O primeiro homem
Louis Pauwels, fundador de Planete, mostra aqui por que o texto de
Ardrey é importante. E como sua teoria provocou uma revolução nos meios da
paleontologia. São novas luzes sobre o primeiro homem.
Publicamos estas páginas de Ardrey porque
pensamos que o livro deste amador apaixonado está destinado a uma verdadeira
notoriedade. Já chamou atenção de centenas de milhões de leitores nos Estados
Unidos. Pela vivacidade e o calor do estilo, pela visão ampla, uma tal obra
merece efetivamente uma grande audiência. E foi necessário sem dúvida um
amador, um escritor (e, no caso, um dramaturgo) para conduzir essa investigação
através da paleontologia e levantar os problemas que interessam ao homem,
quando os especialistas se refugiam nas classificações estritas. Ardrey teve a
coragem de tocar o coração do problema: de onde viemos nós? e de examinar com
esse propósito, em todos os sentidos, os fatos e ideias que realmente nos
concernem. O que não constitui um pequeno mérito.
Isto é dizer que nós partilhamos as teses do
autor? Quase.
Outro mérito de Ardrey: ele trata os fatos
como fatos, quer dizer, como realidades bastante firmes, capazes de demolir as
mais sólidas teorias. Assim, parece a ele que de agora em diante está
suficientemente provado que o instinto de território é uma dominante do reino
animal. O que aspira a significar que a ideia de propriedade não é, entre os
homens, uma resultante da economia e da estrutura da sociedade, mas um dom
original. Não obstante, o autor cuidou para não evocar os animais sociais:
térmitas, abelhas, formigas. Se têm o instinto de território, não o empregam
mais aqui a título individual, mas a título global. E nas recentes experiências
citadas por Remy Chauvin em sua obra sobre as Societés Animales, é mostrado que
ele existe nas comunicações pacíficas entre formigueiros. Ora, o homem atual é
aquilo que foi em suas origens: um solitário ou um tribal? Ele é um animal
social em quem o instinto de território mudou de natureza ao mudar de dimensão.
Se eu sou americano, meu território é a livre empresa. Se eu sou soviético, o
meu território é o comunismo. E aproxima-se o tempo, no ímpeto acelerado das
massas e nas precipitações do progresso, em que o território será para o homem
o planeta inteiro, onde o homem se definirá, em consideração ao universo
povoado por outras inteligências, como terrestre. Ele não poderá falar da
permanência do instinto de território, como o faz Ardrey, sem, ao mesmo tempo,
negar esta ladeira do fenômeno humano e cair na justificativa das atitudes mais
reacionárias. É bom, por outro lado, que se tenha originado na África do Sul,
onde as teses deste livro podem servir de ponto de apoio aos partidários da
segregação.
É conveniente, aqui, retornar ao esquema de
Teilhard de Chardin, segundo o qual toda a evolução se caracteriza pela
passagem da zoos-fera, mundo dos instintos, à noosfera, mundo das tomadas de
consciências. O homem, ao progredir, toma consciência da sua limitação, do
conjunto biológico e energético ao qual está ligado, e do destino desta
totalidade. A partir deste momento, pode-se dizer que a sua natureza mesma mudou.
Uma natureza que toma consciência do seu futuro não mais é "natural":
ela não mais está ligada à sua própria fatalidade, mas à visão que ela própria
tem de sua direção.
E preciso ter muita atenção às distinções
introduzidas por Teilhard. Aqueles que o combatem em nome do seu idealismo
podem bem ser batidos em seu próprio terreno por outros realistas do tipo
Ardrey.
Lá onde nós reencontramos nosso autor, é
quando ele demonstra que a libido não é a base de toda atividade, que o
instinto sexual é relativamente menos forte que o instinto de hierarquia e de
responsabilidade. O pansexualismo freudiano acha-se ferido, o que nos parece
salutar.
Lá onde nós nos afastamos ainda uma vez, é
quando ele funda todas as suas teorias em cima das escavações africanas. Sabe-se
da precariedade das descobertas, nesta matéria, das origens do homem. Amanhã,
não se encontrará um elo que nos fará filhos de um vegetariano? E afinal, no
atual estado de coisas, a única certeza é que nós não sabemos nada. O
africantropo encontrado por Leakey teria 1.750.000 anos. Mas a última dotação
lhe dá 3 milhões de anos. E não teria ele podido desaparecer depois, por
ocasião das grandes glaciações? Seu crânio comporta uma crista óssea. Será
verdadeiro que nós sejamos seus descendentes? E quanto ao crânio f r aturado de
que fala Ardrey, ele testemunha um combate ou um acidente? Ninguém poderá dizer
de forma segura. E o que é que me permite pensar que o crânio se desenvolve a
partir do uso de uma arma? Em que a clava pode ter condicionado a afinação do crânio?
