segunda-feira, 1 de agosto de 2016

A Ford Motor Company, a General Motors e as igrejas evangélicas no Brasil

A Ford Motor Company, a General Motors e as igrejas evangélicas no Brasil
Por: Ed René Kivitz
Vou construir um carro a motor para grandes multidões.  O preço será tão baixo que todos os que tiverem um ^V bom salário poderão adquirir esse carro. O cavalo terá desaparecido de nossas estradas e o carro será algo corriqueiro." Estas palavras descrevem a visão de Henry Ford. Pragmático, Ford colocou trem de pouso em sua visão e disse como faria que seu sonho se tornasse realidade. "A maneira de se fazer carros é produzi-los um igual ao outro, igual ao outro, igual ao outro... Quanto menos complexo for o nosso carro, tanto mais fácil será fabricá-lo, tanto mais barato poderemos vendê-lo e, portanto, tanto maior o número que poderá ser vendido."
Ford acertou na mosca. O Modelo T começou a ser produzido em 1908, e foram vendidos 5.986 carros a um preço de U$ 850 cada. Mas, em 1916, apenas oito anos depois, o custo caiu para U$ 360 e foram vendidos 577.036 carros. Em 1920, 33% das famílias americanas possuíam um carro. Esta porcentagem subiu para 77% em 1930. Sua estratégia foi perfeita para um mercado virgem: um carro universal, vendido ao menor custo possível. Ford ficou milionário.
Mas, em 1930, o mercado de automóveis ficou saturado. A Ford tinha que procurar uma forma de motivar as pessoas a comprar seu segundo carro, mas Henry Ford ficou preso em sua história de sucesso e não foi capaz de perceber a mudança no consumidor.
Houve um camarada, entretanto, que conseguiu perceber o novo espírito da época. Alfredo Sloan tornou-se presidente da General Motors em 1923, e criou um dos maiores sucessos da história empresarial americana e mundial. A tese de Sloan era oposta à de Ford. Enquanto Ford queria produzir o mesmo tipo de carro em grande quantidade para garantir um custo baixo, Sloan resolveu produzir um carro para cada bolso e cada necessidade. Em outras palavras, Sloan inventou a segmentação. Desta vez, foi ele quem acertou na mosca. Durante os anos 20, a General Motors bateu a Ford tanto em parcela de mercado quanto em lucro. Aliás, teve um lucro maior do que a Ford durante mais de mais 60 anos ininterruptos, de 1925 a 1986.
Fiquei fascinado com esta história contada por Clemente Nóbrega em seu livro Em busca da empresa quântica, à luz de estudos feitos por Richard Tedlow, historiador de negócios de Harvard. Seu paralelo com a história da Igreja no Brasil é significativo. Observe que, ao final do século passado, ninguém no Brasil tinha carro, isto é, o Brasil era um mercado virgem para a evangelização de tradição protestante. Os primeiros missionários invadiram nossa terra com a proclamação de uma mensagem simples e universal, focalizando a essência da conversão a Jesus Cristo, o Filho de Deus Salvador. Logo a Igreja fincou suas raízes nesta terra que, "em se plantando, tudo dá", pois com o Evangelho não foi diferente, a semente vingou.
A primeira fase da evangelização do Brasil comportava macroconceitos e um tratamento razoavelmente uniforme da população que se convertia. Neste período surgiram também os grandes blocos denominacionais com suas distinções claras em termos de ênfases na proclamação, formas litúrgicas e estruturas eclesiásticas. Em outras palavras, houve um tempo em que as massas puderam ser tratadas com certa uniformidade, e para elas podiam ser vendidos poucos modelos de carros. Mas este tempo acabou. Quem deseja ainda tratar a população evangélica como uma massa uniforme e empurrar para ela um Evangelho versão Modelo T perdeu o bonde da história. Aliás, a afirmação "sou evangélico" hoje não diz absolutamente nada, pela simples razão de dizer tantas coisas ao mesmo tempo, coisas inclusive contraditórias entre si.
Em termos práticos, o que conta hoje é a afinidade visionária. Os fenômenos dos últimos anos no mundo evangélico atropelaram os blocos denominacionais e criaram um novo paradigma de comunhão. Por exemplo, os movimentos da missão integral e da espiritualidade, da teologia da prosperidade e de batalha espiritual, as ondas de igreja em células e o mais recente e badalado G12 se espalharam por igrejas locais e conquistaram líderes cristãos, independentemente de sua identidade (ou falta de identidade) denominacional. As iniciativas para a unidade da Igreja na história recente do Brasil não passaram de pretextos para aglutinação de afins com interesses escusos de aproveitamento do mercado evangélico. A Igreja Evangélica hoje é uma grande Babel, que reflete um espírito de época, e se organiza tal e qual qualquer mercado: pela via da segmentação. Compete, pois, a cada cristão e líder cristão discernir as vozes e escolher seus guias, cultivar o respeito mútuo na diversidade, encontrar seus pares para cultivar o diálogo e, principalmente, redescobrir a singularidade e a centralidade da igreja local para cumprimento do propósito de Deus: manifestar sua multiforme graça para que o mundo se encha do conhecimento da glória do Senhor como as águas cobrem o mar.


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Fonte:
Revista Eclésia. Ano V - Nº 54 - Maio de 2000. Editora Eclesia. São Paulo, pág. 13.

