terça-feira, 26 de julho de 2016

Contradições nos escritos de Ellen G. White?

Contradições nos escritos de Ellen G. White?
Sindicatos e casamento de negro com branco
Numa série de artigos, a revista Defesa da Fé, do Instituto Cristão de Pesquisas, fala sobre "heresias e contradições nos escritos de Ellen G, White". A Casa Publicadora Brasileira, valendo-se do direito de resposta, preparou um artigo que deverá ser publicado na referida revista. A seguir, o teor da matéria:
A série "Heresias e Contradições nos Escritos de Ellen G. White", de autoria de Sérgio Quevedo, foi introduzida como sendo o resultado de "uma investigação científica nos escritos de Ellen G. White" (Defesa da Fé, outubro/dezembro de 1996, pág. 23). Lamentavelmente, porém, essa pretensão não transparece no próprio conteúdo da série, como bem evidente na interpretação que o referido autor faz das declarações da Sra. White.
Uma das características fundamentais do método científico de análise literária é que todas as declarações do autor sobre o assunto a ser estudado devem ser cuidadosamente consideradas, levando-se l em conta o contexto sócio-1 político e religioso em que foram escritas. Além disso, nenhum erudito que se preza está justificado a desconhecer as pesquisas prévias mais relevantes sobre o assunto, mesmo que ele não concorde com elas.
Uma breve análise do conteúdo da série acima mencionada é suficiente para demonstrar: 1) que o seu autor não usou o método científico de análise literária, mas simplesmente emitiu sua própria opinião pessoal sobre as declarações abordadas; 2) que ele, ao invés de levar em consideração todas as declarações de Ellen G. White sobre os respectivos temas, valeu-se, de forma seletiva e descontextualizada, apenas de algumas citações; e 3) que ele falhou, consequentemente, em suas interpretações do que a Sra. White realmente queria dizer nas declarações consideradas. A fim de não gastarmos muito espaço deste periódico, consideraremos apenas dois exemplos, representativos da tendência geral da série, encontrados na revista Defesa da Fé de maio/junho de 1998.
O primeiro exemplo diz respeito à maneira tendenciosa como Sérgio Quevedo interpreta certa declaração de Ellen White, desaprovando casamentos mistos. Se a série em discussão é o resultado de "uma investigação científica", como prometido aos leitores, por que então o seu autor não mencionou absolutamente nada a respeito da época e das circunstâncias em que foram escritas as declarações de Ellen White sobre o assunto?
Por que nada é dito sobre as fortes tensões raciais americanas do século XIX, que ainda não foram completamente superadas? Por que nada é dito a respeito da marginalização social dos filhos de tais casamentos? Por que nenhuma alusão é feita às obras mais relevantes sobre o assunto? Se a série tem pretensões científicas, não há escusa para o autor haver desconhecido obras como as de Ronald D. Graybill, E.G. White and Church Race Relations (Washington, DC: Review and Herald, 1970); Ciro Sepúlveda, ed., Ellen White on the Color une: The Idea of Race in a Christian Community (S.I.: Biblos, 1997). É lamentável que o autor não conseguiu perceber que a intenção de Ellen White não era fortalecer os preconceitos raciais da época, mas simplesmente incentivar a formação de lares livres dessas tensões raciais e garantir a felicidade social dos filhos!
O segundo exemplo que julgamos oportuno considerar diz respeito às declarações de Ellen White sobre o envolvimento dos cristãos nas lutas trabalhistas americanas do século XIX. Por que mais uma vez o autor optou por deixar os seus leitores em completa ignorância do contexto sociopolítico e econômico americano da época? Por que nenhuma distinção é feita entre os sindicatos bem organizados de hoje? Por que nenhuma alusão é feita ao fato de que várias greves sindicais da época, caracterizadas por forte violência, simplesmente prejudicaram a própria causa dos trabalhadores, em vez de beneficiá-la? Além disso, por que o autor não mencionou as atitudes das demais denominações "evangélicas", na época, para com esses mesmos sindicatos? Uma abordagem científica do assunto não poderia haver desconhecido também o clássico artigo do Dr. Carlos A. Schwantes, professor de História na Universidade de Idaho, intitulado "Labor Unions and Seventh-day Adventists: The Formative Years, 1877-1903, "Adventists Heritage" (inverno 1977): 11-19- Mais uma vez Sérgio Quevedo não conseguiu perceber que a intenção de Ellen White não era tolher os direitos dos trabalhadores, mas simplesmente incentivá-los a assegurar seus direitos de forma pacífica, sem o uso da violência, característica das greves sindicais da época. É por essa razão que a Igreja Adventista não proíbe seus membros de se vincularem aos sindicatos modernos, mas apenas os orienta a não desconhecerem os princípios da não-violência ensinados por Cristo (ver Mat. 5:38-42).
Especialistas em análise literária e/ou hermenêutica bíblica poderão acabar questionando se deveriam encarar os problemas hermenêuticos da série "Heresias e Contradições nos Escritos de Ellen G. White" como restritos apenas às críticas que Sérgio Quevedo faz aos escritos da Sra. White, ou se deveriam entendê-los como um padrão hermenêutico que o autor costuma usar inclusive em suas interpretações das Escrituras!...
Desconhecendo o contexto da época, alguém poderia acusar o próprio apóstolo Paulo de discriminação sexual, ao ordenar que as mulheres ficassem caladas na igreja (ver I Cor. 14:34 e 35). Isso confirma mais uma vez o princípio básico de que, para conhecermos o pensamento de um autor (inclusive de Ellen White), não podemos confiar meramente nas opiniões dos seus apaixonados advogados ou dos seus acérrimos inimigos, mas devemos estudá-los por nós mesmos, para ver se as coisas são "de fato, assim" (ver Atos 17:11).          



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Fonte:
Revista Adventista, agosto de 1998. Casa Publicadora Brasileira, págs. 32-33.

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