Figuras de linguagem
Com a
intenção de tornar a linguagem mais expressiva, muitas vezes usamos as palavras
num sentido diferente do usual, ou então construímos uma frase de forma
especial, procurando conseguir determinado efeito.
Observe os
seguintes exemplos:
a) "Ele
foi um leão durante o jogo."
Nesse caso, a palavra "leão" está sendo usada fora de seu sentido comum, significando "um atleta que se esforçou bastante".
Nesse caso, a palavra "leão" está sendo usada fora de seu sentido comum, significando "um atleta que se esforçou bastante".
b) "O
vento uivava nos vales..."
Nesse exemplo, percebemos que a escolha das palavras não foi casual; ela foi feita de modo a provocar determinado efeito: o som do vento é sugerido pela repetição do fonema /v/.
Nesse exemplo, percebemos que a escolha das palavras não foi casual; ela foi feita de modo a provocar determinado efeito: o som do vento é sugerido pela repetição do fonema /v/.
c)
"Depois de muito sofrimento, entregou a alma a Deus."
Na elaboração dessa frase, percebemos claramente que o objetivo foi evitar a expressão direta da ideia da morte.
Na elaboração dessa frase, percebemos claramente que o objetivo foi evitar a expressão direta da ideia da morte.
A essas
construções peculiares damos o nome de figuras
de linguagem, que costumam ser divididas em figuras de sintaxe, de palavras e de pensamento, conforme o nível em que
atuam.
FIGURAS DE
SINTAXE (OU DE CONSTRUÇÃO FRASAL)
1. Elipse
Consiste na omissão de um termo que, no entanto, pode ser facilmente identificado.Ex.: Sobre a mesa, garrafas vazias, (elipse do verbo haver)
Consiste na omissão de um termo que, no entanto, pode ser facilmente identificado.Ex.: Sobre a mesa, garrafas vazias, (elipse do verbo haver)
2. Zeugma
É um tipo de elipse que consiste na omissão de um ou mais termos anteriormente enunciados.Ex.: O dia estava frio; o vento, cortante, (omitiu-se a forma verbal "estava")
É um tipo de elipse que consiste na omissão de um ou mais termos anteriormente enunciados.Ex.: O dia estava frio; o vento, cortante, (omitiu-se a forma verbal "estava")
Pode
ocorrer, ainda, que a palavra omitida seja um verbo anteriormente citado mas
sob outra flexão.Ex.: Nós
viemos de Jundiaí; eles, de Campinas, (omitiu-se o verbo "vir" mas
sob a forma "vieram")
3. Silepse
Ocorre a silepse quando a concordância de gênero, número ou pessoal é feita com termos ou ideias subentendidos na frase e não claramente expressos.
Exemplos:
a) Vossa Excelência parece extremamente cansado. (Silepse de gênero)
Ocorre a silepse quando a concordância de gênero, número ou pessoal é feita com termos ou ideias subentendidos na frase e não claramente expressos.
Exemplos:
a) Vossa Excelência parece extremamente cansado. (Silepse de gênero)
O adjetivo
"cansado" concordou não com o pronome de tratamento, de forma feminina,
mas com a pessoa a quem se referia.b) A
multidão foi tomada de pavor; gritavam
e choravam desesperadamente. (Silepse
de número)
Os verbos
grifados estão concordando com a ideia de plural que a palavra
"multidão" sugere.
c) Todos do
grupo estávamos presentes. (Silepse
de pessoa)
Essa frase
levaria o verbo normalmente para a 3ª pessoa, mas a concordância foi feita com
a 1ª, indicando que a pessoa que fala está incluída na expressão "todos do
grupo".
4. Pleonasmo
Ocorre o pleonasmo quando, para reforçar uma ideia, utilizamos palavras redundantes.
Ocorre o pleonasmo quando, para reforçar uma ideia, utilizamos palavras redundantes.
Ex.: Ele vive uma vida bem difícil.
OBSERVAÇÃO:
Devem ser evitados os pleonasmos viciosos, que não têm valor de reforço, sendo antes fruto do desconhecimento do sentido das palavras, como, por exemplo: subir para cima, monopólio exclusivo, entrar para dentro etc.
Devem ser evitados os pleonasmos viciosos, que não têm valor de reforço, sendo antes fruto do desconhecimento do sentido das palavras, como, por exemplo: subir para cima, monopólio exclusivo, entrar para dentro etc.
5. Polissíndeto
Consiste na repetição enfática do conectivo (geralmente, o e).
Consiste na repetição enfática do conectivo (geralmente, o e).
Ex.: A pobre
chorava, e gritava, e lamentava, e se desesperava...
