Rachel de Queiroz: dados biobibliográficos
da autora
Descendendo lado
materno da estirpe dos Alencar, parente portanto do autor ilustre de O Guarani,
e pelo lado paterno dos Queiroz, família de raízes profundamente lançadas no
Quixadá e em Beberibe, nasceu Rachel de Queiroz em Fortaleza, Ceará, a 17 de
novembro de 1910, no antigo 86 da Rua Senador Pompeu, filha de Daniel de
Queiroz e d. Clotilde Franklin de Queiroz. Em 1917, em companhia dos pais, veio
para o Rio de Janeiro, procurando a família, nessa migração, esquecer os
horrores da terrível seca de 1915, que mais tarde a romancista iria aproveitar
como tema de O Quinze. No Rio, a
família Queiroz pouco se demorou, viajando logo a seguir para Belém do Pará,
onde residiu por dois anos. Em 1919, voltou a Fortaleza, matriculando-se Rachel
de Queiroz, em 1921, no Colégio da Imaculada Conceição, dirigido por irmãs de
caridade, onde fez o curso normal, diplomando-se em 1925, aos quinze anos de
idade.
Em 1927,
atraída pelo Jornalismo, principiou a colaborar no Jornal O Ceará, de que se
tornou afinal redatora efetiva. Em agosto de 1950, estreou Rachel de Queiroz
com o romance O Quinze, com
inesperada e funda repercussão no Rio e em São Paulo. Aos vinte anos de idade
apenas, uma quase desconhecida escritora provinciana, projetou-se na vida
literária do pais agitando a bandeira do romance de fundo social, profundamente
realista na sua dramática exposição da luta secular de um povo contra a miséria
e a seca. Aparecendo quase dois anos após a publicação de A bagaceira (1928) —
romance que "abriu nova fase na história literária no Brasil",
segundo a observação de Otto Maria Carpeaux —, O Quinze antecipou-se ao fecundo e importante ciclo do romance
nordestino: "o grande êxito do livro firmou o novo gênero", como nota
ainda o eminente critico. *
O livro
apareceu em modesta edição de mil exemplares, impressa no Estabelecimento
Gráfico Urânia, de Fortaleza. A exemplo de José Lins do Rego com Menino de engenho (1932), e de Carlos
Drummond de Andrade com Alguma poesia, este último também estreante em 1930,
Rachel de Queiroz publicou o primeiro livro em edição própria, custeada pelo
pai (embora sem usar, como o poeta mineiro, a camuflagem de uma hipotética
editora de nome estranho — Edições Pindorama —, invenção do escritor Eduardo
Frieiro para prestigiar o lançamento de dois ou três poetas em Belo Horizonte).
Recebida com
entusiasmo pela critica, a estreia de Rachel de Queiroz mereceu de imediato a
atenção geral, destacando-se Augusto Frederico Schmidt, o primeiro, no Rio, a
escrever sobre ela (artigo reproduzido mais adiante). Graça Aranha manifestou
logo a sua admiração pela estreante. Agripino Grieco e Gastão Gruls foram
também dos que logo se manifestaram com entusiasmo sobre a escritora,
escrevendo artigos no Boletim de Ariel. Todas as opiniões favoráveis foram
ratificadas com a outorga do prêmio da Fundação Graça Aranha, que lhe foi
concedido em 1931, ano de sua primeira distribuição oficial, tia mesma ocasião,
além de Rachel de Queiroz, obtiveram aquele prêmio Murilo Mendes, pelo seu
livro Poemas, e Cícero Dias, pela sua pintura.
Depois da
sua estreia sensacional, reapareceu com outro romance, João Miguel, publicado
em 1932, seguindo-se um intervalo de cinco anos na atividade literária da
Autora. Retornando à ficção em 1937, publicou Caminho de pedras, seguido (1939) de As três Marias (prêmio da Sociedade Felipe d'Oliveira), e trinta e
seis anos depois apareceu seu quinto romance, Dora, Doralina, cuja 1ª edição (1975) saiu sob a chancela José
Olympio/INL. Em 1950, escreveu o romance O
galo de ouro, divulgado em folhetins pela revista O Cruzeiro e publicado em livro em 1986.
Recebeu dois
grandes prêmios por conjunto de obra: em 1957, o da Academia Brasileira de
Letras e, em 1985, o prêmio Brasília de Literatura.
Residindo no
Rio há longos anos, a principio refugiada no sossego marítimo-bucólico da Ilha
do Governador, e depois no bairro do Leblon (atualmente passa parte do ano no
Rio e parte em suas terras do Ceará, na fazenda Mão me Deixes), Rachel de
Queiroz dedicou-se principalmente ao Jornalismo, tendo colaborado durante muito
tempo no Diário de Notícias e,
posteriormente, na revista O Cruzeiro
(de que foi cronista exclusiva), em O
Jornal, na Última Hora e no Jornal do Comércio. De sua assídua e
prolongada colaboração Jornalística nasceu seu primeiro livro de crônicas, A
donzela e a moura torta, aparecido em 1948, seguindo-se novo Intervalo
literário até 1955, quando a escritora reapareceu abordando novo gênero — o
teatro — e publicou o primeiro drama. Lampião, baseado na vida do lendário
cangaceiro do Mordeste. A peça foi representada no Rio no Teatro Municipal, e
em São Paulo no Teatro Leopoldo Fróes, na capital bandeirante, onde foi
conferido a Rachel de Queiroz o prêmio Saci como autor da melhor peça do ano.
