sábado, 18 de junho de 2016

Figuras de linguagem

Figuras de linguagem
Com a intenção de tornar a linguagem mais expressiva, muitas vezes usamos as palavras num sentido diferente do usual, ou então construímos uma frase de forma especial, procurando conseguir determinado efeito.
Observe os seguintes exemplos:
a) "Ele foi um leão durante o jogo."
Nesse caso, a palavra "leão" está sendo usada fora de seu sentido comum, significando "um atleta que se esforçou bastante".
b) "O vento uivava nos vales..."
Nesse exemplo, percebemos que a escolha das palavras não foi casual; ela foi feita de modo a provocar determinado efeito: o som do vento é sugerido pela repetição do fonema /v/.
c) "Depois de muito sofrimento, entregou a alma a Deus."
Na elaboração dessa frase, percebemos claramente que o objetivo foi evitar a expressão direta da ideia da morte.
A essas construções peculiares damos o nome de figuras de linguagem, que costumam ser divididas em figuras de sintaxe, de palavras e de pensamento, conforme o nível em que atuam.
FIGURAS DE SINTAXE (OU DE CONSTRUÇÃO FRASAL)
1. Elipse
Consiste na omissão de um termo que, no entanto, pode ser facilmente identificado.
Ex.: Sobre a mesa, garrafas vazias, (elipse do verbo haver)
2. Zeugma
É um tipo de elipse que consiste na omissão de um ou mais termos anteriormente enunciados.
Ex.: O dia estava frio; o vento, cortante, (omitiu-se a forma verbal "estava")
Pode ocorrer, ainda, que a palavra omitida seja um verbo anteriormente citado mas sob outra flexão.Ex.: Nós viemos de Jundiaí; eles, de Campinas, (omitiu-se o verbo "vir" mas sob a forma "vieram")
3. Silepse
Ocorre a silepse quando a concordância de gênero, número ou pessoal é feita com termos ou ideias subentendidos na frase e não claramente expressos.
Exemplos:

a) Vossa Excelência parece extremamente
cansado. (Silepse de gênero)
O adjetivo "cansado" concordou não com o pronome de tratamento, de forma feminina, mas com a pessoa a quem se referia.b) A multidão foi tomada de pavor; gritavam e choravam desesperadamente. (Silepse de número)
Os verbos grifados estão concordando com a ideia de plural que a palavra "multidão" sugere.
c) Todos do grupo estávamos presentes. (Silepse de pessoa)
Essa frase levaria o verbo normalmente para a 3ª pessoa, mas a concordância foi feita com a 1ª, indicando que a pessoa que fala está incluída na expressão "todos do grupo".
4. Pleonasmo
Ocorre o pleonasmo quando, para reforçar uma ideia, utilizamos palavras redundantes.
Ex.: Ele vive uma vida bem difícil.
OBSERVAÇÃO:
Devem ser evitados os pleonasmos viciosos, que não têm valor de reforço, sendo antes fruto do desconhecimento do sentido das palavras, como, por exemplo: subir para cima, monopólio exclusivo, entrar para dentro etc.
5. Polissíndeto
Consiste na repetição enfática do conectivo (geralmente, o e).
Ex.: A pobre chorava, e gritava, e lamentava, e se desesperava...
6. Assíndeto
Ocorre o assíndeto quando certas orações ou palavras, que poderiam vir ligadas pelo conectivo, aparecem apenas justapostas. Ex.: Vim, vi, venci.
7. Inversão
Consiste na alteração da ordem normal dos elementos da frase. O processo da inversão costuma ser subdividido em:
a) hipérbato - ocorre o hipérbato quando, por meio da intercalação, alteramos a posição de alguns termos da frase para realçá-los.
Ex.: Esqueça dos homens o desprezo e siga em frente.
b) anástrofe - ocorre a anástrofe quando alteramos a posição usual do sujeito, do verbo ou dos complementos.
Ex.: "Foi por ti que num sonho de ventura / A flor da mocidade consumi. (Álvares de Azevedo)
c) sínquise - é a inversão violenta dos termos, que provoca, inclusive, certa dificuldade na compreensão do sentido da frase.
Ex.: "Enquanto manda as ninfas amorosas grinaldas nas cabeças pôr de rosas." (Camões) A ordem direta seria: Enquanto manda as ninfas amorosas pôr grinaldas de rosas nas cabeças.
8. Anacoluto
O anacoluto (ou frase quebrada) ocorre quando a um elemento (palavra ou expressão), apresentado no início, segue-se uma oração em que esse elemento não se integra. O tipo de anacoluto mais comum é aquele em que um elemento parece que vai ser sujeito da oração, mas acaba sem função sintática. Essa figura é usada geralmente para pôr em relevo a ideia que consideramos mais importante, destacando-a do resto.
Ex.: "Eu, que era branca e linda, eis-me medonha e escura." (M. Bandeira) Observe que o pronome "eu", enunciado no início, não se liga sintaticamente à oração "eis-me medonha e escura".
9. Anáfora
Ocorre a anáfora quando se repete uma palavra ou segmento do texto com o objetivo de enfatizar uma ideia. É uma figura de construção muito usada em poesia. Ex.:
Ex.:
"Tua beleza incendiará os navios do mar.
Tua beleza incendiará as florestas.
Tua beleza tem um gosto de morte.
Tua beleza tem uma tristeza de aurora.
Tua beleza é uma beleza de escrava." (Augusto F. Schmidt)
10. Aliteração
É uma construção em que se repetem fonemas consonantais idênticos ou semelhantes, com a intenção de se obter maior expressividade. Observe estes versos do poeta Cruz e Sousa, em que a ideia de vozes e musicalidade é reforçada pela própria escolha das palavras usadas:
"Vozes veladas, veludosas vozes,
volúpias de violões, vozes veladas,
vagam nos velhos vórtices velozes
dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas."

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Fonte:
Estudos de Língua Portuguesa: Gramática, por: Douglas Tufano. Editora Moderna, 2ª Edição. São Paulo, 1990, págs. 236-239.

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