6. Assíndeto
Ocorre o assíndeto quando certas orações ou palavras, que poderiam vir ligadas pelo conectivo, aparecem apenas justapostas. Ex.: Vim, vi, venci.
Ocorre o assíndeto quando certas orações ou palavras, que poderiam vir ligadas pelo conectivo, aparecem apenas justapostas. Ex.: Vim, vi, venci.
7. Inversão
Consiste na alteração da ordem normal dos elementos da frase. O processo da inversão costuma ser subdividido em:
Consiste na alteração da ordem normal dos elementos da frase. O processo da inversão costuma ser subdividido em:
a) hipérbato - ocorre o hipérbato quando,
por meio da intercalação, alteramos a posição de alguns termos da frase para
realçá-los.
Ex.: Esqueça dos homens o desprezo e siga em frente.
Ex.: Esqueça dos homens o desprezo e siga em frente.
b) anástrofe - ocorre a anástrofe quando
alteramos a posição usual do sujeito, do verbo ou dos complementos.
Ex.: "Foi por ti que num sonho de ventura / A flor da mocidade consumi. (Álvares de Azevedo)
Ex.: "Foi por ti que num sonho de ventura / A flor da mocidade consumi. (Álvares de Azevedo)
c) sínquise - é a inversão violenta dos
termos, que provoca, inclusive, certa dificuldade na compreensão do sentido da
frase.
Ex.: "Enquanto manda as ninfas amorosas grinaldas nas cabeças pôr de rosas." (Camões) A ordem direta seria: Enquanto manda as ninfas amorosas pôr grinaldas de rosas nas cabeças.
Ex.: "Enquanto manda as ninfas amorosas grinaldas nas cabeças pôr de rosas." (Camões) A ordem direta seria: Enquanto manda as ninfas amorosas pôr grinaldas de rosas nas cabeças.
8. Anacoluto
O anacoluto (ou frase quebrada) ocorre quando a um elemento (palavra ou expressão), apresentado no início, segue-se uma oração em que esse elemento não se integra. O tipo de anacoluto mais comum é aquele em que um elemento parece que vai ser sujeito da oração, mas acaba sem função sintática. Essa figura é usada geralmente para pôr em relevo a ideia que consideramos mais importante, destacando-a do resto.
O anacoluto (ou frase quebrada) ocorre quando a um elemento (palavra ou expressão), apresentado no início, segue-se uma oração em que esse elemento não se integra. O tipo de anacoluto mais comum é aquele em que um elemento parece que vai ser sujeito da oração, mas acaba sem função sintática. Essa figura é usada geralmente para pôr em relevo a ideia que consideramos mais importante, destacando-a do resto.
Ex.:
"Eu, que era branca e linda, eis-me medonha e escura." (M. Bandeira)
Observe que o pronome "eu", enunciado no início, não se liga
sintaticamente à oração "eis-me medonha e escura".
9. Anáfora
Ocorre a anáfora quando se repete uma palavra ou segmento do texto com o objetivo de enfatizar uma ideia. É uma figura de construção muito usada em poesia. Ex.:
Ocorre a anáfora quando se repete uma palavra ou segmento do texto com o objetivo de enfatizar uma ideia. É uma figura de construção muito usada em poesia. Ex.:
Ex.:
"Tua beleza incendiará os navios do mar.
Tua beleza incendiará as florestas.
Tua beleza tem um gosto de morte.
Tua beleza tem uma tristeza de aurora.
Tua beleza é uma beleza de escrava." (Augusto F. Schmidt)
"Tua beleza incendiará os navios do mar.
Tua beleza incendiará as florestas.
Tua beleza tem um gosto de morte.
Tua beleza tem uma tristeza de aurora.
Tua beleza é uma beleza de escrava." (Augusto F. Schmidt)
10. Aliteração
É uma construção em que se repetem fonemas consonantais idênticos ou semelhantes, com a intenção de se obter maior expressividade. Observe estes versos do poeta Cruz e Sousa, em que a ideia de vozes e musicalidade é reforçada pela própria escolha das palavras usadas:
É uma construção em que se repetem fonemas consonantais idênticos ou semelhantes, com a intenção de se obter maior expressividade. Observe estes versos do poeta Cruz e Sousa, em que a ideia de vozes e musicalidade é reforçada pela própria escolha das palavras usadas:
"Vozes veladas, veludosas vozes,
volúpias de violões, vozes veladas,
vagam nos velhos vórtices velozes
dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas."
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Fonte:
Estudos de Língua Portuguesa: Gramática, por: Douglas Tufano. Editora Moderna, 2ª Edição. São Paulo, 1990, págs. 236-239.
Fonte:
Estudos de Língua Portuguesa: Gramática, por: Douglas Tufano. Editora Moderna, 2ª Edição. São Paulo, 1990, págs. 236-239.
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