"TALVEZ
O MUNDO NÃO SEJA PEQUENO NEM SEJA A VIDA UM FATO CONSUMADO"
"Se lembra da fogueira
Se lembra dos balões
Se lembra dos luares dos sertões?...
Se lembra da jaqueira
a fruta no capim..."
Não, as canções de Chico não são autobiográficas. Não havia jaqueiras na casa da rua Haddock Lobo, para onde a família Buarque de Holanda se mudou, vinda do Rio, quando o compositor tinha apenas dois anos de idade (1946). E isso segundo o testemunho do pai historiador, que afirma não saber da existência de jaqueiras em São Paulo. No entanto, caía balão, sim, no terreno baldio atrás da casa, que ficava perto da rua Augusta - uma Augusta provinciana onde, diz o Chico, "se não passava banda, passava bonde"...
Também as
Ritas, Carolinas, Januárias e Madalenas que povoam suas músicas não integram,
necessariamente, a galeria de suas ex-namoradas: são nomes femininos, apenas.
Exceções quanto ao caráter de verossimilhança de suas personagens? Deve haver.
Uma delas parece ser o caso da canção Luísa:
"Por ela é que faço bonito
Por ela é que faço o palhaço
Por ela é que saio do tom...
É pra ela que eu f aço cartaz
É por ela que eu espanto
De casa as sombras da rua
Faço a lua
Faço a brisa
Pra Luísa dormir em paz."
Por ela é que faço o palhaço
Por ela é que saio do tom...
É pra ela que eu f aço cartaz
É por ela que eu espanto
De casa as sombras da rua
Faço a lua
Faço a brisa
Pra Luísa dormir em paz."
Chico fez
esta canção em parceria com Francis Hime, por sinal pai de outra Luíza (esta,
com z), afilhada de Chico. Luísa (com s) é a última das meninas de Chico e
Marieta Severo, sua mulher. "Bem, é claro que pra filha da gente sempre se
abre uma exceção".
Outra
exceção parece ser o caso de Angélica:
"Quem é essa mulher
Que canta como dobra um sino
Queria cantar por meu menino
Que ele já não pode mais cantar".
Que canta como dobra um sino
Queria cantar por meu menino
Que ele já não pode mais cantar".
Quem é essa
mulher? É a mãe que "só queria lembrar o tormento / que fez (s)eu filho
suspirar": Zuzu Angel, que lutou desesperadamente — até morrer, atropelada
- para deslindar o caso do desaparecimento e morte de seu filho, preso
político, em 1971.
Em geral, as
canções de Chico não refletem de maneira imediata os acontecimentos, sejam eles
pessoais ou políticos. "Minha música não é política, diz ele. Às vezes,
tem um conteúdo social. Mas não me considero um cantor de protesto, no sentido
usual da palavra. Claro que as coisas acabam se misturando. O artista não faz,
necessariamente, crítica social. Mas a leitura dos jornais, a observação do
quotidiano, aproveito tudo. A leitura dos jornais, principalmente, é essencial
para o meu trabalho. Tanto quanto a fantasia. E com isso vem a fusão, confusão,
transfusão."
De família
intelectual ("as paredes lá de casa viviam cobertas de livros") e de
grande sensibilidade artística, filho do historiador e crítico literário Sérgio
Buarque de Hollanda, uma das mais sólidas figuras intelectuais deste país, e de
Maria Amélia Buarque de Hollanda, pianista-concertista, Chico conviveu desde
cedo com os amigos da casa — João Gilberto, Vinícius de Morais, Baden Powel,
Tom Jobim, Alaíde Costa, Oscar Castro Neves. Isso iria, necessariamente, marcar
sua formação de compositor e escritor JÁ desenvoltura com que ele manipula o
material verbal, aliada à amplidão de suas referências culturais e humanas não
se devem exclusivamente a uma sensibilidade especial, vinculada a talento, mas
também a uma convivência com grandes livros. Leu muito na adolescência:
Dostoievski, Tolstoi, quase todos os grandes romances russos; leu os franceses
(Céline, Balzac, Zola, Roger Martin du Gard); depois passou aos brasileiros:
Guimarães
Rosa, João Cabral, José Lins do Rego, Machado, Drummond, Graciliano... Numa
fase posterior, descobriu os latino-americanos: Cortazar, Puig, Garcia Marques,
Borges. Convivência com textos, convivência com pessoas: eis os elementos
formadores de sua personalidade rica e multiforme, e que instrumentaram o
artista de hoje.
