terça-feira, 21 de junho de 2016

Linguagem
Em sentido amplo, pode-se entender por linguagem qualquer processo de comunicação:
a) A mímica, usada pelos surdos-mudos e pelos estrangeiros que não sabem a língua de um país.
b) O semáforo, sistema de sinais com que se dão avisos aos navios e aviões que se aproximam das costas ou dos aeroportos.
c) A transmissão de mensagens por meio de bandeiras ou espelhos ao sol, empregado por marujos, escoteiros, etc.
Para a linguística, porém, só apresenta interesse aquele tipo de linguagem que se exterioriza pela palavra humana, fruto de uma atividade mental superior e criadora.
Há dois tipos de expressão linguística: a falada e a escrita.
Na comunicação escrita, os sons da fala (que, em essência, constituem a linguagem dos homens) passam a ser apenas evocados mentalmente por meio de símbolos gráficos; a rigor, ela não se apresenta senão como um imperfeito sucedâneo da fala. Esta é que abrange "a revelação do eu em sua totalidade, pressupondo, além da significação dos vocábulos e das frases, o timbre da voz, a entoação, os elementos subsidiários do gesto e ao jogo fisionômico.
Por isso, para bem se compreender a natureza e o funcionamento da linguagem, é preciso partir da fala para se examinar em seguida a escrita, a qual se entenderá, assim, como uma espécie de linguagem mutilada, cuja eficácia estará na dependência da maior ou menor habilidade com que conseguirmos obviar à falta inevitável dos elementos expressivos auxiliares.

Língua e Estilo
A Língua é um sistema: um conjunto organizado e opositivo de relações, adotado por determinada sociedade para permitir o exercício da linguagem entre os homens.
Fato social por excelência, é aquele acervo de sons, estruturas vocabulares e processos sintáticos que a sociedade põe à disposição dos membros de uma comunidade linguística.
Do equilíbrio de duas tendências resulta sua estabilidade pelos tempos fora: de um lado, a diferenciação, força natural, espontânea, desagregadora; de outro, a unificação, força coercitiva, disciplinante, conservadora.
Ao assenhorear-se dos recursos da língua, cada indivíduo, culto ou ignorante, a executa à sua maneira, de acordo com a sua feição, com o seu temperamento: um é aparatoso, verbalista, ama a riqueza das imagens, a veemência das antíteses, a audácia dos adjetivos extravagantes; outro é sóbrio, cheio de delicadeza e pudor, prefere o desataviado da expressão direta, a singeleza de um vocabulário comum.
A contribuição pessoal do indivíduo, manifestada na seleção, por ele feita, dos recursos que a língua subministra, é o que se chama, em sentido lato — ESTILO, que Sêneca já havia definido como "o espelho da alma".
Sem embargo de se prestar à floração de mil estilos individuais, a língua não se desfigura: seu sistema permanece uno e íntegro. É a variedade na unidade — a preservação histórica do seu gênio, da sua índole, à qual se hão de adaptar todas as particularizações.

Língua-comum e suas diferenciações
A este instrumento de comunicação geral, aceito por todos os componentes de uma coletividade para assegurar a compreensão da fala, denomina-se LÍNGUA-COMUM, ou coiné.
Mas, dentro da ampla coesão da língua, cabem vários aspectos, que se influem mutuamente, determinados não só pela situação cultural, ou psicológica, dos que usam dela, senão também pela ação de fatores geográficos, ou sociais.

Dialeto e língua especial
Os aspectos regionais de uma língua, que apresentam entre si coincidência de traços linguísticos fundamentais, constituem os DIALETOS.
Paralelamente a eles, sublinhem-se os aspectos grupais, nascidos por imposição da solidariedade que congrega os indivíduos da mesma esfera social, enlaçados por interesses comuns, ou pelas exigências da mesma profissão; eis as LÍNGUAS ESPECIAIS.
Aqui, é necessário distinguir três modalidades: calão, gíria e língua profissional.