Hipótese pura. Os delfins possuem uma estrutura cerebral comparável, se não
superior, à do homem. Estes não são matadores. Então? O assassinato como
condição da evolução? Suspeitamos, seriamente, sobre o plano das verdades como
sobre o das deduções. Como a lei darwiniana de seleção natural pode servir como
suporte ideológico à política de livre empresa e de struggle for life, receamos que esta teoria de "filhos de
Caim" venha um dia a fornecer novo alimento a uma visão nietzschiana e a
uma nova representação de super-homem emergindo de uma onda de sangue.
Não obstante, Ardrey talvez tenha razão ao
acentuar a agressividade original. O adamismo é duvidoso. Mas ele tem dois
tipos de agressividade, que dificilmente se explicam um pelo outro. A primeira
é dirigida contra o semelhante. A segunda é dirigida contra a natureza. E não é
a primeira a transformadora da espécie e do mundo, é a segunda. É agredindo a
natureza, lutando contra esta para roubar os seus segredos, para compreender,
orientar e governar as suas leis, que o homem modificou sua limitação e sem
dúvida modificou a ele mesmo.
Atualmente, numa atmosfera carregada de mil
radiações novas, ele não é mais convocado a certas mutações? Ele transformará
as coisas sem se transformar no mesmo golpe? E ele as transformará em um
poderoso esforço se ele mesmo não se sente mais chamado para qualquer benéfica
transformação — para qualquer despertar, dito de outro modo?
Uma palavra ainda, como antídoto, onde o
idealismo se associa talvez à realidade objetiva. E esta é uma palavra de
Teilhard: "O futuro da Terra pensante está organicamente ligado à
conversão das forças do ódio em forças de caridade".
Louis
Pauwels
Durante
estes quarenta últimos anos, uma revolução operou-se nas ciências naturais. Nós
compreendemos, finalmente, o comportamento animal e o vínculo que a ele nos
prende. Enfim, numa palavra, esta revolução diz respeito à mais apaixonante das
especulações humanas, o conhecimento do homem pelo homem. No entanto, a ciência
em seu conjunto ainda não tomou consciência das consequências filosóficas que
resultaram das descobertas de seus especialistas. Tudo o que se acreditou e
afirmou até agora sobre as origens e a natureza do homem, tudo isto que era
admitido sem discussão pelo ensino, a psiquiatria, a política, a arte, talvez
mesmo pela ciência, se vê minado por correntes vindas de fontes científicas
pouco conhecidas. Poucos, entre nós, se dão conta disto, mesmo entre os
especialistas. Comparadas aos sucessos da física nuclear, dos antibióticos e dos
microssulcos, as descobertas da paleontologia parecem bem afastadas da
atualidade. Acrescentemos que esta reviravolta é obra de sábios muito
especializados: seus trabalhos não estão publicados senão em revistas como American Journal of Anthropology ou o Biological Symposia. Tais porta-vozes
têm pouca audiência na praça pública.
Mas ainda
mais importante que o seu caráter oculto é a instantaneidade desta reviravolta.
Quando eu saí, em 1930, de uma respeitável universidade americana, o jovem
honradamente instruído que eu era nessa época jamais tinha ouvido dizer que a
propriedade privada pudesse ser outra coisa senão uma elaboração da
inteligência humana. Quando nos anos seguintes, à maneira dos jovens da minha
geração, eu gastei bastante a minha energia para a abolição da propriedade
privada, eu pensava com toda a boa fé que uma tal reforma aliviaria a
humanidade de muitas frustrações.
Através dos
programas de psicologia, sociologia ou antropologia na universidade, ninguém
teve a preocupação de nos ensinar que a noção de território - isto é, o
instinto de adquirir, depender e manter um direito exclusivo sobre um local
definido — nada mais é efetivamente que um instinto animal, tão primitivo e tão
poderoso quanto o da sexualidade.
Não há nada mais que a sexualidade
Atualmente,
o papel do território no comportamento geral do animal não provoca mais
objeções. Mas nós, os jovens de 1930, sem o auxílio desta observação capital,
nos debatíamos num mundo onde as tomadas de posição eram tempestuosas. Por
outro lado, ofuscados pelos atrativos dum país sem classes, nós não podíamos
compreender que a hierarquia fosse uma instituição comum a todas as sociedades
animais, e que a tendência a dominar o seu semelhante é um instinto que data de
300 ou 400 milhões de anos. Existe uma experiência clássica realizável com os
porta-espadas (xiphophorus), esses peixes vermelhos, vivos como o relâmpago,
que decoram numerosos aquários tropicais. Uma meia dúzia destes peixes machos,
postos num mesmo jarro, estabelecerá muito rapidamente, entre eles, uma
hierarquia linear; cada um, conforme sua força, sua combatividade e sua
audácia, detecta os fracos que ele poderá dominar e os fortes a quem se
submeterá. Sua posição lhe trará numerosas prerrogativas, quer se trate do
acesso aos alimentos, do direito sobre as fêmeas ou mesmo de um canto reservado
no aquário; a conservação desta posição constitui a principal meta dos seus
combates.
A força
exata deste instinto é muito fácil de medir: sendo gradualmente esfriada a água
do aquário, chegará um momento em que o macho perderá todo o instinto sexual,
mas ainda combaterá para conservar a sua posição. Em 1930, nós tínhamos vinte
anos e não poderíamos conhecer esta experiência: ela nem mesmo tinha sido
feita!