A longa caminhada até os dias de hoje

A longa caminhada até os dias de hoje
O grande número redondo está tão perto que os técnicos têm de reprogramar milhões de computadores. Se não forem reparados a tempo, eles vão simplesmente parar de funcionar quando 1999 virar 2000. O resto de nós pode dizer: e daí? Por que todo esse estardalhaço em torno do fim iminente do milênio? Afinal, não passa de um marco arbitrário. O padrão ocidental de contar os anos foi inventado no começo do século VT por um monge chamado Dionísio, o Pequeno. Foi ele quem decidiu que a era cristã começava com a circuncisão de Jesus, uma semana depois do Natal. Amparando a conjectura em sólida matemática, datou o evento de 1° de janeiro do que balizou de anno Domini Um, o primeiro ano do Senhor. Assim, o próximo milênio começa oficialmente em 2001. Os historiadores, no entanto, acreditam agora que a cirurgia sagrada aconteceu alguns anos antes da data estabelecida por Dionísio. Evidente que para os povos não cristãos tudo isso é discussão acadêmica. Em Israel, está-se no ano 5759, enquanto para os japoneses o ano atual é o Heisei 10. É costume no Japão zerar o calendário a cada imperador que sobe ao trono, dando origem a uma nova era. O atual imperador, Akihito, coroado em 1989, abriu a era Heisei, que significa "conquistando a paz".
O que há então de especial sobre um dois e três zeros aparecendo no calendário ocidental? Nada, talvez. Mas, como qualquer aniversário, este nos dá um bom pretexto para ver o que fizemos desde a celebração anterior. A distância pode ser aferida por estatística: a população do mundo aumentou de 300 milhões para 5,9 bilhões, a expectativa de vida, de 30 para 62 anos. Porém, mais notáveis são as mudanças no que esperamos da vida. Quando o milênio anterior chegava ao fim, alguns europeus previram o apocalipse. Peregrinos fizeram procissões de penitência, guerreiros bradaram juras de paz a multidões em êxtase. Mas, quando o ano 1001 chegou, milhões de pessoas não ficaram sequer sabendo, ou pouco se importaram. Poucos conseguiam ler seus próprios nomes, quanto mais um calendário. Comer era a preocupação mais premente. Apesar da melhoria do clima e de inovações na agricultura — a coalheira do cavalo, recém-chegada da China, e o arado de rodas —, as colheitas mal davam para o consumo. O sistema feudal, que forçava os camponeses a dividir a produção com seus senhores, tornava ainda mais difícil evitar a desnutrição.
Em comparação com os camponeses, presos por lei à terra de que não podiam ser donos, os moradores das cidades — comerciantes e artesãos, saltimbancos e ladrões — levavam uma vida de liberdade vertiginosa. Altas muralhas os protegiam contra ataques de bárbaros e de exércitos mercenários.
Uma mistura de pequenos reinos recém-saídos da caótica Era das Trevas que se instalou depois do saque de Roma pelos visigodos, em 410, a Europa era um lugar bem atrasado em 1001. Perdera-se boa parte da herança greco-romana de refinamento cultural e conhecimento tecnológico. A erudição confinava-se em alguns mosteiros esparsos. Embora os nobres e uma burguesia nascente começassem a ler, os livros eram escassos.
O mundo europeu e o islâmico absorviam ensinamentos da China, a sociedade mais bem organizada e tecnologicamente avançada do planeta. Na maioria das aldeias havia escola primária e um em cada vinte estudantes chegava ao ensino superior. A medicina chinesa — acupuntura e ervas medicinais — culminava o desenvolvimento de séculos. Poetas e pintores criavam uma arte que deixava tosca a do Ocidente. As oficinas chinesas produziam maravilhas: livros impressos., bússolas, bombas. Quando os europeus aprenderam enfim a fabricar tais coisas, talvez instruídos por mercadores árabes, houve repercussões em todos os continentes.
As informações fluíam devagar entre Europa e Ásia na aurora do milênio, mas entre muitos lugares do mundo simplesmente não havia contatos. O reino de Gana vivia o apogeu, com mercados transbordando de riquezas da África e escultores criando obras-primas em ouro, mas ninguém ao norte do Saara tomava conhecimento dele. No que agora é o México, os toltecas erguiam pirâmides enormes, mas ninguém a poucas semanas de caminhada sabia de sua existência, Leif Eriksson foi da Groenlândia à América do Norte, mas a notícia não saiu da Escandinávia. Ainda assim, as culturas espalhadas do mundo antigo compartilhavam uma característica essencial: fundavam-se todas firmemente na religião. O cirurgião hindu ou o navegante viking não ousariam erguer um dedo sem consultar seus deuses. Os hereges arriscavam-se à fogueira e os infiéis, à cimitarra islâmica.
Como saímos de um mundo como aquele para chegar ao nosso? As páginas seguintes são uma tentativa de reconstituir essa trajetória grandiosa. O que se vai ler e ver é o resultado de um trabalho monumental empreendido originalmente pela revista americana Life e reproduzido com exclusividade no Brasil por VEJA. Duas dezenas de jornalistas consultaram montanhas de livros e especialistas de quase todas as áreas do conhecimento para compilar a lista de uma centena de eventos e personagens que marcaram o milênio. Foram necessários meses de reuniões, às vezes tempestuosas, para se chegar à escolha final. Propositalmente, para aumentar o suspense da leitura, os eventos aparecem listados em ordem inversa de importância, de 100 até 1. Os critérios de escolha foram muitos e amplos. Levou-se em conta quantas pessoas um determinado acontecimento afetou. Que diferença ele fez na vida cotidiana dessas pessoas. Tal como os cálculos do calendário do monge Dionísio, o Pequeno, esse projeto (até mesmo sua publicação prematura) é um exercício arbitrário que pode provocar discussões tão acirradas quanto as que marcaram sua criação. Foi sempre assim com as grandes comemorações: quanto mais emocionante o tempo que se passou entre uma e outra, mais elas suscitam controvérsias. A viagem do ano 1001 até os nossos dias foi, sem dúvida, espetacular.

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Fonte:
Revista Veja - Edição Especial: Milênio - Os 100 fatos que mudaram o mundo do ano 1001 até hoje. Editora Abril. São Paulo, 2000, págs. 14-15.

