quinta-feira, 7 de julho de 2016

Receita para a amargura

Receita para a amargura
DÊ-ME uma receita para a amargura.
Esse pedido estranho e um tanto comovedor foi feito por um homem que tinha sido informado pelo médico de que sua sensação de incapacidade, de que ele se queixava, não era de natureza física Seu mal estava em não poder sobrepor-se ao sofrimento. Ele estava sofrendo de "uma dor em sua personalidade como resultado de uma amargura.
O médico o aconselhou a que fizesse uma consulta e um tratamento de ordem espiritual. Continuando a empregar a terminologia da medicina, ele perguntou se havia uma receita de ordem espiritual que reduzisse os seus padecimentos íntimos. Declarou que sabia que todo mundo tinha os seus sofrimentos e desejava também poder enfrentá-los. Tinha tentado o possível para vencê-los, sem que o tivesse conseguido. Repetiu novamente o pedido em meio a um triste sorriso: "Dê-me uma receita para a amargura".
Há realmente uma "receita" para a amargura. Um elemento dessa receita é a atividade física. A pessoa amargurada deve evitar a tentação de ficar sentada num canto cultivando .deias tristes Um programa sensível que substitua essa inútil disposição reduz a tensão na área do espírito onde refletimos, filosofamos e sofremos dor mental. A atividade dos músculos utiliza a outra parte do cérebro e, portanto, desloca a tensão, proporcionando assim um alívio.
Um velho advogado do interior, que tinha uma boa filosofia e bom senso, disse a uma senhora amargurada que o melhor remédio para a amargura era "pegar um escovão e passá-lo na casa". Para o homem — disse — o melhor remédio era pegar um machado e rachar lenha até ficar cansado. Conquanto não seja garantida uma cura completa, não deixa isso, porém, de mitigar tal sofrimento.
Seja qual for o caráter de sua amargura, um dos primeiros passos a dar é fugir a qualquer situação derrotista que se possa ter criado à sua volta, mesmo que isso lhe apresente dificuldades, e continuar novamente o seu curso normal de vida. Volte a dedicar-se às suas atividades. Torne a procurar o convívio de seus velhos amigos. Trave novas relações. Passeie, ande a cavalo, nade, divirta-se, fazendo assim o sangue ativar-se em seu sistema. Dedique-se a algum projeto compensador. Encha os dias com uma atividade criadora, realçando-lhe o aspecto físico. Ocupe-se com alguma coisa sadia que lhe alivie o espírito, mas assegure-se de ser ela conveniente e de natureza construtiva. Um escape artificial através de uma atividade febril apenas amortece a dor temporariamente. Não a cura. Nisso estão também, por exemplo, as reuniões em que haja libações alcoólicas.
O desabafo constitui um remédio excelente para o sofrimento. Ë um tolo ponto de vista hoje em dia qual o de não se dever pôr à mostra o sofrimento e de que não fica bem chorar ou manifestar-se através desse mecanismo natural: as lágrimas. É fugir às leis da natureza. Ë muito natural chorar quando sobrevêm a dor ou um sofrimento. Ë um mecanismo aliviador que o Todo-Poderoso nos dá para o corpo, e devemos usá-lo.
Conter a dor, inibi-la, sufocá-la, é deixar de usar um dos meios que Deus nos deu para eliminar a pressão do sofrimento. Como qualquer outra função do corpo humano e do sistema nervoso, ela deve ser controlada, porém, não inibida de todo. Umas boas lágrimas constituem um bom alívio para a amargura, tanto para o homem como para a mulher. Devo, no entanto, prevenir que não se deve usá-lo indevidamente nem permitir que se transforme num processo habitual. Se isso acontecer, ficará fazendo parte da natureza do sofrimento anormal c poderá transformar-se numa psicose. Não se deve permitir rx cessos de qualquer espécie.
Tendo recebido muitas cartas de pessoas que perderam seus entes queridos. Contam-me que lhes é muito difícil frequentar os mesmos lugares onde costumavam ir em companhia deles ou estar com as mesmas pessoas com as quais se achavam relacionadas. Por essa razão, evitam os antigos lugares e amigos.
Considero tal atitude um grave erro. O segredo para se curar n amargura está em ser normal e natural tanto quanto possível. Isso não implica deslealdade ou indiferença. Essa norma é importante para se evitar um estado de sofrimento anormal. O sofrimento normal é um processo natural, e sua normalidade evidencia-se pela capacidade do indivíduo em voltar às suas ocupações e responsabilidades habituais.