As pessoas
da minha geração fizeram sua entrada em um mundo turbulento com um grande
número de erros oficiais em suas bagagens. Depois de Darwin, por exemplo, a
ciência admitiu que o homem foi um produto da evolução a partir de uma espécie
de símio, não muito diferente de seus atuais congêneres. Nenhuma hipótese
poderia ser mais razoável: com efeito, todos os primatas atuais sem exceção —
gorila, macaco, chimpanzé, cercopiteco, gibão, babuíno — são seres mansos,
pouco agressivos e que nunca se afastam muito do regime vegetariano senão por
um gosto ocasional pelos insetos.
Portanto, os
nossos mestres de psicologia e antropologia poderiam pensar logicamente que os
nossos ancestrais tinham uma vida tranquila. Mas, em menos de dez anos, os
paleontólogos especialistas de África demonstraram a existência sobre este
continente de uma raça de símios viventes no solo, matadores e carnívoros, cuja
espécie desapareceu depois de 5 mil anos mais ou menos. Durante os dez anos
seguintes, ficou estabelecido que os primeiros traços do homem apareceram na mesma
época, sempre nesse continente.
Enfim, o
último decênio dessa confusão nas ciências naturais provou que os australopitecídeos,
caçadores e carnívoros, pertenciam indiscutivelmente às formas pré-homíneas, e
que eles eram os presumíveis inventores deste auxiliar permanente do homem: a
arma que mata. Nós sabemos que os caracteres adquiridos não são transmissíveis
e que, dentro de uma mesma espécie, cada ser, no seu nascimento, é a reprodução
exata, em seus grandes traços, do primeiro da linhagem. Algumas de nossas
crianças, nascidas no meio do século 20, não diferem sensivelmente do mais
velho homo sapiens conhecido. Nenhum
instinto — somático ou psicológico — que constituiu na origem uma parte da
estrutura do homem, poderá jamais, no curso da história da espécie, ser
definitivamente suprimido ou abandonado.
O caráter
inextirpável de um instinto social é perfeitamente ilustrado pelo exemplo dos
castores do Rhone. Uma colônia de castores constrói suas barragens, seus canais
e seus ninhos para um trabalho em comum empreendido apenas pelos grupos de uma
certa importância. Anteriormente, o castor da Europa era caçado tão ativamente
por causa de sua pele, que a espécie logo estava em via de desaparecimento.
Alguns sobreviventes formavam ainda minúsculas colônias, mas não mais podiam
construir. Foi então que o governo francês decidiu colocar entre os animais
protegidos esses últimos sobreviventes da espécie que viviam no vale do Rhone.
Lentamente, através de numerosos decênios, sua população cresceu.
Veio, enfim,
o momento em que os castores retornaram ao trabalho. Eles já eram
suficientemente numerosos para isto. E, pela primeira vez depois de muitos
séculos, barragens, canais e ninhos elevaram-se ao longo dos diferentes braços
do Rhone: essas obras não se diferenciavam em nada das edificadas, a 9 mil quilômetros
de lá, por seus primos canadenses.
Antes de
1930, somente duas comunicações anunciaram a transformação das ciências
naturais. Uma vinha da África do Sul: ela procedia de um anatomista de origem
australiana. Esta nova tese foi universalmente rejeitada. A outra participação,
onde começa nossa história, nada mais era do que uma tranquila exposição de um
ornitólogo inglês. Ela foi largamente ouvida, largamente admitida e mesmo assim
largamente incompreendida.
Guerra e nacionalismo, dois caracteres inatos
O ornitólogo
inglês era Eliot Howard. Com uma minúcia e permanência infinita, ele observou
as características dos combates entre os pássaros e então tirou suas
conclusões. Os machos raramente combatem pelas fêmeas; mas eles se apropriam de
um território; eles marcam os limites mais ou menos extensos segundo a sua
combatividade e cantam para que os seus congêneres tomem conhecimento disto. E
será sobre este território que eles se acasalarão e fundarão uma família. Mas a
luta e a tomada de posse do espaço vital terá lugar antes da chegada da fêmea e
não parece estar ligado a um objetivo sexual preciso. Sua conclusão, por tudo
isso, foi a mesma: um macho, que corta um território para si, encontra e
conquista uma fêmea sem dificuldade.
A maioria
dos especialistas, em 1920, admirava as teorias de Howard sobre esse estranho
comportamento dos pássaros, mas o considerava mais como uma característica inteiramente
particular e própria somente dos pássaros.
Entretanto,
as pesquisas prosseguiam em silêncio. Um zoólogo americano, o dr. C. R.
Carpenter, por pouco não chega ao fundo da questão. Seus pacientes estudos
sobre as sociedades de antropoides e outros símios em estado selvagem
tornaram-se clássicos da ciência moderna. Eles demonstraram que o instinto do
território é entre nossos mais próximos parentes uma lei universal. Fato ainda
mais importante, esses trabalhos revelaram os caracteres profundos de uma
instituição já mais evoluída: o território coletivo é ocupado e depois
defendido pelo grupo todo.
