terça-feira, 21 de junho de 2016

O medo de falar em público

O medo de falar em público
O medo de tomar a palavra em público não é algo inato, mas sim "aprendido" e, frequentemente, aprendido de maneiras muito diversas. Conheci, por exemplo, um jovem completamente traumatizado pelo pai, que ele havia visto várias vezes empalidecer ao tomar a palavra durante as reuniões de pais de alunos na escola. O adolescente havia feito seu o medo do pai, sem que jamais tivesse ele mesmo tomado a palavra em público.
Essa angústia nasce às vezes de uma experiência pessoal: é o caso de uma de minhas estudantes da faculdade, que, atormentada por uma leve gagueira, começou a gaguejar durante uma exposição em presença de seus colegas, a tal ponto que foi obrigada a parar em meio a um silêncio geral; a partir daí viu-se absolutamente incapacitada de falar durante as aulas ou em qualquer outro grupo social.
As vezes alguma circunstância banal nos força a falar diante de uma assembleia muito maior que a prevista no começo; ou então um superior hierárquico aparece subitamente, ou ainda você é obrigado a pronunciar um discurso de improviso em lugar de alguma outra pessoa e de repente vem o bloqueio. Espera-se a aprovação do público, e quando a reação é negativa você a sente como uma verdadeira sanção.
As vezes é unicamente na cabeça do orador que "tudo correu mal"... Ele faz um juízo demasiado severo de si mesmo, segundo critérios mais rigorosos que os da plateia. Condena-se por não ter sido suficientemente brilhante, decide não renovar mais a experiência.
Um defeito comum a muitos oradores é reagir injuriosamente ao menor sinal de desinteresse do público. Certos conferencistas percebem, em um público de quinhentas pessoas, justamente aquela que, na vigésima fila, está lendo um livro; um professor se ressentirá sempre, como se se tratasse de um insulto pessoal, do espetáculo de um estudante sonolento, entre seus quarenta colegas, mesmo que isso seja devido a outra razão, independentemente do interesse ou desinteresse que essa pessoa tenha pelo curso.
De qualquer forma, todas essas pessoas que terminam por recusar-se a falar em público sentem uma angústia sempre crescente, que inibe por fim inteiramente sua personalidade; a recusa a expressar-se pode com efeito prejudicar uma carreira ou contribuir para o fracasso de realizações pessoais, junto com a recusa permanente de enfrentar situações difíceis.
Pode-se chegar a controlar esse medo de falar em público através do método de relaxamento que é explicado ao final deste livro; mas creio sinceramente que, antes de começar tal aprendizado, é preciso estar perfeitamente seguro de suas motivações profundas e perguntar-se:
• se há realmente um desejo genuíno de expressar-se bem;
• se existe uma disposição verdadeira a consagrar tempo aos exercícios;
• se há capacidade de fazer desaparecer o medo no momento de tomar a palavra.

Os bloqueios criados pela emoção
Uma reação emocional "aprendida" compõe-se de quatro elementos:
• uma situação material: ter, por exemplo, que pronunciar um discurso.
• uma reação corporal: falta de ar, palpitações cardíacas.
• um comportamento observável, externo: mãos trêmulas, pernas bambas, etc.
• e finalmente um comportamento oculto, interno, que pode ser um sentimento de impotência, de derrota, que faz acreditar que não se é capaz de enfrentar a situação.
O processo é explicado no quadro abaixo, mas é muito importante lembrar que essas reações emocionais, em sua maioria, não são inatas e sim aprendidas, e que consequentemente existe a possibilidade de agirmos sobre elas e superá-las.
O mecanismo é o seguinte: temos o hábito de considerar como comportamento aquilo que é exterior e visível; por exemplo, a expressão de um rosto, um gesto, uma palavra... Mas é preciso não esquecer que todos os nossos pensamentos, todo o não dito, nossas sensações internas e nossos sentimentos fazem parte deles e contribuem para construir nossas atitudes para com as pessoas, as coisas, as ideias, as situações.
Essas atitudes, por sua vez, desencadeiam uma reação física: vertigens, palpitações ou secura na boca, garganta fechada, etc. O aparecimento de tais manifestações indica geralmente a presença do medo, e, por associação de ideias, a pessoa vai lembrar-se da situação embaraçosa que, pela ação da memória e de uma similação ao presente, vai comandar e provocar reações fisiológicas e emocionais. É assim que, diante do público, a pessoa pode de repente ser invadida por imagens negativas de fracasso, pode sentir-se desencorajada, assaltada pelo medo de esquecer-se do que deveria dizer ou pelo receio de que os ouvintes se entediem.
Um orador vítima de tais bloqueios sente-se sempre responsável por esse estado, e acredita frequentemente que ele é devido a uma incapacidade pessoal de superar situações difíceis. Contrariamente a um orador experimentado que reage de imediato a esses sinais, aquele que não tem o hábito de falar em público atribui a eles uma importância desmesurada, o que provoca a sensação de perda total de recursos de que poderia dispor; torna-se para ele impossível continuar falando de um modo normal, vivo e persuasivo. Essa tensão e essas reações extremas terminam por convencê-lo de que é incapaz de falar diante de um grupo de pessoas.
Tudo isso faz parte de um cenário clássico que pode, felizmente, ser modificado por um processo que ajude a esclarecer e a desenvolver atitudes diferentes, muito mais construtivas.
Mas como agir?

Autoanálise
A primeira coisa a fazer é analisar tudo o que constitui a nossa angústia, para descobrir logo aquilo que vamos atacar primeiro. A tarefa não é simples, quando se pensa que as reações emocionais que já integramos podem se manifestar de diversas formas.
Em nosso comportamento:
Os movimentos, as posições do nosso corpo, as expressões do nosso rosto, dos nossos olhos, os gestos... o que os outros veem.
Na imagem que temos de nós mesmos:
Trata-se de todas as imagens que armazenamos em nosso pequeno teatro interior; por exemplo, nós nos julgamos desajeitados, constrangidos, malfeitos de corpo, sem gosto no vestir, limitados intelectualmente, não sociáveis, etc.
Em nossas tensões físicas:
São elas que revelam o estado em que nos encontramos: por exemplo, a pessoa enrubesce, fica com a boca seca, sente vertigens, palpitações, tremores, náuseas, dormência, etc.
Em nossa linguagem:
Trata-se da linguagem falada tanto quanto da que não é expressa. A pessoa confessará, por exemplo, a seus interlocutores: "Não tive tempo de preparar", "Não sei exatamente como vou lhes dizer o que tenho a dizer", mas pensará em seu íntimo "Sou realmente um desastre", "Jamais vou conseguir", e outras coisas do gênero.
Como identificar as condutas derrotistas que paralisam e diminuem a confiança em si mesmo?
Descobrir e corrigir os comportamentos inábeis
Procure lembrar-se da última vez em que se sentiu em dificuldades ao se expressar diante de alguém: lembra-se de seu nervosismo? Qual o seu comportamento? O que sentiu? Sua voz estava clara, suas entonações expressivas, sentiu-se desencorajado, desmoralizado?
Visto que nossos atos e palavras são mais bem analisados pêlos outros que por nós mesmos, você pode perguntar àquele ou àqueles que o escutaram, se não registraram alguma coisa de anormal em seu comportamento; uma crítica amistosa é frequentemente um fator de progresso; você pode também examinar-se ao falar diante de um espelho, ou fazer-se filmar durante o próximo discurso.


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Fonte:
ABC da Palavra fácil, de Sharon Anthony Bower. Círculo do Livro. São Paulo, 1989, págs. 9-13.

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