Naturalmente, o remédio mais acertado para a amargura c o conforto salutar que advém da fé em Deus. Inegavelmente, n receita básica para ela é entregar-se confiantemente a Deus e desabafar-lhe o que vai pelo espírito e pelo coração. A perseverança nesse ato de desabafo espiritual trará finalmente a cura para o coração amargurado. Esta geração que tem sofrido tanto, talvez mais que as de outras eras, precisa aprender novamente aquilo que os homens mais sábios de todos os tempos sabiam, ou seja: não há cura para a dor sofrida pela humanidade a não ser través de uma verdadeira observância da fé.
Uma das maiores almas de todos os tempos foi o Irmão Lawrence, e ele disse o seguinte: "Se desejarmos conhecer a doce paz do Paraíso, devemos aprender a conversar, íntima, humilde e ternamente com Deus". Não é aconselhável procurar carregar o fardo do sofrimento e da dor mental sem o auxílio divino, pois o seu peso está acima de nossas forças. A mais simples c a mais eficiente de todas as receitas para a amargura é, pois, cultivar sempre a ideia da presença de Deus. Amenizaremos assim a dor em nosso coração e acabamos curando-o. Homens e mulheres que passaram por grandes tragédias nos relutaram que essa receita é eficiente.
Outro elemento salutar para a amargura é adquirir uma filosofia sã c agradável da vida, da morte e da imortalidade. Foi quando adquiri a crença inabalável de que não há morte, toda n vida é indivisível e que o aqui e o além estão unidos, que o tempo e a eternidade são inseparáveis e estamos num universo livre, é que descobri a mais agradável e a mais convincente filosofia de toda a minha vida.
Essas convicções se baseiam em fundamentos sólidos; a Bíblia constitui um deles. Creio que ela nos dá uma série científica de conhecimentos muito sutis, como será por fim provado, para esta grande questão: Que acontece quando o homem deixa este mundo? Diz-nos também muito sabiamente que conhecemos tais verdades pela fé. Henri Bergson, o filósofo, declara que o caminho mais certo para a verdade é através da percepção, raciocínio até certo ponto e, depois, por um salto mortal, por intuição. Chega-se a um momento glorioso em que se adquire ó "conhecimento" de um modo realmente simples. Foi o que aconteceu comigo.
Tenho absoluta convicção da verdade disso que escrevo. A esse respeito não tenho a menor dúvida. Cheguei a essa fé positiva, gradualmente. Realmente chegou um momento em que adquiri esse conhecimento.
Essa filosofia não evita o sofrimento que advém quando morre um ente querido e se produz a separação terrena. Mas ela nos anima e contribui para dissipar a dor. Encher-nos-á o espírito de uma profunda compreensão do verdadeiro significado dessa inevitável circunstância. Dar-nos-á uma profunda certeza de que não perdemos os entes amados. Vivamos com esta fé que encontraremos a paz e o bálsamo para a nossa dor.
Guarde no íntimo de seu coração um dos mais maravilhosos textos da Bíblia Sagrada: "Os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem entraram no entendimento dos homens as coisas que Deus preparou para aqueles que O amam" (1 Coríntios 2:9).
Isso significa que você jamais viu, mesmo dentre as coisas belas que tenha presenciado, o que quer que seja que se possa comparar às maravilhas que Deus preparou para aqueles que O amam e confiam nEle. Diz também o texto que jamais se ouviu algo que se possa comparar aos extraordinários encantos que Deus reservou para aqueles que seguem Seus ensinamentos e vivem de acordo com o Seu espírito. Você jamais contemplou ou ouviu ou chegou a imaginar sequer o que Ele vai fazer por você. Esse texto promete o conforto, a imortalidade e a reunião de tudo que é bom para aqueles que concentram suas vidas em Deus.
Tendo lido a Bíblia durante muitos anos e, estando Intimamente ligado a todas as fases da vida de centenas de pessoas, desejo declarar inequivocamente que achei ser essa promessa que ela encerra absolutamente verdadeira. Ela se aplica até mesmo a este mundo. Às pessoas que realmente seguem uma norma de vida cristã têm acontecido fatos inacreditáveis.
Essa passagem também se refere à existência daqueles que vivem no outro mundo e às nossas relações, enquanto vivemos, com as pessoas que nos precederam na travessia dessa barreira que chamamos morte. Uso a palavra "barreira" um tanto constrangidamente. Sempre julgamos a morte como sendo uma barreira com um conceito de natureza separativo.