A obra do
dr. Carpenter inspira o grande homem da antropologia britânica sir Arthur
Keith, que tirou uma das raras conclusões políticas até hoje publicadas sobre
este assunto. Em seus últimos ensaios, Keith assinalou que as origens do
nacionalismo, do patriotismo ou da guerra explicavam-se suficientemente pelo
instinto do território. As observações ornitológicas de Eliot Howard arruinaram
a teoria, já consagrada pelo tempo, que afirmava: a não ser pelas fêmeas, o
macho não se preocupa com nada mais. Agora, depois dos trabalhos acumulados por
toda uma geração, os numerosos zoólogos afirmavam sem rodeios que a opressão
territorial é mais arraigada e mais poderosa que o instinto sexual. Mas as
observações desta geração de naturalistas e de zoólogos revolucionários
revelaram também que não se tratava somente de território.
O estudo das
sociedades animais continuava sendo o objetivo principal de zoólogos, tais como
Carpenter e Allee, e de naturalistas, como Konrad Lorenz e Eugene Marais. Suas
pesquisas mostraram que a defesa do terreno dependia obrigatoriamente da ordem
social, estando esta mesma ordem, por seus vínculos sutis, inseparavelmente
subordinada à aceitação de encargos de poder pelos membros mais fortes da
hierarquia, assim como a aceitação dessa autoridade pela massa dos indivíduos.
Ademais, a
manutenção da ordem reclama a proteção coletiva de cada membro do grupo, nisto
incluindo os não-adultos, e também a repartição dos deveres e relações entre os
membros da sociedade; ela exige igualmente que seja reduzido ao mínimo todo o
conflito sexual; ela precisa enfim um duplo imperativo de conduta; entendimento
com os semelhantes de um mesmo clã e estado de guerra com todos os vizinhos do
território. Em contrapartida, o desempenho da fêmea, guardiã das atividades.
sexuais, revela-se feito cada vez mais para compensar a tendência social dos
machos a se dispersarem para outras atividades que não a da reprodução.
O homem nasceu na África?
Duas
descobertas fundamentais, como dissemos, deflagraram a transformação nas
ciências naturais. A primeira — que nós abordamos agora — mostrava que a cena
principal da dramática passagem do indivíduo do mundo animal à sua conduta de
homem tinha-se desenvolvido no continente africano. Raymond A. Dart dirigiu até
a sua aposentadoria (1958) o serviço de anatomia da Universidade de
Witwatersrand (Johanesburgo). De origem australiana, criado na Inglaterra e nos
Estados Unidos, ele chegou à África do Sul em 1922 para organizar o serviço de
anatomia da Escola de Medicina. Dois anos mais tarde, ele descobriria o australopiteco
(Australopithecus africanus), primata
carnívoro do alto veld antigo; ele se surpreende, então, mergulhado em uma
controvérsia que ainda perdura.
Dart é um
homem pequeno e robusto; e é um espírito aberto a numerosas disciplinas. Emana
de seu ser uma ascendência verdadeira. E ele é dotado de uma incrível
resistência. Nos últimos tempos, ele ainda ministrava cursos de anatomia comparada;
diante de sua classe estupefata, ele imitava o comportamento dos símios,
suspendendo-se pelos braços nos canos do aquecimento central, acima das cabeças
dos estudantes.
Eu me lembro
que uma vez — isto há alguns anos — escalamos uma escarpada encosta do vale
selvagem de Makapan, ao norte do Transvaal, perto do rio Limpopo. Nós tínhamos
visitado uma caverna de acesso muito difícil. A meio caminho, eu já respirava
como uma foca! Paramos. "De fato, este lado é muito duro", disse num
tom amável e compreensivo Raymond Dart; ele respirava tão serenamente como uma
criança adormecida. Eu pensei amargamente que Dart tinha mais de 65 anos.
Na minha
opinião, é a Raymond Dart, à sua obstinação e à sua fé inquebrantável que nós
devemos nosso atual conhecimento das origens do homem. O crânio de Taungs
(Bechnauanland), encontrado em 1924, era o de uma criança; a descrição que dele
fez Dart feriu os prejuízos da época. Seu agudo sentido de anatomia comparada
levou Dart a conceber um ser adulto, de 1,20 m aproximadamente, bípede,
portanto de postura vertical, mas cujo volume de cérebro ainda era o de um
gorila: em outras palavras, um animal a meio caminho entre o símio e o homem.
E mais, Dart
concluiu, pelo estudo dos dentes e do habitat
da criatura, que o Australopithecus
africanus era um carnívoro que vivia da caça. O homem-símio revelava-se um
ser de transição que possuía todas as características do homem, excetuando-se o
grande desenvolvimento cerebral. Esta descoberta, dentro do espírito de seu
autor, designava a África como tendo sido o teatro do aparecimento do homem.
