Filósofo e religioso?
Além de
grande cientista, Einstein teria sido também um filósofo? Para alguns
biógrafos, sim, sendo que seu pensamento filosófico transparece na forma quase
inocente - porém, não ingênua - de fazer perguntas à natureza.
Mesmo os que
veem em Einstein um filósofo concordam que ele não era do tipo convencional,
que escreve tratados. Seu pensamento filosófico era expresso em seus artigos
científicos, bem como em cartas, palestras, livros, jornais ou revistas. Esses
escritos demonstram que Einstein tinha um amplo conhecimento dos grandes
debates filosóficos, antigos e contemporâneos, bem como sobre a história da
humanidade. Teve discussões penetrantes com filósofos conceituados, como o
norte-americano Russell, o francês Henry Bergson e o alemão Hans Reichenbach.
Em relação à
posição religiosa, limitamo-nos a dizer que Einstein não acreditava em um Deus
pessoal, que se preocupa com o destino das pessoas. Sua posição a esse respeito
foi exposta em pelo menos quatro artigos (1930, 1939, 1940 e 1948), sendo o
primeiro e o terceiro considerados os mais polêmicos por teólogos. E isso lhe
causou enxurradas de cartas de protesto.
Einstein
tampouco era ateu, qualificativo que geralmente - e para seu desgosto - lhe era
atribuído. Para ele, negar a existência de um Deus pessoal não era negar a
Deus. Sua posição, comumente designada "religiosidade cósmica", está
mais próxima das ideias do filósofo a quem mais admirava, Spinoza. A religiosidade
de Einstein pode ser expressa pela profunda admiração que tinha pela natureza,
pelas simetrias do universo e pelo fato de este poder ser compreensível através
da racionalidade. Em um assunto ainda polêmico como esse, o melhor é dar voz ao
próprio Einstein:
"Eu não posso conceber um Deus pessoal que
teria uma influência direta sobre as ações das pessoas [...] Minha
religiosidade consiste em uma humilde admiração do espírito infinitamente
superior que se revela no pouco que podemos compreender da realidade.
Eu acredito no Deus de Spinoza, que se
revela na harmonia de tudo que existe, mas não em um Deus que se preocupa com o
destino e as ações dos seres humanos."
Apesar de
incisivas, as passagens - respectivamente de 1927 e 1929 - estão longe de
abarcar a complexidade da posição de Einstein em relação à sua religiosidade.
O século de Einstein
A obra
científica de Einstein foi de tamanha grandeza que seu colega Max Born a
resumiu com as seguintes palavras: "[Ele] poderia nunca ter escrito uma só
linha sobre a relatividade, mas, mesmo assim, teria sido um dos maiores físicos
do século XX". Muitos concordam que seria uma tarefa difícil escolher
entre Einstein e Newton para o posto de maior cientista de todos os tempos.
Einstein
morreu à 1h15 da manhã de 18 de abril de 1955, devido ao rompimento de uma
artéria abdominal, depois de recusar um possível tratamento cirúrgico. "Já
fiz a minha parte. É hora de partir", disse aos médicos. Ainda na cama do
hospital, trabalhou no que seria um discurso para a cerimônia do dia da
independência de Israel.
Seus olhos e
seu cérebro foram retirados para pesquisa. Até hoje, não se notou nada muito
significativo nesse último, a não ser o fato de ele ter um pouco mais de um
tipo de células (gliais) na parte esquerda, que controla as habilidades
matemáticas e da linguagem.
Einstein foi
cremado na tarde do mesmo dia, e suas cinzas oram lançadas, a seu pedido, em
local desconhecido, pois ele temia que seu túmulo virasse um local de
peregrinação. Desconfia-se que o local seja um lago próximo a Princeton onde
Einstein gostava de praticar seu esporte predileto: velejar. Bertrand Russell
resumiu a vida do amigo assim:
"Einstein não foi apenas um grande cientista,
foi um grande homem. Ele defendeu a paz em um mundo que caminhava para a
guerra. Ele se manteve são em um mundo insano, e liberal em um mundo de
fanáticos."
Pelo legado
moral e intelectual que deixou, é provável que, no futuro, o século XX seja
conhecido como "o Século de Einstein".
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Fonte:
O grande Albert Einstein, por: Fernando Cury. Odysseus Editora. São Paulo, 2003, págs. 113-114.
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