terça-feira, 19 de julho de 2016

O que é Supletivismo

Supletivismo
Em alguns casos de flexão de gênero, de pronomes pessoais, de graus, de significação de pessoas verbais, aparecem certas irregularidades que costumavam as antigas gramáticas explicar como exceções da regra geral. Assim: de pai, marido, boi, bode, genro e tantos outros substantivos, forma-se o feminino, não pela mudança de o em a como é da regra geral, mas, por meio de outra palavra inteiramente diversa: mãe, esposa, nora, vaca, cabra, etc. Entre os pronomes pessoais do caso reto: eu, tu, ele, ela e os seus respectivos casos oblíquos me, te, se não há também sequência. Nos graus vemos que bom, mau, grande, pequeno apresentam os comparativos e superlativos diferentíssimos: melhor, pior, maior, menor, átimo, péssimo, máximo, mínimo. Na série dos verbos há alguns que recorrem a outros temas para completar seus quadros pessoais como: remir e redimir; precaver-se e aprecatar-se; o verbo ir que recorre aos temas latinos ire, vadere, fugere: vou, vais, vai, vamos, vades, vão ou então: imos, ides, vão; fui, foste, foi, etc. Os modernos gramáticos dão a tais fenômenos o nome de supletivismo.
Supletivismo é, pois, o fenômeno morfológico pelo qual as flexões dos nomes e pronomes bem como dos verbos deficientes se completam, recorrendo a outros temas diferentes. Os casos mais importantes são os seguintes:
1) Supletivismo de gênero — Muitos substantivos recorrem a outra forma completamente diversa para a indicação do feminino. Exs.: pai, mãe; genro, nora; boi, vaca; bode, cabra; etc. Todos estes e muitos outros fogem à regra geral da mudança de o em a como: sogro, sogra; pato, pata; Antônio, Antônia. Falta-lhes a todos esta flexão normal, sendo-lhes necessário recorrer a outro tema para a formação do gênero feminino.
2) Supletivismo pronominal — Os casos retos do singular apresentam temas diferentes dos casos oblíquos. Assim: eu (me, mini, comigo); tu (te, ti, contigo); ele, ela (se, si, consigo, o, a). No plural existe regularidade temática: nós (nos, conosco); vós (vos, convosco); mas eles, elas (se, si, consigo, os, as, lhes).
3) Supletivismo de graus — Em todas as línguas românicas os adjetivos bom, mau, grande, pequeno formam o comparativo e o superlativo, recorrendo a temas diferentes: bom (melhor, átimo); mau (pior, péssimo); grande (maior, máximo); pequeno (menor, mínimo).
4) Supletivismo verbal — Quase todos os verbos denominados defectivos entram na classe geral dos que devem ser supridos com outras formas alheias ao seu tema primitivo. Outros, que não são considerados defectivos, como ser, ir, são também formados de vários temas. Em ser encontramos os latinos sedere e esse. O presente do subjuntivo: seja, sejas, seja, etc., pertence a sedere (sediam, sedias, sediat, etc.). Mas sou, és, é, etc., pertencem a esse (sum, es, est, etc.). — Nas formas de ir encontramos os latinos ire, andare, fugere. O imperfeito do indicativo ia, ias, ia, etc., depende de ire (ibam, ibas, ibat); o presente: vou, vais, vai, origina-se de vadere (vado, vadis, vadit); o pretérito perfeito do indicativo: fui, foste, foi é formado de fugere (fugi, fugisti, fugit, etc.). O verbo remir, naquelas pessoas em que pode confundir-se com remar, recorre ao composto redimir. Já precaver-se, não tendo o presente do indicativo completo nem o do subjuntivo, supre, tal falta com outro qualquer como aperceber-se, aprecatar-se, etc.
A causa destes fenômenos de Supletivismo está na história de cada uma das palavras e compete à gramática histórica ou à história da língua portuguesa explicá-la. Em muitos casos, entretanto, a explicação só poderá ser encontrada na gramática histórica do latim porque são fenômenos que já recebemos feitos na dialetação desse idioma em o nosso. Não será, portanto, na gramática normativa, que se darão as explicações últimas de tais ocorrências
As formas, que suprem as deficiências de todos esses fatos, tomam o nome de supletórias, supletistas ou supletivistas. Querem alguns que haja Supletivismo em sintaxe, o que não nos parece aceitável. Serão construções várias, corretas todas, que cada qual emprega como lhe mais agrada. Já será assunto de estilística e não de simples gramática.

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Fonte:
Gramática Normativa da Língua Portuguesa, por: Francisco da Silveira Bueno. Edição Saraiva, 7ª Edição. São Paulo, 1968, págs. 239-241.

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