O degrau perdido entre o símio e o homem
Mas, por
volta de 1920, a ciência ainda estava convencida de que o berço da humanidade
encontrava-se na Ásia. Nessa época, uma célebre expedição passou pelo crivo
seriamente as areias do deserto de Gobi, para descobrir o elo da corrente que
faltava na cadeia, aquele que levava do símio ao homem, porque nenhum fóssil
descoberto na África tinha vindo justificar a tese de Dart.
A hipótese
da origem asiática prevalecia sempre. Por motivos da mesma ordem, a ciência
recusava-se a admitir que o homem-símio tivesse sido um carnívoro. Como nós já
mencionamos, os primatas comedores de carne eram desconhecidos da ciência e por
consequência não podiam existir. Entretanto, um terceiro preconceito pesava
ainda mais do que estes.
A
antropologia estava convencida — ninguém sabia por que — de que o grande
desenvolvimento do cérebro é o primeiro e não o último quanto à data dos dons
concedidos ao homem. Todas as características humanas, postura vertical,
alimentação e modo de viver, deveriam decorrer do desenvolvimento anterior do
céccoo do cérebro. Como Dart havia concebido uma criatura, com seu corpo de
homem e seu cérebro de símio, vinha pôr tudo novamente em discussão.
A situação
não se tinha modificado doze anos mais tarde, quando o segundo enfant terrible da ciência foi ele
próprio conduzido por força das convicções de Dart. Robert Broom era oriundo da
África do Sul; com a idade de sessenta anos, ao longo de uma notável carreira,
tinha se elevado à categoria dos maiores zoólogos mundiais. Em 1936, ele deixou
o seu retiro e, numa manhã de domingo, visitou uma caverna a menos de uma hora
de carro de Johanesburgo. Como Dart, ele também era de pequena estatura, mas ao
contrário deste último, ele se mostrava excessivamente cerimonioso. De chapéu
preto, gravata preta e colarinho duro, ele começou a escavar cuidadosamente a
caverna. Na segunda-feira seguinte, justamente oito dias mais tarde, ele
descobriu os dentes e a caixa craniana de um australopitecídeo adulto. E tudo
confirmava em cada detalhe as extrapolações que Dart tinha feito a partir do
crânio da criança.
Descobertas
ulteriores feitas na África do Sul nos trouxeram, de cinco locais diferentes,
os restos de mais de cem australopite-cos. Conhecemos melhor atualmente a
natureza dos últimos animais do que a dos primeiros homens. Mas a descoberta de
Broom, em 1936, era bastante significativa, e o que ele demonstrou foi que a
criança de Taungs não tinha sido um capricho nem uma fantasia de anatomista.
Entrementes, a mais de 3.000 km ao norte, na região do lago Vitória, o terceiro
enfant terrible da ciência africana
punha-se a arruinar a teoria tradicional: S. B. Leaky, nascido em Kenya, hoje conservador
do Museu Coryndon em Nairóbi.
A partir de
1930, o homem de Kenya exumou de leitos fossilíferos do lago Vitória, vários
fósseis de símios quadrúmanos não arborícolas, entre os quais poderia figurar
um ancestral dos primatas de postura vertical do sul. Os australopitecídeos
abundavam no alto veld do Transvaal, já há 750 mil anos. Os símios são
arborícolas da família "procônsul", que existiam às margens dos lagos
de Kenya, durante o miocênio, 20 milhões de anos antes.
O primeiro homem era pequeno, forte e feroz
A objeção
dos cientistas, segundo a qual nenhum fóssil relacionado com a descoberta de
Raymond Dart existia no continente africano, tinha marcado um tento. Mas Leaky
sentiu-se no dever de explorar o subsolo. Seiscentos esqueletos de símios não
arborícolas foram então exumados. Num período onde a presença de símios era
desconhecida nos outros continentes, os símios da família de
"procônsul" eram tão comuns na África Oriental como o antílope de
hoje.
Apesar de
tudo, os numerosos testemunhos dos anos 1930-1940 em favor da origem africana
do homem se acumulavam nos museus e laboratórios. E, portanto, considerar o
símio austral como um elo a meio caminho da evolução humana era ainda uma
audácia que chocava as convicções místicas da antropologia: a ciência se obstinava
em pretender que o desenvolvimento prévio do cérebro tinha determinado entre os
homens toda a sua evolução. Este preconceito permaneceu intato até 1953.
Quando os
sábios do Museu Britânico provaram que o homem de Piltdown era uma fraude, eles
deflagraram um dos maiores escândalos científicos do século; e os testes com
flúor do dr. Kenneth P. Oakley ficaram logo conhecidos no mundo inteiro. Mas,
enquanto a revelação da fraude repercutia através da imprensa mundial, a
verdadeira significação dos testes passava despercebida.
O homem de
Piltdown reunia à perfeição os elementos que a antropologia — a antropologia
inglesa em particular — considerava como a marca essencial do limiar da
humanidade. Não lhe faltava nem a queixada do símio, nem o crânio humano
abaulado, origem de toda a gloriosa evolução futura. O autor desconhecido da
fraude havia fornecido à ciência exatamente aquilo que ela procurava.
