Barroco no Brasil
1. A situação do Brasil-Colônia
Não era nada
boa a situação do Brasil-Colônia ao longo do século XVII: os portugueses não
demonstravam amor à terra e exerciam uma exploração predatória; os jesuítas
cuidavam da educação e dominavam a mentalidade; a imprensa estava proibida e
grandes latifundiários mantinham as rédeas do poder. A atividade agrícola mais
importante era o cultivo de cana-de-açúcar e nada se podia fabricar aqui; os
portugueses mantinham o monopólio do comércio, e os jesuítas mantinham o
monopólio da cultura.
Como explica
Amauri Sanches no livro Panorama da
literatura no Brasil, "o ambiente de que o Brasil se pôde dotar — cujo
centro administrativo era a Bahia — não propiciava o florescimento da arte. Sem
um processo orgânico de cultura não haveria campo para a atividade literária e
sistemática. O que se fez durante a época em que o Barroco predominou como
estilo acabou tendo caráter quase eventual: foi produzido um conjunto de textos
decorrentes do fato de portugueses e brasileiros sensíveis para a literatura
terem iniciado ou continuado obra literária resultante de formação cultural que
traziam da metrópole (os brasileiros abastados concluíam os estudos em
Portugal). Mas vale lembrar que nossos autores — Gregório de Matos, Botelho de
Oliveira, Padre António Vieira — escreveram aqui, e isso acabou por determinar
certa especificidade em sua obra; são textos que lembram.o fato de terem sido
muitas vezes inspirados pela realidade singular da Colônia".
2. Autores e obras
1. Bento Teixeira Pinto (Porto, Portugal,
1561? — Lisboa, Portugal, 1600) Bento Teixeira tem sido apontado como nosso
primeiro poeta e iniciador da produção literária influenciada pelo Barroco
português. Veio para o Brasil por volta de 1567, formando-se pelo Colégio dos
Jesuítas da Bahia.
E autor da Prosopopeia, poemeto épico que revela
forte influência de Os Lusíadas, em
que louva Jorge de Albuquerque Coelho, donatário da Capitania de Pernambuco.
2. Manuel Botelho de Oliveira (Salvador,
BA, 1636 - Salvador, BA, 1711) Publicou Música
do Parnaso (1705), reunindo poemas em português, italiano, espanhol e
latim, além de duas comédias: Hay amigo
para amigo e Amor, enganos y celos.
3. Frei Manuel de Santa Maria Itaparica
(Itaparica, BA, 1704 — 1770?) Sua obra de maior interesse é a Descrição da Ilha de Itaparica (1741),
na qual faz uma apologia de sua terra natal, descrevendo minuciosamente
atividades, recursos minerais, tipos humanos e riquezas naturais.
4. Padre Antônio Vieira (Lisboa, Portugal,
1608 — Salvador, BA, 1697) Antônio Vieira veio para o Brasil aos seis anos,
permanecendo aqui a maior parte de sua vida e aqui redigindo quase toda a sua
obra.
Foi o maior
pregador do seu tempo, defensor dos negros e dos índios — sobretudo dos índios
— e dos cristãos-novos (judeus convertidos). A defesa dos cristãos-novos e sua
fidelidade ao rei D. João IV valeram-lhe o ódio da Inquisição. Após a morte do
seu protetor, D. João IV, a Inquisição processou-o por opiniões heréticas.
Durante algum tempo foi imposto a ele o internamento numa casa jesuítica e o
impedimento de pregar. Anistiado por D. Pedro, regressou ao Brasil em 1681.
Sua obra
compreende:
a) Obras de profecia: História do futuro; Esperanças
de Portugal;
b) Oratória:
Sermões (15 volumes). Dentre eles,
destacam-se: Sermão da Sexagésima
(sobre a arte de pregar); Sermão pelo
Bom Sucesso das Armas (por ocasião da invasão holandesa do Brasil, em
1640); Sermão de Santo Antônio (ou Sermão dos Peixes, em defesa do índio
escravizado).
5. Gregório de Matos Guerra (Salvador, BA,
1633 - Recife, PE, 1696) Gregório de Matos é o mais importante poeta brasileiro
do Barroco e um dos exemplos mais expressivos do comportamento da época.
Refletindo o dualismo barroco, ora demonstrava a aversão que sentia pelo clero,
ora revelava em seus poemas uma profunda devoção às coisas sagradas, ora
escrevia versos pornográficos, sensuais e eróticos.
Cursou leis
em Coimbra, época de suas leituras de Gôngora e Quevedo, poetas espanhóis dos
quais revela nítidas influências, além de Camões.
Graças à
linguagem maliciosa e ferina com que criticava pessoas e instituições da época
(não dispensando palavras de baixo-calão), recebeu o apelido de Boca do
Inferno, tendo inclusive de exilar-se por algum tempo em Angola, perseguido
pelo filho do governador António da Câmara Coutinho (vítima de suas sátiras).
Sua obra
costuma ser dividida em:
a) Poesia amorosa:
Ontem quando te vi,
meu doce emprego,
tão perdido fiquei por
ti, meu bem,
que parece, este amor
nasce, de quem
por amar-te já vive
sem sossego.
b) Poesia religiosa:
Estou, Senhor, da
vossa mão tocado,
e este toque em
flagelo desmentido
era à vossa justiça
tão devido,
quão merecido foi o
meu pecado.
c) Poesia satírica:
Ilustre, e reverendo
Frei Lourenço,
quem vos disse que um
burro tão imenso,
siso em agraz, miolos
de pateta
pode meter-se em
réstia de poeta?
A poesia lírica de Gregório de Matos ora celebra o sensualismo africano, ora o erotismo nativista, ora vincula-se à tradição renascentista. Em suas sátiras não investia apenas contra os poderosos, mas contra o ser humano que considerava inepto, corrupto e mau. Seus poemas religiosos refletem a inquietação do homem diante da divindade e a consciência da fragilidade e da pequenez dos mortais.
Não publicou
em vida nenhuma edição de sua obra, o que deixa dúvidas sobre a autenticidade
de muitos textos a ele atribuídos. Recomendamos:
• Obras completas de Gregório de Matos.
Org. James Amado. Bahia, Janaína, 1968. 7 vol.
• Poemas escolhidos. São Paulo, Cultrix,
1975. Sei., intr. e notas de José M. Wisnik.---
Fonte:
Língua, Literatura e Redação: Volume 1, por: João Domingues Maia. Editora Ática, 6ª Edição. São Paulo, 1992, págs. 194-197.
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