domingo, 3 de julho de 2016

A evolução do Capitalismo

A evolução do Capitalismo
Se o capitalismo tivesse permanecido como era no tempo de Marx, é provável mesmo que ele já não existisse mais.
Mas o capitalismo mudou muito, desde então, e os trabalhadores têm muito a ver com essa mudança.
Primeiro, eles perceberam que fazer uma revolução não era coisa tão fácil assim, pois seriam esmagados pelas forcas armadas do governo.
Em seguida, descobriram que o seu poder, a sua grande forca, estava na organização, na união; perceberam que, se os patrões tinham do seu lado o apoio do governo burguês, eles, os trabalhadores, tinham o poder de parar as fábricas quando quisessem, por meio da greve.
Tudo isso foi aprendido com sacrifício de muitas vidas: milhares de trabalhadores, no século passado e neste, morreram nessas lutas por melhores condições de vida, salário, direito à aposentadoria, assistência médica, habitação confortável, etc.
A sociedade inteira também ia aprendendo, ao mesmo tempo, que o chamado capitalismo selvagem, inteiramente sem controle, era responsável por muitos problemas.
Na ânsia de aumentar seus lucros, sem preocupação com o bem-estar da sociedade, as empresas entravam numa competição brutal e podiam, por exemplo, provocar uma crise de superprodução de determinadas mercadorias e, ao mesmo tempo, de escassez, de falta de outros bens. Além disso, a melhor remuneração aos trabalhadores era importante para o conjunto da sociedade, pois assegurava a existência de mais compradores para as mercadorias produzidas e um nível de vida mais elevado para todos.
O fortalecimento dos sindicatos dos trabalhadores e o surgimento de partidos políticos preocupados com o progresso da sociedade também contribuíram para as mudanças no capitalismo.
Aos poucos, nos diversos países capitalistas, o Estado passou a realizar também planejamentos econômicos globais, ou seja, determinar o que seria importante o país produzir nos próximos anos. Passou assim a orientar as atividades produtivas das empresas, para evitar tanto o excesso quanto a escassez de mercadorias.
Hoje, num país capitalista moderno, todos os trabalhadores podem ter o seu sindicato, exercem o direito de greve, sempre que não conseguem chegar a um acordo com os patrões, e trabalham em condições de conforto que os seus companheiros do século passado jamais poderiam imaginar.
Do outro lado, os patrões também se organizam em suas associações, para defender seus direitos, negociar com o Estado e os sindicatos dos trabalhadores e lutar pelo que consideram mais importante no capitalismo: a liberdade de iniciativa.
Mas até mesmo os empresários sabem que essa liberdade não pode ser mais aquela do século passado, embora estejam sempre lutando para ampliá-la.
Para o Estado, num país capitalista, fica a função de assegurar a educação, a saúde, a segurança nas ruas e o dever de regulamentar os conflitos entre trabalhadores e empresários, entre patrões e empregados, para que sejam respeitados os direitos de uns e de outros.
Assim, quando os trabalhadores realizam uma greve legal, a polícia já não é chamada para espancá-los e até matá-los, como acontecia no século passado, nos países europeus. O moderno Estado capitalista compreende a importância do trabalho e respeita a força dos trabalhadores.
Evidentemente, há muitos países, ainda atrasados, onde o Estado e os patrões usam a força bruta para conter os trabalhadores, como se fazia no século passado. Mas a tendência evolutiva do capitalismo mostra que esse tipo de reação desaparece com o próprio desenvolvimento do país, com sua modernização, com o fortalecimento político dos trabalhadores e dos seus sindicatos.
Outra mudança importante que aconteceu com o capitalismo, neste século, foi a crescente expansão das empresas além das fronteiras do seu país de origem: são as chamadas empresas multinacionais, que atuam praticamente no mundo inteiro e são mais poderosas e mais ricas do que muitos países reunidos.
Essas empresas têm fábricas espalhadas pelo mundo inteiro e hoje atuam até mesmo em países comunistas, como a União Soviética e a China Popular.
Em sua maioria, as multinacionais são originárias dos Estados Unidos da América, mas muitas delas nasceram na Europa, na Ásia (Japão, principalmente) e até na América Latina. Mesmo o Brasil já tem empresas multinacionais, atuando na África e em países latino-americanos.
O que leva uma empresa capitalista a ir além da fronteira do seu país e construir uma fábrica em outro continente?
O objetivo principal continua sendo o lucro. Quando as empresas percebem que já não podem crescer muito e realizar lucros maiores em, seu próprio país, buscam outras regiões favoráveis, onde o mercado consumidor de seus produtos ainda não esteja suficientemente abastecido.
A indústria de automóveis no Brasil, por exemplo, apareceu assim.
Depois de conquistarem o mercado dos Estados Unidos, as grandes fábricas americanas de automóveis estavam procurando oportunidades para crescer em outros países.
O Governo brasileiro, interessado em trazer fábricas para o nosso país, criou facilidades para essas empresas americanas se instalarem aqui, e elas aceitaram imediatamente o convite.
As empresas multinacionais são a prova mais evidente da nova fase que o capitalismo mundial está vivendo hoje. Entre aquelas fábricas do século passado, voltadas para produzir mercadorias simples e que eram vendidas ali mesmo, na própria cidade, e essas gigantescas organizações presentes no mundo inteiro, quase não existe mais nada em comum, além do objetivo de lucro.
Hoje, uma empresa multinacional faz planos de trabalho mais complexos até mesmo do que os de grandes países. Movimenta quantias de dinheiro fabulosas, através do mundo, influencia o comportamento de pessoas em todos os continentes e é capaz de fazer e desfazer governos em países menores e mais pobres.
Esse poder imenso e nem sempre possível de ser controlado provoca muitas vezes o ódio e a revolta, nos países onde as multinacionais atuam e são acusadas de obter lucros fantásticos, que elas enviam à matriz, no seu país de origem.
Por isso mesmo, muitos países têm adotado leis severas para regulamentar as atividades das empresas multinacionais, evitando que elas se tornem verdadeiros aspiradores das riquezas nacionais.
No Brasil, por exemplo, existe uma lei que regulamenta a remessa de lucros das multinacionais, limitando a quantidade de dinheiro que elas podem enviar para o seu país de origem. E há também leis que definem os setores da indústria onde não é permitida a atuação dessas empresas.
E as multinacionais, fazendo do mundo o seu campo de atuação, criaram também uma espécie de divisão internacional do trabalho.
Complexos - complicados, cheios de detalhes, difíceis de entender.
Atualmente, um motor fabricado no Brasil vai para a Alemanha, é colocado em um carro feito lá e esse carro vai para os Estados Unidos, por exemplo.
Ou, então, uma tinta produzida na Alemanha é usada para colorir um tecido fabricado na Coreia, que é transformado em roupa feita na França e vendida no mundo inteiro, às vezes com marca de uma empresa dos Estados Unidos.


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Fonte:
Capitalismo, por: André Carvalho e Sebastião Martins. Editora Lê. Belo Horizonte, 1987, págs. 43-19.

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