Anarquismo e socialismo
Nas cidades
que cresciam rapidamente, formou-se o proletariado industrial e a classe média
tornou-se mais numerosa.
A situação
da classe operária caracterizava-se pela extrema miséria. O crescimento
populacional, o êxodo do campo, o trabalho de mulheres e crianças, a economia
de mão-de-obra com as máquinas, aumentaram de forma espetacular a oferta de
trabalho barato, necessária ao desenvolvimento capitalista. O proletariado trabalhava
usualmente 12 a 13 horas por dia, em troca de baixíssimos salários, e povoava
os imensos cortiços urbanos.
Para
numerosos homens e mulheres, uma fuga da sua miserável condição foi emigrar,
especialmente para os Estados Unidos, conduzindo o sonho de tornar-se pequenos
proprietários, nem sempre realizado. No entanto, para a maior parte do
proletariado, a saída foi organizar-se e lutar contra a burguesia que havia se
tornado a nova classe dominante. Progressivamente, as greves tornaram-se
frequentes, sindicatos foram organizados e surgiram partidos da classe
operária. Este movimento foi inspirado por duas grandes correntes de pensamento
e ação que muitas vezes se confundiram: anarquismo e socialismo.
Para os
anarquistas os males da sociedade derivavam especialmente de duas instituições:
a propriedade privada dos meios de produção e o Estado. O grande objetivo dos
programas anarquistas tornou-se a destruição do Estado e das mais diversas formas
de autoridade que seriam substituídas por uma democracia ampla e direta, baseada
em comunidades autogeridas. No Brasil do início do século XX, o anarquismo foi
a ideologia predominante entre a classe operária nascente.
O pensamento
anarquista teve grande importância, mas foi superado pelo socialismo científico,
fundado por Karl Marx e Frederico Engels. Segundo eles, em sua história
humanidade passou por vários modos de produção: comunidade primitiva,
escravismo, feudalismo e capitalismo. Cada uma dessas fases estava baseada num
determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas e engendrou, no seu
interior, a etapa. A sequência, em termos de evolução social, não seria a mesma
para todas as sociedades. Determinadas etapas poderiam ser saltadas. O Brasil,
por exemplo, teria passado da comunidade primitiva dos indígenas para o
capitalismo, a partir de seu descobrimento pelos europeus. A velha Rússia não
desenvolveu plenamente a etapa capitalista, passando de um feudalismo decadente
para o socialismo.
Para Marx e
Engels o capitalismo seria um dos pontos culminantes do progresso humano, na
medida em que expandiu de forma gigantesca as forças produtivas. Mas o
capitalismo, como os demais modos de produção, será superado por condições que
ele próprio criou. Depois de atingir o auge do seu desenvolvimento, o sistema
capitalista tenderia a entrar em crises sucessivas que terminariam por
conduzi-lo à destruição. Caberia ao proletariado, a classe dos que só possuem a
força de trabalho, através da luta política, organizar a nova sociedade
socialista, visando substituir a sociedade burguesa em crise.
Em 1848,
Marx e Engels colaboraram para a organização de um partido da classe operária,
publicando o Manifesto do Partido Comunista. Ali afirmavam ser a luta de
classes o grande impulsionador da História. Ao lado disso, mostravam que o
desenvolvimento capitalista derrubara as fronteiras nacionais, criando um mundo
só. Desta fornia, a Revolução Socialista deveria ser realizada por uma classe
operária, unida internacionalmente.
Em 1861, era
fundada a Primeira Internacional, uma associação de partidos operários de
vários países que prometiam ajudar-se na luta contra a burguesia. Até o século
XX, outras internacionais surgiriam.
A grande
obra de Marx foi O Capital, uma exaustiva análise do funcionamento da sociedade
capitalista e uma crítica à economia política clássica, criada por Adam Smith e
outros economistas liberais. Utilizando a teoria da mais-valia, Marx
demonstrava que o capital era basicamente acumulado a partir do trabalho
realizado pelos operários e não pago pelos empresários. Quanto mais baixos os
salários maior a acumulação.
No mecanismo
acima descrito, Marx localizava uma contradição básica do sistema, responsável
pelas suas crises periódicas. Com salários baixos, o consumo da grande massa da
população tenderia a estagnar ou diminuir, enquanto os investimentos, os
avanços técnicos e a produção aumentavam. Esta situação conduziria às crises
cíclicas, marcadas pela superprodução que, desencadeadas nos países centrais,
tenderiam a propagar-se para a periferia do sistema.
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Fonte:
História do Brasil, por: Raymundo Campos. Atual Editora. São Paulo, 1983, págs. 114-115.
História do Brasil, por: Raymundo Campos. Atual Editora. São Paulo, 1983, págs. 114-115.
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