Desde
criança, ouvia dentro de casa os amigos da irmã Heloísa (Miúcha) tocarem violão
e cantarem. Era a bossa nova que estava nascendo, em 1958: uma mistura nova de
música e poesia, abatida diferente do violão de João Gilberto.
Chico
começou a aprender a tocar violão com Heloísa, que mais tarde se casaria com
João Gilberto. Mas tocava era mesmo de ouvido, acompanhando o disco na vitrola.
E ouvia rádio, muito rádio: Ataulfo Alves, Ismael Silva, Noel Rosa. Ouvia de
tudo: chorinho, samba, marchas, modinhas e serestas. E confessa a dívida que
tem com João Gilberto, "ele marcou toda uma geração. Isso é até
lugar-comum. Qualquer artista de minha geração, que você entrevistar, vai dizer
que ficou muito marcado quando ouviu o João. Eu me lembro do primeiro disco
dele que ouvi: Chega de Saudade. Fiquei horas e horas e horas ouvindo e tal, e
foi só a partir daí que eu comecei a pegar no violão, a tentar imitar a batida
da bossa nova, a fazer minhas primeiras músicas, imitando a bossa, cantando à
Ia João. Ê um cara que fez a cabeça de uma geração inteira."
Além disso,
Chico faz questão de registrar outras influências que recebeu: António Carlos
Jobim, Noel Rosa, Vinícius, Drummond, Dorival Caymmi, Paulo Vanzolini.
Depois de
uma temporada de dois anos na Itália, para onde se mudara sua família, entra
para o Colégio Santa Cruz — uma escola burguesa de alto nível em S. Paulo. Lá,
por contraditório que possa parecer, dá-se sua abertura para o social: torna-se
participante de movimentos de juventude, tais como OAF (Organização de Auxílio
Fraterno), que promovia rondas noturnas para levar comida e agasalho aos
mendigos da cidade, sobretudo no inverno; movimentos de
"desfavelamento", etc. — que, malgrado o caráter paternalista que
lhes possa ser atribuído, tiveram a eficácia de pô-lo em contato, sem mediação,
com essa "romaria de mutilados" de que fala em sua grande canção, com
o "plano dos bandidos, dos desvalidos".
O SAMBA E A FACULDADE
Em 1963,
ingressa na FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade de São
Paulo — USP). Segundo o testemunho do pai, Chico "gostava de fazer plantas
para cidades fantásticas. Eram sempre coisas imaginárias, mas tinham em comum,
todas elas, uma fonte exatamente no centro da cidade." Cursou a FAU só até
o 39 ano. Já a partir do 29, começa a andar na companhia de Francisco Maranhão
e de outros adeptos do samba. Ainda pretendia fazer o curso de Ciências
Sociais, mas veio a roda-viva e levou esse plano "prá lá". Não
estávamos ainda na época em que, segundo o preceito, "trabalhador trabalha,
professor leciona, estudante estuda". Era o início da década de 60; havia,
então, em vários setores, uma euforia de participação, de criatividade: era o
tempo da bossa nova, do Cinema Novo, do teatro Oficina, do show Opinião, dos CPCs (Centros Populares de Cultura), do Teatro de
Arena. A Faculdade servia, muitas vezes, de catalisador para muitos desses
impulsos de criação. Sua ação formadora desenvolvia-se tanto nas aulas quanto nas
conversas dos corredores, nos barzinhos, nos botecos e, sobretudo, nos grêmios
das faculdades - entidades vivas. O da Faculdade de Filosofia, por exemplo —
situada na rua Maria Antônia, confluindo com a rua Dr. Vila Nova, onde estava a
Faculdade de Economia, também da USP, ambas no bairro da Consolação —,
concentrava grande parte dessa fermentação produtiva.
