As marcas do escritor profissional
No
lançamento do livro uma dama fina aproximou-se do autor e perguntou o óbvio:
— O senhor
gosta de escrever?
O autor, sem
levantar os olhos do livro que estava autografando, respondeu:
— Gosto de
ter escrito.
Ele era um
autor profissional, um escritor que encarava com realismo seu ofício. Neste
capítulo veremos que há certas marcas, possivelmente menos irónicas, que
caracterizam o escritor profissional. "Profissional", no caso, não se
refere a alguém que ganha a vida através daquilo que escreve, porque
pouquíssimos são os autores que se encaixam neste quadro privilegiado. O termo
profissional refere-se apenas a um escritor maduro que age de acordo com sua
experiência. Espero que você já esteja caminhando nesta direção. Para que você
tenha certeza disso, vamos examinar três áreas de possibilidade de crescimento
profissional na vida de um escritor.
O relacionamento do escritor consigo mesmo
O escritor
profissional tem uma perpétua e santa insatisfação com sua capacidade
literária. Ele sempre se sente aflito pela pobreza de seu vocabulário e procura
aprender novos vocábulos semanalmente. Reescreve mais do que cria novos textos
porque há muito tempo percebeu que a segunda versão é mais interessante e
comunica com mais clareza do que a primeira. Ele lê, e muito, o trabalho de
autores consagrados, analisando-os, comparando-os e aprendendo novas lições.
O escritor
que acaba chegando lá é alguém com autodisciplina. Foi uma grande verdade o que
disse Proust: "Escrever é a arte de ficar dentro do quarto". O
telefone toca e você deixa tocar. Os amigos todos vão para um churrasco. Você
imagina o cheiro da picanha assando e sente o gosto na boca, mas mesmo assim
você pede desculpas e não vai. Resolveu ficar no quarto e praticar sua arte.
Alguém está lhe mandando? Claro que não. E a autodisciplina que lhe obriga a
fazer o que deve em vez daquilo que quer.
Isto
significa que você nunca terá aquele bate-papo gostoso com seus amigos? Procure
ter uma vida equilibrada, mas quando alguém perguntar: "Está escrevendo
alguma coisa estes dias?" você não deverá responder: "Sim, tive uma
ideia sensacional para um artigo!" e em seguida desenvolver para o amigo
os pormenores de sua ideia. Nunca ouvi uma explicação absolutamente certa, mas
todos os profissionais concordam que você prejudicará sua matéria com uma
divulgação precoce. Responda ao seu amigo de forma genérica e passe logo para
outro assunto. Se não, o pior pode acontecer: quem muito "fala" de
seu artigo nunca chega a escrevê-lo.
Outra marca
do profissional é que ele conhece suas limitações. Ao longo dos anos tenho
recebido dezenas de cartas de aspirantes pedindo dicas sobre como escrever um
livro. A maioria, na cegueira da sua grande inocência, não percebe que sua
própria carta demonstra que não tem a mínima capacidade de redação. Aprenda a
se expressar claramente em um parágrafo para depois experimentar as formas mais
complexas de um artigo. Quando conseguir colecionar algumas dezenas de artigos
editados de sua autoria possivelmente você poderá concluir que chegou a hora de
experimentar escrever um livro.
O relacionamento do escritor para com seu editor
A nossa
tendência humana é o egoísmo e o escritor não escapa disso. Portanto, ele se
esforça para facilitar, da maneira mais básica, a vida do seu editor, até nas
coisas mais simples. O profissional utiliza o formato correto na preparação dos
seus manuscritos. Sua máquina tem uma letra bonita e clara, vive ajustada para
espaço duplo e o comprimento da linha permite margens amplas. O escritor usa
papel branco de boa qualidade e o verso fica em branco. Além disso, este
manuscrito tão impressionante é do tamanho certo e sempre chega na hora
marcada.
No seu
relacionamento com o editor, o escritor sabe aceitar e aproveitar as críticas.
Sabe que seu texto não é divinamente inspirado e que o editor conhece muito
melhor do que ele o leitor de sua publicação. Com esta mentalidade sadia o
escritor profissional terá a confiança necessária para aceitar revisões. O
editor, esta pessoa mais experimentada que já fez a revisão de centenas de
originais, é alguém de confiança. Certamente irá solicitar sua aprovação antes
de fazer mudanças substanciais. E assim os dois profissionais aprendem a
trabalhar em equipe.
Por outro
lado, o escritor profissional é tão profissional que até entende e aceita as
exceções — aquele momento difícil quando o editor e o escritor discordam entre
si. Uma destas tragédias é quando o manuscrito volta com uma notinha (se tiver
sorte) dizendo que o texto não serve no momento. O escritor profissional
aproveita até a rejeição para que esta se transforme em algo construtivo. Ele
pergunta: "Como posso melhorar o artigo fazendo mais uma revisão?" ou
"Qual seria outro periódico que gostaria de uma matéria como esta?"
Se ainda acredita no manuscrito do jeito que está, o profissional endereça um
novo envelope e leva o artigo ao correio no mesmo dia.
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Fonte:
Escreva a Visão, por: Jaime McNutt. Editora Mundo Cristão. São Paulo, 1992, págs. 101-103.
Fonte:
Escreva a Visão, por: Jaime McNutt. Editora Mundo Cristão. São Paulo, 1992, págs. 101-103.
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