Viveu em São Paulo o papel de Lampião o artista Sérgio Cardoso e, no Rio, Elísio
de Albuquerque. Em 1957, recebeu o prêmio-consagração da Academia Brasileira de
Letras, relativo a conjunto de obra: o prêmio Machado de Assis.
Em 1956-57,
escreveu nova peça, A beata Maria do Egito (publicada em maio de 1958), que
obteve, em 1957, o prêmio de Teatro do Instituto Nacional do Livro, o prêmio
Paula Brito e o prêmio Roberto Gomes para a melhor peça dramática (concedido
pela Secretaria de Educação do Rio de Janeiro). Foi levada à cena pelo Teatro
nacional de Comédia no Teatro Serrador, do Rio, com Glauce Rocha, Sebastião
Vasconcelos e Jaime Costa nos principais papéis.
Em Julho de
1958, publicou, dez anos após seu primeiro livro de crônicas, novo volume
intitulado 100 crônicas escolhidas, obra que reúne as melhores páginas no gênero
escritas até então pela Autora. E em 1967, reapareceu na crônica, em livro, com
o volume O caçador de tatu, constituído de cinquenta e oito crônicas
selecionadas e prefaciadas pelo escritor Herman Lima. Em 1964, havia editado O brasileiro perplexo; em 1976, publicou
As menininhas e outras crônicas, e,
em 1980, O jogador de sinuca e mais
historinhas (estes três livros integram hoje o volume Mapinguari). Em 1973, foi
lançada a Seleta de R. Q., organizada
por Paulo Ronai e anotada pelo prof. Renato Cordeiro Gomes.
Em novembro
de 1960, para festejar o cinquentenário de. Rachel de Queiroz, editamos toda a
sua obra de ficção sob o título de Quatro
romances (O Quinze, João Miguel,
Caminho de pedras e As três Marias),
ocasião em que, associando-se à homenagem que então prestávamos à amiga
fraternal desta Casa e escritora ilustre, o grande bardo Manuel Bandeira compôs
o admirável "Louvado para Rachel de Queiroz", que reproduzimos nesta
edição.
Mas Rachel
de Queiroz, além de se dedicar ao romance, às crônica e ao teatro, tem sido
também uma das nossas mais ativas e seguras tradutoras, já tendo transposto
para a nossa língua cerca de quarenta obras, num total de aproximadamente treze
mil páginas. Entre essas traduções, contam-se: de Dostoiévski, Recordações da casa dos mortos, Os demônios,
Os irmãos Karamazov; de Cronin, O
castelo do homem sem alma; de Samuel Butler, Destino da carne; de Tolstoi, Memórias;
de John Galsworthy, A crônica dos Forsyte
(3 uols.); de Santa Teresa de Jesus, Memórias;
de Elizabeth Gaskell, Granford; de
Emily Brontë, O morro dos ventos uivantes;
de Charles Chaplin, A história de minha
vida (co-tradutora).
A literatura
Infanto-juvenil foi outro gênero que interessou a Rachel de Queiroz: ela
estreou com O menino mágico (prêmio
Jabuti da Câmara Brasileira do Livro, 1971), ilustrado por Gian Calvi. Em 1986,
publicou Cafute e Pena-de-Prata, ilustrado por Ziraldo.
Como
experiência diplomática, devemos lembrar sua participação na 21ª sessão da
Assembleia Geral da ONU, em 1966, onde serviu como delegada do Brasil,
trabalhando especialmente na Comissão dos Direitos do Homem.
Fez parte do
Conselho Federal de Cultura. É cidadã carioca, conforme título que lhe foi
outorgado pela Assembleia Legislativa do então Estado da Guanabara em 20 de
novembro de 1970, por iniciativa da deputada Lígia Maria Lessa Bastos.
Em 1970, o
diretor-geral da Biblioteca Nacional, Adonias Filho, promoveu a Exposição
Rachel de Queiroz, comemorativa do quadragésimo aniversário de O Quinze.
Primeira
escritora a integrar a Academia Brasileira de Letras, Rachel de Queiroz foi
eleita em 4 de agosto de 1977, tomando posse em 4 de novembro do mesmo ano.
Saudou-a Adonias Filho.
Ma noite de
17 de setembro de 1984, fez na Academia o discurso de recepção ao novo imortal
Arnaldo Niskier, que se empossava na Cadeira n.° 18, na vaga do saudoso e
ilustre escritor Peregrino Júnior.
Rio de Janeiro, novembro de 1990.
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Fonte:
O Quinze, por: Rachel de Queiroz. José Olympio Editora, 45ª Edição. Rio de Janeiro, 1991, págs. 12-15.
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