O que é tradução
Os
dicionários costumam definir tradução como "ato ou efeito de
traduzir". Enquanto ato, leva o tempo que o tradutor emprega no seu
trabalho; como efeito, é o que resulta desse trabalho.
E o que é
"traduzir"?
O verbo
"traduzir" vem do verbo latino traducere,
que significa "conduzir ou fazer passar de um lado para o outro",
algo como "atravessar".
Quando, num
livro sobre a Guerra das Gálias, o autor escreve que Caesar omnem equitatum pon-tem traduxit, o que ele quer dizer é que
o imperador conduziu ou fez passar pela ponte toda a sua cavalaria.
E traduzir
nada mais é que isto: fazer passar, de uma língua para outra, um texto escrito
na primeira delas. Quando o texto é oral, falado, diz-se que há
"interpretação", e quem a realiza então é um "intérprete".
A língua em
que um texto a traduzir é originalmente escrito pode ter os nomes de
língua-fonte ou língua de origem ou língua de partida (em inglês source language,
em alemão Ausgangsprach, em espanhol lengua de origen, em francês langue de départ). A língua para a qual se faz
passar um texto originalmente escrito em outra pode chamar-se língua-meta ou
língua-alvo ou língua-termo ou língua de chegada (em inglês target language, em alemão Zielsprach, em espanhol lengua término, em francês langue d'arrivée).
Cada língua
funciona como um código. O conjunto dos signos de uma língua constitui o seu
léxico, o seu vocabulário. O conjunto de regras que regem as combinações dos
signos de uma língua constitui a sua sintaxe; os modos pelos quais podem
criar-se novos signos de uma língua constitui a sua morfologia. A sintaxe e a
morfologia de uma língua compõem a sua gramática.
A tradução,
enquanto passagem de um texto de uma língua para outra, tem a ver ora com o
léxico, ora com a sintaxe, ora com a morfologia, da língua da qual se traduz,
língua-fonte, e da língua para a qual se traduz, língua-meta.
Voltando ao
verbo traduzir, o que o tradutor faz é apenas isto: levar o leitor de uma
língua para o lado da língua do autor estrangeiro, ou, inversamente, trazer o
autor de uma língua estrangeira para o lado da língua do leitor.
Cada um
desses caminhos requer procedimentos especiais, decorrentes de uma atitude
preliminar do tradutor: são dois caminhos que não se podem misturar, pois toda
e qualquer mistura ou confluência há de levar a encruzilhadas onde o que se
espalha é a farofa amarela das maiores confusões.
Confusão,
por sinal, é o que parece não faltar quando se trata de tradução. Pode-se mesmo
dizer que, biblicamente ao menos, a tradução nasceu de uma confusão. Todo mundo
conhece a história bíblica da Torre de Babel, uma torre que alguns homens
queriam construir altíssima com a pretensão de por ela chegarem ao céu; mas o
Senhor dos Exércitos não aprovou o projeto daqueles pretensiosos e resolveu
atrapalhar a comunicação na Torre: fez que se confundissem as línguas, um sem
compreender o que outro queria dizer, e a incrível construção ficou por
terminar, a meio caminho do seu tão almejado objetivo.
A
Antiguidade desse mito bíblico, que se lê no Antigo Testamento, pode dar uma ideia de como é velha neste mundo a
prática da tradução; pois é de imaginar-se que em pouco tempo começasse a haver
na Torre de Babel pessoas com certa capacidade de entenderem mais de uma língua
ao mesmo tempo, e que essas pessoas entrassem a atuar como elos de comunicação
entre as que tinham línguas diferentes, como intérpretes e tradutoras portanto.
E desde aí, desde os seus, primórdios, a tradução teve sempre quem se
pronunciasse a favor dela ou contra ela.
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Fonte:
O que é Tradução, por: Geir Campos. Editora Brasiliense, 2ª Edição. São Paulo, 1987, págs. 7-10.
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