William Buck Bagby e Anne Luther Bagby
"D.
Maria teve um bebê, e não se chama Maria nem João, mas William." Quem
fazia o anúncio era a escrava Mandy, e o bebê não era outro senão William
(Guilherme) Buck Bagby, o futuro pioneiro do trabalho batista na América do
Sul.
Ele nasceu
no grande Estado do Texas, no extremo sul dos Estados Unidos. A data? Foi 5 de
novembro de 1855. Seus pais tinham ido de Kentucky para o Texas, com três
famílias de parentes achegados, e se estabeleceram em uma fazenda, a que deram
o nome de "Prairie Home".
A escola ali
era muito rude, com apenas uma professora e os alunos todos descalços. A região
era muito pouco habitada por brancos, havendo ainda muitos da raça
pele-vermelha. Os meninos faziam bom negócio com esses índios, trocando pipoca
bichada por canivetes rústicos, machadinhas, etc.
Quando
William tinha oito anos, a família mudou-se para Waco, no mesmo Estado, e ali,
aos doze anos, ele aceitou Cristo.
Em 1875
formou-se na Universidade de Waco e pouco tempo depois foi consagrado ao
ministério. Já aos três anos, ele vinha pregando ao seu auditório de galinhas,
forçadas a ouvi-lo no galinheiro cercado.
Bem breve,
após formado, viu-se ocupado com ensino e pastorados.
Três anos e
meio depois daquele nascimento em Prairie Home, nasceu, em Kansas City,
Missouri, uma menina no lar de John Hill Luther, pregador, professor e
escritor. Recebeu o nome de Anne, nome de sua mãe, que, por sua vez, recebera o
nome em homenagem à missionária na Birmânia, Anne Judson, cujo belo exemplo de
vida silenciara os protestos e críticas contra um empreendimento missionário então
ainda recente e impopular.
Em 1870, a
família mudou-se para Missouri, onde, aos onze anos de idade, Anne achou o
Salvador. Durante um ano inteiro, ela ia diariamente a um quarto desocupado,
para ler as Escrituras e orar, pedindo aceitação diante de Deus.
Tendo
recebido a certeza da salvação, pediu logo o batismo. Porém os seus pais se
opuseram, porque ela estava sofrendo de calafrios e o médico dissera que a água
gelada a mataria. Diante disso, ela declarou que o argumento era fraco, contra
uma ordem forte. Afinal consultaram uma amiga da família, que afirmou que a
obediência a Cristo nunca matou ninguém. Anne, em consequência, foi mergulhada
no rio Mississipi quando a camada de gelo mal derretera e foi recebida por um
diácono, que a envolveu num cobertor e a levou para casa em seu carro.
Até a idade
de onze anos ela estudou em casa. Mais tarde terminou o curso elementar, o
ginásio, o colegial e o normal em Lexington e St. Louis.
Em
Lexington, aos quinze anos, uma palestra sobre a África a impressionou de tal
maneira que ela sentiu-se impelida à vida missionária.
Em 1877, a
família mudou-se para o Texas, pois o Dr. Luther fora chamado para ser pastor
de uma igreja em Galveston. Como filha de pastor e organista da igreja, Anne
foi enviada como mensageira à primeira Convenção de Escolas Dominicais, que se
reuniu em Calvert.
Na primeira
reunião, Anne viu um moço cujos olhos sempre pareciam se encontrar com os dela,
e ela teve vontade de conhecê-lo. Depois da reunião, alguém o apresentou a ela.
Em virtude desse encontro, para Anne, a convenção findou cedo demais!
Durante a
convenção, certo dia, Anne e suas companheiras estavam gozando as
"férias", sesteando de tarde e invadindo o pomar de pessegueiros com
seus frutos suculentos. Mas Anne queria mais do que pêssegos. Ela comentou que
tinha só um pesar — de não ter conhecido melhor um certo pregador. Uma batida à
porta chamou a atenção de Anne, que recebeu um bilhete, através do qual lhe
pediam uma entrevista imediata. Minutos depois ela se achava na sala de
visitas, entretendo-se com aquele que conquistou o seu coração.
