quinta-feira, 14 de julho de 2016

Biografia de Simões Lopes Neto

Simões Lopes Neto
Natural de Pelotas, Rio Grande do Sul, J. Simões Lopes Neto foi, sem dúvida alguma; o  escritor regionalista que melhor  soube imprimir  "cor  local"  às  suas  obras.   Tanto   espelhando  os  tragos mais   característicos   do   gaúcho,   como   revelando   seu   folclore   ou dando  forma  definitiva a  algumas  das  mais  belas  lendas,  conseguiu  sempre  e  em  todos  os   casos   manter-se  num   elevado   nível artístico, que o faz, ainda hoje, atual e vivo como poucos dos nossos   prosadores   do   passado.   Vivendo   entre  1885   e  1916,   somente nos deixou três livros:    "Lendas do Sul",  "Cancioneiro Guasca"  e "Contos  Gauchescos".    Três  livros  definitivos  e eternos,  acrescente-se.   Toda a alma guasca está nos seus contos,  "que valem por uma   epopeia   cíclica,   antes   contada   que   escrita,   como   um   tom narrativo da mais tocante familiaridade", acentua o sr. Agripino Grieco,  acrescentando  que os  seus  "tipos,  velhos  e moços,  negros e  brancos,  movem-se  diante  de  nós com  a  desenvoltura  da vida, com a caracterização  inconfundível do  real."   Se nos  contos  consegue   manter   a   atmosfera   dramática   ou   cômica   com   um   raro poder de ficcionista,  nas  lendas revive,  com notável dom poético, toda a beleza de histórias como a "Salamanca do Jarau" ou "Negrinho do Pastoreio", legítimas obras-primas destinadas a despertar emoções pelo decorrer dos séculos.
O   segredo   da   perenidade   de   J.   Simões   Lopes   Neto   estará, certamente, na fidelidade com que soube ascultar a alma do audacioso  gaúcho,  na  certeza  psicológica  cora  que  soube  fixar-lhe  os traços   mais   característicos.   Apesar   do   vocabulário,   ou   melhor,  dos  modismos típicos  da região  do sul,  pode ser  lido  pelo  brasileiro  de  qualquer  região.    Pelo  brasileiro   do  centro,   do   norte  ou do nordeste.   E não somente lido,  como compreendido.     Acontece que  J.   Simões   Lopes   inspirando-se   diretamente   no   povo,   jamais o  traiu,   sob  qualquer  pretexto.    Manteve-se  fiel  ao  sentir   e  pensar  desse  povo,  com  o  qual  conviveu  no  mais  íntimo  e amoroso consórcio.    Blau, o vaqueano, é bem ele, em toda sua simplicidade e   rusticidade,   genuíno   tipo   crioulo   rio-grandense,   guasca   sadio, que depois de "trotar sobre tantíssimos rumos: das pousadas pelas estâncias; aos fogões a que se aqueceu; dos ranchos em que cantou, dos povoados que atravessou, das cousas que ele compreendia e das que eram-lhe vedadas ao singelo entendimento; do "pelo a pelo" com os homens, das erosões da morte e das eclosões da vida", conta, agora, ao patrício deslumbrado, tudo quanto ficou semeado na longa estrada das suas recordações, casos que de "vez era quando o vaqueano recontava, como quem estende ao sol, para arejar, roupas guardadas no fundo de uma arca..." E porque conta com ternura e simplicidade, ainda hoje o lemos com verdadeiro enlevo, com o encanto que as obras-primas sempre conseguem despertar.


---
Fonte:
As Obras-Primas do Conto Brasileiro. Seleção e notas de: Edgard Cavalheiro e Almiro Rolmes Barbosa. Martins Editora, 4ª Edição. São Paulo, 1952, págs. 319-320.

Nenhum comentário:

Postar um comentário