terça-feira, 19 de julho de 2016

As causas do antissemitismo

As causas do antissemitismo
Já não vamos falar das causas sentimentais, preconceitos arraigados e estúpidos mas, sim, das causas políticas e econômicas. Não se deve confundir o antissemitismo de hoje com o ódio religioso que se tinha dos judeus em épocas passadas, embora o ódio aos judeus ainda tenha, na atualidade, um matiz religioso. É muito diferente a tendência do movimento antissemita moderno. Nos países onde reina o antissemitismo, este é consequência da emancipação dos judeus.
Quando os povos civilizados se deram conta de quão desumanas eram as leis de exceção, nos puseram em liberdade; mas a libertação veio mais tarde. Já não era possível nos emanciparem legalmente onde havíamos residido até então. No gueto, nos tornamos um povo formado por indivíduos da classe média e, ao sair de lá, fomos obrigados a fazer uma terrível concorrência à classe média. De sorte que, pouco depois da emancipação, nos encontramos de repente no círculo da burguesia, tendo de suportar uma pressão dupla: interna e externa. A burguesia cristã não teria reparos a fazer se nos imolássemos no interesse do socialismo; mas isto tampouco resolveria a situação.
Contudo, já não se pode anular a igualdade dos judeus perante a lei lá onde esta existe. Não somente porque seria contrário à consciência moderna mas, também, porque empurraria todos os judeus, ricos e pobres, para os partidos subversivos. Na realidade, todos os meios empregados contra os judeus são ineficazes.
Em épocas passadas, tiravam dos judeus suas joias. Como os expropriariam, hoje, dos bens móveis? Estes se encontram depositados, em forma de papéis impressos, em algum lugar do mundo, talvez em poder dos cristãos. Claro que se pode onerar com impostos as ações e obrigações de ferrovias, bancos e empresas industriais de todos os tipos, e lá, onde se cobram impostos de renda progressivos, é possível deitar mão sobre todo o conjunto de bens móveis. Mas, todas estas tentativas não podem ser dirigidas exclusivamente contra os judeus e onde, apesar disto, se chega a adotar tais medidas, surgem imediatamente graves crises econômicas, de cujos efeitos não só os judeus se ressentem, se bem que estes são os primeiros a serem prejudicados. Devido a esta impossibilidade de empreender uma ação decisiva contra os judeus, o ódio vai aumentando e sendo fomentado. Dia a dia, hora a hora, aumenta o antissemitismo entre as populações porque as causas continuam existindo e não podem ser eliminadas. O motivo distante está na perda, sofrida na Idade Média, da nossa capacidade de assimilação; o motivo recente é a superprodução de intelectuais médios, que não encontram saída para baixo e também não podem elevar-se acima de seu nível, isto é, não há saída nem ascensão normais. Os componentes de nossas camadas inferiores tornam-se proletários, afiliam-se a partidos subversivos e chegam a ser os funcionários subalternos destes, enquanto aumenta o tremendo poder do dinheiro nas nossas camadas superiores.

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Fonte:
O Estado Judeu, por: Theodor Herzl. Tradução: Dagoberto Mensch. Consulado Geral de Israel em São Paulo. São Paulo, 1997, págs. 36-38.

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