sábado, 30 de julho de 2016

Quem são os Judeus messiânicos?

Quem são os Judeus messiânicos?
Por: Adriana Reis
Surgido há cerca de vinte anos nos Estados Unidos, o movimento judaico-messiânico congrega os judeus que acreditam que Cristo é o Messias anunciado nos textos sagrados. Ancorado em grupos como o Jews for Jesus (Judeus para Jesus), os messiânicos propõem o que, segundo eles, seria uma volta às origens do Judaísmo e do Cristianismo primitivo: a união de símbolos, rituais e costumes judaicos com a veneração de Jesus como o Messias. O problema é que justamente na base dessa proposta doutrinária repousa um paradoxo de difícil solução: a união do Cristo Messias com o Judaísmo. Explica-se.
Um dos pilares da fé judaica é a crença na vinda do Messias, ao contrário dos cristãos, que professam que Ele já se manifestou, na figura de Jesus. Ou seja, ao afirmarem-se como judeus, mas ao mesmo tempo defenderem que o Salvador já veio, expõem uma indefinição inerente ao movimento. Segundo os estudiosos, o grupo seria, em si mesmo, contraditório, pois as duas ideias são inconciliáveis. "O Judaísmo e a ideia de Cristo como o Messias são excludentes entre si", afirma o teólogo Sandro Bussinger, da Igreja Reformada de Belo Horizonte. "A cosmovisão, a exegese, a teologia e a ecleseologia são diferentes entre os judeus autênticos e os messiânicos."
Alheios à polêmica, enquanto pregam o caráter messiânico de Jesus, os seguidores do movimento pautam sua vida segundo os princípios dos judeus tradicionais: seguem os preceitos estabelecidos pela Torá — o livro sagrado do Judaísmo —, guardam o sábado, não comem carne de porco e fazem a circuncisão de seus filhos. Segundo afirmam, ao aceitar Cristo como Messias eles não estariam se convertendo ao Cristianismo, mas, antes, tornando-se judeus legítimos. "Buscamos seguir o princípio da lei judaica para nos realizarmos como judeus verdadeiros", diz o rabino messiânico Marcelo Guimarães, de Belo Horizonte.
O movimento, contudo, não é reconhecido pelos judeus tradicionais. "Não os consideramos como parte da comunidade judaica", afirma o rabino Leonardo Alanati, da Congregação Israelita Mineira. "Como judeus, não cremos que o Messias já tenha surgido, pois, quando isso acontecer, a Terra voltará à sua condição paradisíaca, sem guerras, pobreza ou injustiça social, com a natureza no mais perfeito equilíbrio. E todos podemos ver que isso ainda não aconteceu." Os judeus messiânicos, por sua vez, discordam dessa avaliação. "Nosso movimento é autenticamente um Judaísmo bíblico, pois considera o pai Abraão, Moisés, David, os profetas, assim como os judeus", afirma Marcelo Guimarães.
Seja como for, o movimento conta hoje com cerca de 1,5 milhão de seguidores no mundo, concentrados principalmente nos Estados Unidos, onde fica a sede da Union of Messianic Jewish Congregations, que reúne todas as congregações judaicas messiânicas no mundo. No Brasil, onde chegou há cerca de dez anos, são em torno de l 300 integrantes, segundo o último levantamento realizado pelo movimento.


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Fonte:
Revista das Religiões. Edição 12 - Agosto de 2004. Editora Abril. São Paulo, pág. 10.

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