sexta-feira, 1 de julho de 2016

A Esmola - Um gesto de amor pelo pobre

A Esmola - Um gesto de amor pelo pobre

"Quando, pois, deres esmola,
não toques trombeta diante de ti,
como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas,
para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa.
Tu, porém, ao dares a esmola, ignore a tua esquerda o que faz a tua direita;
para que a tua esmola fique em secreto;
e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará."
(Mt 6.2-4)
"Quando, pois, deres esmola...". Cuidar dos pobres é uma responsabilidade de todos os seguidores de Jesus Cristo. Podemos fazer por atos de justiça ou ações de misericórdia. Nas Escrituras está a ideia da recompensa dada por Deus àquele que atende ao ou a ideia de que Deus assume para si mesmo o favor feito a necessitado: Deus livra do mal, torna feliz, protege, preserva a de quem acode o necessitado (SI 41.1-2). "Quem se compadece do .:o Senhor empresta, e este lhe paga o seu benefício" (Pv 19.17). Jesus para si o socorro que prestamos aos famintos, aos forasteiros, í sedentos, aos prisioneiros (Mt 25.31-48).
Em geral damos esmola daquilo que nos sobra, e assim, estamos apenas denunciando o mundo de injustiça em que estamos inseridos. O que nos sobra pode ser exatamente o que tem faltado a outros. Quando damos aquilo que nos faz falta, a nossa esmola pode anunciar a grandeza de nossa sensibilidade e misericórdia. Cuidar dos pobres é um mandamento tão importante quanto os mandamentos da oração ou do jejum.
A esmola é um gesto que pode representar a sensibilidade e compaixão que alguém demonstra em favor dos pobres. Mas pode também constituir-se num instrumento de promoção pessoal. Os pobres esmolam sempre em lugares públicos - estão nas praças, nas esquinas, em portas de igrejas. Lugares atraentes para se praticar publicidade pessoal. Por isto, o gesto de compaixão pelo pobre está carregado da tentação de se agir na intenção de buscar reconhecimento e prestígio populista.
Como se vê, o texto não está tratando das implicações de dependência provocadas pela filantropia pura e simples. Se a esmola vai ou não gerar dependência, isso é outra questão; mas não é este o tema da ilustração do Mestre. Aqui, Jesus está condenando a artimanha dos hipócritas em utilizar a esmola para publicidade pessoal: "...para serem glorificados pelos homens". Observe-se também que não se pode utilizar este texto para condenar a publicidade feita para conseguir a compaixão das pessoas por outras que estejam submetidas a situações de crise e sofrimento. A filantropia deve constituir-se num gesto em favor da vida, e qualquer propaganda neste sentido só é legítima se for um instrumento em benefício exclusivo do pobre.
Portanto, utilizar-se da miséria do outro para publicidade pessoal é desumano. Utilizar-se da miséria para, tocando na sensibilidade humana dos fregueses, ajudar um comerciante a vender melhor seus produtos, parece-me desumano. Usar a situação do pobre e a nossa filantropia para promover a igreja e não o ser humano é hipocrisia pura. Jesus recomenda que a nossa atuação em favor do pobre seja marcada pela discrição: "Tu, porém, ao dares a esmola, ignore a tua esquerda o que faz a tua direita; para que a tua esmola fique em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará."


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Fonte:
Ser é o bastante, por: Carlos Queiroz. Editora Ultimato. Curitiba, 2003, págs. 145-146.

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