos homens a escrita,
as ciências e as artes diversas. Ensinou-lhes a construir casas, a edificar os
templos, a praticar o direito e a utilizar os princípios do conhecimento geométrico.
Ensinou-lhes ainda a distinguir as sementes da terra e a colher os frutos; em
suma, ensinou-lhes tudo que podia contribuir para amansar os costumes e para
humanizá-los. Neste momento, seu ensinamento era tão universal que não conheceu
depois nenhum aperfeiçoamento notório. Ao entardecer, a criatura mergulhava no
mar e passava a noite "nas profundezas". Era uma "criatura
anfíbia". Houve depois outros animais semelhantes a Oannes. Berose promete
fornecer urna narrativa deles quando se dedicar à história dos reis.
A narrativa de Abideno
Isto no que
se refere à sabedoria dos caldeus. Conta-se que o primeiro rei do país foi
Aloro, designado por Deus para ser o pastor do povo; ele reinou durante dez saris.
Calcula-se atualmente que um saris equivale a 3 600 anos; um neros tem
seiscentos anos; e um sossus, sessenta anos. Depois dele, Alaparo reinou
durante três saris. Amilaro, de Pantibiblon, sucedeu-lhe e reinou trinta saris;
no seu tempo, uma criatura semelhante a Oannes, mas metade demónio, chamada
Annedoto, apareceu uma segunda vez do mar. Depois Ammenon, de Pantibiblon,
reinou dezoito saris; depois Daos, o pastor originário de Pantibiblon, governou
durante dez saris; nesta época, quatro indivíduos de rosto duplo surgiram do
mar; chamavam-se Euedoco, Eneugamo, Eneubolos e Anemento. Depois disto veio
Anodafo, na época de Euedoresco. Houve mais tarde outros reis, e o último entre
eles foi Sisitro (Xisutro). Assim, houve um total de dez reis, e a duração do
Reino deles foi de 120 saris...
A narrativa de Apolodoro
Esta é a
história que nos foi transmitida por Berose. O primeiro rei foi o caldeu Aloro
da Babilônia; reinou durante dez saris; depois vieram Alaparo e Amelon,
originários de Pantibiblon; depois Ammenon da Caldeia, em cujo tempo apareceu
Annedoto Mu-saro Oannes, vindo do golfo Pérsico. (Mas Alexandre Polihistor,
antecipando o acontecimento, afirma que seu aparecimento teve lugar no decorrer
do primeiro ano. Contudo, segundo a narrativa de Apolodoro, trata-se de
quarenta saris, embora Abideno mencione o aparecimento do segundo Annedoto no
final de 26 saris). Depois Megalaro de Pantibiblon lhe sucedeu e reinou dezoito
saris; depois veio o pastor Daono, de Pantibiblon, que reinou dez saris; em seu
tempo apareceu de novo, vindo do golfo Pérsico, um quarto Annedoto, tendo a
mesma forma que os anteriores, a aparência de um peixe e de um homem. Depois
Euedoresco, de Pantibiblon, reinou durante dezoito saris. Durante seu reino,
apareceu um outro indivíduo, chamado Odacon. Vinha, como o precedente, do golfo
Pérsico e tinha a mesma forma complicada de peixe e de homem. (Todos, diz
Apolodoro, contaram em detalhe, segundo as circunstâncias, o que lhes ensinou
Oannes. Abideno não menciona nenhuma destas aparições). Depois reinou Amempsino
de Waranchae e, como era o oitavo na ordem da sucessão, governou durante dez
saris. Depois veio Otiartes, caldeu originário de Laranchae, e ele governou
durante oito saris. Após a morte de Otiartes, seu filho Xisutro reinou durante
dezoito saris. Foi nesta ocasião que ocorreu o Grande Dilúvio...
Narrativa posterior de Alexandre Polihistor
Depois da
morte de Ardates, seu filho Xisutro lhe sucedeu e reinou durante dezoito saris.
Foi nesta época que teve lugar o Grande Dilúvio, cuja história foi narrada da
seguinte maneira. O deus Crono apareceu em sonho a Xisutro e informou-lhe que
haveria um dilúvio no décimo quinto dia do mês de Daésia, e que a humanidade
seria destruída. Ordenou-lhe portanto escrever a história das origens, dos
progressos e do final de todas as coisas, até os nossos dias, e enterrar estas
anotações em Sippara, na Cidade do Sol, construir um barco e levar consigo seus
parentes e amigos. Ordenou-lhe, por último, transportar a bordo tudo o que era
necessário ao sustento da vida, reunir todas as espécies animais, as que voam
ou correm em cima da terra, e abandonar-se às águas profundas... Como
perguntara ao deus para onde deveria dirigir-se, este lhe respondeu: "Para
o lugar onde estão os deuses".
