domingo, 3 de julho de 2016

Sermão do Mandato (Comentário)

Sermão do Mandato
(Pregado na Capela Real, no ano de 1645.)
DATA E CIRCUNSTÂNCIAS
Com o mesmo título,  "Sermão do Mandato", reuniu Vieira, em suas obras, seis sermões, o primeiro pronunciado em Lisboa, em 1643, e o último em Roma, em 1670.  Chegou até a pregar dois deles em 1655, no mesmo dia, um, de manhã, e outro, de tarde, com a variedade de ideias e de imagens com que costumava desenvolver os mesmos temas em diferentes ocasiões. Adquiriu particular notoriedade o "Sermão do Mandato" pregado em 1650, por causa da crítica que lhe fez Sóror Juana Inés de Ia Cruz, em 1690, a qual produziu não pequena repercussão em alguns meios religiosos, suscitando posteriormente outras controvérsias. Uma destas foi levantada ultimamente em torno da data do sermão, que não seria a do ano de 1650, mencionada na edição prínceps, onde existem, aliás, outros indícios de que a memória das datas em Vieira não era nada infalível. Já muito velho e alquebrado, no seu recolhimento da Quinta do Tanque, na Bahia, o pregador não se defendeu da censura, formulada, aliás, em termos mui respeitosos, através do escrito  intitulado "Carta Atenagórica". Alguns anos depois, saiu, porém, em sua defesa Frei Luís Gonçalves Pinheiro, com outro escrito, publicado em 1727, sob o nome de sua irmã, Sóror Margarida Inácia. Crítica de cunho teológico, a da célebre religiosa e poetisa mexicana foi provocada por uma passagem do "Sermão do Mandato" em que, desculpando-se do paradoxo perante Santo Agostinho e os demais santos e doutores da Igreja, Vieira sustentava que "o morrer Cristo pelos homens não foi a maior fineza de seu amor; maior fineza foi Cristo o ausentar-se, que o morrer: logo a fineza de morrer não foi a maior das maiores". O tema do Amor — amor místico — foi um daqueles a que Vieira recorreu constantemente, sobretudo nesses "Sermões do Mandato", onde o conceptismo o leva a cometer audácias sobre audácias, como a que fez estremecer o zelo religioso de Juana de Ia Cruz. Com esse tema, era difícil, senão impossível, produzir algo de novo e original, mas Vieira geralmente o conseguiu em todos os seus "Sermões do Mandato", entre os quais o que foi escolhido para figurar nesta coleção, constitui um dos mais perfeitos de língua portuguesa. Ë um sermão exclusivamente religioso, em que "o menor Daniel", como o grande jesuíta a si próprio se chamava, quis confundir e vencer as feras da caverna do Mal com os amavios de música de seus períodos impecáveis. Dessa famosa prédica fez-se em Portugal uma comovida e sugestiva evocação, com a leitura da mesma, em 1923, pelo grande ator lusitano Eduardo Brazão, conforme é historiado no opúsculo, que se imprimiu, naquele ano, sob o título Do Amor, para fixar o acontecimento.

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Fonte:
Vieira Sermões, por: Eugênio Gomes. Agir Editora, 10ª Edição. Rio de Janeiro, 1988, págs. 64-65.

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