domingo, 26 de junho de 2016

As marcas do escritor profissional

As marcas do escritor profissional
No lançamento do livro uma dama fina aproximou-se do autor e perguntou o óbvio:
— O senhor gosta de escrever?
O autor, sem levantar os olhos do livro que estava autografando, respondeu:
— Gosto de ter escrito.
Ele era um autor profissional, um escritor que encarava com realismo seu ofício. Neste capítulo veremos que há certas marcas, possivelmente menos irónicas, que caracterizam o escritor profissional. "Profissional", no caso, não se refere a alguém que ganha a vida através daquilo que escreve, porque pouquíssimos são os autores que se encaixam neste quadro privilegiado. O termo profissional refere-se apenas a um escritor maduro que age de acordo com sua experiência. Espero que você já esteja caminhando nesta direção. Para que você tenha certeza disso, vamos examinar três áreas de possibilidade de crescimento profissional na vida de um escritor.

O relacionamento do escritor consigo mesmo
O escritor profissional tem uma perpétua e santa insatisfação com sua capacidade literária. Ele sempre se sente aflito pela pobreza de seu vocabulário e procura aprender novos vocábulos semanalmente. Reescreve mais do que cria novos textos porque há muito tempo percebeu que a segunda versão é mais interessante e comunica com mais clareza do que a primeira. Ele lê, e muito, o trabalho de autores consagrados, analisando-os, comparando-os e aprendendo novas lições.
O escritor que acaba chegando lá é alguém com autodisciplina. Foi uma grande verdade o que disse Proust: "Escrever é a arte de ficar dentro do quarto". O telefone toca e você deixa tocar. Os amigos todos vão para um churrasco. Você imagina o cheiro da picanha assando e sente o gosto na boca, mas mesmo assim você pede desculpas e não vai. Resolveu ficar no quarto e praticar sua arte. Alguém está lhe mandando? Claro que não. E a autodisciplina que lhe obriga a fazer o que deve em vez daquilo que quer.
Isto significa que você nunca terá aquele bate-papo gostoso com seus amigos? Procure ter uma vida equilibrada, mas quando alguém perguntar: "Está escrevendo alguma coisa estes dias?" você não deverá responder: "Sim, tive uma ideia sensacional para um artigo!" e em seguida desenvolver para o amigo os pormenores de sua ideia. Nunca ouvi uma explicação absolutamente certa, mas todos os profissionais concordam que você prejudicará sua matéria com uma divulgação precoce. Responda ao seu amigo de forma genérica e passe logo para outro assunto. Se não, o pior pode acontecer: quem muito "fala" de seu artigo nunca chega a escrevê-lo.
Outra marca do profissional é que ele conhece suas limitações. Ao longo dos anos tenho recebido dezenas de cartas de aspirantes pedindo dicas sobre como escrever um livro. A maioria, na cegueira da sua grande inocência, não percebe que sua própria carta demonstra que não tem a mínima capacidade de redação. Aprenda a se expressar claramente em um parágrafo para depois experimentar as formas mais complexas de um artigo. Quando conseguir colecionar algumas dezenas de artigos editados de sua autoria possivelmente você poderá concluir que chegou a hora de experimentar escrever um livro.

O relacionamento do escritor para com seu editor
A nossa tendência humana é o egoísmo e o escritor não escapa disso. Portanto, ele se esforça para facilitar, da maneira mais básica, a vida do seu editor, até nas coisas mais simples. O profissional utiliza o formato correto na preparação dos seus manuscritos. Sua máquina tem uma letra bonita e clara, vive ajustada para espaço duplo e o comprimento da linha permite margens amplas. O escritor usa papel branco de boa qualidade e o verso fica em branco. Além disso, este manuscrito tão impressionante é do tamanho certo e sempre chega na hora marcada.
No seu relacionamento com o editor, o escritor sabe aceitar e aproveitar as críticas. Sabe que seu texto não é divinamente inspirado e que o editor conhece muito melhor do que ele o leitor de sua publicação. Com esta mentalidade sadia o escritor profissional terá a confiança necessária para aceitar revisões. O editor, esta pessoa mais experimentada que já fez a revisão de centenas de originais, é alguém de confiança. Certamente irá solicitar sua aprovação antes de fazer mudanças substanciais. E assim os dois profissionais aprendem a trabalhar em equipe.
Por outro lado, o escritor profissional é tão profissional que até entende e aceita as exceções — aquele momento difícil quando o editor e o escritor discordam entre si. Uma destas tragédias é quando o manuscrito volta com uma notinha (se tiver sorte) dizendo que o texto não serve no momento. O escritor profissional aproveita até a rejeição para que esta se transforme em algo construtivo. Ele pergunta: "Como posso melhorar o artigo fazendo mais uma revisão?" ou "Qual seria outro periódico que gostaria de uma matéria como esta?" Se ainda acredita no manuscrito do jeito que está, o profissional endereça um novo envelope e leva o artigo ao correio no mesmo dia.

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Fonte:
Escreva a Visão, por: Jaime McNutt. Editora Mundo Cristão. São Paulo, 1992, págs. 101-103.

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