quinta-feira, 7 de julho de 2016

A condenação sob o ponto de vista da Igreja

A condenação sob o ponto de vista da Igreja
É certo que o caso Galileu versava sobre assuntos de ordem cientifica, aparentemente associados a autoridade da Santa Igreja, no entanto, a oposição dos teólogos e do Sumo Pontífice a teses do cientista, não comprometia a inefabilidade do magistério da Igreja, que tem por âmbito apenas temas de fé e de Moral. Partindo desse pressuposto, a drástica reação dos teólogos contra Galileu, que objetivamente tinha razão, se torna ainda mais incompreensível.
No entanto, segundo as autoridades eclesiásticas, na Idade Média e no início da Idade Moderna, a Bíblia era o manual utilizado em todos os estudos ('psalmos discere', aprender os salmos, significava "aprender a ler"; a alfabetização já era feita com a Bíblia na mão) e era nela que os interessados buscavam suas noções de astronomia.
De repente, no início do século XVII, apareceu Galileu defendendo uma tese em aparente contradição com a escritura sagrada, se apoiando em argumentos fracos, sujeitos a discussão científica e que não cedia as intimações das autoridades, que lhe pediam que apresentasse suas ideias como simples hipóteses. Além disto, ele também intervinha no terreno das exegeses formulando princípios para a interpretação da Bíblia. Com tal procedimento, ele só podia suscitar suspeitas e réplicas por parte dos homens da Igreja.
Depoimentos de escritores do século XVII demonstram que, se Galileu tivesse ficado no plano da hipótese e não tivesse explicitamente se envolvido em questões de exegese bíblica, certamente, ele não teria provocado a intervenção do Santo Ofício.
As descobertas da ciência, aos poucos, fizeram os teólogos ver que a Bíblia não quer ensinar conhecimentos profanos. Então, eles passaram a distinguir e aceitar o que no século XVII parecia monstruoso - dois planos que não se contradizem mutuamente, mas também não interferem um no outro - o plano das ciências naturais e o da Bíblia.
Partindo dessa afirmação se torna evidente que para um cristão imbuído da mentalidade dos séculos XVI e XVII era muito difícil admitir o heliocentrismo. Essa atitude pode ser observada tanto na postura dos autores protestantes diante do novo sistema quanto na dos católicos, para os quais, foi custoso compreender que a Bíblia não ensina cosmologia, de modo que durante dois séculos, resistiram ao heliocentrismo.
Lutero julgava que as ideias de Copérnico eram a de um louco, que tornava confusa a astronomia. Melancton, companheiro de Lutero, declarava que tal sistema era fantasmagoria e significava a rebordosa das ciências. Kepler astrônomo protestante contemporâneo de Galileu, teve que deixar a sua terra, Wurttemberg, por causa de suas ideias copernicanas.
Em 1659, o Superintendente Geral de Wittenberg, Calovius, além de proclamar que a razão deve se calar diante da fala da Escritura, verificava com prazer que os teólogos protestantes, até o último, rejeitavam a teoria que dizia que a Terra se move.
Em 1662, a Faculdade de Teologia protestante da Univocidade de Estrasburgo confirmou que o sistema de Copérnico era uma contradição da Sagrada Escritura. Em 1679, a Faculdade de Teologia protestante de Upsala (Suécia) condenou Nus Celsius, por ter defendido o sistema copernicano.
Ainda no século XVIII, a oposição luterana contra o sistema de Copérnico continuava muito forte. Em 1744, o pastor Kohlreiff, de Ratzeburg, pregava energicamente que a teoria do heliocentrismo era uma abominável invenção do diabo.


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Fonte:
Galileu Galilei, por: Morgana Gomes. Editora Minuano. São Paulo, 2001, págs. 41-42.

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