Os comunismos que quiseram ser diferentes
Em 1955,
para completar os acordos bilaterais existentes em matéria de Defesa e como
resposta à integração da Alemanha Federal na O.T.A.N., a Albânia, a Tcheco-eslováquia,
a Bulgária, a Polônia, a Romênia, a Hungria e a U.R.S.S. assinaram o Pacto
de Varsóvia, ao qual se somaria a República Democrática Alemã. A ameaça contra
um daqueles territórios "vinculava todos os outros, doutrina que a U.R.S.S.
invocará sempre que tenha de fazer uso da intervenção.
Seria
precisamente um recém-reabilitado quem salvaria a Polônia da intervenção
soviética. As ânsias liberalizadoras dos intelectuais e de um importante setor
do partido, as. dificuldades econômicas e o baixo preço que a U.R.S.S. paga
pelo carvão polonês, a presença do marechal soviético Rokossovski à frente do
Ministério da Defesa polonês, tudo dentro do espírito da destalinização e do
exemplo de uma Jugoslávia reabilitada, fizeram com que a Polônia desencadeasse
em poucos meses um movimento cujas consequências apenas a presença de Gomulka
pôde conter, um Gomulka recém-saído do cárcere e apreciado por todos, menos pelos
últimos stalinistas, na secretaria-geral do Comitê Central do partido. No verão
de 1956 haviam eclodido violentos incidentes em Poznan. reprimidos
sangrentamente pelas forças da ordem. A partir daquele momento endureceram os
duros e liberalizaram-se os liberais. As posições eram irreconciliáveis,
inclusive dentro do partido. Gomulka, o único interlocutor válido para os
soviéticos que oferecia o país reabilitado em agosto, podia pôr em marcha o
novo curso do socialismo polonês depois de 20 de outubro. Gomulka reconheceu
que para chegar ao socialismo não havia necessidade de seguir, o caminho
empreendidos pela U.R.S.S. e que outras vias, tal como a iugoslava. podiam
ter resultados válidos, mas admoestava quem pretendesse aproveitar-se do novo
processo de democratização. O campo recuou no processo de coletivizacão nos
meses seguintes; segundo o princípio leninista da voluntariedade,
empreendeu-se, uma reforma econômica e começaram a melhorar as relações com a
Igreja. Pelo espaço de vários anos as estruturas polonesas seriam as mais
abertas entre os. países do bloco socialista.
Na Hungria,
o reformismo abriu caminho à contrarrevolução, que os tanques soviéticos
reprimiram. Um stalinista, Gero, sucedeu a outro. Rakosi, em junho de 1956. A
nova linha era representada pelo ex-primeiro-ministro Imre Nagy, até então
votado ao ostracismo. Os intelectuais húngaros seguiam com atenção o processo
polonês e reinava o descontentamento entre os trabalhadores. Em começos de
outubro, Nagy apareceu em público junto da viúva de Rajk nos funerais do seu
esposo, ex-ministro dos Assuntos Exteriores executado pelo stalinismo. Um
centrista, Kadar, foi nomeado adjunto de Gero na secretria-geral. Em 23 de
outubro, o socialismo reformista foi convocado pelos intelectuais para uma
manifestação de solidariedade com os poloneses. Registraram-se os primeiros
incidentes e proclamou-se a lei marcial. Vinte e quatro horas depois o reformista
Nagy transformou-se no primeiro-ministro e o centrista Kadar passou a ocupar a
secretaria-geral. As tropas soviéticas, que haviam penetrado em Budapeste,
retiraram-se. Simultaneamente, estavam em marcha e confundidas entre si uma revolução
reformista e uma contrarrevolução. O novo Governo era incapaz de controlar a
rua: assalto a comissariados e instalações do partido, greve geral... A partir
de 28 de outubro, a rebelião apresentava já um cariz marcadamente anticomunista.
O cardeal Mindszenty, libertado, aparecia agora à frente dos insurretos que
aspiravam ver restabelecido no país o reino de Santo Estevão. A reforma e a
reação agitavam a mesma bandeira. Nagy cedeu às imposições da rua: anunciou o
regresso ao sistema de partidos e chegou a denunciar o Patto de Varsóvia, proclamando
a neutralidade da Hungria. O que Nagy mais desejava, neste momento, era voltar
à situação de 1945, a um regime provisório. Em l de novembro, Janos Kadar
separou-se de Nagy e dirigiu um apelo a Kruschev para que as tropas soviéticas
restabelecessem a ordem. Três dias depois os tanques soviéticos entravam em Budapeste.
A ordem ficava completamente restabelecida no país. Kadar seria o homem forte
da nova situação. Nos próximos anos tentaria mitigar a dolorosa recordação de
1956, levando a cabo uma hábil política reformista não menos audaz que aquela
que Nagy (executado pelos soviéticos em 1958) pretendia em princípio
desenvolver. A partir de 1963, Kadar elevaria a lugares de responsabilidade
homens que tinham lutado contra os tanques soviéticos nas ruas de Budapeste,
recém-saídos das prisões, condenará a memória de Rakosi e de Gero e orientará o
país na senda do bem-estar material.
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Fonte:
História Mundial desde 1939 (Biblioteca Salvat de Grandes Temas), por: José Pernau. Salvat Editora, 1979, págs. 99-102.
Fonte:
História Mundial desde 1939 (Biblioteca Salvat de Grandes Temas), por: José Pernau. Salvat Editora, 1979, págs. 99-102.
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