Dois livros, duas teorias... um novo
rumo...
Há pouco
mais de um século, entre 1857 e 1859 a publicação de dois livros, um deles na
França, O Livro dos Espíritos,
escrito por Allan Kardec, e o outro na Inglaterra, A Origem das Espécies, por Charles Darwin, foram os marcos de uma
grande reviravolta na história intelectual e espiritual da humanidade.
O conteúdo
que traziam foi capaz de não somente abalar toda a estrutura da mentalidade
humana, mas, também, de mudar a compreensão do ser humano sobre si próprio e de
seu lugar no universo,
Na época em
que foram lançados, porém, não foram facilmente aceitos, além de criarem
controvérsias e discussões nos meios científico e religioso, numa luta não
pouco acirrada do materialismo contra o idealismo religioso; do pensamento científico,
que apresentava uma nova versão para a origem do homem, e do kardecismo, que
trazia uma nova ideia de I Vus, do universo e do próprio homem.
Para
podermos entender um pouco melhor todo o impacto que causaram na época,
deixemo-nos transportar no tempo e tentemos participar, sutilmente, dos
pensamentos e sentimentos que permeavam a mente de toda a sociedade em meados
do século XIX. Uma vez estando lá, vamos procurar sentir aquela atmosfera que
preenchia os salões onde as pessoas mais nobres e bem posicionadas na vida,
entre risos e vozes, recendendo a falsa modéstia, discorriam sobre os mais
variados assuntos, distribuindo largamente entre si as novidades.
Era um povo
que, na maioria, frequentava os cultos religiosos, lia a Bíblia e, em suas
críticas, rejeitava quaisquer sugestões que fossem contra a moral e a fé. Com isso,
apesar de nem sempre as atitudes serem reflexos de um sentimento verdadeiro, as
pessoas sentiam-se justificadas perante seu Deus, ainda que lhes importassem
mais as opiniões alheias do que realmente as suas próprias.
Neste
aspecto, talvez tenhamos mudado e amadurecido bastante, apesar de não termos,
ainda, conseguido levantar totalmente o véu de nossas considerações mais
íntimas sobre nós mesmos, de tal forma que continuamos a escapar de uma
sinceridade maior conosco e com os nossos semelhantes. Entretanto, encontramos
hoje uma liberdade maior de pensamento, de crer ou não, de sermos religiosos ou
agnósticos sem o medo de esbarrarmos no limite dos preconceitos que tanto nos
assustam.
Os
conhecimentos, hoje, são bem mais profundos e nossa visão do mundo modificou-se
daquela que tínhamos cem anos atrás.
Aquele era
um tempo no qual o orgulho e a vaidade perambulavam pela sociedade sempre
pronta a críticas e pouco acessível em desculpar qualquer coisa que pudesse
ferir seus ufanos sentimentos.
Embalados
pela ideia de terem sido criados como seres especiais, com o mundo a seu dispor
e uma alma cujo destino era alcançar o paraíso, sentiam-se na obrigação de ter
como verdade somente os antigos textos sagrados, considerando qualquer fato,
qualquer menção contrária ou, que pudesse pô-los em dúvida, como um artefato
demoníaco. Firmavam-se mais no medo do que no verdadeiro amor a Deus e isso os
impedia de abrirem os olhos e analisarem o mundo, a vida e o Grande Autor de
tudo, de maneira diversa daquela na qual eram tão arraigados.
Foram dois
livros e duas teorias que, independentemente do impacto causado, apontaram para
um novo modo de olhar a vida e de entendê-la. Uma delas indicava o ser humano
para mostrá-lo como animal, e tão-somente animal, descendente de animais; a
outra o revelava como ser espiritual, não importando a origem material de seu
corpo, não importando sua vestimenta animal.
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Fonte:
Darwin e Kardec, por: Hebe Laghi de Souza. Editora Allan Kardec. Campinas, 2007, págs. 1-2.
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