Assim, a
verdadeira importância das descobertas de Londres não residia na exclusão do
homem de Piltdown da glória científica, mas no fato de que a filosofia
tradicional teve de rejeitar a tese da anterioridade do desenvolvimento
cervical. Nenhuma descoberta, sobre as terras da África, melhor poderia servir
ao nosso conhecimento 4as origens humanas que os testes de Oakley executados
nos fundos de um laboratório londrino.
Por que a
antropologia britânica dessa época se agarrava à ideia de que as faculdades
intelectuais eram o fundamento da evolução humana? Eis aí um problema,
certamente, que obcecava Oakley. Depois de seus testes terem demonstrado que a
calota craniana e o maxilar do homem de Piltdown pertenciam a duas criaturas
diferentes, houve ainda um eminente sábio britânico que lhe confiou uma
esperança desencantada: quem sabe se o primeiro homem, quando afinal vier a ser
descoberto, venha a assemelhar-se, apesar de tudo, ao homem de Piltdown! Foram
necessários três anos para que o dr. Oakley encontrasse, tal como ele próprio
me contou, uma solução para este problema.
Bruscamente,
após uma conferência nos EUA sobre um outro tema completamente diferente, a
resposta dardejou como um relâmpago atrás de sua fronte abaulada:
"Naturalmente, nós acreditávamos que primeiramente era o cérebro que se
desenvolvia. Nós presumíamos que o primeiro homem era inglês!"
O grande canion da evolução humana
Durante os
últimos trinta anos, o dr. Leaky e sua mulher encontraram na região do lago
Vitória, utensílios de pedra grosseiramente talhados, a mais antiga testemunha
da cultura humana. Eles datam de uma época mais ou menos contemporânea dos
australopitecídeos da África do Sul, e precedem de mais de um milhar de séculos
às mais velhas pedras talhadas descobertas no resto do mundo. Assim como os
fósseis de símios não arborícolas, de 20 milhões de anos de idade, designam a
África Oriental como o teatro do aparecimento do ramo humano, assim também
esses utensílios de pedra talhada de cerca de l milhão de anos de idade
testemunham em favor do aparecimento do próprio homem nessa região.
Então os
Leaky começaram as suas pesquisas na garganta vizinha de Olduvaï em Tan-ganika.
A garganta
de Olduvaï é um canion dessecado de cerca de 40 km de comprimento, habitado
hoje exclusivamente por seres tão pouco recomendáveis como a serpente, o
rinoceronte e o leão de juba negra. Nas camadas aparentes das paredes do
canion, os Leaky encontraram os sucessivos níveis das antigas margens do lago;
lá estavam os traços da ocupação humana. Nos níveis inferiores estava o mais
antigo e grosseiro conjunto de ferramentas da idade da pedra, enquanto, nos leitos
superiores mais recentes, podia-se ler a evolução contínua do trabalho da
pedra, até mesmo as tentativas mais complexas do homem neolítico.
A garganta
de Olduvaï: este é "o grande canion da evolução humana". Em 1959, com
a estupefaciente descoberta dos restos do primeiro fabricante de utensílios em
pedra, efetuada por L. S. B. Leaky, este local antropológico tornou-se o
primeiro do mundo. Com esta grande descoberta, os dois grupos da revolução
antropológica fizeram sua junção. Durante trinta anos, a zoologia tinha
aprofundado nosso conhecimento do comportamento animal. Durante o mesmo espaço
de tempo, a antropologia tinha feito recuar para o passado nosso conhecimento
da história do homem. Deste modo, numa garganta árida do Leste africano, as
duas ciências se reencontraram.
O fundador
de toda nossa cultura humana não foi um homem, mas um animal.
Em 1949,
Dart jogou o restante dos seus trunfos. Ele publicou um artigo na American Journal of Phisical Anthropology,
onde afirmava que o Australopithecus
africanus servia-se de armas. O exame de uns cinquenta crânios de babuínos,
vindos de diferentes regiões onde coabitavam com o símio austral revelou um
duplo afundamento característico. Dart concluiu que os babuínos tinham sido
surpreendidos e massacrados pelo próprio símio austral; ele acrescentou que
este homem-símio tinha se servido de uma arma, e que sua arma favorita era um osso,
o úmero do antílope. O uso de armas revelou-se mais antigo do que o homem
propriamente dito.
A arma criou o homem
A tempestade
provocada nos corredores solenes da ciência acadêmica pelas pretensões de Dart
nem mesmo poderia ser chamada de controvérsia, já que ele não encontrava
absolutamente ninguém para defender a sua tese. A acolhida muito reservada que
haviam feito ao crânio da criança de Taungs, exatamente 25 anos antes,
constituía em comparação um coro de elogios. Mas Dart, como de hábito,
perseverou como se ninguém o desaprovasse. E em 1953, ele publicou um artigo
que poderá um dia tomar lugar, ao lado do Manifesto Comunista, entre os
documentos que abalaram o mundo.
"O
animal de rapina, transição entre o símio e o homem" era um artigo do qual
nenhum jornal científico de peso teria querido ouvir falar; por fim, ele foi
publicado na International
Anthropological and Linguistic Review de Miami. O redator-chefe dessa
revista notável, completamente aturdido pelo acontecimento, colocou na cabeça
do artigo de Dart uma advertência ao leitor, que concluía com estas palavras:
"Naturalmente, os australopitecos não passavam de ancestrais dos bosquímanos
e dos negros atuais, mas de nenhuma outra pessoa".