Cientistas que trabalham hoje em dia no campo da parapsicologia e percepção extrassensória e fazem experiências em matéria de conhecimento anterior, telepatia e ocultismo (o que antigamente era considerado elemento de pessoas desequilibradas, mas que hoje se emprega de maneira científica nos laboratórios) manifestam-se crentes de que a alma sobrevive à barreira do tempo e do espaço. De fato, estamos quase no limiar das maiores descobertas científicas da história, que provarão, na base das pesquisas de laboratórios, a existência da alma e a sua imortalidade.
Há anos venho acumulando uma série de incidentes, cuja veracidade admito e que fortalece a convicção de que vivemos num universo dinâmico, no qual a vida, e não a morte, constitui o princípio básico. Tenho confiança nas pessoas que me descreveram as experiências que vou contar e estou convicto de que elas indicam a existência de um mundo que se acha entrelaçado com o nosso, em cujos meandros, espíritos humanos, cm ambos os lados, vivem em ininterrupta comunhão. As condições de vida, no outro lado, como as conhecemos na mortalidade, estão modificadas. Sem dúvida, as pessoas que fizeram a travessia habitam um meio superior ao nosso e sua compreensão ultrapassa a nossa; contudo, todos os fatos indicam que os nossos entes amados continuam a existir e não se encontram muito distantes e, mais ainda, o que não deixa de ser real, haveremos remos de nos reunir a eles. Entrementes, continuamos cm comunhão com aqueles que vivem no mundo dos espíritos.
William James, um dos maiores eruditos dos Estados Uni dos, após uma vida de estudos, chegou à conclusão de que o cérebro humano é apenas um meio para a existência da alma e que, como é agora constituído, será trocado finalmente por outro que permitirá ao seu possuidor penetrar nas áreas misteriosas do entendimento. À medida que o nosso ser espiritual se expande aqui na terra e crescemos em idade e experiência, vamos nos tornando mais conscientes desse incomensurável mundo que nos cerca. Quando morremos, é apenas para ingressarmos numa vida mais completa e mais ampla.
Eurípides, um dos maiores pensadores da antiguidade, estava convencido de que a outra vida seria de uma magnitude infinitamente maior. Sócrates partilhava da mesma opinião. Uma das observações mais confortadoras que ele fez foi a seguinte: "Nenhum mal poderá advir a um homem bom nesta vida ou na outra".
Natalie Kalmus, grande perita em "tecnicolor", contou-nos a história da morte de sua irmã. O relato que se segue, feito por essa senhora de grande preparo científico, apareceu na revista Guideposts.
Natalie Kalmus declarou que a irmã' moribunda lhe dissera: "Natalie, prometa-me que não deixará que me deem qualquer sedativo. Sei que procuram aliviar minha dor, mas eu desejo passar por todas as sensações da morte. Estou convencida de que a morte será uma bela experiência".
"Prometi cumprir-lhe o desejo. A sós, mais tarde, chorei, pensando em sua coragem. Depois, no decorrer da noite, deitada, sem poder conciliar o sono, vim a perceber que aquilo que eu julgava ser uma desgraça para minha irmã, destinava-se a ser um triunfo".
"Dez dias depois aproximou-se a hora fatal. Fazia horas que eu estava a seu lado no leito. Tínhamos conversado sobre muitas coisas. Admirara-me de sua serena e sincera confiam," na vida eterna. A tortura física não lhe dominou sequer uniu vez a resistência espiritual. Foi uma coisa que os médicos mio levaram em consideração".
"Durante aqueles últimos dias ela pediu ao bom Deus repetidas vezes, que lhe deixasse lúcido o espírito e lhe desse a paz".
"Tínhamos conversado durante muito tempo e notara depois que ela desejava dormir. Deixei-a tranquila com a enfermeira, com a ideia de descansar um pouco. Uns minutos depois ouvi a sua voz chamando-me. Voltei depressa para o quarto. Ela estava morrendo".
"Sentei-me na beirada da cama e peguei-lhe a mão. Ardia em febre. Pareceu-me depois que se erguia da cama, chegando quase a ficar sentada".
"Natalie, disse-me ela, estou vendo muitos deles. Ali está Fred... e Ruth... o que está ela fazendo aqui? Ah, já sei!"
"Senti um verdadeiro calafrio. Ela tinha mencionado o nome de Ruth. Ruth era uma prima que tinha morrido subitamente, uma semana antes. Não tínhamos comunicado a Leonor a notícia daquela morte súbita".
