O medo de falar em público
O medo de
tomar a palavra em público não é algo inato, mas sim "aprendido" e,
frequentemente, aprendido de maneiras muito diversas. Conheci, por exemplo, um
jovem completamente traumatizado pelo pai, que ele havia visto várias vezes
empalidecer ao tomar a palavra durante as reuniões de pais de alunos na escola.
O adolescente havia feito seu o medo do pai, sem que jamais tivesse ele mesmo
tomado a palavra em público.
Essa
angústia nasce às vezes de uma experiência pessoal: é o caso de uma de minhas
estudantes da faculdade, que, atormentada por uma leve gagueira, começou a
gaguejar durante uma exposição em presença de seus colegas, a tal ponto que foi
obrigada a parar em meio a um silêncio geral; a partir daí viu-se absolutamente
incapacitada de falar durante as aulas ou em qualquer outro grupo social.
As vezes
alguma circunstância banal nos força a falar diante de uma assembleia muito
maior que a prevista no começo; ou então um superior hierárquico aparece
subitamente, ou ainda você é obrigado a pronunciar um discurso de improviso em
lugar de alguma outra pessoa e de repente vem o bloqueio. Espera-se a aprovação
do público, e quando a reação é negativa você a sente como uma verdadeira
sanção.
As vezes é
unicamente na cabeça do orador que "tudo correu mal"... Ele faz um
juízo demasiado severo de si mesmo, segundo critérios mais rigorosos que os da
plateia. Condena-se por não ter sido suficientemente brilhante, decide não
renovar mais a experiência.
Um defeito
comum a muitos oradores é reagir injuriosamente ao menor sinal de desinteresse
do público. Certos conferencistas percebem, em um público de quinhentas
pessoas, justamente aquela que, na vigésima fila, está lendo um livro; um
professor se ressentirá sempre, como se se tratasse de um insulto pessoal, do
espetáculo de um estudante sonolento, entre seus quarenta colegas, mesmo que
isso seja devido a outra razão, independentemente do interesse ou desinteresse
que essa pessoa tenha pelo curso.
De qualquer
forma, todas essas pessoas que terminam por recusar-se a falar em público
sentem uma angústia sempre crescente, que inibe por fim inteiramente sua
personalidade; a recusa a expressar-se pode com efeito prejudicar uma carreira
ou contribuir para o fracasso de realizações pessoais, junto com a recusa
permanente de enfrentar situações difíceis.
Pode-se
chegar a controlar esse medo de falar em público através do método de
relaxamento que é explicado ao final deste livro; mas creio sinceramente que,
antes de começar tal aprendizado, é preciso estar perfeitamente seguro de suas
motivações profundas e perguntar-se:
• se há
realmente um desejo genuíno de expressar-se bem;
• se existe
uma disposição verdadeira a consagrar tempo aos exercícios;
• se há
capacidade de fazer desaparecer o medo no momento de tomar a palavra.
Os bloqueios criados pela emoção
Uma reação
emocional "aprendida" compõe-se de quatro elementos:
• uma
situação material: ter, por exemplo, que
pronunciar um discurso.
• uma reação
corporal: falta de ar, palpitações
cardíacas.
• um
comportamento observável, externo: mãos trêmulas,
pernas bambas, etc.
• e
finalmente um comportamento oculto, interno, que pode ser um sentimento de impotência, de derrota, que faz acreditar
que não se é capaz de enfrentar a situação.
O processo é
explicado no quadro abaixo, mas é muito importante lembrar que essas reações
emocionais, em sua maioria, não são inatas e sim aprendidas, e que consequentemente
existe a possibilidade de agirmos sobre elas e superá-las.
O mecanismo
é o seguinte: temos o hábito de considerar como comportamento aquilo que é
exterior e visível; por exemplo, a expressão de um rosto, um gesto, uma
palavra... Mas é preciso não esquecer que todos os nossos pensamentos, todo o
não dito, nossas sensações internas e nossos sentimentos fazem parte deles e
contribuem para construir nossas atitudes para com as pessoas, as coisas, as
ideias, as situações.