A
participação artística entre os estudantes era muito grande. E havia também um
projeto de participação social que integrava estudo/arte/povo. Chico Buarque
fundou, com alguns colegas, o "Sambafo": após as aulas, no grêmio ou
na "Quitanda" — boteco da Dr. Vila Nova onde se faziam boas batidas
—, o grupo se reunia para tocar e cantar. E Chico especializou-se em desafios.
Em 1965, nasce Pedro Pedreiro (o
único "Pedro" da autoria de Chico acabaria sendo este, uma vez que
pelo filho Pedro, ele e Marieta ficaram esperando, pois só vieram as três
meninas...). Vamos dar a palavra ao próprio Chico: "Quando entrei na
Faculdade de Arquitetura, São Paulo novamente se transfigurou aos meus olhos.
As universidades, a rua Maria Antônia, os sonhos políticos, as frustrações, a
profissão, o tijolo, o pedreiro, o engenheiro. São Paulo vista de dentro. As
longas noites paulistas; o violão entrando em cena. E foi aí que eu encontrei a
fonte do meu samba urbano, cheirando a chaminé e a asfalto. É, portanto, sem
receio que confesso que Pedro Pedreiro
espera o trem num subúrbio paulista, Juca
é cidadão relapso do Brás, Carolina
é a senhorita da janela na Bela Vista e a banda
passou, por incrível que pareça, no viaduto do Chá, em clara direção ao coração
de São Paulo".
Quando a
peça Morte e Vida Severina, de João
Cabral de Mello Neto, começa a ser encenada, Chico é convidado pela direção do
TUCA (Teatro da Universidade Católica) para musicá-la. Pois bem: Chico não
compôs uma música que servisse de "fundo musical" para o texto.
Antes, descobriu a música que o poema já carregava, latente, dentro de si, e a
evidenciou. A essa experiência, Chico conta que deve muito: "Aquele
trabalho garantiu-me que melodia e letra devem e podem formar um só corpo."
Em 1966,
ainda antes do estouro de A Banda,
conhece Marieta Severo, que se tornará sua mulher. Em outubro desse ano, no II
Festival da Música Popular Brasileira, duas músicas disputam o primeiro lugar: A Banda, e Disparada, de Geraldo Vandré e Theófilo de Barros Filho (o Theo).
Apesar de primeiro colocado, antes que o resultado fosse dado a público, Chico
interveio: "Gosto muito de Disparada
e sinto que o público também. Dividam o prêmio, porque se eu fizer isso no
palco — e estou decidido — o gesto parecerá demagógico."
A RODA-VIVA
Com 22 anos
e pouco mais de 30 músicas, Chico Buarque "quebrou a barreira da
idade" e tornou-se o mais jovem depoente do Museu da Imagem e do Som.
Afamadíssimo, ganha, em 1967, o título de Cidadão Paulistano, conferido pela
Câmara Municipal de São Paulo. Isso enquanto, na calçada, uma banda — a da
Guarda Civil — tocava A Banda...
Com uma
agitadíssima vida de shows e apresentações pelo Brasil afora, Chico tinha-se
tornado, na expressão de Millor Fernandes, a "única unanimidade nacional"
— o que tem o seu preço. Alguém não pode ser hem visto por todos, a não ser que alguma das partes esteja alimentando um
equívoco. É o que se passou com a utilização de A Banda como fundo musical de um filme de propaganda oficial na
T.V. - contra o que Chico se indispôs indignadamente. Um exemplo, entre tantos,
da capacidade que o sistema tem de absorver a música popular.
Mas a unanimidade em torno de
Chico logo começará a se desfazer. Em fins de 67 é levada ao palco a peça
"Roda-Viva", de sua autoria, sob a direção de José Celso Martinez
Corrêa, e que tem como tema, exatamente, a desmistificação do ídolo popular.
