terça-feira, 5 de julho de 2016

Biografia de Rachel de Queiroz

Rachel de Queiroz: dados biobibliográficos da autora
Descendendo lado materno da estirpe dos Alencar, parente portanto do autor ilustre de O Guarani, e pelo lado paterno dos Queiroz, família de raízes profundamente lançadas no Quixadá e em Beberibe, nasceu Rachel de Queiroz em Fortaleza, Ceará, a 17 de novembro de 1910, no antigo 86 da Rua Senador Pompeu, filha de Daniel de Queiroz e d. Clotilde Franklin de Queiroz. Em 1917, em companhia dos pais, veio para o Rio de Janeiro, procurando a família, nessa migração, esquecer os horrores da terrível seca de 1915, que mais tarde a romancista iria aproveitar como tema de O Quinze. No Rio, a família Queiroz pouco se demorou, viajando logo a seguir para Belém do Pará, onde residiu por dois anos. Em 1919, voltou a Fortaleza, matriculando-se Rachel de Queiroz, em 1921, no Colégio da Imaculada Conceição, dirigido por irmãs de caridade, onde fez o curso normal, diplomando-se em 1925, aos quinze anos de idade.
Em 1927, atraída pelo Jornalismo, principiou a colaborar no Jornal O Ceará, de que se tornou afinal redatora efetiva. Em agosto de 1950, estreou Rachel de Queiroz com o romance O Quinze, com inesperada e funda repercussão no Rio e em São Paulo. Aos vinte anos de idade apenas, uma quase desconhecida escritora provinciana, projetou-se na vida literária do pais agitando a bandeira do romance de fundo social, profundamente realista na sua dramática exposição da luta secular de um povo contra a miséria e a seca. Aparecendo quase dois anos após a publicação de A bagaceira (1928) — romance que "abriu nova fase na história literária no Brasil", segundo a observação de Otto Maria Carpeaux —, O Quinze antecipou-se ao fecundo e importante ciclo do romance nordestino: "o grande êxito do livro firmou o novo gênero", como nota ainda o eminente critico. *
O livro apareceu em modesta edição de mil exemplares, impressa no Estabelecimento Gráfico Urânia, de Fortaleza. A exemplo de José Lins do Rego com Menino de engenho (1932), e de Carlos Drummond de Andrade com Alguma poesia, este último também estreante em 1930, Rachel de Queiroz publicou o primeiro livro em edição própria, custeada pelo pai (embora sem usar, como o poeta mineiro, a camuflagem de uma hipotética editora de nome estranho — Edições Pindorama —, invenção do escritor Eduardo Frieiro para prestigiar o lançamento de dois ou três poetas em Belo Horizonte).
Recebida com entusiasmo pela critica, a estreia de Rachel de Queiroz mereceu de imediato a atenção geral, destacando-se Augusto Frederico Schmidt, o primeiro, no Rio, a escrever sobre ela (artigo reproduzido mais adiante). Graça Aranha manifestou logo a sua admiração pela estreante. Agripino Grieco e Gastão Gruls foram também dos que logo se manifestaram com entusiasmo sobre a escritora, escrevendo artigos no Boletim de Ariel. Todas as opiniões favoráveis foram ratificadas com a outorga do prêmio da Fundação Graça Aranha, que lhe foi concedido em 1931, ano de sua primeira distribuição oficial, tia mesma ocasião, além de Rachel de Queiroz, obtiveram aquele prêmio Murilo Mendes, pelo seu livro Poemas, e Cícero Dias, pela sua pintura.
Depois da sua estreia sensacional, reapareceu com outro romance, João Miguel, publicado em 1932, seguindo-se um intervalo de cinco anos na atividade literária da Autora. Retornando à ficção em 1937, publicou Caminho de pedras, seguido (1939) de As três Marias (prêmio da Sociedade Felipe d'Oliveira), e trinta e seis anos depois apareceu seu quinto romance, Dora, Doralina, cuja 1ª edição (1975) saiu sob a chancela José Olympio/INL. Em 1950, escreveu o romance O galo de ouro, divulgado em folhetins pela revista O Cruzeiro e publicado em livro em 1986.
Recebeu dois grandes prêmios por conjunto de obra: em 1957, o da Academia Brasileira de Letras e, em 1985, o prêmio Brasília de Literatura.