"Os calafrios continuaram a percorrer-me a espinha. Tive a impressão de que estava prestes a ter conhecimento de algo extraordinário, inaudito. Minha irmã tinha murmurado o nome de Ruth".
"Sua voz era clara, o que não deixava de ser surpreendente".
"Ë tão confuso! Eles são tantos! murmurou ela. Subitamente estendeu os braços com a mesma expressão de felicidade estampada no rosto quando da minha chegada".
"Vou subir, disse".
"Seus braços tombaram em volta de meu pescoço. A vontade que predominava cm seu espírito transformara a agonia final em êxtase".
"Ao colocar novamente a sua cabeça sobre o travesseiro, vi que pairava um doce sorriso em seu rosto. Seus cabelos dourados se espalhavam sobre o travesseiro. Peguei uma flor branca de um vaso e a coloquei neles. Com aquela sua pequena figura, os cabelos ondulados, a flor branca e o doce sorriso, ela, mais uma vez, — e para sempre — parecia uma menina de escola".
A menção que a moribunda fez de sua prima Ruth e o fato evidente de que a viu claramente são um fenômeno que tem acontecido inúmeras vezes nos incidentes que chegaram ao meu conhecimento. Esse fenômeno tem-se repetido tanto e as características dessa experiência, conforme as descrições feitas são tão similares, que chegamos à conclusão de que se trata de uma prova substancial de que as pessoas cujos nomes pronunciados e cujas feições são vistas, se acham realmente presentes.
Onde elas estão? Qual a sua condição? Que espécie de corpo têm? São questões difíceis de responder. A ideia de uma dimensão diferente é provavelmente a mais admissível, ou talvez seja mais exato crer que elas vivem num ciclo de frequência diferente.
É impossível ver alguma coisa através das lâminas de um ventilador elétrico quando este está parado. Em alta velocidade, porém, elas parecem ser transparentes. Na frequência ou no estado mais elevado, em que os nossos entes queridos vivem, as qualidades impenetráveis do universo poderão, talvez, vir a ser reveladas aos moribundos. Nos momentos profundos de nosso própria vida é muito bem possível que entremos, até certo ponto, pelo menos, nessa frequência mais alta. Num dos mais belos versos da literatura inglesa, Robert Ingersoll sugere esta grande verdade: "Na noite da morte, a esperança vê uma estrela e aquele que quer bem poderá ouvir o doce ruído de uma asa".
Um célebre neurologista falou-nos sobre um homem que se achava às portas da morte. O moribundo fitara o médico que estava sentado à sua cabeceira e começou a mencionar certos nomes. O facultativo, que não sabia a quem os nomes se referiam, foi anotando-os numa folha de papel. Perguntou mais tarde à filha quem eram aquelas pessoas, dizendo que o pai falara sobre elas como se as tivesse visto.
— São todos parentes que morreram há muito tempo, explicou ela.
O médico diz que acredita que o paciente as tenha realmente visto.
Meus amigos, sr. e sra. William Sage, viveram em Nova Jersey. Visitei-os muitas vezes. O sr. Sage, a quem a esposa chamava de Will, morreu primeiro que ela. Uns anos depois, chegou a vez da sra. Sage. Nos seus últimos momentos uma expressão de assombro lhe cobriu o rosto, o qual se iluminou depois com um belo sorriso ao dizer ela: "Veja só, é Will".
Não há dúvida alguma de que o viu e essa foi a opinião de todos aqueles que rodeavam o leito.
Arthur Godfrey, um célebre radialista, contou-nos que, durante a Primeira Guerra Mundial, se achava dormindo em seu compartimento, num destróier, quando, de repente, o pai apareceu a seu lado. O pai estendera-lhe a mão e, sorrindo, dissera-lhe: "Adeus, meu filho", a que ele respondeu; "Adeus, meu pai".
Mais tarde o acordaram para lhe entregar um telegrama comunicando a morte do pai. A hora do trespasse foi mencionada e coincidia justamente com o período durante o qual Godfrey, em seu sono, "vira" o progenitor.
Mary Margaret McBride, também uma célebre radialista ficara esmagada pela dor com a morte da mãe. Ambas tinham sido inseparáveis na vida. Uma noite ela acordou e sentou-se na beirada da cama. Teve subitamente a sensação de que, para usar suas próprias palavras, "mamãe estava a meu lado". Não a viu nem a ouviu falar, mas daquele tempo em diante "eu sabia que mamãe não morreu; ela está perto de mim".