Essa peça revelou, com toda a agressividade que o teatro comportava, um Chico
antilírico, chocante, destruindo inapelavelmente a imagem muito consumível de
bom menino, de boa família, bem comportado. O público passa a responsabilizar o
diretor Zé Celso pelo radicalismo agressivo da peça. Mas Chico Buarque a
assume. Essa mudança de imagem se opera em dois níveis, em relação a dois
públicos: diante daqueles que viam em Chico o tranquilizante "bom
moço", e que agora se sentem decepcionados; diante do público simpatizante
do tropicalismo e que, por motivos diferentes, (Chico passa a ser acusado de
intransigente defensor do estilo tradicional de compor) renega o autor de Carolina. Data daí o confronto
(alimentado pelos respectivos séquitos de fãs) entre Chico e os tropicalistas —
como ficou registrado no LP Geleia Geral,
de Gil e Torquato:
"Outra moça também Carolina
Da janela examina a folia
Salve o lindo pendão dos seus olhos
E a saúde que o olhar irradia."
Da janela examina a folia
Salve o lindo pendão dos seus olhos
E a saúde que o olhar irradia."
Esse
mal-entendido parece que só se resolverá totalmente por ocasião da gravação do
show Chico e Caetano Juntos, em Salvador, 1972.
O gosto do
público, em todo o caso, se alterara, e manifesta-se o desencontro: "Essa
moça tá diferente / Já não me conhece mais / Está pra lá de pra frente / Está
me passando pra trás /.../ Eu cultivo rosas e rimas / achando que é muito bom /
Ela me olha de cima / E vai desinventar o som". Mais tarde, em seu quarto
disco, lançado em 1970, gravado metade na Itália (para onde ele foi em 69, por
quinze meses) e metade aqui, Chico faz uma revisão da própria obra, e se propõe
a "dar um chute no lirismo".
MINHA VOZ FICOU
NA ESPREITA,
NA ESPERA
QUEM DERA
ABRIR MEU PEITO,
CANTAR FELIZ
De volta ao
Brasil, :em 1970, Chico vai-se confrontar duramente com a censura do governo
Mediei. Estabelece-se um jogo desgastante de pode-não-pode entre o compositor e
o censor. Algumas canções são proibidas na totalidade: Apesar de Você, Cálice, Tanto Mar, Bolsa de Amores; outras, têm
palavras ou versos inteiros cortados. O fato de, recentemente, com o
afrouxamento da censura, algumas de suas músicas poderem ter saído em disco,
como é o caso das três primeiras, não redime o mal: o prejuízo já ocorreu.
Apesar de você, por exemplo, diz Chico, tem um tom de revolta que não é mais o
de suas músicas atuais; Cálice "tem a cara do ano que foi feita, 1973:
aquela coisa meio desesperada, pesada, muito daquele tempo". Tanto Mar
precisou ser inteiramente reformulada, pois diz respeito à Revolução dos Cravos
em Portugal, e muita coisa mudou.
A enumeração
dos confrontamentos entre Chico Buarque e a censura seria longa e cansativa.
Ele chegou a declarar nos jornais que, de cada três músicas enviadas para a censura,
só uma era liberada. Em alguns casos, tratava-se de censura política; em
outros, de censura "moral" — reafirmando aquele velho esquema de
qualquer ditadura: a aliança da repressão política com a repressão sexual.
E quais as
maneiras de driblar a censura? Felizmente, restou sempre a possibilidade
daquilo que Caetano Veloso chamaria de "a linguagem da fresta" - que
é, em suma, a linguagem do malandro, desse malandro que assumiu o nome de
Julinho da Adelaide ou de Leonel Paiva e que ironicamente canta, em Jorge
Maravilha: "Você não gosta de mim, mas sua filha gosta". Chico dá o
referente verídico dessa passagem: "Aconteceu de eu ser detido por agentes
de segurança e no elevador o cara pedir um autógrafo para a filha dele. Claro
que não era o delegado, mas aquele contínuo de delegado." Os pseudônimos
usados por Chico foram, no entanto, expediente de curta eficácia, pois criaram,
logo, logo, a obrigatoriedade de juntar, ao nome do compositor, o CIC e o RG.