Residindo no Rio há longos anos, a principio refugiada no sossego marítimo-bucólico da Ilha do Governador, e depois no bairro do Leblon (atualmente passa parte do ano no Rio e parte em suas terras do Ceará, na fazenda Mão me Deixes), Rachel de Queiroz dedicou-se principalmente ao Jornalismo, tendo colaborado durante muito tempo no Diário de Notícias e, posteriormente, na revista O Cruzeiro (de que foi cronista exclusiva), em O Jornal, na Última Hora e no Jornal do Comércio. De sua assídua e prolongada colaboração Jornalística nasceu seu primeiro livro de crônicas, A donzela e a moura torta, aparecido em 1948, seguindo-se novo Intervalo literário até 1955, quando a escritora reapareceu abordando novo gênero — o teatro — e publicou o primeiro drama. Lampião, baseado na vida do lendário cangaceiro do Mordeste. A peça foi representada no Rio no Teatro Municipal, e em São Paulo no Teatro Leopoldo Fróes, na capital bandeirante, onde foi conferido a Rachel de Queiroz o prêmio Saci como autor da melhor peça do ano. Viveu em São Paulo o papel de Lampião o artista Sérgio Cardoso e, no Rio, Elísio de Albuquerque. Em 1957, recebeu o prêmio-consagração da Academia Brasileira de Letras, relativo a conjunto de obra: o prêmio Machado de Assis.
Em 1956-57, escreveu nova peça, A beata Maria do Egito (publicada em maio de 1958), que obteve, em 1957, o prêmio de Teatro do Instituto Nacional do Livro, o prêmio Paula Brito e o prêmio Roberto Gomes para a melhor peça dramática (concedido pela Secretaria de Educação do Rio de Janeiro). Foi levada à cena pelo Teatro nacional de Comédia no Teatro Serrador, do Rio, com Glauce Rocha, Sebastião Vasconcelos e Jaime Costa nos principais papéis.
Em Julho de 1958, publicou, dez anos após seu primeiro livro de crônicas, novo volume intitulado 100 crônicas escolhidas, obra que reúne as melhores páginas no gênero escritas até então pela Autora. E em 1967, reapareceu na crônica, em livro, com o volume O caçador de tatu, constituído de cinquenta e oito crônicas selecionadas e prefaciadas pelo escritor Herman Lima. Em 1964, havia editado O brasileiro perplexo; em 1976, publicou As menininhas e outras crônicas, e, em 1980, O jogador de sinuca e mais historinhas (estes três livros integram hoje o volume Mapinguari). Em 1973, foi lançada a Seleta de R. Q., organizada por Paulo Ronai e anotada pelo prof. Renato Cordeiro Gomes.
Em novembro de 1960, para festejar o cinquentenário de. Rachel de Queiroz, editamos toda a sua obra de ficção sob o título de Quatro romances (O Quinze, João Miguel, Caminho de pedras e As três Marias), ocasião em que, associando-se à homenagem que então prestávamos à amiga fraternal desta Casa e escritora ilustre, o grande bardo Manuel Bandeira compôs o admirável "Louvado para Rachel de Queiroz", que reproduzimos nesta edição.
Mas Rachel de Queiroz, além de se dedicar ao romance, às crônica e ao teatro, tem sido também uma das nossas mais ativas e seguras tradutoras, já tendo transposto para a nossa língua cerca de quarenta obras, num total de aproximadamente treze mil páginas. Entre essas traduções, contam-se: de Dostoiévski, Recordações da casa dos mortos, Os demônios, Os irmãos Karamazov; de Cronin, O castelo do homem sem alma; de Samuel Butler, Destino da carne; de Tolstoi, Memórias; de John Galsworthy, A crônica dos Forsyte (3 uols.); de Santa Teresa de Jesus, Memórias; de Elizabeth Gaskell, Granford; de Emily Brontë, O morro dos ventos uivantes; de Charles Chaplin, A história de minha vida (co-tradutora).
A literatura Infanto-juvenil foi outro gênero que interessou a Rachel de Queiroz: ela estreou com O menino mágico (prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro, 1971), ilustrado por Gian Calvi. Em 1986, publicou Cafute e Pena-de-Prata, ilustrado por Ziraldo.
Como experiência diplomática, devemos lembrar sua participação na 21ª sessão da Assembleia Geral da ONU, em 1966, onde serviu como delegada do Brasil, trabalhando especialmente na Comissão dos Direitos do Homem.
Fez parte do Conselho Federal de Cultura. É cidadã carioca, conforme título que lhe foi outorgado pela Assembleia Legislativa do então Estado da Guanabara em 20 de novembro de 1970, por iniciativa da deputada Lígia Maria Lessa Bastos.
Em 1970, o diretor-geral da Biblioteca Nacional, Adonias Filho, promoveu a Exposição Rachel de Queiroz, comemorativa do quadragésimo aniversário de O Quinze.
Primeira escritora a integrar a Academia Brasileira de Letras, Rachel de Queiroz foi eleita em 4 de agosto de 1977, tomando posse em 4 de novembro do mesmo ano. Saudou-a Adonias Filho.
Ma noite de 17 de setembro de 1984, fez na Academia o discurso de recepção ao novo imortal Arnaldo Niskier, que se empossava na Cadeira n.° 18, na vaga do saudoso e ilustre escritor Peregrino Júnior.
Rio de Janeiro, novembro de 1990.



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Fonte:
O Quinze, por: Rachel de Queiroz. José Olympio Editora, 45ª Edição. Rio de Janeiro, 1991, págs. 12-15.

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