Provas Morais da Existência de Deus
As provas
morais da existência divina são assim chamadas porque têm seu ponto de partida
na realidade moral. As provas morais da Existência
de Deus são, por outro lado, particularmente aptas a fazer compreender, não
apenas a que ponto o problema de Deus se enraíza no mais profundo de nosso
coração, mas aindapara trazer solução verdadeira e concreta (...) na crença na
existência de um Deus pessoal.
1. DIVISÃO DAS PROVAS
Geralmente
estas provas têm sido divididas em quatro, que comumente se invocam em favor da
existência de Deus, a saber:
Primeira Prova: A obrigação moral;
Segunda Prova: As aspirações da alma;
Terceira Prova: O consentimento
universal; e Quarta Prova: A de experiência mística. Estas provas, segundo se
depreende, são vias que nos conduzem a Deus e, necessariamente, a quarta prova
(a da experiência mística), processa-se frequentemente na pessoa salva que,
tendo seu coração limpo estará apto para ver a Deus (SI 73.1; Mt 5.8).
a) - Prova pela obrigação moral. Esta prova
está também relacionada com o fato do dever. Nossa ação no mundo não se
processa e não pode processar-se ao acaso. Ela é dirigida por fins morais que
resumimos na ideia do dever. Ora, a obediência ao dever é essencialmente a
busca perseverante de um ideal de perfeição moral.
As provas
morais da existência de Deus são, rigorosamente, encontradas tanto no mundo
religioso como no mundo filosófico. O décimo capítulo do Genesis é, com efeito,
um documento único. Sustenta-se que nenhuma compilação igual se encontrou
jamais na literatura de qualquer outro povo antigo. Seu sentido fundamental
ainda está sendo verificado através do mundo inteiro, atualmente. Procura
provar esse capítulo do Genesis que as nações tiveram uma origem comum e que
todos os homens são irmãos, com uma unidade humana que tem raiz em Deus. Há
neste capítulo um propósito religioso, uma séria tentativa para mostrar que a
humanidade tem uma origem comum e que, embora sejamos povos e raças separadas,
somos um povo e uma raça só aos olhos do nosso Criador.
b - Prova pelas aspirações da alma. O fato
da inquietação humana é presente em seu universo físico. Agostinho nos
apresenta como esta aspiração, às vezes, se processa no coração e, enquanto
esta aspiração, que necessariamente vai mergulhando num vácuo, não encontra a
Deus, a alma humana anda tuteando (At
17.27).
Então, à
procura de Deus, Agostinho pergunta: "E o que é isto?" Perguntei à
terra, e esta me respondeu: "não sou eu". E tudo que nela existe me
respondeu a mesma coisa. Interroguei o mar, os abismos e os seres vivos, e
todos me responderam: "não somos o teu Deus; busca-o acima de nós".
Perguntei aos ventos que sopram, e toda a atmosfera com seus habitantes me
responderam: ''Anaxímenes está enganado".
Anaxímenes
foi um filósofo grego do século VI a.C. Para ele, o ar é o princípio gerador de
tudo. Todos os elementos mencionados responderam a Agostinho: "Não somos o
teu Deus". Interroguei (Agostinho) o céu, o sol, a lua e as estrelas:
"Nós também não somos o Deus que procuras''. Pedi a todos os seres que me
rodeiam o corpo: "Falai-me do meu Deus, já que não sois o meu Deus;
dizei-me ao menos alguma coisa sobre ele". E exclamaram em alta voz:
"Foi Ele quem nos criou". Diga-me então a mim mesmo, e me perguntei:
"E tu, quem és? E respondi: "Um homem". Então perguntei a verdade
moral e esta me respondeu:' 'O teu Deus não é a terra, nem o céu, nem qualquer
outro ser corporal". É isso que a natureza das coisas afirma, e todos
podem ver, pois a matéria é menor na parte que no todo. Tu, alma, digo-te que
és mais importante que o corpo, sem dúvida, pois és tu que lhe dás a vida, e
nenhum corpo pode fazer o mesmo a outro corpo. Mas o teu Deus é também a vida
da tua vida.
c) - Prova pelo consentimento universal.