Alexandria: Cidade de Quatro Civilizações

Alexandria: Cidade de Quatro Civilizações
COM cerca de cinco milhões de habitantes, Alexandria — Iskunderieh, em árabe - é a segunda maior cidade do Egito. Tem aspecto mediterrâneo, com grandes avenidas arborizadas, praças com estátuas de bronze e imponentes edifícios públicos. E somente revela sua localização, no norte da África, em seus bairros tipicamente árabes e suas mesquitas, de cujos minaretes os muezzins chamam para a oração cinco vezes por dia. O bonde amarelo que os alexandrinos chamam de metro passa perto da Mesquita de Abul-al-Abbas, um exemplo expressivo da arquitetura muçulmana.
Foi construída em 1943 no lugar de uma outra mesquita, de 1767. que se elevava em cima da tumba de um santo muçulmano do século XIII. Alguns metros mais embaixo, provavelmente sob o lençol freático, estão os restos dos palácios dos faraós ptolomaicos que criaram a grandeza da Alexandria helenística. A cidade foi fundada por Alexandre Magno e guarda em lugar desconhecido o túmulo do fundador. Capital do Egito por quase mil anos, o brilho de seus monumentos no período áureo chegou a superar os de Roma. Mas hoje não se pode visitá-los. Quase tudo foi destruído, encontra-se debaixo da água ou foi encoberto pela cidade moderna. Felizmente, restam os relatos dos cronistas antigos, como o historiador Políbio (200-120 a. C.) ou o geógrafo Estrabão, do primeiro século antes de Cristo.
A escolha do sítio foi política. Alexandre queria uma cidade portuária grega, separada do interior xenófobo do Egito. Seria "Alexandria perto do Egito", e, depois da destruição de Tiro e Gaza, o único porto grego da região, tendo como rival apenas a Cartago fenícia, cerca de 1.700 quilômetros a oeste. O arquiteto Dinocrates de Rodes criou para Alexandre uma cidade murada em forma de trapézio, com 6.000 por 1.500 metros, em frente à ilha de Faro.
Um dique de 1.200 metros de extensão unia a pequena porção de terra ao continente, formando dois portos seguros. As ruas, por sua vez, foram construídas como um tabuleiro de xadrez: cruzavam-se em ângulos retos, com praças e espaços verdes, entrecortadas nas direções norte-sul e leste-oeste por duas avenidas de 30 metros de largura. Estas eram ladeadas por colunatas para dar sombra aos pedestres, e iluminadas de noite com lâmpadas a óleo. Um sistema de esgotos subterrâneo acompanhava as ruas, enquanto aquedutos e cisternas forneciam água potável.
Sob Ptolomeu I Sóter (367-283 a. C.), primeiro governador de Alexandre e, depois, seu sucessor e fundador da dinastia ptolomaica, a cidade tornou-se centro da cultura helenística. A população cresceu rapidamente. As muralhas duplas de 15 quilômetros de circunferência, reforçadas por muitas torres, guardavam um areal urbano de 750 hectares. A interpenetração de culturas e o progresso comercial criaram uma metrópole pujante, que no século II a. C. ultrapassou Atenas e Roma.
Alexandria possuiu edifícios grandiosos, provavelmente inspirados em modelos egípcios: palácios, santuários, gigantescas casas de banhos e outros edifícios públicos. Ptolomeu fundou o Museion (lar das musas), que seria mais bem traduzido como universidade do que propriamente como museu. Lá trabalhavam os maiores cientistas. Grandes nomes como Euclides, que ensinava geometria; e Arquimedes, mecânica. Aristarco de Samos, por exemplo, lá desenvolveu a teoria heliocêntrica, e o diretor da instituição, Eratóstenes de Cirena, calculou a circunferência da Terra em 39.706 quilômetros.
A famosa biblioteca guardava todos os conhecimentos do mundo antigo e, provavelmente, as obras completas da literatura grega. O Velho Testamento também fazia parte do acervo, traduzido pela primeira vez para o grego. Na época de Cleópatra, acredita-se que a instituição possuía mais de 700 mil rolos de manuscritos. O edifício fazia parte do Bairro Real, que ocupava talvez um quarto da cidade, e incluía parques com lagos e pavilhões, um jardim zoológico, casernas e as tumbas da dinastia ptolomaica.
EDIFÍCIOS públicos rodeavam a grande praça Mesopoedion. Segundo a tradição, à margem oriental estava o túmulo de  Alexandre - onde ele repousou em seus féretros de ouro e de vidro por 600 anos. Com o advento do cristianismo, sua localização foi esquecida. E possível que os restos de seu monumento ainda estejam debaixo da Avenida Al-Hurriya, ao noroeste de Kom-al-Dikka, próximo à estação da estrada de ferro para o Cairo. Aliás, Al-Hurriya pode bem corresponder à Via Canópia, que com suas colunatas ligava a Porta do Sol, no leste; à Porta da Lua, no oeste. Acredita-se que os restos do Museion estejam escondidos debaixo do atual Museu Greco-Romano.
Gregos, egípcios, judeus e outras etnias de todos os cantos do mundo acorriam para Alexandria, onde tinham bairros específicos. Fontes antigas falam de uma população expressiva que variou de cem mil até um milhão de habitantes. "A grande, a feliz, a metrópole do mundo, a casa de Afrodite, de vinhos finos e mulheres lindas", cantava o poeta Herodas, no começo do século II antes de Cristo.
Já o famoso Farol, construído no reino de Ptolomeu II Filadelfo e inaugurado por volta de 280 a. C, na ilha de Faro, deu o nome a todos os futuros faróis. Os documentos informam que sua altura estava entre 100 e 150 metros e lhe valeu o título de uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. A gigantesca estrutura tinha um pedestal retangular de 340 metros de lado. O primeiro piso, um quadrado, tinha 200 aposentos, que serviam de depósitos e abrigavam técnicos e guardas. O segundo, em formato octogonal, e o terceiro, redondo, davam sustentação à sala da lanterna.
No topo, com oito colunas, erguia-se a estátua de Posêidon, com sete metros e toda em bronze. Escadas em espiral e um poço para o transporte de combustível subiam até a sala da lanterna. E a luz era refletida por espelhos de metal polido. O Farol continuou funcionando depois da conquista árabe, no século VII, mas foi danificado pelo terremoto de 1100 e totalmente destruído no ano de 1375.
Por volta do século III a. C., os egípcios ainda não aceitavam o panteão grego. Assim, para unir seus súditos, os reis ptolomaicos criaram o culto a Serápis, um deus greco-asiático, sósia de Plutão, senhor dos mortos, e logo identificado pelo povo com Osíris, o amado deus dos mortos e da vida eterna. Serápis, divindade sincrética cujo nome provavelmente deriva do egípcio Userhapi (Osíris-Ápis), era apresentado como equivalente antropomórfico do touro morto Ápis (adorado no Egito e assimilado a Osíris); enquanto o egípcio Anúbis, com cabeça de chacal, era equiparado ao grego Cérbero, o cão responsável por vigiar o mundo das trevas.
O mundo helenístico imediatamente aceitou Serápis - mais grego que egípcio - como Sóter, o Salvador. Associado à grande deusa Isis e a seu filho, Hórus, divindades eminentemente protetoras, ele manteve sua posição no panteão até a vitória do cristianismo. No século II a. C. havia 42 templos desta divindade no Egito. O Serapéu alexandrino encontrava-se no topo da colina de Karmuz, acrópole magnífica rodeada por santuários e outros edifícios, como a nova biblioteca de Cleópatra, com 200 mil livros. Dentro do templo, a imagem do deus era do tipo grego: Plutão ou Hades, sentado no trono, um cesto de medida de trigo na cabeça e uni cetro na mão. Aos seus pés, o cão Cérbero com três cabeças, e uma serpente. O culto alastrou-se rapidamente em Roma e tornou-se uma das religiões mais importantes do Ocidente pagão.
Quem fala de Alexandria inevitavelmente pensa em Cleópatra. Nossa Cleópatra, a VII, que tinha 18 anos quando herdou o trono, em 51 a. C., e era casada - segundo o costume egípcio - com o irmão, Ptolomeu XIII. A história, tantas vezes narrada em livros e levada às telas do cinema, teve a participação de Júlio César. Em 47 a. C., ele entra em Alexandria com quatro mil legionários e é seduzido pela jovem rainha. A cidade fica, então, em crise. Durante as lutas, parte dela arde em chamas e todos os 700 mil livros da biblioteca são destruídos.
César foi vitorioso, como sempre. O resto da história também é conhecido. Depois da curta ligação com César, que foi assassinado em 44 a. C., Cleópatra uniu-se a Marco António, que por sua vez já era casado com a irmã de Otaviano, um forte pretendente ao poder supremo em Roma. Na guerra daí decorrente, as forças egípcias de Cleópatra e António foram derrotadas, e ambos cometeram suicídio.