Um cilindro assírio representa o akpalo
Nestes
fragmentos, as origens não humanas da civilização sumeriana são nitidamente
afirmadas. Uma série de criaturas estranhas surge no decorrer de várias
gerações. Oannes e os outros akpalos são descritos como "animais dotados
de razão" ou como criaturas inteligentes, de forma humanoide, recobertos por
um capacete, e uma carapaça, como um "corpo duplo". Talvez fossem
visitantes vindos de um planeta inteiramente coberto pelos oceanos. Um
cilindro assírio representa o akpalo carregando aparelhos nas costas,
acompanhado de um golfinho. Alexandre Pofihistor observou a- evolução súbita da
civilização depois da passagem de Oannes, o que está de acordo com as
observações da arqueologia sumeriana. O arqueólogo Thorkild Jacobsen, da
Universidade de Harvard, escreveu: "Subitamente, o panorama se transforma.
De obscura que era, a civilização mesopotâmica se cristaliza. A trama-fundamental,
o arcabouço no interior do qual a Mesopotâmia iria viver, formular as
indagações mais profundas, avaliar-se a si mesma e o universo durante os
séculos futuros, brotaram com vida e se realizaram". Não há dúvida que
desde a época dos trabalhos de Jacobsen foram descobertos na Mesopotâmia alguns
vestígios de cidades mais antigas, sugerindo uma evolução mais lenta.
Entretanto, o mistério dos visitantes permanece, confirmado pelo exame dos selos
cilíndricos assírios, nos quais Sagan pensa decifrar o Sol cercado de nove
planetas, com dois planetas menores em um dos lados, bem como outras
representações de sistemas que apresentam uma variação no número de planetas
para cada estrela.
A densidade
particular de acontecimentos inexplicáveis narrados pelas lendas do Oriente
Próximo coloca um problema. A arqueologia revelou alguns vestígios de
tecnologia, como o forno-refletor em Ezeon Geber, em Israel, ou o bloco de
vidro de três toneladas enterrado perto de Haifa. O aparecimento nesta região
do mundo de técnicas, de ideias inéditas, de religiões, como se fosse o berço
da história humana, coloca a seguinte questão: estes locais foram escolhidos pelos
mestres vindos das estrelas? Como e por quê? Carl Sagan aponta cinco origens
possíveis para os visitantes do espaço: Alfa do Centauro, Epsilon, Eridano 61
Cygni, Epsilon Indi e Tau Ceti, a quinze anos-luz da Terra. E conclui:
"Histórias como a lenda de Oannes, as figuras e os textos mais antigos
referentes ao aparecimento das primeiras civilizações terrestres mereciam
estudos críticos muito mais amplos do que os realizados até o momento. Estes
estudos não deveriam rejeitar uma direção de pesquisa relativa a contatos
diretos com uma civilização extraterrestre".
Chegamos
certamente a uma fase de riqueza e de poder que possibilita a investigação mais
aberta do nosso passado distante. E foi a nós, ao que parece, que Platão se
dirigiu quando escreveu no Critias:
"Sem dúvida, os nomes destes aborígines foram conservados enquanto se
obscurecia a lembrança de suas obras, e isto foi devido tanto ao
desaparecimento dos que receberam a tradição quanto à extensão do tempo
transcorrido. Depois das diversas catástrofes e dos dilúvios, o que sobrou da
espécie humana sobreviveu num estado inculto, conhecendo apenas os nomes dos
príncipes que haviam governado o país, e sabendo muito pouca coisa de suas
obras. Embora apreciassem dar aos filhos os nomes destes príncipes
desaparecidos, eles ignoravam os méritos dos antepassados ilustres e das leis
que haviam instituído, com exceção de algumas tradições obscuras pertencentes a
alguns deles (...) Com efeito, o estudo das lendas e as investigações relativas
à antiguidade são duas coisas que, com o passar do tempo, entraram simultaneamente
nas cidades, no momento em que as necessidades da existência estavam
garantidas, mas não antes".
Estas duas
coisas que entram nas cidades talvez nos tornem sensíveis a uma circulação
entre os tempos desaparecidos e os tempos futuros, talvez elas nos ensinem que
nosso esforço imenso para penetrar no céu é um desejo muito antigo e heroico de
prolongar o diálogo interrompido. Talvez avistemos nossas origens e nosso fim
como os dois momentos de uma relação com a vida e a inteligência no universo.
Evidentemente, quando levantamos estas dúvidas, quando procuramos vestígios
imemoriais de um contato e quando interrogamos as possibilidades do futuro,
devemos nos lembrar sempre do provérbio chinês: "Aquele que espera um
cavaleiro não deve confundir o ruído dos cascos com as batidas do seu
coração". Mas é necessário que a esperança faça o coração bater
violentamente.
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Fonte:
Planeta, nº 34. Editora Três. São Paulo, julho de 1975, págs. 9-16.
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