terça-feira, 21 de junho de 2016

A indústria na Idade Média

A  indústria  na  Idade  Média
Que diferença entre a indústria da Idade Média e a dos nossos dias! Nada de máquinas: fazia-se tudo à mão. Nada de grandes usinas: só pequenas oficinas. Nenhuma liberdade de fabricar à vontade: predomina a regulamentação do trabalho.

1 - Renascimento da indústria
Vimos que a ruína do comércio e das cidades provocou no início da Idade Média a decadência da indústria. Mas, a partir do século XI, os progressos do comércio, o enriquecimento das cidades, o desenvolvimento do luxo levaram a um verdadeiro renascimento da indústria. Reinicia-se a produção para venda. Ao mesmo tempo os artesãos do Ocidente imitam o exemplo dos Orientais; aprenderam deles processos que ignoravam e logo far-lhe-ão concorrência.

2 - Características da indústria medieval
As condições do trabalho industrial eram então muito diferentes das que vigoram hoje. Não havia máquinas movidas a vapor ou a eletricidade; todo trabalho era manual. Fabricava-se em pequenas quantidades. Não havia absolutamente grandes fábricas: cada patrão trabalhava numa pequena oficina com alguns trabalhadores, às vistas do público.
Como as comunicações eram lentas, custosas, perigosas mesmo, cada cidade fabricava tudo o que era necessário para o consumo de seus habitantes e camponeses das proximidades. No século XIII, na Europa Ocidental, somente duas regiões trabalhavam para a exportação: na França, Flandres, isto é uma parte da Bélgica atual e os departamentos do Norte da França e do Passo de Calais; na Itália, a Toscana, onde Florença era a principal cidade. Flandres e Toscana eram especializadas na indústria de tecidos.
Enfim, último traço característico, a indústria era estritamente regulamentada pelas autoridades da cidade.

3 - Regulamentação do trabalho
Na Idade Média o patrão não tinha do trabalho liberdade de fabricar, como lhe agradasse, os objetos que vendia: tudo era regulamentado, o processo de fabricação e as condições de trabalho.
Em geral era proibido trabalhar à noite, porque havia o perigo de incêndio e o trabalho noturno seria inferior em qualidade. Os processos de fabricação eram fixados pelos estatutos dos ofícios.
Estes visavam proteger o comprador contra as fraudes. Por exemplo, proibiam misturar linho a uma corda de cânhamo, e se admitiam os tecidos mesclados de fio e seda, era com a condição de que o fio fosse bem visível. Em alguns ofícios, nenhuma mercadoria poderia ser posta à venda antes de ter sido aprovada como boa e ter recebido a marca do ofício. As autoridades tinham o direito de embargar as mercadorias defeituosas e condenar o mercador culpado a uma forte multa ou mesmo proibir-lhe o ofício. Todavia, não vamos acreditar que a Idade Média jamais conhecera a fraude. Às vezes, para evitar uma alta do custo de vida, a municipalidade fixava o preço das mercadorias.
Estas precauções, entretanto, não impediam as rivalidades entre oficinas vizinhas: os alfaiates proibiam aos adelos vender roupas novas; os cozinheiros proibiam aos assadores vender carnes com molho; os assadores queriam ser os únicos a preparar assados. Os processos entre fabricantes de panos, apisoadores e tintureiros duraram vários séculos.

4 -  Condição do trabalhador.
Ë muito difícil saber qual era a condição dos trabalhadores nesta época; são raros os documentos anteriores ao século XIV. A jornada de trabalho era mais ou menos longa segundo as estações, porque em geral durava do amanhecer ao anoitecer. Mas havia vários dias de festa e aos sábados deixava-se o trabalho mais cedo. Como a concorrência era fraca e as mercadorias eram vendidas a preços elevados, o patrão podia dar a seus trabalhadores salários suficientes.
Não havia muita diferença entre patrões e trabalhadores. Trabalhavam juntos na oficina e levavam mais ou menos a mesma vida. Os aprendizes eram alimentados e alojados na casa do patrão. Este tinha por obrigação ensinar-lhes o ofício e tratá-los bem: tinha o direito de surrá-los, mas não de fazê-los corrigir por outrem. Na realidade muitos patrões serviam-se dos aprendizes como se fossem domésticos. O aprendiz tornava-se camarada, isto é, operário. Os camaradas empregavam-se por dia, por mês ou por ano. Nas cidades onde não havia locais de colocação dirigiam-se à praça pública, num lugar convencionado, para serem contratados. Quase sempre viviam em suas casas e às suas custas, mas não tinham o direito de trabalhar fora da oficina do patrão. No caso de ter feito algumas economias, o trabalhador podia tornar-se patrão por sua vez.
Sem dúvida, nesta época, havia também os descontentes que exigiam salários mais elevados. A Idade Média não desconheceu as greves. Mas estes conflitos só tiveram importância nas grandes regiões industriais de Flandres e da Toscana, onde a condição dos trabalhadores era particularmente difícil.

5.  As confrarias
Os membros de um mesmo ofício reuniam-se em associações de caráter puramente religioso, as confrarias. Mas não eram obrigados a participar delas, e todos ali gozavam dos mesmos direitos: na confraria, o aprendiz era igual ao mestre.
A confraria tinha seu patrono, isto é, seu protetor no céu, escolhido entre os santos ou santas que, segundo a tradição, exerceram a profissão: São Crispim para os sapateiros, São José para os carpinteiros, São Pedro para os padeiros etc... Mantinha na igreja um oratório dedicado ao santo onde fazia celebrar os serviços divinos.
Cada confraria cobrava uma contribuição para alimentar a caixa da sociedade. A confraria era, de fato, uma verdadeira sociedade de ajuda mútua; em certos casos ela tomava às suas custas as necessidades de seus membros; ajudava os órfãos, viúvas e velhos. Às vezes, socorria àqueles que não pertenciam à profissão: em Paris, os ourives deixavam uma de suas lojas aberta aos domingos e o produto da venda neste dia servia para dar cada ano uma refeição aos pobres da Mansão de Deus. As confrarias distribuíam também víveres e roupas nos hospitais e prisões.

6. As corporações
Em algumas cidades os trabalhadores de certas profissões foram obrigados a formar agrupamentos particulares chamados comunidades de ofícios ou jurados; pouco mais tarde serão chamadas corporações.
A corporação tinha o monopólio da profissão: não podia exercer o ofício na cidade quem não entrasse na corporação. Os chefes da corporação, ou jurados, fixavam o número de aprendizes que cada mestre poderia ter, e as condições que o trabalhador devia satisfazer para poder tornar-se mestre, isto é, patrão. Faziam uma investigação para saber se o candidato tinha boa reputação e se era bastante rico para estabelecer-se por sua conta. Para julgar sua capacidade faziam-no fabricar qualquer peça do ofício, o que se chamava a obra-prima.
No século XIII as corporações ainda eram desconhecidas na maioria das cidades. Mesmo onde existiam não englobavam todos os ofícios: em Paris, agrupavam apenas um terço. Bem mais tarde, a partir do século XVII, as corporações difundiram-se em todo o reino. 


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Fonte:
História Universal: Idade Média, por: Jules Isaac e Andre Alba. Editora Mestre Jou. São Paulo, 1967, 123-126.

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