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Fonte:
Revista Geográfica Universal. Nº 283 - Agosto de 1998. Bloch Editores. Rio de Janeiro, págs. 70-74.

As Funções do Bacharel em Direito

Orientação Profissional: Direito
O bacharel em Direito pode advogar ou, se preferir, seguira carreira jurídica. Como advogado, ele representa o cliente e seus interesses em qualquer instância, juízo ou tribunal. Pode, ainda, trabalhar em assessoria e consultoria jurídica de empresas públicas e privadas.
Na carreira jurídica, por meio de concurso público, torna-se delegado de polícia, promotor de Justiça ou juiz de Direito. Ao promotor de Justiça, na área do Ministério Público, cabe impetrar ações em defesa dos interesses da sociedade. Na área da Magistratura, assume as funções de juiz, desembargador ou ministro, julgando processos, emitindo despachos e proferindo sentenças.
Características que ajudam na profissão
- Facilidade no uso da linguagem e na análise de objetivos e planos.
- Capacidade de argumentação e de transmissão de ideias, sociabilidade, desembaraço, iniciativa e alguma agressividade na defesa de suas teses são também importantes.
Especializações
Advocacia Geral: Representação de empresas, instituições ou pessoas físicas nas ações que envolvem os interesses do seu cliente, seja ele autor, réu ou simples interessado; prestação de assistência jurídica, apresentação de recursos em qualquer instância, comparecimento a audiências e a outros atos; orientação do cliente quanto a seus direitos; prestação de serviços de consultoria jurídica, em geral.
Direito Penal e Criminologia: Apresentação de defesas ou acusações em juízo ou em tribunal de júri; levantamento de informações e coleta dos depoimentos de testemunhas necessários ao caso; defesa de causas de direito privado ou público.
Direito Político, Administrativo e Financeiro: Aplicação de normas e princípios que regulam a arrecadação de tributos, as obrigações tributárias e as atribuições dos órgãos fiscalizadores.
Direito Privado e Processo Civil: Representação e assessoria a clientes quanto a transações de compra e venda de propriedades, contratos, divórcios, testamentos e outros atos de ordem privada, relativos a pessoas, bens e suas relações.
Direito do Trabalho e da Segurança Social: Representação e assessoria de pessoas físicas ou empresas em questões trabalhistas, através da aplicação da legislação que rege as relações de trabalho; defesa de causas referentes à Previdência Social e questões sindicais, entre outros.
Mercado de Trabalho
Devido ao processo de democratização do país, as pessoas têm recorrido cada vez mais à Justiça para exigir e garantir seus direitos. Esse fato tem dado uma nova vitalidade ao mercado de trabalho.
Para se ter uma ideia, são milhares de ações correndo na Justiça que tratam de questões como correção de pensões e de aposentadorias, problemas de aluguel, devolução de empréstimos compulsórios e até a defesa dos direitos do consumidor.
As áreas trabalhista e tributária também crescem, com o profissional trabalhando em grandes empresas ou na assessoria a pessoas físicas, sindicatos e associações de classe.
Na magistratura, o ingresso se dá por disputadíssimos concursos públicos já que os salários são compensadores.
Mas também existem problemas. E um deles é o grande número de escolas de Direito em todo o país, que jogam milhares de profissionais no mercado. Resultado: dificuldade em se conseguir um emprego e achatamento salarial. As melhores oportunidades estão nos bancos e nas multinacionais. Também como autônomo, o advogado tem que lutar para conquistar espaço num mercado saturado.
Área do curso: Humana
Habilitação: Bacharel em Direito
Duração mínima do curso: Quatro anos
Currículo mínimo: Formação Básica - Introdução ao Direito, Economia, Sociologia.
Formação Específica: Direito Constitucional, Direito Civil, Direito Penal, Direito Comercial, Direito do Trabalho, Direito Administrativo, Direi to Processual Civil, Direito Processual Penal, e mais duas, entre as seguintes disciplinas: Direito Internacional Público, Direito Internacional Privado, Ciências das Finanças e Direito Financeiro, Direito de Navegação, Direito Romano, Direito Agrário, Direito Previdenciário, Medicina Legal, Estudos de Problemas Brasileiros e Educação Física. Estágio supervisionado em Prática Forense.
Faixas salariais
A remuneração varia de acordo com o setor em que se trabalhe e de Região para Região. Em São Paulo, por exemplo, no setor privado, os salários estão entre 3 SM para o advogado júnior e 15.5SM para o sênior. Já em Minas Gerais, a média salarial é de 7 SM nas empresas privadas. No Ministério Público, a remuneração alcança 12 SM, mais 100% de verba de representação. Um advogado do setor público, no Espírito Santo, ganha entre 2,5 SM e 5 SM. Na região Sul, o iniciante recebe cerca de 12 SM. Em Santa Catarina, o salário inicial é de 5 SM mas pode chegar a 20, no decorrer da carreira. Em Pernambuco, um advogado recém-formado ganha algo em torno de 6 SM, chegando a 10 ou 12 SM em cargos de chefia, tanto nas empresas públicas quanto nas particulares.
Na Bahia, a remuneração média é de 6 SM, mais 5% de honorário a cada causa ganha. Na Paraíba, promotores e juízes recebem cerca de 36 SM. Na região Centro-Oeste, um advogado goiano tem renda mensal perto de 12 SM. Como funcionário público, a remuneração é de 5 SM. Em Brasília, os salários médios ficam em 15 SM.