Essas
atitudes, por sua vez, desencadeiam uma reação física: vertigens, palpitações
ou secura na boca, garganta fechada, etc. O aparecimento de tais manifestações
indica geralmente a presença do medo, e, por associação de ideias, a pessoa vai
lembrar-se da situação embaraçosa que, pela ação da memória e de uma similação
ao presente, vai comandar e provocar reações fisiológicas e emocionais. É assim
que, diante do público, a pessoa pode de repente ser invadida por imagens
negativas de fracasso, pode sentir-se desencorajada, assaltada pelo medo de esquecer-se
do que deveria dizer ou pelo receio de que os ouvintes se entediem.
Um orador
vítima de tais bloqueios sente-se sempre responsável por esse estado, e
acredita frequentemente que ele é devido a uma incapacidade pessoal de superar
situações difíceis. Contrariamente a um orador experimentado que reage de
imediato a esses sinais, aquele que não tem o hábito de falar em público
atribui a eles uma importância desmesurada, o que provoca a sensação de perda
total de recursos de que poderia dispor; torna-se para ele impossível continuar
falando de um modo normal, vivo e persuasivo. Essa tensão e essas reações
extremas terminam por convencê-lo de que é incapaz de falar diante de um grupo
de pessoas.
Tudo isso
faz parte de um cenário clássico que pode, felizmente, ser modificado por um
processo que ajude a esclarecer e a desenvolver atitudes diferentes, muito mais
construtivas.
Mas como
agir?
Autoanálise
A primeira
coisa a fazer é analisar tudo o que constitui a nossa angústia, para descobrir
logo aquilo que vamos atacar primeiro. A tarefa não é simples, quando se pensa
que as reações emocionais que já integramos podem se manifestar de diversas
formas.
Em nosso comportamento:
Os
movimentos, as posições do nosso corpo, as expressões do nosso rosto, dos
nossos olhos, os gestos... o que os outros veem.
Na imagem que temos de nós mesmos:
Trata-se de
todas as imagens que armazenamos em nosso pequeno teatro interior; por exemplo,
nós nos julgamos desajeitados, constrangidos, malfeitos de corpo, sem gosto no
vestir, limitados intelectualmente, não sociáveis, etc.
Em nossas tensões físicas:
São elas que
revelam o estado em que nos encontramos: por exemplo, a pessoa enrubesce, fica
com a boca seca, sente vertigens, palpitações, tremores, náuseas, dormência,
etc.
Em nossa linguagem:
Trata-se da
linguagem falada tanto quanto da que não é expressa. A pessoa confessará, por
exemplo, a seus interlocutores: "Não tive tempo de preparar",
"Não sei exatamente como vou lhes dizer o que tenho a dizer", mas
pensará em seu íntimo "Sou realmente um desastre", "Jamais vou
conseguir", e outras coisas do gênero.
Como
identificar as condutas derrotistas que paralisam e diminuem a confiança em si
mesmo?
Descobrir e corrigir os comportamentos
inábeis
Procure
lembrar-se da última vez em que se sentiu em dificuldades ao se expressar
diante de alguém: lembra-se de seu nervosismo? Qual o seu comportamento? O que
sentiu? Sua voz estava clara, suas entonações expressivas, sentiu-se
desencorajado, desmoralizado?
Visto que
nossos atos e palavras são mais bem analisados pêlos outros que por nós mesmos,
você pode perguntar àquele ou àqueles que o escutaram, se não registraram
alguma coisa de anormal em seu comportamento; uma crítica amistosa é
frequentemente um fator de progresso; você pode também examinar-se ao falar
diante de um espelho, ou fazer-se filmar durante o próximo discurso.
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Fonte:
ABC da Palavra fácil, de Sharon Anthony Bower. Círculo do Livro. São Paulo, 1989, págs. 9-13.
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