Seu príncipe
encantado conquistou sua confiança no primeiro momento. Ela abriu-lhe o coração
e dominou a conversa a ponto de dizer-lhe que pretendia ser missionária e que
escrevia poesias. Até mesmo lhe ofereceu uma delas.
Terminada a
convenção, de regresso aos seus lares, Anne e William dirigiram-se à estrada de
ferro, ela com destino ao Sul e ele ao Norte. Mas ele perdeu o trem.
Dias depois,
Anne recebeu urna carta em letra que lhe era desconhecida. Vinha de William,
que lhe pedia para se corresponder com ele, e citava os nomes de vários
pastores preeminentes, que poderiam dar referências sobre o seu caráter.
Ela se pôs
de joelhos, em consulta com Deus, e em seguida correu ao seu pai, que lhe
disse: "Anne, se você responder a esta carta, receberá proposta de
casamento dentro de três meses." Diante de tal afirmativa, ela respondeu à
carta. Foi o princípio de uma extensa correspondência.
Em 1878, o
Dr. Luther foi chamado para a direção do Baylor College, que incluía o curso
universitário feminino de Independence, no Texas, e Anne tornou-se deã e
professora de Matemática. Como tal, encabulada, sentava-se no palco com o corpo
docente e, pior ainda, punha-se à frente da primeira classe de trigonometria.
Seu peso de
apenas 42 quilos e estatura de l,52m pareciam-lhe um obstáculo insuperável na
jornada do sucesso, mas suas alunas devotavam-lhe admiração e respeito.
—
Interessante — comentou uma aluna, certa vez — você já reparou nos olhos
vermelhos da professora de manhã?
— Sim —
respondeu a outra — dizem que ela molha o travesseiro de noite, chorando,
porque sente-se chamada para ser missionária.
— Quem a
obriga a isso? — insistiu a primeira.
— Deus —
declarou a segunda.
A natureza
jovial de Anne se fazia sentir periodicamente. Era costume, no Baylor College,
anualmente as alunas gazetearem no dia 1.° de abril. O Dr. Luther fez um apelo,
na véspera de um certo 1.° de abril, pedindo às alunas que desistissem da
gazeta costumeira e mantivessem a boa ordem das aulas. Prometeu-lhes um feriado
com jantar especial, se atendessem ao seu pedido.
No dia
seguinte, os professores, esperançosos, reuniram-se no salão da assembleia na
hora de costume, para encontrarem somente as formandas e algumas alunas
externas.
Em sua mesa,
o diretor achou um bilhete, com os dizeres: "Querido papai, as alunas
estavam resolvidas a darem uma fugida. Então as acompanhei. Voltaremos cedo.
Lamento-o. Anne."
Foi o último
1.° de abril em que mataram as aulas. Na primavera seguinte, Anne prometeu, com
o resto do corpo docente, um zero para cada classe em falta.
William
Bagby, sabendo da popularidade de Anne entre os rapazes do educandário,
resolveu dar um jeito de visitá-la, apesar de estar lecionando à distância de
58 quilômetros. Escreveu à sua mãe para mandar-lhe uma sela, e dali por diante,
montado a cavalo, ia à Independence uma vez por mês, por vezes saindo com Anne
em feliz dupla equestre.
Mais ou
menos nessa época, William recebeu, da pena de sua querida, a poesia que segue:
A CANÇÃO DE MEU CORAÇÃO
Gloriosa imagem em meu coração,
Desenhada pela mão de Deus!
É o rosto do Mestre, cheio de amor,
Emanando dos olhos seus.
Atrás dessa imagem vejo papai,
Tão belo como em dias idos;
Mamãe também, tão jovem e linda,
Trajando modestos vestidos.
Quando este mundo me tenta a gozar
Seu brilho e imenso fulgor,
Eu contemplo a coroa de espinhos, cruel,
Cravada em Jesus, meu Senhor.