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Fonte:
Revista Jovem Cristão. Ano XIV - Nº 49 - Agosto/Setembro de 1993. Editora CPAD. Rio de Janeiro, págs. 26-28.

As funções do Relações Públicas

Orientação Profissional: Relações Públicas
Os primeiros profissionais de relações públicas eram vistos pejorativamente como "organizadores de festinhas e coquetéis". Ou pior, como pessoas que trabalhavam para vender uma boa imagem de maus produtos. Hoje, porém, não se pensa mais assim e as empresas compreenderam a importância de contar com um bom serviço de Relações Públicas. Num momento em que o povo participa ativamente das decisões, conhecimento de sua força, exige esclarecimentos, conhece os seus direitos, deseja criticar e expressar exatamente o que pensa e empreende esforços para que ocorra o aperfeiçoamento de nossa democracia, é que se faz necessária a consciência da responsabilidade social exercida pelo profissional de Relações Públicas.
O papel do Relações Públicas
"O verdadeiro papel do Relações Públicas é estabelecer uma linha de entendimento e equilíbrio entre pessoas e entidades. Ele tem por natureza uma função político-social. Preocupadas com sua imagem externa, as empresas de hoje precisam muito desse profissional que funciona como um elo de aproximação entre o cliente e seu público", diz o ex-assessor de Comunicação da Prefeitura do Rio de Janeiro, professor Sérgio Gramático. Para que sejam criadas soluções de convivência harmônica entre diferentes organismos é fundamentai para o profissional que ele seja também um pouco de publicitário e jornalista: ter uma formação que envolva Marketing, jornalismo, pesquisa, propaganda e relacionamento profissional com pessoas de áreas variadas. Cabe também ao Relações Públicas cuidar do intercâmbio e da comunicação dentro da própria empresa. Fazem parte de sua rotina de trabalho a organização de eventos, o estabelecimento de uma política de comunicação para a empresa, a orientação de palestras, redação de discursos, lançamento de produtos, confecção de informativos e publicações para clientes, murais e relatórios anuais; enfim, tudo o que diga respeito à comunicação entre a empresa e seus clientes, entre a empresa e funcionários ou entre os próprios funcionários.
Os cursos de Relações Públicas
Os cursos de Relações Públicas ministrados pelas faculdades brasileiras são considerados pela International Public Relations Association como os melhores do mundo por sua abrangência curricular. As escolas, além de enfocarem as matérias da área humana, incluem também os aspectos administrativos do trabalho de Relações Públicas, condições fundamentais para a formação de bons profissionais.
Apesar disso, há alguns problemas como a ausência de agências experimentais de Relações Públicas na maioria dos cursos. Com o objetivo de colocar o aluno em contato direto com a prática da profissão, essas agências, contudo, exigem equipamentos caros e muitas escolas não têm verba para isso. Para quem se formou faltam também cursos de extensão que proporcionem reciclagem de conhecimentos. O mercado é dos melhores e não faltam empregos para quem se inicia na carreira. Os profissionais reclamam apenas de uma fiscalização mais rigorosa para o exercício da profissão, pois é comum que pessoas de outras áreas desempenhem as funções de Relações Públicas nas empresas.
Regulamentação do curso: Lei 5377-11/12/1967, e Decreto 63283 - 26/09/ 1968.
Duração do curso: mínimo de quatro anos.
Currículo mínimo: Formação Específica: Língua Portuguesa-Re-daçãp e Expressão Oral, Técnicas de Relações Públicas, Teoria e Pesquisa, Técnica de Opinião Pública, Técnicas de Comunicação Dirigida, Administração e Assessoria de Relações Públicas, Planejamento de Relações Públicas, Legislação e Ética de Relações Públicas.


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Fonte:
Revista Jovem Cristão. Ano XIV - Nº 48 - Junho/Julho de 1993. Editora CPAD. Rio de Janeiro, págs. 26-28.

Noite do terror

Noite do terror
Evangélicos causam escândalo ao tentar ressuscitar criança morta
Paulínia, cidade da região de Campinas, no interior paulista, presenciou no domingo, 12 de maio, uma autêntica história de terror. E os protagonistas não foram ladrões ou sequestradores que andam apavorando a região, e sim, um grupo de evangélicos. Após o culto noturno da Assembleia de Deus, no bairro de Vila Nunes, cerca de 30 crentes, comandados pelo pastor Claudinei Batista de Paiva, 33 anos, deixaram o templo e se dirigiram para o Cemitério Municipal. Lá, eles arrombaram os portões, violaram o túmulo e desenterraram a menina Nicole Camilo Ramos, morta havia quatro dias. O corpo, já em decomposição, foi colocado sobre uma laje e o grupo começou a orar pedindo a ressurreição da menina. Acionada através de denúncia de uma das testemunhas, a polícia chegou ao local e acabou com o ritual. Do grupo, dez pessoas foram detidas, incluindo o pastor e os pais da criança.
Nicole, de apenas um ano, morreu atropelada acidentalmente pelo próprio pai, o comerciante Marcos Donizete Ramos. Ele manobrava seu carro, na garagem de casa, e não viu a garota. Inconformada com a tragédia, a família buscou o socorro espiritual da igreja. Em depoimento à polícia e aparentando tranquilidade, o pastor Claudinei contou que recebera uma revelação de Deus, mandando que ele ressuscitasse a filha do comerciante. "Temos que ter calma. Todos estavam tomados por sorte emoção por causa da maneira como a menina morreu", comentou Jair Pedro, um dos quatro advogados contratados pela Assembleia de Deus para acompanhar o caso.
Reação popular - O coveiro Adriano Trindade, que há 30 anos trabalha no cemitério, disse que nunca viu caso semelhante. O grupo foi autuado em flagrante por violação de sepultura, vilipêndio de cadáver e danos a patrimônio público. As penas somadas podem chegar a três anos de prisão para cada um dos envolvidos. Eles responderão ao processo em liberdade, pois apesar do Código Penal considerara violação de túmulo um crime inafiançável, os advogados da igreja conseguiram um habeas-corpus alegando que os réus são primários.
Em entrevista concedida à imprensa, o dirigente regional da Assembleia de Deus, pastor Samuel Ferreira, prometeu rigor na apuração do caso. Apesar da denominação pentecostal acreditar em milagres como a ressurreição de mortos, Samuel entende que Claudinei foi movido por uma fé cega. A Bíblia relata vários casos de mortos que voltaram à vida milagrosamente. Contudo, os inúmeros relatos de milagres semelhantes ocorridos hoje em dia carecem de comprovação médica, ficando restritos ao campo da fé.
Além de responder à Justiça como mentor do crime, Claudinei será submetido a uma sindicância interna da igreja para apurar os excessos do ato. Enquanto aguarda o desfecho, o pastor já resolveu que vai se mudar de cidade com a família. Ele sente-se ameaçado devido à reação popular que o episódio suscitou.