O que Dart
sublinhava em sua exposição, era que o homem tinha saído de um meio antropoide
pela única razão de ter sido ele um matador. Há muito, muito tempo, talvez
milhões de anos, uma linhagem de símios não arborícolas desligou-se do tronco
dos primatas mansos. Por razões vitais, a dita linhagem teve de adotar os
costumes dos animais de rapina. Por razões da necessidade dos animais de rapina,
a linhagem evoluiu. Nós aprendemos em primeiro lugar a ficar de pé, porque esta
era uma obrigação dos bons caçadores. Nós aprendemos a correr em perseguição da
caça através da savana africana sequiosa. Pois que nossas mãos estavam livres
para agarrar e arrancar, prescindíamos de focinho: deste modo, muito
lentamente, este se retraiu. Já que nós não tínhamos mais nem garras nem dentes
para matar aquilo com que nos alimentávamos, tivemos que encontrar uma arma.
Uma pedra,
um bastão, um osso, eis aí do que dependia a existência de nosso ancestral
matador. Mas o emprego dessas armas conduziu a novos e múltiplos apelos ao
sistema nervoso para a coordenação dos músculos, do tato e da visão. E é assim
que o cérebro se aperfeiçoa, e enfim chega o homem.
Muito longe
da verdade está a velha hipótese que afirma que o homem criou a arma; ao
contrário, a arma criou o homem. Depois de tantos seres intermediários, a
aparição do mais poderoso dos animais de rapina marca a conclusão lógica da
evolução. Com seu cérebro grosseiro e seu "soco" de pedra, o homem
aniquilou o seu predecessor, para o qual o osso constituía a única arma. E se
toda a história humana desde essa época se confunde com a do aperfeiçoamento
das armas é com justa razão; trata-se de uma necessidade genética. O instinto
de proteção do mundo animal se traduz entre os homens pelo desenvolvimento de
suas armas.
Raymond Dari
não teve apenas que enfrentar os preconceitos que são atribuídos em geral às
descobertas feitas à l'office. De
fato, ele teve que enfrentar a inexpugnável falange do pensamento moderno
inteiro. Sua teoria do animal de rapina, ser de transição, poderá ser
verdadeira ou falsa, mas o mundo que se consagra à fabricação de explosivos
dificilmente poderia se dar ao luxo de ignorar as teorias de Dart. Quanto a
mim, em 1955, fui visitá-lo.
Somos nós os filhos de Caim?
Durante seis
anos, Raymond Dart e seus alunos acumularam pacientemente testemunhos provando
que o australopitecídeo tinha sistematicamente e deliberadamente feito uso de
armas. Eu examinei sua coleção e minha convicção foi definitiva. Nós estávamos
sentados em seu escritório, no outro extremo do mundo; Dart olhando pela janela
as nuvens negras perseguindo-se no céu da África. A porta da sua sala de
trabalho tremia intermitentemente como se algum minúsculo tremor de terra
tivesse sacudido o subsolo, indício de que um túnel abandonado uma vez tinha se
desmoronado nas minas de ouro, a 1.500 m abaixo dos nossos pés. Crânios estavam
postos sobre a escrivaninha de Dart.
Apanhei o
maxilar de um símio austral de doze anos, encontrado alguns anos antes em
Makapan. O maxilar estava quebrado dos dois lados, os dentes da frente
faltavam. Podia-se notar uma marca lisa e escura sobre o queixo, onde.o golpe
havia sido desferido. A criança tinha morrido porque o osso não tinha se soldado.
Havia sido verdadeiramente usada uma arma para matá-la? Tinha em minha mão a
prova de que havia sido cometido um crime com arma contundente. Esse matador —
ser de tradição - representava verdadeiramente uma etapa da trajetória do
homem? Nas desesperadas horas que nós atravessamos, seria necessário deixar de
acreditar no nascimento nobre do homem?
Perguntei a
Dart o que ele pensava da responsabilidade que tomava ao expor uma tese
semelhante em uma tal época. Eu lhe disse que eu partilhava da sua convicção: o
período transitório em que o homem não foi senão um animal de rapina e sua
obsessão pelas armas eficazes explicavam sua história sanguinária, sua
agressividade eterna, sua procura doentia, insensata e inexorável da morte pela
morte. Mas acrescentei: seria lícito acentuar isto no preciso momento em que o
homem possui, enfim, os meios para aniquilar o planeta? Dart afastou-se da
janela, sentou-se ante a escrivaninha. Em alguma parte, a 1.500 m sobre nossos
pés, uma galeria desmoronava e os crânios diante de nós tremeram. Então ele
disse: "Já que tentamos tudo, resta-nos um último recurso: dizer a
verdade".
