Argentina: o Peronismo (1945-1955)
Até 1930, a
industrialização argentina esteve subordinada ao setor agroexportador. De 1930
a 1960, como ocorreu também no Brasil, na Argentina alterou-se o padrão de
desenvolvimento econômico, com a política de industrialização voltada para a
substituição das importações, portanto, para o mercado interno.
É nesse
quadro que aparece o político argentino de influência mais duradoura na
Argentina contemporânea: Juan Domingo Perón.
Admirador do
fascismo italiano de Mussolini, Perón era o líder de uma organização militar
denominada Grupo de Oficiais Unidos. No regime militar implantado pelo golpe
militar de 1943, que derrubou o presidente Castillo, Perón ocupou a Secretaria
do Trabalho e da Previdência e fez aprovar uma série de leis trabalhistas, como
jornada de oito horas de trabalho, salário mínimo, previdência social e apoiou
a formação e atuação dos sindicatos, inclusive pressionando empresários
relutantes a atenderem às reivindicações dos trabalhadores.
Ora, o
objetivo de Perón era o apoio dos trabalhadores, tanto da cidade como do campo.
Do seu crescimento dependia o êxito do programa paternalista do governo, isto
é, eram necessários trabalhadores sem experiência política e sindical, sem
ideologia própria e sem liderança.
As medidas
populares foram acompanhadas de leis que auxiliavam os empregados, como a ajuda
do Estado às atividades industriais e comerciais. A política assistencialista
de Perón era justificada junto aos empresários como garantia do controle das
massas para manter a paz e a ordem.
Em outubro
de 1945, grupos militares ligados aos setores dominantes (oligarquia)
conseguiram destituí-lo da Secretaria e aprisioná-lo. Mas uma mobilização
popular maciça (cem mil participantes) liderada por sua mulher, Eva Perón,
libertou-o e o reconduziu ao posto. Cinco meses depois foi eleito presidente,
com uma votação esmagadora.
Em seu
governo, a organização sindical estendeu-se para os trabalhadores de todas as
indústrias, o mesmo acontecendo com os benefícios previdenciários. A educação
gratuita foi oferecida a todos e casas populares foram construídas e efetivamente
entregues. Enfim, a maioria dos direitos trabalhistas que hoje se tornou
corriqueira foi estabelecida.
A ampliação
de sua base política se efetivou com a introdução do voto feminino. A partir de
1951, no seu segundo mandato, Eva Perón teve um papel fundamental junto aos
trabalhadores, em especial as mulheres. A política sindical tornou-se sua
própria esfera de poder.
Paralelamente
à legislação trabalhista, Perón nacionalizou a companhia telefônica, as
ferrovias, os bondes e serviços de gás.
A
popularidade de Perón e Evita equilibrou-se na doutrina justicialista que
procurou conciliar legislação trabalhista para os descamisados com os
interesses do grande capital na Argentina.
A situação
ou conjuntura econômica pós-guerra era favorável e possibilitou a Perón
incrementar a industrialização sem contrariar os interesses do poderoso setor agroexportador.
O êxito de
sua política permitiu-lhe fundar e difundir uma ideologia — o justicialismo —
que pretendia fazer de seu governo um sistema equidistante do comunismo e do
capitalismo.
Mas o êxito
era aparente. A multiplicação das funções do Estado e as nacionalizações
efetivadas não tardaram a gerar uma grave crise nas finanças públicas.
Como nos
demais países latino-americanos, as indústrias argentinas importavam
equipamentos (máquinas) do exterior, cujos preços eram muito superiores aos dos
produtos primários exportados. O resultado foi o crescente endividamento
externo. Além disso, a recuperação da Europa do pós-guerra provocou a queda dos
preços dos produtos primários, desequilibrando a balança comercial argentina.
Ora, a
popularidade de Perón estava ancorada em sua doutrina justicialista, na qual
ressaltava o nacionalismo e o anti-imperialismo. Entretanto, o crescente
endividamento da Argentina fez com que Perón passasse a depender do auxílio norte-americano
e, portanto, a efetuar importantes concessões aos seus interesses,
particularmente às suas empresas petrolíferas.
Perón
procurou encobrir a crise adotando uma postura demagógica, como a que
legalizava o divórcio e abolia a instrução religiosa nas escolas. Tais medidas
apenas provocaram a ira da Igreja Católica e multiplicaram conflitos de rua
entre peronistas e clericalistas. O gratuito clima de agitação foi propício
para que os antiperonistas desfechassem violentos ataques ao governo através da
imprensa.
Nesse clima
de grande acirramento dos ânimos, em 31 de agosto de 1955, Perón jogou a sua
cartada final, e perdeu. Naquela data, ele se decidiu finalmente a adotar uma
posição esquerdista e convocou os "descamisados" para combater os
conservadores. No início de setembro ele dirigiu um apelo para que a
Confederação Geral do Trabalho (CGT) criasse milícias operárias. Em 16 de
setembro, as Forças Armadas reagiram depondo Perón e colocando em seu lugar o
general Pedro Eugênio Aramburu, que permaneceu no poder entre 1957 e 1958.
---
Fonte:
Américas: uma introdução histórica, por: Luiz Koshiba e Denise Manzi Frayze Pereira. Atual Editora. São Paulo, 1995, 270-272.
Fonte:
Américas: uma introdução histórica, por: Luiz Koshiba e Denise Manzi Frayze Pereira. Atual Editora. São Paulo, 1995, 270-272.
Nenhum comentário:
Postar um comentário