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Fonte:
Revista Eclésia. Ano VII - Nº 78 - Junho de 2002. Editora Eclesia. São Paulo, pág. 26.

O grande Cisma e o nascimento da Igreja Ortodoxa

O grande Cisma e o nascimento da Igreja Ortodoxa
Elemento central da identidade nacional russa, o cristianismo ortodoxo nasceu do chamado "Grande Cisma", de 1054. Nesse ano, o papa Leão IX excomungou o patriarca de Constantinopla, Miguel Cerulário, que por sua vez excomungou o pontífice romano.
Desde então, surgiram dois cristianismos: o ortodoxo, que é mais "oriental", mais "primordial", mais próximo das origens da religião; e o catolicismo, que é mais "imperial" e europeu. Esses aspectos podem ser facilmente observados na arquitetura, na arte religiosa e nas vestes dos sacerdotes e religiosos de cada vertente. Os padres russos, por exemplo, usam compridas batinas pretas, chapéus especiais e longas barbas. Além disso, a Igreja Católica se deixou influenciar pela abordagem racionalista e individualista da Renascença (séculos XV e XVI) e da "filosofia das Luzes" (século XVIII), algo que não se verificou no cristianismo oriental. Em seu livro Remembering in a world of forgetting (Lembrando em um mundo de esquecimento), o escritor britânico William Stoddart traça um interessante paralelo entre as vertentes do cristianismo e do is-lamismo: segundo ele, enquanto o catolicismo, mais "sóbrio" e racional, pode ser comparado ao Islã sunita, a ortodoxia, mais mística, se aproxima do xiismo.
A causa teológica fundamental da separação entre católicos ocidentais e ortodoxos orientais foi a questão do filioque: enquanto os russos e gregos permaneceram fiéis ao estipulado pelo Concílio de Nicéia (589), segundo o qual o Espírito Santo procede somente da primeira pessoa da Trindade, os católicos introduziram, a partir do século VI, na Espanha, a cláusula inovadora de que o Espírito procede do Pai e do Filho (filioque, em latim).
Outra discordância diz respeito à autoridade religiosa. Os ortodoxos não aceitam a superioridade do papa de Roma sobre os cinco outros patriarcas da Igreja Ortodoxa (de Moscou, Constantinopla, Jerusalém, Antioquia e Alexandria). Para eles, o papa é primus inter pares ("primeiro entre iguais"), mas não concordam que tenha a palavra final em questões teológicas, morais ou disciplinares. Ele não poderia, por exemplo, ter imposto o filioque ou o celibato sacerdotal a toda a Igreja. Ao contrário dos sacerdotes católicos, os ortodoxos podem se casar e ter filhos, e o celibato é restrito aos bispos e monges. No cristianismo oriental, o divórcio é permitido por motivos graves, e rejeitado pela doutrina católica.
Os ortodoxos tampouco aceitam dogmas católicos como o da infalibilidade papal ou o da existência do purgatório. No campo litúrgico, os cristãos ortodoxos seguem o rito de são João Crisóstomo, e os católicos, o rito romano. O sinal-da-cruz também é feito de forma diferente segundo a confissão: na ortodoxia, ele vai da direita para a esquerda, simbolizando o fato de que o cristianismo nasceu no Oriente e foi levado para o Ocidente - e também que Jesus surgiu entre os judeus, mas sua mensagem foi absorvida pelos gentios. No sinal ortodoxo, três dedos se juntam para representar a Trindade. No sinal católico o sentido é o inverso e a mão está aberta, perdendo o simbolismo trinitário dos dedos.

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Fonte:
Revista História Viva. Ano 5 - Nº 53 - Março de 2002. Duetto Editorial. São Paulo, págs. 34-35.

Algumas facções judaicas

Algumas facções judaicas
Essênios: Esperavam para breve o Juízo Final. Embora houvesse uma facção celibatária, alguns essênios casavam-se apenas para procriar. Contrários à forma como era praticada a religião no Templo de Jerusalém, recusavam o sacrifício de animais e rejeitavam a prática de juramentos para reforçar suas afirmações. Praticavam banhos e banquetes rituais e defendiam a vida em comunidade, a partilha dos bens e a dedicação ao estudo e à oração.
Fariseus: Flexíveis na interpretação das escrituras, valorizavam a erudição, questionavam a tradição e adaptavam as leis às circunstâncias. Pacifistas, reformaram a tradição judaica que sobreviveu ao massacre por Roma. Acreditavam na alma imortal e na ressurreição, mas não eram messiânicos ou apocalípticos: para eles, o Reino de Deus deveria ser realizado no presente, sem aguardar por uma vida futura.
Zelotas: De origem sacerdotal, eles pregavam a expulsão dos romanos e a morte dos judeus que colaboravam com o invasor, chegando a matar os que se casavam com mulheres pagãs. Desencadearam a revolta contra os romanos que levou à Guerra Judaica (66-70 d.C.). Entre os seguidores de Jesus, Pedro, Judas e seu irmão Tiago teriam sido zelotas.
Sicários: "Homens com punhal", partilhavam das mesmas crenças dos fariseus, mas viam a guerrilha contra Roma como um preparo de ações maiores a serem realizadas na chegada do Reino de Deus.
Saduceus: Aristocráticos, estavam sempre ao lado de quem detinha o poder. Dominavam os serviços religiosos no Templo em Jerusalém, e interpretavam literalmente as leis. Reconheciam como válidas apenas as escrituras sagradas, negavam a imortalidade da alma e a ressurreição no Juízo Final.


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Fonte:
Revista Galileu. Ano 11 - Nº 128 - Março de 2002. Editora Globo. Rio de Janeiro, pág. 33.

