A
Questão Christie
Essa questão
diplomática originou--se de dois incidentes quase simultâneos, que motivaram o
agravamento das tensões entre o Brasil e a Inglaterra. O relacionamento entre
eles explica-se, sobretudo, pela inabilidade intencional com que foram tratados
por Sir William Dougal Christie, representante britânico junto ao governo
imperial, na ocasião.
Naufragando
o navio inglês "Prince of Wales", em junho de 1861, nas costas do Rio
Grande do Sul, habitantes da região se apropriaram dos restos de seu
carregamento. Christie exigiu do governo brasileiro a indenização da carga
desaparecida (6.000 libras esterlinas), chegando, ainda, à infundada acusação
de massacre dos possíveis sobreviventes, cuja falsidade foi comprovada. Esse
problema estava sendo discutido, quando, em j unho de 1862, três oficiais da
marinha inglesa foram presos no Rio de Janeiro, onde, sem uniformes e em estado
de embriagues, promoviam desordens. Tendo desrespeitado a sentinela de um posto
policial, foram obrigados a passar a noite ali. O chefe da divisão inglesa
intercedeu, e os oficiais foram libertados, mas alegaram vexa-; mês morais
sofridos na prisão onde pernoitaram. O ministro britânico exigiu a punição de
várias autoridades policiais, além de um pedido oficial de desculpas. Voltou,
por outro lado, a insistir no pagamento da indenização anteriormente requerida.
Suas exigências relativas .aos dois incidentes foram seguidas de um
"ultimatum" ao governo brasileiro.
O Marquês de
Abrantes, Ministro dos Negócios Estrangeiros, sustentou a posição brasileira em
torno dos problemas criados por Christie. Como o Brasil não atendesse de pronto
às exigências formuladas, o almirante Warren, em represália, e seguindo
instruções de Christie, bloqueou o porto do Rio de Janeiro e aprisionou cinco
navios brasileiros (30/12/1862), conduzindo-os para uma possessão inglesa.
Perante tais arbitrariedades, a população carioca se levantou contra Christie e
os cidadãos britânicos. Os tumultos só cessaram pela intervenção pessoal do
Imperador, que determinou, a seguir, o pagamento de 3.200 das 6.000 libras em
questão. Como a Coroa Britânica se negasse a desculpar-se pelos problemas
criados por Christie e a afastá-lo do cargo, o império rompeu suas relações
diplomáticas com a Inglaterra,
O caso,
porém, foi submetido ao arbitramento do rei da Bélgica, Leopoldo I. O laudo
arbitral, apresentado a 18 de junho de 1863, foi, em tudo, favorável ao Brasil.
No documento, o governo brasileiro foi louvado pelos esforços empreendidos no
sentido de capturar os responsáveis pela posse das mercadorias do "Prince
of Wales" e pela ponderação com que agiu, não instruindo processo contra
os oficiais presos em 1862.
No entanto,
as relações diplomáticas interrompidas só foram reatadas depois de prolongada
ação mediadora do embaixador português em Londres, Conde do Lavradio, e após a
entrevista do enviado britânico Edward Thornton com D. Pedro II, no acampamento
de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, onde este último se encontrava
inspecionando as tropas envolvidas na Guerra do Paraguai. Thornton, nessa
oportunidade, apresentou ao Imperador desculpas do governo britânico,
aplainando as dificuldades.
Fonte:
História Geral da Civilização Brasileira, por: Paulo Miranda Gomes, Nelson de Moura e Alaíde Inah González. Lê Editra. Belo Horizonte, 1977, págs. 122-123.
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