quarta-feira, 6 de julho de 2016

Língua, dialeto e falar

Língua, dialeto e falar
Não se pode discorrer sobre geografia linguística sem mencionar alguns conceitos fundamentais, como os de língua, dialeto e falar. Para Manuel Alvar — um dos mais eminentes dialectólogos da atualidade — língua é o
"sistema linguístico de que se utiliza uma comunidade falante e que se caracteriza por ser grandemente diferenciado, por possuir alto grau de nivelação, por ser veiculo de I tradição literária e, às vezes, por ter-se imposto a linguísticos de sua própria origem".
dialeto pressupõe um
"sistema divergente de uma língua comum, viva ou desaparecida, normalmente com uma concreta limitação geográfica, mas sem forte diferenciação frente a outros de origem comum".
Ao conceituar falar, distingue os falares regionais cm relação aos falares locais. Os primeiros caracterizam-se por serem as peculiaridades expressivas próprias de uma região determinada, que carecem da coerência interna que possui o dialeto. São, portanto, peculiaridades regionais da língua comum. Os segundos constituem
"estruturas linguísticas de traços pouco diferenciados, mas com matizes característicos dentro da estrutura regional a que pertencem e cujos usos estão limitados a pequenas circunscrições geográficas, normalmente de caráter administrativo".
Embora Alvar tenha procurado definir, com rigor, tais variantes diatópicas, na prática se torna difícil estabelecer uma precisa diferença entre dialeto e falar, tanto que alguns linguistas questionam os critérios — muitos deles de cunho extralinguístico — em que baseiam tais diferenciações.
Nota-se, no entanto, forte tendência a empregar-se o termo "dialeto" em sentido mais amplo, ou seja, o de considerar-se dialeto como sendo qualquer variedade linguística — quer de natureza geográfica, quer de cunho social — que constitua um subsistema singular, unitário.
Isso significa que se pode denominar de "dialetos" tanto a variedade falada numa região do país quanto as usadas por cada um dos segmentos que constituem a população que ali vive, desde que se determinem os traços que as particularizam, isto é, as normas que as caracterizam.
Neste livro, no entanto, utilizar-se-á o termo "falar" (no sentido em que o define M. Alvar), consagrado na dialectologia brasileira, desde que, em 1953, Antenor Nascentes reformulou sua proposta de classificação das variantes linguísticas brasileiras (vide capítulo 4 deste livro).
O interesse científico pela questão da língua como conjunto de variedades só tendeu a crescer a partir do momento em que Gilliéron lançou as bases da geografia linguística. Hoje — quando se pensa até na possibilidade de se elaborarem gramáticas poliletais (gramáticas que incorporam mais de uma variedade) — vasta bibliografia teórica, inúmeras descrições e análises vinculadas à dialectologia, à sociolinguística e à etnolinguística comprovam a crescente preocupação em caracterizar e explicar diferenças diatópicas, diastráticas e diafáticas, no sentido de melhor se conhecerem os diassistemas e se determinarem os fatores internos e externos que contribuem para sua polimorfia.


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Fonte:
A Geografia Linguística no Brasil, por: Silvia Figueiredo Brandão. Editora Ática, 1991, págs. 12-14.

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