A Grande Pirâmide de Gize

A Grande Pirâmide de Gize
Por: Maria Dolores Duarte
A mais antiga maravilha é a única que ainda está de pé
A Grande Pirâmide de Gize, no Egito, é a mais antiga das Sete Maravilhas do mundo antigo — e a única que ainda existe. Erguida em 2550 a.C., foi trabalho para muita gente. Estima-se que 100 mil homens tenham participado de sua construção, que levou cerca de 20 anos. Eram homens livres, pagos muitas vezes com comida e cerveja.
Três construções formam o complexo conhecido como Pirâmides de Gize. Mas apenas a maior, a Grande Pirâmide, é considerada uma das maravilhas. Ela foi construída pelo faraó Quéops (seu nome egípcio era Khufu; Quéops é o nome grego, mais famoso) para ser sua tumba, no platô de Gize, perto do Cairo. Suas dimensões são monumentais: 137 metros de altura — originalmente eram 147 — e 227 metros em cada lado da base. Ela foi a construção mais alta do mundo até a Torre Eiffel, em Paris, ser inaugurada, em 1889.
"As pirâmides eram obras nacionais, que reuniam todo o Egito, o que ajudava na unificação política", diz o egiptólogo António Brancaglion, do Museu Nacional do Rio de Janeiro. "Existia, inclusive, uma espécie de fundação que geria os recursos destinados aos salários e materiais necessários para sua construção e manutenção."

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Fonte:
Revista Aventuras na História. Edição 45 - Maio de 2007. Editora Abril. São Paulo, pág. 22.

Quando a lente de contato foi inventada?

Quando a lente de contato foi inventada?
A ideia da lente é muito mais antiga que o produto. Em 1508, Leonardo da Vinci imaginou que uma lente corretiva aplicada diretamente na superfície do olho resolveria problemas de visão. Nascia seu conceito, que foi aperfeiçoado ao longo do tempo. Em 1632, René Descartes teve a mesma ideia. Mas só em 1887 o fabricante de peças éticas F.E. Muller e, um ano depois, o médico suíço Adolf Eugen Fick conseguiram transformar as lentes em realidade, produzindo modelos feitos de vidro. Elas, porém, não tiveram lá muita utilidade, pois machucavam o olho.
Em 1929, o oftalmologista William Feinbloom, de Nova York, fabricou uma lente mista de plástico e vidro. Era enorme e dura. No fim dos anos 40, começaram a aparecer no mercado lentes menores feitas de plástico rígido, como as do ótico americano Kevin Tuohy, em 1948.
Foi só em 1971 que a Bausch & Lomb lançou no mercado americano o primeiro modelo de lente gelatinosa, mais maleável e confortável. Já a primeira lente descartável surgiu em 1995. Apesar de todas as novidades, o bom e velho par de óculos segue soberano na preferência dos míopes e portadores de astigmatismo. Nos Estados Unidos, apenas 10% das pessoas que precisam de correção visual usam lentes de contato. No Brasil, apenas 1%.


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Fonte:
Revista Aventuras na História. Edição 53 - Dezembro de 2007. Editora Abril. São Paulo, pág. 10.

O que é o Purgatório

Purgatório
Por: Lívia Lombardo
Só havia duas opções: ou ser quase santo e ir para o céu ou queimar no fogo do inferno
Céu e inferno. Para os cristãos de até meados do século 12, esses eram os únicos destinos das almas após a morte. Os bons, que haviam levado uma vida casta e santa, iriam para o céu. Os maus e pecadores estariam condenados ao inferno e a todas as penas ali presentes, descritas no Apocalipse da Bíblia como sendo a fome, a sede, o frio, o calor, os vermes, o mau cheiro e o fumo. Temendo esse fim, as pessoas iam mais à Igreja, se esforçavam para seguir à risca o que os padres pregavam, faziam penitências.
Mas e aqueles que não eram nem totalmente bons nem completamente maus? A ideia de salvação começou a ser desenhada algum tempo antes, no século 4, pelo teólogo Aurélio Agostinho - mais tarde, Santo Agostinho.
Para ele, os que estavam mais inclinados para a maldade tinham como destino o inferno, mas teriam a chance, por meio das orações dos vivos, de amenizar seu sofrimento. Já aqueles que não haviam sido inteiramente bons passariam por uma purgação para, talvez, alcançar o paraíso. Na época, o purgatório não era um lugar, mas uma ideia de salvação. A imagem dele como um "além" intermediário só se instalou na cristandade entre 1150 e 1250.
Bem antes de os cristãos inventarem o purgatório, outras religiões já possuíam a crença em um lugar intermediário, onde os que cometeram pecados leves poderiam se redimir de seus erros. Na índia do século 6 a.C., por exemplo, os mortos tinham três destinos distintos.
Os justos seriam conduzidos a um mundo de luz. Os maus sofreriam renascimentos de punição, sob a forma de vermes ou insetos, até caírem no inferno. Já os que levaram uma vida intermediária passariam por um período de trevas, seriam comidos pelos deuses e iniciariam um ciclo de renascimentos de perfeição até atingirem o paraíso. Já para os judeus antigos, existia uma categoria composta por homens nem bons nem maus. Eles sofreriam um castigo temporário após a morte, para alcançarem o éden.


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Fonte:
Revista Aventuras na História. Edição 43 - Março de 2007. Editora Abril. São Paulo, pág. 18.