Essa universalidade significa que há razões poderosas e acessíveis a todas as
inteligências, em favor da crença em Deus. A crença universal na existência de
Deus faz parte das necessidades e dos ideais do homem. O homem projeta todas as
qualidades positivas que tem em si de uma pessoa divina e faz dela uma
realidade subsistente, capaz de suprir as suas próprias necessidades e as suas próprias lacunas. Assim, por exemplo, a
ideia de Deus como Pai, segundo o autor de Essência
do Cristianismo, nasce da exigência de segurança exigida pelo homem; a
ideia de Deus feito carne exprime a excelência do amor pelos outros; a ideia de
um Ser perfeitíssimo nasce para representar ao homem o que o homem gostaria de
ser mas não consegue tornar-se sem aquela transformação, a qual chamamos
"a redenção do nosso corpo" (Rm 8.23). A ideia de uma existência
ultraterrena não é senão a fé na vida terrestre não como ela é atualmente, mas
como deveria ser, a triplicidade invisível no homem (vontade, razão e amor),
tomada na sua unidade e projetada sobre ele, e daí por diante. Ora, só pode
existir tal ansiedade na pessoa humana, porque, sem sombra de dúvida, existe um
Ser infinitamente moral que, necessariamente, exige que suas criaturas olhem
para Ele.
d) - Prova pela experiência mística. Esta
prova se torna evidente em toda a extensão da Bíblia. Pessoas tais como Adão (Gn 3), Abraão (Gn 12.7 e ss), Isaque
(Gn 26.24), Moisés (Êx 3.3 e ss), Isaías (Is 6.1 e ss), e muitos outros
servos de Deus de ambos os pactos, afirmaram ter entrado em contacto
experimental com Deus de uma forma que ultrapassa seguramente os meios humanos
de expressão, mas em que desfrutaram da irresistível evidência da presença de
Deus. Poder-se-ia dizer, é verdade, admitir que uma tal pessoa errou. Mas seria
realmente impossível que todos se enganassem, e nos enganassem, falando, com
tanta força e convicção, das mesmas realidades sobrenaturais que conheceram
através de suas experiências pessoais com Deus. Portanto, todas as provas da
existência de Deus são aplicações do princípio de razão suficiente moral:
qualquer coisa tem sua razão, ou em si, ou numa outra.
Em outras
palavras: o mais não pode sair do menos,
nem o ser do nada. Cada prova, compreendendo um ponto de vista particular,
precisa da aplicação do princípio de razão, no domínio da contingência, no
movimento, no das causas finais, nos domínios da obrigação moral, das
aspirações do homem e do consentimento universal.
Cada vez, o
princípio de razão obriga a concluir pela experiência de um Ser existente por
si, primeiro motor universal, inteligência infinita, princípio e fim da ordem
moral, absoluta perfeição.
Quando nos
recorremos ao Argumento Ontológico,
não se fazem necessárias tais provas! Mas, é evidente que, fora dele, elas são
necessárias, porque cada uma destas provas tem a vantagem de colocar em relevo um aspecto da causalidade divina
e mostrar que, qualquer que seja o ponto de vista que se adote, o mundo não tem
razão suficiente a não ser em Deus, se bem que não haja escolha entre estas
duas conclusões: ou Deus, ou o absurdo total. Mas, necessariamente, jamais o absurdo
total traria uma ordem moral em qualquer tempo e lugar.
Conclusão: Só em Deus, e não fora dele,
pode e existe esta ordem moral absoluta!
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Fonte:
Quem é Deus: Conhecendo melhor o Criador, por: Severino Pedro da Silva. CPAD. Rio de Janeiro, 1997, págs. 123-126.
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Fonte:
Quem é Deus: Conhecendo melhor o Criador, por: Severino Pedro da Silva. CPAD. Rio de Janeiro, 1997, págs. 123-126.
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