Linguagem
Em sentido
amplo, pode-se entender por linguagem qualquer processo de comunicação:
a) A mímica,
usada pelos surdos-mudos e pelos estrangeiros que não sabem a língua de um
país.
b) O
semáforo, sistema de sinais com que se dão avisos aos navios e aviões que se
aproximam das costas ou dos aeroportos.
c) A
transmissão de mensagens por meio de bandeiras ou espelhos ao sol, empregado
por marujos, escoteiros, etc.
Para a
linguística, porém, só apresenta interesse aquele tipo de linguagem que se
exterioriza pela palavra humana, fruto de uma atividade mental superior e
criadora.
Há dois
tipos de expressão linguística: a falada e a escrita.
Na
comunicação escrita, os sons da fala (que, em essência, constituem a linguagem
dos homens) passam a ser apenas evocados mentalmente por meio de símbolos
gráficos; a rigor, ela não se apresenta senão como um imperfeito sucedâneo da
fala. Esta é que abrange "a revelação do eu em sua totalidade, pressupondo,
além da significação dos vocábulos e das frases, o timbre da voz, a entoação,
os elementos subsidiários do gesto e ao jogo fisionômico.
Por isso,
para bem se compreender a natureza e o funcionamento da linguagem, é preciso
partir da fala para se examinar em seguida a escrita, a qual se entenderá,
assim, como uma espécie de linguagem mutilada, cuja eficácia estará na
dependência da maior ou menor habilidade com que conseguirmos obviar à falta
inevitável dos elementos expressivos auxiliares.
Língua e Estilo
A Língua é
um sistema: um conjunto organizado e opositivo de relações, adotado por
determinada sociedade para permitir o exercício da linguagem entre os homens.
Fato social
por excelência, é aquele acervo de sons, estruturas vocabulares e processos
sintáticos que a sociedade põe à disposição dos membros de uma comunidade
linguística.
Do
equilíbrio de duas tendências resulta sua estabilidade pelos tempos fora: de um
lado, a diferenciação, força natural, espontânea, desagregadora; de outro, a
unificação, força coercitiva, disciplinante, conservadora.
Ao
assenhorear-se dos recursos da língua, cada indivíduo, culto ou ignorante, a
executa à sua maneira, de acordo com a sua feição, com o seu temperamento: um é
aparatoso, verbalista, ama a riqueza das imagens, a veemência das antíteses, a
audácia dos adjetivos extravagantes; outro é sóbrio, cheio de delicadeza e
pudor, prefere o desataviado da expressão direta, a singeleza de um vocabulário
comum.
A
contribuição pessoal do indivíduo, manifestada na seleção, por ele feita, dos
recursos que a língua subministra, é o que se chama, em sentido lato — ESTILO,
que Sêneca já havia definido como "o espelho da alma".
Sem embargo
de se prestar à floração de mil estilos individuais, a língua não se desfigura:
seu sistema permanece uno e íntegro. É a variedade na unidade — a preservação
histórica do seu gênio, da sua índole, à qual se hão de adaptar todas as
particularizações.
Língua-comum e suas diferenciações
A este
instrumento de comunicação geral, aceito por todos os componentes de uma
coletividade para assegurar a compreensão da fala, denomina-se LÍNGUA-COMUM, ou
coiné.
Mas, dentro
da ampla coesão da língua, cabem vários aspectos, que se influem mutuamente,
determinados não só pela situação cultural, ou psicológica, dos que usam dela,
senão também pela ação de fatores geográficos, ou sociais.
Dialeto e língua especial
Os aspectos
regionais de uma língua, que apresentam entre si coincidência de traços
linguísticos fundamentais, constituem os DIALETOS.
Paralelamente
a eles, sublinhem-se os aspectos grupais, nascidos por imposição da
solidariedade que congrega os indivíduos da mesma esfera social, enlaçados por
interesses comuns, ou pelas exigências da mesma profissão; eis as LÍNGUAS ESPECIAIS.
Aqui, é
necessário distinguir três modalidades: calão, gíria e língua profissional.