Bíblia: O legado na ficção ocidental

O legado na ficção ocidental
De Dante a Kafka, um mapa do legado bíblico na tradição literária
Por: Flávio Aguiar
A imagem central da Bíblia é a da transformação, pelo menos em sua tradução evangélica. A água transforma-se em vinho, o vinho em sangue. Uma coisa pode vir a ser outra: essa é a grande lição bíblica, ou uma coisa pode se revelar como outra.
Na Bíblia encontramos mutações extraordinárias a todo momento. Javé cria o mundo, partejando-o da treva, separando a terra da água e modelando um jardim, onde põe o homem e a mulher. Mas logo a seguir Eva cria o seu mundo, recriando a própria criação.
É certo que a serpente, imagem de uma Lilith ou Lâmia, espírito maligno, a induz ao feito; mas é ela, Eva, que assim escolhe ser, retraça o seu destino e o de Adão, e inaugura a história humana.
Séculos e séculos, e livros e livros depois, uma outra mulher se transfigura em mãe do Messias; é o anjo que anuncia a gravidez e assim mesmo a engravida pela palavra: "Ave, Maria, bendita sois vós...". Mas é ela que acolhe o destino e revoluciona, dessa forma, não só o mundo, mas o destino das mulheres, ainda que seu exemplo posterior tenha sido usado para construir uma aura de submissão característica de uma sociedade patrícia e patriarcal.
Que diferença em relação ao brilho dos personagens da tradição helena! Aquiles brilha para nós porque será sempre Aquiles, Odisseu será sempre o astuto inventor do cavalo da traição, Heitor é extraordinário porque permanece ele mesmo até o fim.
A melhor tradução dessa permanência do caráter na cultura helênica nos deu o teatro grego, com suas máscaras. A máscara não esconde, mas revela o caráter do personagem. O personagem é a persona que reveste o ator. Édipo é orgulhoso porque é a encarnação do orgulho; com isso derrota a Esfinge, mas, ao mesmo tempo, por não poder ser de outra maneira, vai ao encontro de seu trágico destino. Os perfis dessa tradição são homens e mulheres extraordinários em sua maioria, colocados em situações de exposição extrema.
Já na Bíblia, desde o Antigo Testamento até o Novo, qualquer ser humano, por mais ínfimo que seja, espelha a humanidade como um todo. O "povo escolhido" passa escravizado quase a maior parte do tempo. Caim era lavrador e Abel, pastor. Abraão, o patriarca, era um camponês. Noé foi um carpinteiro (entre outras coisas) que se fez armador ao construir a arca; depois do dilúvio assou toda a carne que levara nela sob a forma de animais vivos; tornou-se vinhateiro e se embebedou. E assim por diante: Moisés foi príncipe, mas era filho de escrava. Cristo semeou entre pescadores, pequenos funcionários como coletores de impostos, prostitutas, pobres e doentes.
Esta força da transformação do destino e do simples em grandioso, aponta Frye em várias passagens, faz parte do principal legado da Bíblia à tradição da literatura do Ocidente, ao lado do travejamento de imagens e de situações que se espelham e se resolvem umas às outras. Esteve presente em grandes momentos da constituição das nossas literaturas.
Quase ao fim do Medievo, Dante a capta ao retraçar o destino humano nas profundezas do Inferno, que é o primeiro dos reinos que ele visita ao começar seu périplo alegórico pelo outro mundo. Pela ortodoxia cristã, nessa altura já consubstanciada na Suma Teológica de São Tomás de Aquino, os condenados do Inferno estavam fadados ao silêncio eterno e à treva total, exceto pelo brilho nos olhos do fogo interior que os consumia.
Entretanto Dante lá desce, ouve-lhes as histórias, e rompe o silêncio prometendo contá-las na superfície, como faz no poema. As passagens pelo Purgatório e depois pelas esferas celestes são igualmente extraordinárias e seminais para a nossa tradição literária; mas não têm a grandiosidade dramática contida nas palavras candentes dos personagens infernais, que reivindicam a radicalidade de suas histórias humanas, num movimento que está prestes a romper para sempre a moldura medieval da estabilidade sempiterna.
No fundo do círculo dos sedutores, Odisseu conta a Dante da viagem que empreendeu pelo Atlântico afora, em busca do conhecimento. A viagem lhe terminou mal; mas em compensação era o prenúncio do Novo Mundo que se estava por inaugurar.
Vivendo num momento revolucionário, o poeta inglês John Milton, no século XVII, captou a essência da transformação do que estava se construindo no seu Paraíso Perdido. Essa marca se encontra tanto na assembleia dos demônios, depois da Queda, quando eles debatem como devem retomar sua luta contra Deus, como no modo como conta o destino de Eva e Adão, que se entregam à radicalidade dos sentimentos humanos, demasiadamente humanos.
Depois de comer do fruto da danação, Eva pede a Adão que se salve, salvando assim também o Paraíso. Ela age assim por amor: não quer que o companheiro desfrute do seu destino de perdição. Entretanto, pelo mesmo amor, Adão diz que não poderá mais viver sem ela, preferindo perder-se a perdê-la.
Em outro quadrante revolucionário, o do século XVIII, o poeta também inglês William Blake vai inaugurar um redesenho do mundo poético, que espelha a extraordinária transformação que a independência das colônias americanas prenuncia e que depois a Revolução Francesa consagra em solo europeu. Não mais a estabilidade das altas esferas atrai os poetas como material poético; ao contrário, é o fogo subterrâneo, a forja das rupturas históricas que, com seu ímpeto revolucionário, descortina o horizonte do possível, como no seu poema "O casamento do céu e do inferno".
Ainda hoje podemos invocar a palavra bíblica para nos ajudar a decifrar os signos do nosso tempo. O que é o destino de Joseph K, em O processo, de Kafka, senão a perda do ser humano num labirinto completamente dessacralizado, cujas trilhas não libertam, só esmagam? Não parece ser este também o destino da contemporaneidade, comprimida entre fanatismos que, em nome de diferentes Bíblias, inclusive uma que se diz laica e republicana, se perde em meio a guerras e ocupações infindas, lembrando a esterilização a que se quis levar Sansão?


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Fonte:
Revista Biblioteca Entre Livros. Nº 2: A Bíblia Muito Além da Fé. Duetto Editorial. São Paulo, págs. 65-66.

Como foi a vida de Chico

Como foi a vida de Chico
Francisco Cândido Xavier nasceu em 2 de abril de 1910, na cidade mineira de Pedro Leopoldo. Em mais de setenta anos de atividade mediúnica, psicografou 400 livros, que venderam mais de 30 milhões de exemplares.
1927 - Sua irmã fica muito doente, Chico faz uma prece e ela se cura.
1931 - Entra em contato com Emannuel, seu guia espiritual.
1932 - Publica o primeiro livro, Parnaso do Além-túmulo, com poemas psicografados de poetas falecidos, como Olavo Bilac,
1944 - Lança Nosso Lar, sua obra de maior sucesso, uma espécie de bíblia dos espíritas. O livro, que conta como seria a vida depois da morte, vendeu 1,2 milhão de exemplares.
1959- Muda-se para Uberaba e transforma a cidade num polo de peregrinação.
1979 - O juiz de uma pequena cidade goiana aceita a psicografia de Chico como prova no julgamento de um assassinato,
1981 - É indicado para o Prêmio Nobel da Paz.
1998 - Com a saúde debilitada, o médium deixa de atender pela primeira vez aos peregrinos na Casa da Prece.
1999 - Publica sua última obra, Escada de Luz, totalizando 412 livros.
2001 - O Ministério Público apresenta denúncia contra o filho adotivo, Eurípedes Higino dos Reis, e sua ex-mulher, Christine Schulz. Eles foram acusados de desviar verbas da Casa da Prece. A denúncia está na Justiça.


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Fonte:
Revista Tudo que eu quero. Edição 76 - Nº 12 - Julho de 2002. Editora Abril. São Paulo, pág.27. 1.