A evolução do Capitalismo
Se o capitalismo
tivesse permanecido como era no tempo de Marx, é provável mesmo que ele já não
existisse mais.
Mas o
capitalismo mudou muito, desde então, e os trabalhadores têm muito a ver com
essa mudança.
Primeiro,
eles perceberam que fazer uma revolução não era coisa tão fácil assim, pois
seriam esmagados pelas forcas armadas do governo.
Em seguida,
descobriram que o seu poder, a sua grande forca, estava na organização, na
união; perceberam que, se os patrões tinham do seu lado o apoio do governo
burguês, eles, os trabalhadores, tinham o poder de parar as fábricas quando
quisessem, por meio da greve.
Tudo isso
foi aprendido com sacrifício de muitas vidas: milhares de trabalhadores, no
século passado e neste, morreram nessas lutas por melhores condições de vida,
salário, direito à aposentadoria, assistência médica, habitação confortável,
etc.
A sociedade
inteira também ia aprendendo, ao mesmo tempo, que o chamado capitalismo
selvagem, inteiramente sem controle, era responsável por muitos problemas.
Na ânsia de
aumentar seus lucros, sem preocupação com o bem-estar da sociedade, as empresas
entravam numa competição brutal e podiam, por exemplo, provocar uma crise de
superprodução de determinadas mercadorias e, ao mesmo tempo, de escassez, de
falta de outros bens. Além disso, a melhor remuneração aos trabalhadores era
importante para o conjunto da sociedade, pois assegurava a existência de mais
compradores para as mercadorias produzidas e um nível de vida mais elevado para
todos.
O
fortalecimento dos sindicatos dos trabalhadores e o surgimento de partidos
políticos preocupados com o progresso da sociedade também contribuíram para as
mudanças no capitalismo.
Aos poucos,
nos diversos países capitalistas, o Estado passou a realizar também
planejamentos econômicos globais, ou seja, determinar o que seria importante o
país produzir nos próximos anos. Passou assim a orientar as atividades
produtivas das empresas, para evitar tanto o excesso quanto a escassez de
mercadorias.
Hoje, num
país capitalista moderno, todos os trabalhadores podem ter o seu sindicato,
exercem o direito de greve, sempre que não conseguem chegar a um acordo com os
patrões, e trabalham em condições de conforto que os seus companheiros do
século passado jamais poderiam imaginar.
Do outro
lado, os patrões também se organizam em suas associações, para defender seus
direitos, negociar com o Estado e os sindicatos dos trabalhadores e lutar pelo
que consideram mais importante no capitalismo: a liberdade de iniciativa.
Mas até
mesmo os empresários sabem que essa liberdade não pode ser mais aquela do
século passado, embora estejam sempre lutando para ampliá-la.
Para o
Estado, num país capitalista, fica a função de assegurar a educação, a saúde, a
segurança nas ruas e o dever de regulamentar os conflitos entre trabalhadores e
empresários, entre patrões e empregados, para que sejam respeitados os direitos
de uns e de outros.
Assim,
quando os trabalhadores realizam uma greve legal, a polícia já não é chamada
para espancá-los e até matá-los, como acontecia no século passado, nos países
europeus. O moderno Estado capitalista compreende a importância do trabalho e
respeita a força dos trabalhadores.
Evidentemente,
há muitos países, ainda atrasados, onde o Estado e os patrões usam a força bruta
para conter os trabalhadores, como se fazia no século passado. Mas a tendência evolutiva do capitalismo
mostra que esse tipo de reação desaparece com o próprio desenvolvimento do
país, com sua modernização, com o fortalecimento político dos trabalhadores e
dos seus sindicatos.
Outra
mudança importante que aconteceu com o capitalismo, neste século, foi a
crescente expansão das empresas além das fronteiras do seu país de origem: são
as chamadas empresas multinacionais, que atuam praticamente no mundo inteiro e
são mais poderosas e mais ricas do que muitos países reunidos.
Essas
empresas têm fábricas espalhadas pelo mundo inteiro e hoje atuam até mesmo em
países comunistas, como a União Soviética e a China Popular.
Em sua
maioria, as multinacionais são originárias dos Estados Unidos da América, mas
muitas delas nasceram na Europa, na Ásia (Japão, principalmente) e até na
América Latina. Mesmo o Brasil já tem empresas multinacionais, atuando na
África e em países latino-americanos.
O que leva
uma empresa capitalista a ir além da fronteira do seu país e construir uma
fábrica em outro continente?
O objetivo
principal continua sendo o lucro. Quando as empresas percebem que já não podem
crescer muito e realizar lucros maiores em, seu próprio país, buscam outras
regiões favoráveis, onde o mercado consumidor de seus produtos ainda não esteja
suficientemente abastecido.
A indústria
de automóveis no Brasil, por exemplo, apareceu assim.
Depois de
conquistarem o mercado dos Estados Unidos, as grandes fábricas americanas de
automóveis estavam procurando oportunidades para crescer em outros países.
O Governo
brasileiro, interessado em trazer fábricas para o nosso país, criou facilidades
para essas empresas americanas se instalarem aqui, e elas aceitaram
imediatamente o convite.
As empresas
multinacionais são a prova mais evidente da nova fase que o capitalismo mundial
está vivendo hoje. Entre aquelas fábricas do século passado, voltadas para
produzir mercadorias simples e que eram vendidas ali mesmo, na própria cidade,
e essas gigantescas organizações presentes no mundo inteiro, quase não existe
mais nada em comum, além do objetivo de lucro.
Hoje, uma
empresa multinacional faz planos de trabalho mais complexos até mesmo do que os
de grandes países. Movimenta quantias de dinheiro fabulosas, através do mundo,
influencia o comportamento de pessoas em todos os continentes e é capaz de
fazer e desfazer governos em países menores e mais pobres.
Esse poder
imenso e nem sempre possível de ser controlado provoca muitas vezes o ódio e a
revolta, nos países onde as multinacionais atuam e são acusadas de obter lucros
fantásticos, que elas enviam à matriz, no seu país de origem.
Por isso
mesmo, muitos países têm adotado leis severas para regulamentar as atividades
das empresas multinacionais, evitando que elas se tornem verdadeiros
aspiradores das riquezas nacionais.
No Brasil,
por exemplo, existe uma lei que regulamenta a remessa de lucros das
multinacionais, limitando a quantidade de dinheiro que elas podem enviar para o
seu país de origem. E há também leis que definem os setores da indústria onde
não é permitida a atuação dessas empresas.
E as
multinacionais, fazendo do mundo o seu campo de atuação, criaram também uma
espécie de divisão internacional do trabalho.
Complexos -
complicados, cheios de detalhes, difíceis de entender.
Atualmente,
um motor fabricado no Brasil vai para a Alemanha, é colocado em um carro feito
lá e esse carro vai para os Estados Unidos, por exemplo.
Ou, então,
uma tinta produzida na Alemanha é usada para colorir um tecido fabricado na
Coreia, que é transformado em roupa feita na França e vendida no mundo inteiro,
às vezes com marca de uma empresa dos Estados Unidos.
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Fonte:
Capitalismo, por: André Carvalho e Sebastião Martins. Editora Lê. Belo Horizonte, 1987, págs. 43-19.
Fonte:
Capitalismo, por: André Carvalho e Sebastião Martins. Editora Lê. Belo Horizonte, 1987, págs. 43-19.
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