Calão, gíria e língua profissional
CALÃO é a
língua especial das classes que vivem à margem da sociedade, de caráter
acentuadamente esotérico, artificialmente 'fabricada ' — diz Dauzat — para se
poderem compreender entre si os indivíduos de certo grupo, sem serem entendidos
pelos não-iniciados.
Inspirada na
dissimulação dos malfeitores, cria um conjunto de convenções que a estremam da
língua-comum a que pertence, posto que nesta se desenvolva e emaranhe.
Estão neste
caso o argot dos franceses; a germanía dos espanhóis; o furbesco dos italianos;
o cant dos ingleses; o slang dos americanos; o Rotwelsch dos alemães; o dieventael
dos holandeses; o afinskoe dos russos, etc.
Para o
linguista, pois, calão é a língua especial dos delinquentes portugueses e
brasileiros. Como a fala das mais baixas camadas sociais, por exprimir a vida
desses grupos, é naturalmente disfêmica, a palavra adquiriu a acepção vulgar de
uso de termos chulos, gravosos, pouco limpos.
GÍRIA é a
língua especial de uma profissão ou oficio, de um grupo socialmente organizado,
quando implica, por sua vez, educação idiomática deficiente.
A gíria
atinge a fraseologia e, especialmente, o vocabulário, já pela criação de
palavras, já por se atribuírem novos valores semânticos às existentes.
Frequentemente, a serviço da expressividade, ela se insinua na linguagem
familiar de todas as camadas sociais.
As gírias
dos grupos sociais de cultura elevada dá-se o nome de LÍNGUAS PROFISSIONAIS ou
TÉCNICAS. Em diferentes graus, têm sua linguagem mais ou menos especializada os
médicos, os engenheiros, os filósofos, os diplomatas, os economistas, etc.
Gramática Normativa: seu conceito e divisões
E uma
disciplina, didática por excelência, que tem por finalidade codificar o 'uso
idiomático', dele induzindo, por classificação e sistematização, as normas que,
em determinada época, representam o ideal da expressão correia.
"Sou
formas correctas de decir aquellas aceptadas y usadas por los grupos más cultos
de Ia sociedad. Corrección quiere decir aqui prestigio social de cultura."
Fundamentam-se
as regras da gramática normativa nas obras dos grandes escritores, em cuja
linguagem as classes ilustradas põem o seu ideal de perfeição, porque nela é
que se espelha o que o uso idiomático estabilizou e consagrou.
Refiro-me,
decerto, àqueles escritores de linguagem corrente, estilizada dentro dos
padrões da norma culta. Excetuam-se, pois, os regionalistas acentuadamente
típicos, assim como os experimentalistas de todos os matizes —, por admiráveis
que possam ser uns e outros. Estes últimos apreciam-se no âmbito da estética
literária, mas não se prestam a abonar fatos da língua-comum.
Quanto a
Ortografia, está fixada pelo Pequeno vocabulário ortográfico da língua
portuguesa, publicado, em 1943, pela Academia Brasileira de Letras, com as
alterações que lhe introduziu, no capítulo da acentuação gráfica, a lei n.°
5.765, de 20-12-1971. Em 1981, a Academia Brasileira de Letras publicou a 2ª
edição dessa obra, com o título de Vocabulário ortográfico da língua
portuguesa, no qual se amplia consideravelmente o universo vocabular do idioma
e se retificam lapsos da obra anterior, já aliás, apontados, na maioria, pelo acadêmico
Aurélio Buarque de Holanda Ferreira.
Compreende a
gramática três partes: fonética e fonologia; morfologia; e sintaxe.
FONÉTICA e
FONOLOGIA: estudo dos fonemas e sua combinação, e dos caracteres prosódicos da
fala, como o acento e a entoação.
MORFOLOGIA:
estudo das formas, sua estrutura e classificação. SINTAXE: estudo da construção
da frase.
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Fonte:
Gramática Normativa da Língua Portuguesa, por: Rocha Lima. José Olympio Editora, 35ª Edição. Rio de Janeiro, 1998, págs. 4-8.
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