O finado Rufus Jones, um dos mais famosos chefes espirituais de nossos tempos, conta-nos a respeito de seu filho Lowell, que morreu aos doze anos de idade. Era a menina de seus olhos. Lowell tinha adoecido quando o dr. Jones se achava em pleno oceano a caminho da Europa. Na noite, antes de sua chegada a Liverpool, o dr. Jones achava-se deitado em sua cabine e foi tomado de uma inexplicável tristeza. Declarou que, depois, parecia sentir-se envolvido nos braços de Deus. Descera sobre ele uma sensação de paz. Sentiu uma profunda saudade do filho.
Ao desembarcar em Liverpool, foi informado de que o filho tinha morrido. A morte ocorrera justamente à mesma hora em que o dr. Jones tivera a sensação da presença de Deus e a grande saudade do filho.
Um membro de minha igreja, a sra. Bryson Kalt, conta-nos o que se passou com uma tia, cujo marido e três filhos morreram queimados num incêndio que lhes destruíra a casa. A tia sofreu graves queimaduras, porém viveu mais três anos. Por ocasião de seus últimos momentos, seu rosto se iluminou de repente e ela murmurou: "Ê tudo tão lindo! Eles estão vindo ao meu encontro. Ajeite o travesseiro e deixe-me dormir".
O sr. H. B. Clarke, um velho amigo meu, foi durante muitos anos engenheiro-construtor, cujos trabalhos o levaram para todas as partes do mundo. Tinha um espírito científico. Era bastante comedido, realista e frio. Uma noite fui chamado pelo seu médico, o qual me disse que talvez ele vivesse apenas poucas horas. A pulsação do coração estava lenta e a pressão extraordinariamente baixa. Não havia ação reflexa alguma. Não havia esperanças de que sobrevivesse, segundo o médico.
Comecei a rezar por ele, como os demais amigos. No dia seguinte, seus olhos abriram e uns dias depois recobrou a fala. As pulsações do coração e a pressão tornaram-se normais. Depois que recuperou a força, disse o seguinte: "Num momento qualquer, durante a minha doença, aconteceu-me algo estranho. Não sei explicar o que foi. Tinha a impressão de que me achava muito longe. Encontrava-me no lugar mais belo e mais agradável que já vi. Havia luzes em volta, luzes maravilhosas. Vi rostos, aliás percebia-os meios velados, muito amáveis. Senti uma doce paz de felicidade. De fato, nunca me sentira tão feliz em minha vida".
"Foi então que me veio a ideia de que talvez eu estivesse morrendo. Achava que tinha morrido. Ri depois, quase em tom alto, e perguntei a mim mesmo por que vivia sempre receoso da morte, quando não há coisa alguma a temer?"
— Como você se sentiu? perguntei-lhe. Quis voltar novamente para a vida? Quis viver, pois você não estava morto, se bem que o médico julgasse que estivesse nas últimas. Quis viver?
Ele sorriu ao dizer:
— Seria indiferente. Mas, pensando bem, teria preferido ficar naquele belo lugar.
Teria sido alucinação, sonho ou visão? Não o creio. Durante muitos anos, tive ensejo de conversar com pessoas, cujo desenlace parecia inevitável; das viram "algumas coisas" e foram unânimes em dizer que havia beleza, luz e paz naquilo que viram. Não posso, portanto, nutrir em meu espírito qualquer dúvida a respeito.
O Novo Testamento ensina de modo interessantíssimo e simples que a vida é indestrutível; descreve Jesus, após a crucificação, numa série de aparições, desaparições e novas manifestações. Alguns O viram, tendo Ele depois desaparecido de suas vistas. Como se quisesse dizer: "Apareço e desapareço". Isso indica que Ele quer dizer-nos que, se não O vemos, não significa que não esteja presente. Longe dos olhos não quer dizer longe da vida. Uma ou outra aparição mística que sucede a algumas pessoas indica essa mesma verdade: que Ele está perto. Não disse Ele: "...porque eu vivo, tu também viverás"? (João 14:19). Em outras palavras, os nossos entes queridos que morreram com essa fé também se acham ao nosso lado e ocasionalmente nos procuram confortar.
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Fonte:
O Poder do Pensamento Positivo: Guia prático para solução dos seus problemas diários, por: Norman Vincent Peale. Tradução: Leônidas Gontijo de Carvalho. Editora Culturix. São Paulo, 1993, págs. 236-246.

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