Orígenes Lessa: Sempre escrevi de improviso
— Como foi a sua infância?
— Meu pai
era pastor protestante e, assim, sempre transferido de um lado para outro, como
um oficial do exército. Com isso, desde cedo percorri o Brasil quase todo. Fui
parar no Maranhão quando tinha só três anos. A minha infância lá, até os cinco
ou seis anos, foi percorrendo o interior. Viajei por muito campo alagado, nos
tempos das chuvas. E meu pai, para me distrair e evitar que eu ficasse com
medo, mandava que eu fosse contando os jacarés que íamos encontrando. Mas era
uma vida boa, modesta, embora às vezes um pouco assustada.
— Agora vamos falar da sua atividade de
escritor. Quando é que você escreve? Existe um momento para isso?
— Escrevo
quando sinto que preciso. A mão vai correndo e o texto vai saindo, assim, sem
um plano preconcebido.
— E você se baseia em pessoas reais para
criar os seus personagens?
— Os
personagens, todos, partem sempre de alguém. Ou de algumas pessoas. Mas nenhum
de meus personagens posso dizer que seja o retraio de uma pessoa da vida real.
— Tendo sido homem de publicidade por mais
de cinquenta anos, como é que você arrumava tempo para escrever os seus textos
literários?
— Bom, eu
sempre escrevi praticamente de improviso. Eu tinha a ideia, que ia fervendo
dentro da cabeça. Começava a escrever, a coisa ia crescendo, parava para produzir
um anúncio, ler um livro novo, tratar de outros assuntos e de repente a coisa
estava feita. A minha vida toda eu escrevi assim, entre as exigências de um
sabonete, de uma pasta ou escova de dentes ou de uma nova margarina.
— Só recentemente você começou a se dedicar
à literatura infanto-juvenil. Por quê?
— Só aos
setenta anos atingi a maturidade suficiente para escrever para as crianças.
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Fonte:
Para Gostar de Ler - Volume 10 - Contos. Editora Ática. São Paulo, 1986, pág. 11.
Fonte:
Para Gostar de Ler - Volume 10 - Contos. Editora Ática. São Paulo, 1986, pág. 11.
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