ROBERT ARDREY
Nascido em
Chicago em 1908. Estudos e\ pesquisas de ciências naturais na Universidade de
Chicago. Durante vinte anos, de 1935 a 1955, ele se lançou às atividades
literárias e cinematográficas. Escreveu várias peças de teatro, entre as quais Thunder Rock, que foi encenada em Paris
sob a direção de Jean Mercure. Em 1955, ele encontra na África do Sul o
professor Raymond Dart, encontro que o leva a voltar à sua primeira vocação de
homem de ciência. Seu livro Os Filhos de
Caim é o primeiro balanço de Robert Ardrey depois de seu retorno às fontes
da ciência.
Eles procuraram o primeiro homem
Gênese
Deus criou o
homem à sua imagem, depois a mulher. Os cálculos mostravam que isso se passou
em 4004 a.C. A ciência precisou de séculos para se libertar da imagem da
criação imposta pela Sagrada Escritura.
Jean-Baptiste Lamark (França), 1744-1829
Pai do
transformismo. Em sua Philosophie
Zoologique (1809), ele desenvolveu a ideia da evolução dos seres viventes
sob a influência do meio. O meio provoca o desenvolvimento ou a atrofia de
certos órgãos. Os indivíduos transmitem estas modificações à sua descendência.
Georges Cuvier (França), 1769-1832
Ele funda a
estratigrafia: o estudo dos fósseis segundo os leitos do terreno. Ele rejeita o
transformismo. Segundo ele, as catástrofes do gênero do dilúvio destruíram
repetidas vezes a fauna. Todas as espécies, e o homem inclusive, existiam na
origem da criação; algumas desapareceram; outras subsistiram sem se modificar.
Cuvier, esse huguenote, segue a Bíblia
quase passo a passo. Ele é o criador da anatomia comparada e da paleontologia.
Estabelece em princípio: \°, que certos órgãos têm, no conjunto do organismo,
uma influência decisiva, daí a lei de subordinação dos órgãos; 29, que certos
caracteres se atraem mutuamente, enquanto outros se excluem, de onde a lei de
correlação das formas.
Jacques Boucher de Perthes, (França), 1788-1868
É chamado o
"fundador da pré-história". Ele escava metodicamente a região de Abbeville,
onde resgata numerosas ossaturas e utensílios (jazigo de Saint-Acheul). Ele
redige suas Antiguidades Célticas e
Antidiluvianas. Na época, sua última palavra tinha ressonâncias
revolucionárias. O investigador foi por um longo tempo rejeitado pela ciência
oficial.
Édouard Lartet (França), 1801-1871
Ele escava
obstinadamente no Sudoeste da França, onde descobre numerosas grutas pré-históricas
(como Lês Eyzies, onde foram descobertos
Charles Darwin (Inglaterra), 1809-1882
Ele defende
o evolucionismo, na Origem das Espécies
(1859). Darwin se absteve, em seu livro, de evocar a origem do homem, mas todo
mundo pensa isso. Dois anos depois, Julien Huxley publica sua Evidência do Lugar do Homem na Natureza e
o alemão Vogt começa suas Lições Sobre o
Homem. Darwin faz- então publicar suas Lições Sobre o Homem. Admite-se
pouco a pouco a antiguidade geológica do homem, e, deste modo, que o homem não
foi sempre o homem. O homem descende do símio, e, por conseguinte, inicia-se a
procura do elo que falta.
Pierre R. P. Teilhard de Chardin (França), 1881-1955
Paleontologista
que participou da descoberta do sinantropo (1927) ou homem fóssil da China
(escavações de Chou Kou Tien). Ao lado das obras técnicas, publicou obras
essenciais de reflexão filosófica. Ele se esforçou para reconciliar a tese evolucionista
e o pensamento cristão. O universo vibra, mas a evolução não se faz ao acaso;
ela se faz segundo uma ideia, um plano que leva a Deus. O padre persiste na
subida do psiquismo paralelamente à complexificação e ao aperfeiçoamento das
formas. No fim de sua vida, R. P. Teilhard de Chardin pensava que as
descobertas paleontológicas seriam feitas na África.
Raymond A. Dart (Austrália), professor em Johanesburgo
Assinala em
1925 a descoberta (1924) do crânio de Taungs (crânio de criança) que revela a
existência de uma raça, atualmente extinta, entre os antropóides e os homens. O
fóssil foi denominado Australopithecus
africanus. Em 1947, ele descobre uma espécie gigante que utilizava o fogo,
é o que lhe parece; ele a chama Australopithecus
prometheus. É um símio (com um pequeno cérebro) mas que se mantinha em pé.
Keny L. B. S. Leakey
Ele escava
em Kenya onde descobre os símios (procônsul) e em Tanganika (gargantas de
Olduvaï) onde descobre, em 1959, o zinjantropo, o mais hominizado dos
australopitecídeos (mas ainda com um cérebro miniatura). Aos restos do
esqueleto estavam bem unidos os utensílios. Cada descoberta acrescenta um elo
entre o símio e o homem, tal como nós o conhecemos. O zinjan-tropo teria
1.750.000 anos.
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Fonte:
Planeta, nº 50. Editora Três. São Paulo, novembro de 1976, págs. 52-66.
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