sexta-feira, 17 de junho de 2016

A guerra da Criméia

A guerra da Criméia
A guerra da Criméia e o Tratado de Paris. — O Império Otomano, depois do Tratado de Londres de 1841, onde fora assinada a Convenção dos Estreitos, que proibia a travessia do Bósforo e dos Dardanelos por navios de guerra europeus, não melhorou politicamente apesar de restaurado em sua antiga posição de guardião dos Estreitos. Todas as tentativas de reformas administrativas e sociais empreendidas pelo sultão Abdul-Medjid (1839-1861) haviam encontrado nítida reação na ignorância .e no fanatismo religioso da população muçulmana.
Externamente, uma forte pressão continuava sendo exercida pela Rússia junto ao sultão. Aproveitando-se da rivalidade existente entre gregos-ortodoxos e católicos pela posse da igreja do Santo Sepulcro de Jerusalém, dos santuários de Belém e outros lugares e monumentos sagrados, o czar - Nicolau despachou para Constantinopla um embaixador extraordinário, o príncipe Mentchilkof, para exigir do sultão o protetorado russo sobre todos os cristãos ortodoxos do Império Turco.
Repelida a proposta pelo governo turco, que estava apoiado secretamente pela Inglaterra e pela França, temerosas do domínio russo na Europa Ocidental, deflagrou-se então a guerra, que se desenvolveu sobretudo na península da Criméia no mar Negro.
Os russos ocuparam a Moldávia e a Valáquia, consideradas pelo czar "um simples prolongamento do Império Russo", havendo então a esquadra anglo-francesa bombardeado o porto militar de Odessa e o corpo expedicionário desembarcado para encontrar-se com as tropas russas na batalha de Alma (20 de setembro de 1858). Preparavam-se os aliados para cercar Sebastopol, importante cidade defendida por formidável sistema de fortificações, quando os russos, desejando impedir o cerco, atacaram em Balaklava, combate que ficou famoso pela carga suicida da cavalaria inglesa, e também em In-kerman.
As condições em que lutaram os aliados foram as mais duras e penosas. O cólera-morbus, o tifo e o escorbuto assolavam continuamente as fileiras inglesas e francesas, tendo nessa situação avultado a figura profundamente humana de Florence Nightingale, "a dama da lâmpada", cuja atuação junto aos hospitais mal cuidados e repletos de feridos foi "o exemplo para toda a história das enfermeiras voluntárias de guerra".
A situação dos russos tornou-se difícil, e logo depois fechava-se o  grande cerco de Sebastopol, que conseguiu resistir heroicamente durante trezentos e quarenta e nove dias. Finalmente, foi tomada a Torre de Malakof (8 de setembro de 1855) e a cidade já semidestruída pêlos bombardeios foi incendiada.
Na Rússia, já havia um novo czar. Nicolau havia morrido cheio de confiança "nos seus generais Janeiro e Fevereiro que congelariam as tropas inimigas". Mas, estes também falharam, porque chegaram tarde demais. A 30 de março assinava-se em Paris um tratado que tornava neutro o mar Negro, colocava sob controle internacional a navegação no Danúbio, ao mesmo tempo que proclamava a integridade do Império Otomano e garantia por outorga do sultão a igualdade dos direitos entro as populações cristãs e muçulmanas da Turquia. Desnecessário torna-se dizer que estas duas últimas cláusulas existiam apenas no papel e jamais foram cumpridas.


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Fonte:
"História Geral", por: A. Souto Maior. Companhia Editora Nacional. São Paulo, 1976, págs. 361-362.

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