A indústria
na Idade Média
Que
diferença entre a indústria da Idade Média e a dos nossos dias! Nada de
máquinas: fazia-se tudo à mão. Nada de grandes usinas: só pequenas oficinas.
Nenhuma liberdade de fabricar à vontade: predomina a regulamentação do
trabalho.
1 - Renascimento da indústria
Vimos que a
ruína do comércio e das cidades provocou no início da Idade Média a decadência
da indústria. Mas, a partir do século XI, os progressos do comércio, o
enriquecimento das cidades, o desenvolvimento do luxo levaram a um verdadeiro
renascimento da indústria. Reinicia-se a produção para venda. Ao mesmo tempo os
artesãos do Ocidente imitam o exemplo dos Orientais; aprenderam deles processos
que ignoravam e logo far-lhe-ão concorrência.
2 - Características da indústria medieval
As condições
do trabalho industrial eram então muito diferentes das que vigoram hoje. Não
havia máquinas movidas a vapor ou a eletricidade; todo trabalho era manual.
Fabricava-se em pequenas quantidades. Não havia absolutamente grandes fábricas:
cada patrão trabalhava numa pequena oficina com alguns trabalhadores, às vistas
do público.
Como as
comunicações eram lentas, custosas, perigosas mesmo, cada cidade fabricava tudo
o que era necessário para o consumo de seus habitantes e camponeses das
proximidades. No século XIII, na Europa Ocidental, somente duas regiões
trabalhavam para a exportação: na França, Flandres, isto é uma parte da Bélgica
atual e os departamentos do Norte da França e do Passo de Calais; na Itália, a
Toscana, onde Florença era a principal cidade. Flandres e Toscana eram
especializadas na indústria de tecidos.
Enfim,
último traço característico, a indústria era estritamente regulamentada pelas
autoridades da cidade.
3 - Regulamentação do trabalho
Na Idade
Média o patrão não tinha do trabalho liberdade
de fabricar, como lhe agradasse, os objetos que vendia: tudo era regulamentado,
o processo de fabricação e as condições de trabalho.
Em geral era
proibido trabalhar à noite, porque havia o perigo de incêndio e o trabalho
noturno seria inferior em qualidade. Os processos de fabricação eram fixados pelos
estatutos dos ofícios.
Estes
visavam proteger o comprador contra as fraudes. Por exemplo, proibiam misturar
linho a uma corda de cânhamo, e se admitiam os tecidos mesclados de fio e seda,
era com a condição de que o fio fosse bem visível. Em alguns ofícios, nenhuma
mercadoria poderia ser posta à venda antes de ter sido aprovada como boa e ter
recebido a marca do ofício. As autoridades tinham o direito de embargar as
mercadorias defeituosas e condenar o mercador culpado a uma forte multa ou
mesmo proibir-lhe o ofício. Todavia, não vamos acreditar que a Idade Média
jamais conhecera a fraude. Às vezes, para evitar uma alta do custo de vida, a
municipalidade fixava o preço das mercadorias.
Estas
precauções, entretanto, não impediam as rivalidades entre oficinas vizinhas: os
alfaiates proibiam aos adelos vender roupas novas; os cozinheiros proibiam aos
assadores vender carnes com molho; os assadores queriam ser os únicos a
preparar assados. Os processos entre fabricantes de panos, apisoadores e
tintureiros duraram vários séculos.
4 - Condição do trabalhador.
Ë muito
difícil saber qual era a condição dos trabalhadores nesta época; são raros os
documentos anteriores ao século XIV. A jornada de trabalho era mais ou menos
longa segundo as estações, porque em geral durava do amanhecer ao anoitecer.
Mas havia vários dias de festa e aos sábados deixava-se o trabalho mais cedo.
Como a concorrência era fraca e as mercadorias eram vendidas a preços elevados,
o patrão podia dar a seus trabalhadores salários suficientes.
Não havia
muita diferença entre patrões e trabalhadores. Trabalhavam juntos na oficina e
levavam mais ou menos a mesma vida. Os aprendizes
eram alimentados e alojados na casa do patrão. Este tinha por obrigação
ensinar-lhes o ofício e tratá-los bem: tinha o direito de surrá-los, mas não de
fazê-los corrigir por outrem. Na realidade muitos patrões serviam-se dos
aprendizes como se fossem domésticos. O aprendiz tornava-se camarada, isto é, operário. Os camaradas
empregavam-se por dia, por mês ou por ano. Nas cidades onde não havia locais de
colocação dirigiam-se à praça pública, num lugar convencionado, para serem
contratados. Quase sempre viviam em suas casas e às suas custas, mas não tinham
o direito de trabalhar fora da oficina do patrão. No caso de ter feito algumas
economias, o trabalhador podia tornar-se patrão por sua vez.
Sem dúvida,
nesta época, havia também os descontentes que exigiam salários mais elevados. A
Idade Média não desconheceu as greves. Mas estes conflitos só tiveram
importância nas grandes regiões industriais de Flandres e da Toscana, onde a
condição dos trabalhadores era particularmente difícil.
5. As confrarias
Os membros
de um mesmo ofício reuniam-se em associações de caráter puramente religioso, as
confrarias. Mas não eram obrigados a
participar delas, e todos ali gozavam dos mesmos direitos: na confraria, o
aprendiz era igual ao mestre.
A confraria
tinha seu patrono, isto é, seu
protetor no céu, escolhido entre os santos ou santas que, segundo a tradição,
exerceram a profissão: São Crispim para os sapateiros, São José para os
carpinteiros, São Pedro para os padeiros etc... Mantinha na igreja um oratório
dedicado ao santo onde fazia celebrar os serviços divinos.
Cada
confraria cobrava uma contribuição para alimentar a caixa da sociedade. A
confraria era, de fato, uma verdadeira sociedade
de ajuda mútua; em certos casos ela tomava às suas custas as necessidades
de seus membros; ajudava os órfãos, viúvas e velhos. Às vezes, socorria àqueles
que não pertenciam à profissão: em Paris, os ourives deixavam uma de suas lojas
aberta aos domingos e o produto da venda neste dia servia para dar cada ano uma
refeição aos pobres da Mansão de Deus. As confrarias distribuíam também víveres
e roupas nos hospitais e prisões.
6. As corporações
Em algumas
cidades os trabalhadores de certas profissões foram obrigados a formar
agrupamentos particulares chamados comunidades
de ofícios ou jurados; pouco mais
tarde serão chamadas corporações.
A corporação
tinha o monopólio da profissão: não
podia exercer o ofício na cidade quem não entrasse na corporação. Os chefes da
corporação, ou jurados, fixavam o
número de aprendizes que cada mestre poderia ter, e as condições que o
trabalhador devia satisfazer para poder tornar-se mestre, isto é, patrão. Faziam uma investigação para saber se o
candidato tinha boa reputação e se era bastante rico para estabelecer-se por
sua conta. Para julgar sua capacidade faziam-no fabricar qualquer peça do
ofício, o que se chamava a obra-prima.
No século
XIII as corporações ainda eram desconhecidas na maioria das cidades. Mesmo onde
existiam não englobavam todos os ofícios: em Paris, agrupavam apenas um terço.
Bem mais tarde, a partir do século XVII, as corporações difundiram-se em todo o
reino.
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Fonte:
História Universal: Idade Média, por: Jules Isaac e Andre Alba. Editora Mestre Jou. São Paulo, 1967, 123-126.
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