Calão, gíria e língua profissional
CALÃO é a língua especial das classes que vivem à margem da sociedade, de caráter acentuadamente esotérico, artificialmente 'fabricada ' — diz Dauzat — para se poderem compreender entre si os indivíduos de certo grupo, sem serem entendidos pelos não-iniciados.
Inspirada na dissimulação dos malfeitores, cria um conjunto de convenções que a estremam da língua-comum a que pertence, posto que nesta se desenvolva e emaranhe.
Estão neste caso o argot dos franceses; a germanía dos espanhóis; o furbesco dos italianos; o cant dos ingleses; o slang dos americanos; o Rotwelsch dos alemães; o dieventael dos holandeses; o afinskoe dos russos, etc.
Para o linguista, pois, calão é a língua especial dos delinquentes portugueses e brasileiros. Como a fala das mais baixas camadas sociais, por exprimir a vida desses grupos, é naturalmente disfêmica, a palavra adquiriu a acepção vulgar de uso de termos chulos, gravosos, pouco limpos.
GÍRIA é a língua especial de uma profissão ou oficio, de um grupo socialmente organizado, quando implica, por sua vez, educação idiomática deficiente.
A gíria atinge a fraseologia e, especialmente, o vocabulário, já pela criação de palavras, já por se atribuírem novos valores semânticos às existentes. Frequentemente, a serviço da expressividade, ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociais.
As gírias dos grupos sociais de cultura elevada dá-se o nome de LÍNGUAS PROFISSIONAIS ou TÉCNICAS. Em diferentes graus, têm sua linguagem mais ou menos especializada os médicos, os engenheiros, os filósofos, os diplomatas, os economistas, etc.

Gramática Normativa: seu conceito e divisões
E uma disciplina, didática por excelência, que tem por finalidade codificar o 'uso idiomático', dele induzindo, por classificação e sistematização, as normas que, em determinada época, representam o ideal da expressão correia.
"Sou formas correctas de decir aquellas aceptadas y usadas por los grupos más cultos de Ia sociedad. Corrección quiere decir aqui prestigio social de cultura."
Fundamentam-se as regras da gramática normativa nas obras dos grandes escritores, em cuja linguagem as classes ilustradas põem o seu ideal de perfeição, porque nela é que se espelha o que o uso idiomático estabilizou e consagrou.
Refiro-me, decerto, àqueles escritores de linguagem corrente, estilizada dentro dos padrões da norma culta. Excetuam-se, pois, os regionalistas acentuadamente típicos, assim como os experimentalistas de todos os matizes —, por admiráveis que possam ser uns e outros. Estes últimos apreciam-se no âmbito da estética literária, mas não se prestam a abonar fatos da língua-comum.
Quanto a Ortografia, está fixada pelo Pequeno vocabulário ortográfico da língua portuguesa, publicado, em 1943, pela Academia Brasileira de Letras, com as alterações que lhe introduziu, no capítulo da acentuação gráfica, a lei n.° 5.765, de 20-12-1971. Em 1981, a Academia Brasileira de Letras publicou a 2ª edição dessa obra, com o título de Vocabulário ortográfico da língua portuguesa, no qual se amplia consideravelmente o universo vocabular do idioma e se retificam lapsos da obra anterior, já aliás, apontados, na maioria, pelo acadêmico Aurélio Buarque de Holanda Ferreira.
Compreende a gramática três partes: fonética e fonologia; morfologia; e sintaxe.
FONÉTICA e FONOLOGIA: estudo dos fonemas e sua combinação, e dos caracteres prosódicos da fala, como o acento e a entoação.
MORFOLOGIA: estudo das formas, sua estrutura e classificação. SINTAXE: estudo da construção da frase.


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Fonte:
Gramática Normativa da Língua Portuguesa, por: Rocha Lima. José Olympio Editora, 35ª Edição. Rio de Janeiro, 1998, págs. 4-8.

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