domingo, 19 de junho de 2016

A épica de Basílio da Gama e Santa Rita Durão

A épica de Basílio da Gama e Santa Rita Durão
O arcadismo brasileiro cultivou, a par das poesias lírica e satírica, a poesia de cunho épico. Seus principais representantes foram Basílio da Gama, autor de O Uraguai, e Santa Rita Durão, autor de Caramuru, ambos poemas épico-indianistas.
O Uraguai é um poema em cinco cantos, em versos brancos e estrofação livre, que se distancia do esquema tradicional, sugerido pelo modelo camoniano. A matéria da ação épica é limitada: narra a expedição empreendida por espanhóis e portugueses contra os índios e jesuítas habitantes da Colônia de Sete Povos das Missões do Uruguai, que segundo o Tratado de Madri, de 1750, deveria passar a pertencer a Portugal, em troca da Colônia do Santíssimo Sacramento, possessão portuguesa encravada em águas e território espanhol. Mas os índios, apoiados pelos jesuítas, se recusaram a ser súditos portugueses. Portugal e Espanha iniciam então a expedição de conquista em 1756, sob o comando do comissário real Gomes Freire de Andrade; é dessa fase final que trata o poema de Basílio.
O poema inicia-se em plena ação:
Fumam ainda nas desertas praias Lagos de sangue tépidos e impuros Em que ondeiam cadáveres despidos, Pasto de corvos. Dura inda nos vales O rouco som da irada artilharia.
O Caramuru, de Santa Rita Durão, segue rigorosamente os moldes camonianos de Os lusíadas: compõe-se de dez cantos, em oitava rima, e observa a divisão tradicional em partes: proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo. Sua matéria épica tem como ação central o naufrágio, salvamento e aventuras de Diogo Álvares Correia, o Caramuru.
O Caramuru apresenta características nativistas: retoma temas e motivos de louvor da terra, do clima, das riquezas naturais, entre outros, em longas enumerações descritivas. Apresenta o elemento indígena por meio do relato de seus hábitos, costumes, instituições.
Já Basílio da Gama estrutura seu poema épico subvertendo o esquema tradicional, absorvendo de Camões, entretanto, a sugestão poética em termos mais líricos do que épicos. Conseguiu com isso criar um poema em que ganham extraordinário relevo o colorido e a plasticidade da linguagem.
O elemento indígena já sofre, em O Uraguai, um tratamento literário que se distancia da preocupação informativa, presente, por exemplo, num Frei José de Santa Rita Durão.
Tanto O Uraguai quanto Caramuru apresentam, em meio à especificidade de sua matéria épica, momentos líricos de significativa beleza. Esses episódios despertam interesse, pois ao lado dos aspectos próprios da cultura indígena está o tema universal da morte por amor.

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Fonte:
Português: linguagens - Literatura, Gramática e Redação, por: William Roberto Cereja e Thereza Anália Cochar Magalhães. Atual Editora, 1 ª Edição. São Paulo, 1990, págs. 251-252.

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