Chico confessa que houve épocas em que sua criatividade estava mais voltada
para driblar a censura, do que propriamente para sua música. Muitas vezes, diz
ele, "paro no meio de uma música, porque eu sei que não vai ser possível
gravar. Isso é uma autocensura e, é claro, um entrave sério. É inevitável que a
gente crie ama autocensura. Eu já tenho a minha, condicionada". No
entanto, o problema mais grave em relação à censura é desinformar
culturalmente; não é tanto prejudicar um ou outro autor, que não pode ter sua
obra difundida, mas interromper o processo de formação do público e, correlatamente,
o desenvolvimento da obra dos autores.
Mas o fato
de ter ficado por um longo tempo com sua voz "na espreita, na
espera", sem poder entoar um canto largo, não significou, de maneira
alguma, que Chico diminuísse sua produção. Em 1971, lança o disco Construção, ao qual não faltam raiva e
garra para intensificar ainda mais sua crítica social. E recebe uma homenagem
do Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil, em Belo Horizonte: uma pá
de prata, num tijolo de jacarandá, que os pedreiros lhe ofertavam, "com os
olhos embotados de cimento e lágrima". Valia quase como a consagração de
um poeta popular.
Com a novela
Fazenda Modelo (1974), resvala de vez
para a sátira, para a paródia e para a alegoria; a fim de não correr risco
algum de se ver censurado, não fala da sociedade dos homens, fala só de bois e
vacas...
Dois
episódios nesse corpo a corpo de Chico com a repressão merecem registro. Um
deles foi a censura na Phono 73 — o show da Phonogram, gigantesca exposição de
cantores e compositores, na qual seria cantada a música Cálice, por Chico e Gil. Mas ela foi proibida na hora, mesmo depois
de ter sido publicada em jornal. Para impedir que a palavra Cálice (cale-se) fosse pronunciada,
cortaram o som de todos os microfones, um após o outro. Chico, com raiva,
começava a cantar num deles, o som era desligado; ele pegava o outro, também
faziam o mesmo, e outro, e outro. E assim ironizou (= transformaram em imagem
concreta, em ícone) aquela palavra. Para que ninguém ouvisse "cale-se",
a censura levou aquelas três mil pessoas presentes ao show a verem o
"cale-se" dramaticamente concretizado nos microfones calados.
Outro, foi
um caso de censura extrema: a peça Calabar,
que Chico escrevera em parceria com Ruy Guerra, foi censurada e a imprensa
impedida de notificar a proibição. Era a repetição histórica, em 1974, daquilo
que, na peça, devia ter-se passado no século XVII. Diz o frei (personagem da
peça) a Bárbara, viúva de Calabar:
"Calabar
é um assunto encerrado. Apenas um nome. Um verbete. E quem disser o contrário
atenta contra a segurança do Estado e contra as suas razões. Por isso o Estado
deve usar do seu poder para o calar. Porque o que importa não é a verdade
intrínseca das coisas, mas a maneira como elas vão ser contadas ao povo."
Texto profético?
Chico foi
proibido na Argentina, no governo Videla. E aqui no Brasil ele sei transformaria
(até 1978) num dos artistas mais visados pela censura. Não seria por que ele
detém, mais do que ninguém, esse poder inquietante dê lidar com as palavras?
Festa Imodesta
(Caetano
Veloso)
Minha gente era triste
e amargurada
inventou a batucada
pra deixar de padecer.
Salve o prazer, salve
o prazer!
Numa festa imodesta
como esta
vamos homenagear
todo aquele que nos
empresta a sua testa
construindo coisas pra
se cantar»
Tudo aquilo que o
malandro pronuncia
que o otário silencia
toda festa que se dá
ou não se dá
passa pela fresta da
cesta e resta a vida.
Acima do coração que
sofre com razão
a razão que volta no
coração
E acima da razão a
rima
e acima da rima a nota
da canção
bemol natural
sustenida no ar.
Viva aquele que se
presta
a esta ocupação:
Salve o compositor
popular!
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Fonte:
Chico Buarque: Leitura Comentada. Texto: Adélia Bezerra de Meneses Bolle. Abril Educação. São Paulo, 1980, págs. 5-8.
Fonte:
Chico Buarque: Leitura Comentada. Texto: Adélia Bezerra de Meneses Bolle. Abril Educação. São Paulo, 1980, págs. 5-8.
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