Mas há lugar para mais um semblante.
Não ouso traçá-lo jamais.
Deus há de escolher que rosto virá
Superar até o de meus pais.
Era plano de William estudar três anos no seminário e depois assumir um pastorado em seu país, sem precisar aprender uma nova língua.
Em 1879,
Anne escreveu-lhe uma carta, que dizia:
Lembra-se,
Sr. Bagby, que o senhor disse que eu seria mais feliz se não fizesse planos de
ir como missionária para o estrangeiro? Pois eu me sinto muitíssimo feliz em
fazê-los. A esperança de ir é minha vida,
Anne recebeu
uma carta da missionária Mrs. Thomas, da África, e comentou: "Parece-me um
suspiro de meu lar."
Certa vez
William mandara-lhe um retrato. Ao escrever-lhe, ela comentou que ele parecia
um tanto triste, na fotografia, e continuou:
Quem sabe se você estava pensando em seus
três anos no seminário. Ou talvez apareceu-lhe o rosto pálido de uma birmanesa
ou pensava em minha longa estada entre esse povo, longe de tudo que amo neste
mundo. Não terá então aparecido o rosto de uma noiva mais bela, de pé ao seu
lado, como pastor de uma igreja florescente, neste país? Um sorriso invadiria
seu rosto, pois seria tão agradável esquecer-se de mim e não amar alguém que se
sentisse impelida a viver na América e devotar-se à sua felicidade. Enquanto
não penso nunca em ser falsa, não me agradaria provar que a constância feminina
seja superior à masculina, pois não tolero pensar numa separação torturante (se
existe amor verdadeiro). Pode ser que Deus determine que fiquemos separados. Só
ele o pode saber.
Numa tarde
fria, em 1879, agasalhados junto à lareira, ele criou coragem e fez-lhe a
proposta mais importante de todos os tempos. A resposta só foi dada um ano
depois, sob ameaça de nunca mais ser repetida, em caso de resposta negativa às
suas condições.
Na véspera
do Natal de 1879, Anne se aventurou a escrever para a futura sogra, a quem
nunca tinha visto:
Temo ser julgada egoísta por desejar o amor
de um certo ministro e procurar também a afeição de sua mamãe. Mas como obter
sem pedir?
Dizem que sou de caráter firme e mente
positiva, mas os que assim me julgam não sabem das dúvidas que muitas vezes me
avassalam. Mamãe diz que sou de consciência mórbida.
Sou de natureza afetuosa, sempre disposta a
amar os que desejam meu amor. Não sou dada a demonstrações de afeto — exceto no
caso de mamãe a papai. Sei amar ardentemente, mas não dou a conhecer o que
sinto, para não me trair diante de todo mundo.
Quem diria que eu pudesse escrever tanto e
não lhe apresentar o motivo desta carta — o querido e bom ministro? Não me
lembro de ter dado preferência a nenhum jovem, mas digo honestamente que nunca
amei de fato até conhecer seu filho. E ele foi o primeiro que me declarou seu
amor. Realmente não tinha a intenção de amá-lo.
Até conhecê-lo eu temia o amor. Não houve
esforço algum de minha parte, mas reconheço que o amo. Creio que Deus quer que
o ame.
Ainda que os nossos destinos nos levem a
direções diferentes, tenho certeza de que minha afeição nunca me desviará do
alvo que hoje nutro. O destino do meu coração está selado e selado continuará
enquanto Deus permitir que eu retenha meus sentimentos conscientes de hoje.
O que não disse de favorável ou
desfavorável, espero que a senhora venha a conhecer.
Agora a senhora pode fazer uma forcinha para
me amar? Isto lhe peço como admiradora de seu "querido rapazinho",
como a senhora costuma chamá-lo.
---
Fonte:
Os Bagby do Brasil, por: Helen Bagby harrison. Juerp. Rio de Janeiro, 1987, págs. 9-13.
Como consigo este livro Os Bagby do Brasil, por: Helen Bagby harrison. Juerp?
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